"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, setembro 21, 2007

Um Estudo sobre a Mente


Para adentrar e estabelecer uma comunhão com Deus, o homem precisa ir além de sua mente. Desde que você possa colocar a sua mente de lado -- não importa se temporariamente ou definitivamente --, você poderá estabelecer um contato direto com Deus. Somente quando a mente é retirada do meio do caminho é que haverá condições de olharmos diretamente para a vida. Caso contrário, a mente atua como uma tela e ela interfere na visão. Quando a mente é abandonada, passamos a "ver retamente todas as coisas". E isto é visão espiritual.

O mundo precisa ser observado de modo imparcial, do ponto de vista humano. E, para isto, a mente humana precisa ser dominada pelo homem. O que ocorre com a maioria das pessoas, é que elas é que são dominadas pela mente; a maioria das pessoas age automaticamente e não estão conscientes do por quê elas agem como agem... elas apenas seguem fazendo as mesmas coisas sempre e sempre. Isso é o estado de inconsciência. O homem que é dominado por sua mente vive como se fosse um robô programado para executar tarefas; enquanto que o homem que é senhor de sua mente faz uso dela apenas nas horas necessárias. Há uma grande diferença de estado de consciência entre esses dois.

A visão espiritual só pode aflorar quando a nossa visão do mundo se torna indiferente. Ter uma visão indiferente do mundo significa apenas isto: olhar para o mundo sem a interferência da mente. Não olhar para o mundo segundo os nossos próprios valores. Porque os nossos valores são construídos pela nossa mente. Nossa visão convencional se tornará indiferente; mas, em seu lugar, a visão espiritual entrará em cena. Por isso, não é preciso preocupar-se com questões do tipo: "se eu abandonar a minha forma de ver o mundo, então como passarei a vê-lo?" ou "eu vejo o mundo de uma forma tão bela... pra mim todas as pessoas são boas. Se eu perder esse meu jeito de olhar para as pessoas, poderei enxergar o mal nelas?". Não é preciso se preocupar com o que vai acontecer depois que a sua mente for posta de lado. Porque a 'reta visão' virá e revelará tudo quanto lhe for necessário ser revelado. Mas isto não pode acontecer enquanto a sua mente estiver presente.

Ouvi dizer que, certa vez, um grande pintor pediu a um médico amigo seu que viesse ver uma de suas telas, uma que ele acabara de pintar. O pintor achava que essa era sua obra-prima, o pico de sua arte. Por isso, naturalmente quis que seu amigo viesse vê-la. O médico observou a tela minucionsamente, olhou-a de um lado ao outro. Passaram-se dez minutos, assim o artista ficou apreensivo e perguntou: "O que há? o que você acha do quadro?" O médico respondeu: "Parece que está com pneumonia dupla".

Isso está acontecendo com todo o mundo. Um médico tem suas próprias atitudes, seu próprio modo de olhar as coisas. Ele olhou a pintura à sua maneira, sempre fixa; não poderia ter sido de outro modo. O médico diagnosticou o quadro... um quadro não necessita de qualquer diagnóstico. ele não compreendeu nada do quadro, e uma bela pintura virou uma pneumonia.

É assim que a mente funciona. Quando você olha para algo, a sua mente entra no meio modificando. Sempre que você olha para o mundo -- para a existência! -- você o interpreta segundo o seu jeito. E o mundo não é aquilo que pensamos. O mundo apenas é! Mas isto não pode ser constatado enquanto a mente estiver presente. Podemos pensar na seguinte afirmação: "O mundo é lindo, cheio de pessoas, plantas, animais, mas ainda há gente que sofre e passa fome, etc." Para fins didáticos, podemos dizer que há duas mentes que pensaram essa frase. Até a parte que diz "o mundo é!", isso é uma afirmação da Mente Onipresente que habita a existência. E, à partir daí, na parte que diz "(...) lindo, cheio de pessoas, plantas, animais, mas ainda há gente que sofre e passa fome", é a nossa mente pessoal que atua. Como vou perceber que o mundo simplesmente é, enquanto não colocar de lado minha mente interpretadora? Mas, para muita gente, isto é algo bastante difícil de se fazer.

Quanto maior for o nível de inconsciência, maior será a dificuldade de se libertar da mente. Existem pessoas mais velhas, que estão habituadas a viver da mesma forma há mais de vinte, trinta ou quarenta anos... Pessoas assim, não compreendem nada mais além daquilo que elas pensam ser como é. São as pessoas "cabeças duras". E isso é algo que ocorre muito com as pessoas idosas. Ainda hoje, há muitas vovó's e vovô's que não conseguem entender/admitir o modo como seus netos levam suas vidas; não concordam com a nova maneira de se vestir da sociedade... tudo isso por causa de suas mentes. E não há quem mude suas opiniões de forma alguma; é impossível. A mente é uma limitação; uma prisão. Todos nós estamos presos dentro do nosso modo de interpretar todas as coisas... e nem nos damos conta disto. Esse estado de inconsciência precisa ser eliminado.

Assim, uma das maiores armadilhas que prendem o homem à sua mente é a lógica, o raciocínio. O homem diz: "se(...), então(...)" e aí, para ele (ou melhor: para a mente dele), tudo está sob controle. Ele pensa que entendeu. Esse homem não entendeu coisa alguma; na verdade ele interpretou. Só podemos interpretar aquilo que está sob o nosso controle. O 'entender' é para aqueles que desejam algo maior.

A mente não quer perder o controle. Se isto ocorrer, ela desaparecerá e ela sabe disso instintivamente. Então, ela tem seus próprios mecanismos de resistência. É comum haver buscadores que, quando trabalham para se tornarem senhores de suas mentes, eles continuarem a estar sob o domínio dela... sem ao menos se aperceberem disso. A mente é muito esperta, e é preciso um estado de alerta muito elevado para não se deixar levar por ela.

Quando a mente for abandonada, o homem se sentirá como que diante de um grande vazio. Será como se tivesse sido abandonado, e agora ele não encontra nada mais em que se apoiar. O abandono da mente causa insegurança; a sensação inicial é o medo. A mente pensa que conhece a vida; mas o que ela conhece é a vida que ela interpreta. Ela pensa que a vida está relacionada às coisas materiais e mentais. Assim, no momento em que todos esses conceitos começarem a ser mudados... a sensação será que a morte estará se aproximando: e esse é o medo. A mente não quer morrer; mas enquanto ela não morrer, você não conseguirá ver além do que a mente permite. Essa morte é necessária para que que possa 'renascer para o Espírito'. Por isso, tudo aquilo a que a mente se apega precisa ser enxergado com indiferença: se aquilo que a mente percebe estiver lá, tudo bem; mas se não estiver, então também não há problema algum.(...) Isso é desapego.

Por isso é que o raciocínio e a lógica não ajudam muito. Eles ajudam somente até um certo ponto. Há um momento em que o homem precisa passar a confiar no desconhecido (que é o que a mente não tem capacidade para perceber) e se entregar completamente. O ensinamento da confiança (fé) e da entrega não faz sentido algum para coisas que são objetos do conhecimento, do raciocínio e da lógica humana. Enfrentar o irracional é inevitável, porque não há outra forma de confrontar a mente e superá-la. O absurdo é necessário para tirá-lo de sua mente... O ensinamento de "A Verdade está nos paradoxos" implica isso, automaticamente.

O problema básico é: a razão não pode trazê-lo para fora (de sua mente), porque o raciocínio é o próprio estado no qual você se encontra. Como ir além de sua mente, quando ela se utiliza de si mesma para ir além? Isso é idiotice... quem faz isso continua movendo-se sempre em voltas; nunca vai conseguir transcender. Algo irracional é necessário; algo além da razão é necessário; algo absurdo, louco -- apenas isso pode trazê-lo para fora.

O Zen utiliza muito esse método do absurdo. Eles criam situações que são impossíveis de ser solucionadas, de forma que se você pensar sobre elas, não compreenderá. Esses problemas são os chamados 'koans'. Um exemplo de koan: "explique qual é o som de uma mão batendo palmas". O mestre zen passa um problema aos seus dicípulos para que eles possam trabalhar em cima dele. E eles o fazem, dão tudo de si, mas não encontram solução alguma. Porque a explicação não está na mente; simplesmente não pode ser encontrada. E, aí, um dia o discípulo desiste de explicar (de querer entender)... e consegue escutar o som de uma mão batendo palmas. Para a mente humana, isso não faz sentido algum; mas para a mente que está para além da mente humana, ouvir o som de uma mão batendo palmas é algo lógico e natural. Esse som só pode ser escutado com ouvidos espirituais e, para isto, deve-se silenciar os ouvidos mentais e carnais. Somente assim, o homem pode escutar a "pequenina voz suave" ou o "som de uma mão batendo palmas". Mas, sem percorrer o caminho do absurdo -- o caminho do paradoxo --, o homem não consegue entender a realidade que habita por detrás das aparências dos sentidos humanos.

É preciso, portanto, silenciar a mente a fim de que possamos conseguir o discernimento espiritual.





Continua...

4 comentários:

Anônimo disse...

Tenho certa dificuldade de compreender essa questão da mente vazia.
Pois utilizamos justamente a lógica , o raciocínio, incluisve pra pensar acerca de coisas espirituais.
É bem isso que atrapalha, pelo que entendi do post.
Mas qual seria o jeito de não pensar? Meditação?
O conceito "compreender o nada", mergulhar no vazio, é bem difícil para a maioria, onde me incluo.
E confiar no desconhecido, é aí que mora a fé. Isso eu faço.

Anônimo disse...

Gugu, tah muito bom o post. está de parabéns. Sou seu fã a partir de hoje. \o/

Tu sabe, neh? Não tah na mente...

Anônimo disse...

O pouco conhecimento, até aqui, sobre o interior humano gera uma série de confusões entre mente e psique, que são dois 'mundos' na constituição do ser animado. Daí, muitas linhas de estudos entender que é necessário anular a mente para que o homem possa atingir um bom equilíbrio psicossomático.
Nada disso, a mente é o instrumento humano de gestão, se alguém conseguir anular esta ferramente cognitiva, por certo, ficará absolutamente sem 'norte'; a psique (responsável pelas emoções) sim, essa precisa e deve ser controlada.

luizroberto disse...

sempre fui muito ligado
nesta coisa do não dual,
todavia é preciso serenidade
e quietude para começar
a percepção desta realidade.

adorei o artigo. matéria séria
e profunda. imprescindível para os dias de hoje.

agradecido
feliz natal

luIzZ rObertOO