"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, junho 28, 2008

Aceite uma xícara de chá


Joshu, um mestre Zen, perguntou para um monge recém chegado ao mosteiro: "Eu já o vi antes?"
O monge novo respondeu: "Nunca, Senhor."
Joshu disse: "Então aceite uma xícara de chá".
Joshu virou-se para um outro monge: "Eu já o vi aqui antes?"
O segundo monge disse: "Sim, senhor, claro que já me viu".
Joshu disse: "Então aceite uma xícara de chá".
Depois o gerente do mosteiro peguntou a Joshu: "Como é que você oferece chá para qualquer resposta?" .
Nisso Joshu gritou: "Gerente, você ainda está aqui?"
O outro respondeu: "Sim, claro, mestre".
Joshu disse: "Então aceite uma xícara de chá".


A história é simples, mas difícil de entender. Sempre é assim. Quanto mais simples uma coisa, mais difícil é entender. Para compreender precisamos de alguma coisa complexa; para entender, você tem que dividir e analisar. Uma coisa simples não pode ser dividida e analizada, não há nada para dividir e analisar, a coisa é simples demais. A simplicidade sempre escapa à compreensão, é por isso que Deus não pode ser entendido. Deus é a coisa mais simples, absolutamente a coisa mais simples possível. O mundo pode ser entendido, é muito complexo. Quanto mais complexa uma coisa é, mais a mente pode trabalhar nela. Quando é simples, não há nada para ruminar, a mente não consegue trabalhar.

Os lógicos dizem que as qualidades simples são indefiníveis. Por exemplo, se alguém lhe perguntar: "O que é o amarelo?", é uma qualidade tão simples, a cor amarela, como você a definiria? Você dirá: "Amarelo é amarelo". O homem dirá: "Isto eu já sei, mas qual é a definição de amarelo?". Se você diz que amarelo é amarelo, você não está definindo, está simplesmente repetindo mais uma vez a mesma coisa. É uma tautologia.

Uma das mente mais agudas deste século, G.E. Moore, escreveu um livro Principia Ethica. O livro inteiro consiste num esforço muito consistente para definir o que é bom. Fazendo esforços em todas as direções, em duzentas ou trezentas páginas -- e duzentas ou trezentas páginas de G.E Moore valem três mil páginas de qualquer outro --, ele chega à conclusão de que bom é indefinível. Não pode ser definido, é uma qualidade demasiado simples. Quando alguma coisa é complexa, há muitas coisas nela; você pode definir uma coisa à partir de outra que está presente nela. Se você e eu estamos em um quarto e você me pergunta: "Quem é você?", eu posso ao menos dizer: eu não sou você. Essa passará a ser a definição, a indicação. Mas se eu estou só no quarto e me faço a pergunta "Quem sou eu?", a pergunta ressoa, e no entanto não há nenhuma resposta. Como definir isso?

É por isso que Deus não foi compreendido. O intelecto o nega, a razão diz não. Deus é o denominador mais simples da existência, o mais simples e o mais básico. A mente pára. Não existe nada diferente de Deus, então como definir Deus? Ele está só no quarto. É por isso que as religiões têm tentado dividir; então uma definição é possível. Elas dizem: "Este mundo não é isto. Deus não é o mundo, Deus não é nenhuma questão, Deus não é nenhuma matéria, Deus não é nenhum desejo". Essas são formas de se definir.

Você tem que por algo contra algo, então um limite pode ser estabelecido. Como você estabelece um limite se não houver nada próximo? Onde você coloca a cerca de sua casa se não houver nenhum vizinho? Se não há alguém ao seu lado, como você pode cercar a sua casa? O limite da casa depende da presença do seu vizinho. Deus está só, ele não tem nenhum vizinho. Onde ele começa? Onde ele termina? Em parte alguma. Como você pode definir Deus? O Diabo foi criado só para definir Deus. Deus não é o Diabo, pelo menos isso pode ser dito. Você não pode conseguir dizer o que Deus é, mas pode dizer o que ele não é: Deus não é o mundo.

Eu estava lendo há pouco um livro de um teólogo cristão. Ele diz que Deus é tudo menos o mal. Mas isso também é suficiente para definir. Isso é suficiente para estabelecer um limite: menos o mal. Ele não está consciente: se Deus é tudo, então de onde vem o mal? Ele deve estar vindo de tudo; caso contrário há alguma outra fonte de existência além de Deus, e essa outra fonte de existência fica equivalente a Deus. Então o mal nunca pode ser destruído. Tem sua própria fonte de existência. O mal não depende de Deus, então como Deus pode destruí-lo? E Deus não o destruirá, porque, uma vez que o mal for destruído, Deus não poderá ser definido. Para ser definido ele necessita que o Diabo esteja lá sempre, só ao seu redor. Os santos necessitam dos pecadores; caso contrário eles não serão santos. Como você saberá quem é um santo? Todo santo precisa de pecadores ao seu redor; esses pecadores são o seu limite. Uma coisa simples significa que é exclusiva.

Antes de tudo deve-se compreender que as coisas complexas podem ser entendidas, as coisas simples não. Essa história de Joshu é muito simples, tão simples que lhe escapa. Você tenta agarrar aqui, tenta agarrar ali, e ela escapa. É tão simples que a mente não pode trabalhar nela. Tente sentir a história. Eu não direi "tente entender" porque você não pode entendê-la, não encontrará nada lá, a história inteira é absurda.

Joshu vê um monge e pergunta: "Eu já o vi antes?".
O homem diz: "Nunca, senhor, não há nenhuma possibilidade. Eu estou aqui pela primeira vez, sou um estranho, você não poderia ter-me visto antes".
Joshu diz: "Certo, então aceite uma xícara de chá". Então ele pergunta para outro monge: "Eu já o vi antes?".
O monge responde: "Sim, senhor, você deve ter-me visto. Eu sempre estive aqui; não sou um estranho".
O monge deve ter sido um discípulo de Joshu, e Joshu diz: "Certo, então aceite uma xícara de chá".

O gerente do mosteiro ficou confuso: para duas pessoas diferentes responde-se de forma diferente, seriam necessárias duas respostas diferentes. Mas Joshu responde da mesma maneira para o estranho e para o amigo, para um que veio pela primeira vez e para um que sempre esteve ali. Para o desconhecido e para o conhecido, Joshu responde da mesma maneira. Ele não faz distinção, nenhuma, nada. Ele não diz: "Você é um estranho. Bem-vindo! Aceite uma xícara de chá". Ele não diz ao outro: "Você sempre esteve aqui, assim não precisa de uma xícara de chá". Nem diz: "Você sempre esteve aqui, assim não há nenhuma necessidade de responder a pergunta que eu lhe fiz".

Familiaridade cria enfado; você nunca recepciona o familiar. Você nunca olha para a sua esposa. Ela ficou com você durante muitos e muitos anos e você esqueceu completamente que ela existe. Como é o rosto de sua esposa? Você olhou recentemente para ela? Você pode ter esquecido completamente do rosto dela. Se você fecha os olhos e medita e se lembra, pode lembrar do rosto que viu pela primeira vez. Mas sua esposa foi um fluxo, um rio, constantemente mudando. O rosto mudou; agora ela ficou velha. O rio fluiu e novas curvas surgiram; o corpo mudou. Você olhou recentemente para ela? Você está tão familiarizado com sua presença que não há necessidade de olhar para ela. Nós olhamos para algo que é pouco conhecido; olhamos para algo que nos chama a atenção, que é novo. Eles dizem que a familiaridade cria o desprezo: cria enfado.

Eu ouvi uma história: dois homens de negócios, muito ricos, estavam descansando numa praia em Miami. Eles estavam deitados tomando banho de sol. Um deles disse: "Eu não consigo entender o que as pessoas vêem em Elizabeth Taylor, a atriz. Não entendo o que vêem, por que elas ficam tão alucinadas. O que ela tem? Você tira os olhos dela, o cabelo, os lábios, o corpo, e o que foi que sobrou, o que você tem?". O outro homem resmungou, ficou triste e respondeu: "Minha esposa, é isso o que sobrou.".

É isto o que sobrou da sua esposa, do seu marido, não sobrou nada. Por causa da familiaridade, desapareceu tudo. Seu marido é um fantasma; sua esposa é um fastasma sem figura, sem lábios, sem olhos, só um fenômeno feio. Isto não foi sempre assim. Você já esteve apaixonado por essa mulher, mas aquela primeira mulher não está mais ali; agora você nem olha para ela.

Na verdade, maridos e esposas evitam olhar um para o outro. Eu tenho estado com muitas famílias e observei: os maridos e as esposas evitam olhar um para o outro. Eles criaram muitos jogos para isso; estão sempre pouco à vontade quando ficam sozinhos. Um convidado é sempre bem-vindo, porque pode-se olhar para o convidado e, assim, evitar um ao outro.

Esse Joshu parece ser absolutamente diferente, enquanto se comporta da mesma maneira com um estranho e com um amigo. O monge diz: "Eu sempre estive aqui, senho, claro que me conhece bem".

E Joshu diz: "Então aceite uma xícara de chá".

O gerente não conseguiu entender. Os gerentes são sempre estúpidos; para administrar, é necessária uma mente estúpida. E um gerente nunca pode ser profundamente meditativo. É difícil: ele tem que ser matemático, calculista; ele tem que ver o mundo e organizar as coisas adequadamente. O gerente ficou perturbado: O que é isso? O que está acontecendo? Isso parece ilógico. Está bem oferecer uma xícara de chá a um estranho, mas para esse discípulo que sempre esteve aqui?

Então ele pergunta: "Por que você responde da mesma maneira a pessoas diferentes, para perguntas diferentes?".
Joshu fala em alto tom: "Gerente, você está aqui?".
O gerente responde: "Sim, senhor, claro que eu estou aqui".
E Joshu diz: "Então aceite uma xícara de chá".

Essa pergunta em alto tom, "Gerente, você está aqui?", está chamando a presença dele, a sua consciência. A consciência é sempre nova, sempre um estranho, o desconhecido. O corpo fica familiar, mas a alma nunca. Você pode conhecer o corpo de sua esposa; mas nunca conhecerá a pessoa desconhecida que ela tem por trás de si, nunca. Isso não pode ser conhecido. Você pode amar: o amor é um mistério, você não pode explicá-lo.

Quando Joshu chamou: "Gerente, você está aqui", de repente o gerente se deu conta. Ele esqueceu que era um gerente, esqueceu que era um corpo; sua resposta veio do coração. Ele respondeu: "Sim, senhor". Essa pergunta em alta voz era tão súbita, era como um choque. E era fútil, é por isso que ele respondeu: "Claro que estou aqui. Você não precisa me perguntar, a pergunta é irrelevante". De repente o passado, o velho e a mente, sumiram. Não havia mais nenhum gerente ali -- era simplesmente uma consciência respondendo. A consciência é sempre nova, constantemente nova; está sempre nascendo, nunca é velha.

E Joshu diz: "Então aceite uma xícara de chá".

A primeira coisa a ser sentida é que, para Joshu, tudo é novo, estranho, misterioso. Se é o conhecido ou o desconhecido, o familiar ou o pouco conhecido, dá na mesma. Se você vier diariamente para este jardim, logo deixará de olhar para as árvores. Você pensará que já olhou para elas, que as conhece. Aos poucos deixará de ouvir os pássaros; eles estarão cantando, mas você não escutará. Tudo tornou-se familiar; seus olhos estão fechados, seus ouvidos estão fechados. Mas se Joshu vier para este jardim -- e ele poderá ter vindo diariamente durante muitas, muitas vidas -- ele ouvirá os pássaros, ele olhará para as árvores. Tudo, cada momento, é novo para ele.

É isso que é a consciência. Para a consciência tudo é constantemente novo, nada é velho. Nada pode ser velho, porque tudo está sendo criado a cada momento. É um fluxo contínuo de criatividade. A consciência nunca carrega a memória como um fardo.

Assim, em primeiro lugar: uma mente meditativa sempre vive dentro do novo, do fresco. A existência inteira é recém-nascida, tão fresca quanto uma gota de orvalho, tão fresca quanto uma folha que brota na primavera. É como os olhos de um bebê recém-nascido: tudo está fresco, claro, sem poeira. Esta é a primeira coisa a ser sentida. Se você olha para o mundo e sente que tudo é velho, isso mostra que você não é meditativo. Na verdade, quando você sente que tudo é velho, isso mostra que você tem uma mente velha, uma mente estragada. Se a sua mente estiver fresca, o mundo será fresco. O mundo não é a questão, o espelho é a questão. Se há poeira no espelho, o mundo fica velho; se não há poeira no espelho, como o mundo pode ser velho? E se as coisas envelhecem, você vive no tédio; todo mundo está entendiado ao extremo.

Olhe para o rosto das pessoas: elas levam a vida como um fardo -- aborrecido, sem significado. Parece que tudo é um pesadelo, uma piada muito cruel; alguém está pregando uma peça, torturando. A vida deixa de ser uma celebração, não pode ser. Com uma mente carregada de memórias não pode haver uma celebração. Até mesmo quando você ri, sua risada é aborrecida. Olhe para a risada das pessoas: elas riem com esforço. O riso delas só pode ser cortês, o riso delas só pode ser por educação.

Eu ouvi a respeito de um dignatário que foi para a África para visitar uma comunidade muito antiga, uma comunidade primitiva de aborígines. Ele deu uma conferência bastante demorada. Contou uma história muito longa, a qual se estendeu por quase meia hora, e então o intérprete levantou-se. Ele disse só quatro palavras e os primitivos riram cordialmente. O dignitário ficou confuso. Ele contou a história durante meia hora, como podia ser traduzia em quatro palavras? Parecia impossível. E as pessoas entenderam; elas estavam rindo, uma risada sonora. Confuso, ele perguntou ao intérprete: "Você fez um milagre. Você falou só quatro palavras. Eu não sei o que você disse, mas como conseguiu traduzir a minha história, que era tão longa, apenas em quatro palavras?". O intérprete disse: "A história é muito longa, assim eu disse: piada -- riam".

Que tipo de risada sairá? Só uma risada formal. E esse homem trabalhou por meia hora. Olhe para a risada das pessoas. É uma risada mental, elas estão fazendo um esforço. A risada delas é falsa, é pintada, está só nos lábios, é um exercício do rosto. Não está vindo do ser delas, da fonte, não está vindo da barriga; é uma coisa criada. É óbvio que nós estamos entediados, e tudo aquilo que fazemos sairá desse enfado e criará mais enfado. Você não pode celebrar. A celebração só é possível quando a existência é uma novidade contínua, a existência é sempre jovem. Quando nada envelhece, quando nada morre, porque tudo renasce constantemente, então torna-se uma dança. Então é uma música interior fluindo. Se você está tocando um instrumento ou não, isso não importa, a música está fluindo.

Eu ouvi uma história que aconteceu em Ajmer... Você deve ter ouvido sobre um místico sufi, Moinuddin Crishti, cujo dargah, cujo túmulo, está em Ajmer. Crishti era um grande místico, um dos maiores já nascidos, e era músico. Ser um místico é estar contra o Islã, porque a música é proibida. Ele tocava cítara e outros instrumentos. Era um grande músico e apreciava isso. Cinco vezes por dia, quando ao maometano é exigido fazer as cinco orações rituais, ele não rezava, simplesmente tocava o seu instrumento. Essa era a sua oração.

Isso era absolutamente anti-religioso, mas ninguém podia dizer nada a Crishti. Muitas vezes as pessoas vinham lhe falar e ele comaçava a cantar, e a canção era tão linda que eles esqueciam completamente por que tinham vindo. Ele começava a tocar seu intrumento, e era tão agradável que até os sábios e as autoridades e os maulvis que tinham vindo para reclamar simplesmente não podiam fazê-lo. Eles iriam lembrar-se em casa; quando estava de volta, então eles lembrariam por que tinham ido.

A fama de Crishti espalhou-se pelo mundo. De toda parte, as pessoas começaram a vir. Um homem, Jilani, que era um grande místico, veio de Bagdá só para ver Crishti. Quando Crishti ouviu que Jilani tinha vindo, achou que em respeito a Jilani não seria bom tocar seu instumento porque ele era um maometano muito ortodoxo. Não seria uma boa acolhida. Ele podia sentir-se ofendido. Então, só naquele dia, em toda a sua vida, ele decidiu que não tocaria, não cantaria. Ele esperou desde manhã e à tarde Jilani chegou. Crishti tinha escondido os seus instrumentos.

Quando Jilani entrou e ambos sentaram em silêncio, os instrumentos começaram a fazer música, o quarto estava cheio. Crishti ficou muito confuso sobre o que fazer. Ele os tinha escondido, e aquela era uma música que ele nunca tinha ouvido antes. Jilani riu e disse: "As regras não são para você - não precisa escondê-los. As regras são para pessoas ordinárias, as regras não são para você - não deveria tê-los escondido. Como pode esconder a sua alma? Suas mãos não podem tocar, você pode não cantar com a garganta, mas todo o seu ser é música. E este quarto está cheio com tanta música, com tantas vibrações, que agora ele inteiro está tocando por si só".

Quando a mente está fresca, a existência inteira se torna uma melodia. Quando você estiver fresco, o frescor está em todos os lugares e a existência inteira responde. Quando você é jovem, não carregado de memórias, tudo é jovem, novo e estranho.

Esse Joshu é maravilhoso. Isso tem que ser entendido profundamente, então você será capaz de compreender. Mas essa compreensão será mais como uma sensação do que uma compreensão, não da mente, mas do coração.

Muitas outras dimensões estão escondidas nesta história. Uma outra dimensão é que quando você estiver diante de uma pessoa iluminada, qualquer coisa que você diga dá no mesmo; a resposta dela será a mesma. Suas perguntas, suas respostas não são significativas, não são pertinentes; a resposta dela será a mesma.

Para todos os três, Joshu respondeu da mesma maneira, porque uma pessoa iluminada permanece a mesma. Nenhuma situação a muda; a situação não é pertinente. Você é mudado pela situação, completamente mudado; você é manipulado pela situação. Ao conhecer uma pessoa que lhe é estranha, você se comporta diferentemente. Você fica mais tenso, enquanto tenta julgar a situação. Que tipo de homem é ele? Ele é perigoso, inofensivo? Ele será amigável ou não? Você olha com medo. É por isso que com estranhos você sente certa intranquilidade.

Se você estiver viajando em um trem, a primeira coisa que verá serão os passageiros perguntando uns aos outros o que fazem, qual é a religião de cada um, para onde vão. Qual é a necessidade dessas perguntas? Elas são importantes porque é a maneira que eles têm de ficar à vontade. Se você é hindu e eles também são hindu, então eles podem relaxar, são pessoas não muito estranhas. Mas se você disser "Eu sou maometano", o hindu fica tenso. Então um pouco de perigo existe, há um estranho ali. Ele vai estabelecer um pequeno espaço entre você e ele, ele pode não ficar à vontade, pode não relaxar, ou até mudar de assento. Mas até um maometano é religioso. Se você disser "Eu sou ateu; eu não sou religioso, não pertenço a nenhuma religião", então você é até mais do que um estranho. Um ateu? Então ele vai achar que, só por estar sentado ao seu lado, ele irá se tornar impuro. Você está com uma doença; ele o evitará. As pessoas começam fazendo perguntas não porque elas estão muito curiosas a seu respeito; não, elas só querem avaliar a situação, se podem relaxar, se estão em uma atmosfera familiar ou se há algo estranho ali. Elas estão em guarda e fazem essa investigação para a sua própria segurança.

A expressão do seu rosto muda continuamente. Se você vê um estranho, você muda a sua fisionomia; se você vê um amigo, imediatamente você muda de expressão; se o seu criado está ali, você tem um rosto diferente; diante de seu mestre, você mostra um outro rosto. Você muda suas máscaras continuamente porque você depende da situação. Você não tem uma alma, não é integrado; as coisas ao seu redor provocam mudanças em você.

Esse não é o caso com Joshu. Com Joshu o caso é totalmente diferente. Ele muda os ambientes onde se encontra, ele não é mudado pelos ambientes. Tudo o que acontece ao redor dele é irrelevante, o rosto dele permanece o mesmo. Não tem nenhuma necessidade de mudar a máscara.

Conta-se que, certa vez, um governador veio ver Joshu. Claro que ele era um grande político, um homem poderoso -- um governador. Ele escreveu num papel: "Eu vim vê-lo". Ele escreveu seu nome e seu título de governador deste e daquele estado. Ele deve ter tentado consciente ou inconscientemente influenciar Joshu.

Joshu olhou o papel, jogou-o fora e disse ao homem que havia trazido a mensagem: "Diga a esse camarada que eu não quero vê-lo. Mande-o embora".
O homem voltou e disse: "Joshu disse: mande-o embora. Ele jogou fora o seu papel e disse: eu não quero ver esse camarada".
O governador entendeu. Ele escreveu novamente um papel apenas com o seu nome e acrescentou: "Eu gostaria de vê-lo".
Ao receber o papel Joshu disse: "Então este é um camarada! Faça-o entrar".
O governador entrou e perguntou: "Mas por que você se comportou daquele modo estranho? Você disse: mande embora esse homem".
Joshu disse: "Aqui não são permitidas fachadas. Governador é uma fachada, uma máscara. Eu o reconheço muito bem, mas não conheço máscaras, e se você veio com uma máscara não será lhe permitido entrar. Agora está tudo bem. Eu o conheço muito bem, mas não conhceço nenhum governador. Da próxima vez que você vier, deixe o governador para trás, não o traga consigo".

Nós usamos máscaras quase o tempo todo; imediatamente nós as trocamos. Assim que vemos uma mudança de situação, nós as trocamos imediatamente, como se não tivéssemos nem uma alma integrada, nem uma alma cristalizada.

Para Joshu é tudo igual o estranho, o amigo, um discípulo, o gerente. A resposta dele é: "Aceite uma xícara de chá". Ele permanece o mesmo interiormente. E por que "aceite uma xícara de chá"? Essa é uma coisa muito simbólica para os mestres zen. O chá foi descoberto por mestres zen e não é uma coisa ordinária para eles. Em todo mosteiro zen eles têm um salão de chá. É especial, quase igual um templo. Você não poderia entender isso... porque é uma coisa muito religiosa para um mestre zen ou num mosteiro zen. O chá é como a oração. Foi descoberto por eles.

Na Índia, se você vê um sannyasin bebendo chá, você julgará que ele não é um homem bom. Ghandi não permitiria a ninguém no seu ashram tomar chá. O chá era proibido, era um pecado; a ninguém era permitido tomar chá. Se o Ghandi tivesse lido esta história, ele teria ficado chocado: um ser iluminado, Joshu, fazendo perguntas para as pessoas, convidando-as para tomar chá? Mas o zen tem uma atitude em relação ao chá. O próprio nome vem de um mosteiro chinês, Ta. Ali, pela primeira , descobriram o chá, e eles acharam que o chá ajuda a meditar melhor porque deixa o indivíduo mais alerta, lhe dá uma certa consciência. É por isso que, se você tomar chá, será difícil dormir imediatamente. Eles acham que o chá ajuda a ficar mais consciente, mais atento; assim, em um mosteiro zen o chá faz parte da meditação. O que mais Joshu pode oferecer além de consciência? Assim, quando ele diz: "Aceite uma xícara de chá", ele está dizendo: "Aceite uma xícara de consciência".

Isso é tudo aquilo que a iluminação pode fazer. Se você vem a mim, o que posso lhe oferecer? Eu não tenho nada além de uma xícara de chá.

Para o familiar ou o menos familiar, o amigo ou o estranho, ou até para o gerente que está administrando o seu mosteiro, "Aceite uma xícara de chá". Isso é tudo aquilo que um buda pode oferecer a qualquer pessoa, mas não há nada mais valioso do que isso.

Em mosteiros zen eles têm um salão de chá. É como um templo, o lugar mais sagrado. Você não pode entrar com seus sapatos, porque é um salão de chá; não pode entrar sem tomar um banho, porque é um salão de chá, e chá significa consciência. O ritual é como a oração. Quando as pessoas entram em um salão de chá, elas tomam um banho, deixam os sapatos do lado de fora, vestem roupas frescas, ficam em silêncio. Quando elas entram no salão nenhuma conversa é permitida, elas ficam em silêncio. Sentam-se no chão numa postura meditativa, então a anfitriã ou o anfitrião prepara o chá. Todo mundo está em silêncio. O chá começa a ferver e todos têm que escutar isso, o som: a chaleira cria música. Todo mundo tem que escutar isso. O ato de beber começou, embora o chá nem esteja pronto.

Se você perguntar para as pessoas do zen, elas dirão que o chá não é algo que você verte sem atenção e bebe como qualquer outra bebida. Não é uma bebida, é meditação, é oração. Assim elas escutam a chaleira que cria uma melodia, e nessa escuta elas ficam mais silenciosas, mais alertas. Então as xícaras são colocadas diante das pessoas e elas as tocam. Essas xícaras não são comuns; cada mosteiro tem suas próprias xícaras únicas, eles fazem suas próprias xícaras. Até mesmo se elas forem compradas no mercado, primeiro eles a quebram, então as colam novamente assim a xícara torna-se especial, assim você não pode achar uma réplica delas em nenhum outro lugar.

Então todo mundo toca a xícara, sente a xícara. A xícara significa o corpo; se o chá significa a consciência, então a xícara significa o corpo. E se você tiver que estar alerta, tem que estar alerta a partir das raízes do corpo. Tocando, as pessoa ficam alertas, enquanto meditam. Então o chá é servido. O aroma surge, o cheiro. Isso leva muito tempo -- uma hora, duas horas --, assim, não é no espaço de um só minuto que você bebe o chá, depõe a xícara e vai embora. Não, é um processo longo, lento, de forma que você se dá conta de cada passo. E então elas bebem. O gosto, o calor, tudo tem que ser feito em um estado de muita atenção.

É por isso que um mestre oferece chá ao discípulo. Quando um mestre verte chá na sua xícara, você estará mais alerta e atento; quando um criado verte chá na sua xícara, você pode simplesmente esquecer. Quando Joshu verte chá na sua xícara -- se eu venho e verto chá na sua xícara -- sua mente parará, você ficará em silêncio. Algo especial está acontecendo, algo sagrado. O chá torna-se uma meditação.

Joshu diz: "Aceite uma xícara de chá", para todos os três. O chá é só uma desculpa. Joshu lhes dará mais consciência, e consciência surge da sensibilidade. Você tem que ser mais sensível em tudo o que faz, até mesmo uma coisa trivial como um chá... você pode achar alguma coisa mais trivial do que o chá? Você pode achar uma coisa mais vulgar, mais ordinária, do que o chá? Não, você não pode. E os monges e os mestres zen elevaram essa coisa, a mais ordinária, para ser a mais extraordinária. Eles atravessaram "este" e "aquele", como se o chá e Deus se tornassem um. A menos que o chá fique divino, você não será divino, porque o menor tem que ser elevado ao maior, o ordinário tem que ser elevado ao extraordinário, a terra tem que tornar-se o céu. Eles têm que ser ligados, nenhum intervalo pode ser deixado.

Se você vai para um mosteiro zen e vê um mestre que bebe chá, com uma mente ingênua você vai sentir-se muito transtornado: que tipo de homem é este, bebendo chá? Você pode conceber o Buda debaixo da árvore bodhi bebendo chá? Você não pode conceber isso, é inconcebível. A mente ingênua tem falado sobre a não-dualidade, mas criou muita dualidade. Você tem ouvido Advaita, a unidade, o um, mas tudo aquilo que você faz acaba virando dois. E você criou tal separação entre os dois que parece intransponível. Por causa disso Shankara teve de falar sobre maya e ilusão. Você criou uma tal separação entre este mundo e aquele mundo que eles não podem ser ligados. Assim, o que fazer?

Shankara disse: Este mundo é ilusório, você não precisa de ponte. Este mundo não é. Essa é a única maneira para vir a ser um: você tem que negar o outro completamente. Mas negar não ajudará; até se você disser que este mundo é ilusório, ele está aqui. E por que você insiste tanto que é ilusório se realmente ele não está aqui? Qual é o problema? Por que é que Shankara ficou ensinando a vida inteira que este mundo é ilusório? Ninguém se aborrece se for ilusório. Se Shankara soubesse que é ilusório, por que aborrecer-se com isso? Parece que há algum problema nisso. Parece que a única maneira é eliminá-lo completamente da consciência, dizer: 'isto não existe', então só um permanece. Nós temos só uma forma para alcançar o um, negar o outro.

O zen tem outra forma para alcançar isso, e eu penso que é muito mais bonita. Não há nenhuma necessidade de negar o outro. E você não pode negar: até mesmo ao negar você está afirmando. Se você diz que este mundo não existe, você tem que indicar este mundo, que não está em nenhuma parte, então o que você está indicando? Para onde você está apontando o seu dedo se não houver nada? Então você é tolo. Este mundo existe, e se você diz que é ilusório, é só uma interpretação. Se este mundo é ilusório, então o seu Brahma não pode ser real. Se a criação é ilusória, como o criador pode ser real? Porque a criação vem do criador. Se o Ganges é ilusório, como Gangotri pode ser real? Se eu sou uma ilusão, então meus pais são obrigatoriamente ilusórios, porque um sonho só nasce de outro sonho. Se eles são reais, então a criança deve ser real.

O zen diz que ambos são reais, mas ambos não são dois; unifique-os. Assim o chá torna-se oração, assim a coisa mais trivial torna-se a mais sagrada. É um símbolo. E o zen diz que se sua vida ordinária ficar extraordinária, só então você será espiritual; caso contrário, você não é espiritual. O extraordinário tem que ser encontrado dentro do ordinário; no familiar, o estranho; no conhecido, o desconhecido; no próximo, o distante; e, em "este", "aquele". Assim Joshu diz: "Venha e aceite uma xícara de chá".

Mais uma dimensão está na história e essa dimensão é de acolhimento. Todos são bem-vindos. Quem você é não importa, você é bem-vindo. No portal de um mestre iluminado, no portal de um Joshu ou um Buda, todos são bem-vindos. De certo modo a porta está aberta: Entre e aceite uma xícara de chá. O que isto significa: Entre e aceite um xícara de chá? Joshu está dizendo: Entre e relaxe.

Se você for até os outros assim chamados mestres, ou os assim chamados monges e sannyasins, você ficará mais tenso, mais amedrontado. Ele cria culpas, ele olhará para você com olhos condenatórios, e a própria forma como ele olhará para você já dirá que você é um pecador. E ele começará condenando: Isto está errado, aquilo está erado; deixe isto, deixe aquilo.

Esse não é o comportamento de uma pessoa realmente iluminada; alguém iluminado fará com que você se sinta relaxado. Há um dito chinês que afirma que se você encontrar um verdadeiro grande homem, você se sentirá relaxado na presença dele; se encontrar um falso grande homem, ele criará tensão dentro de você. Ele fará, consciente ou inconscientemente, todos os esforços para mostrar que você é inferior, pecador, culpado; e que ele é alto, superior, transcendental. Um buda o ajudará a relaxar, porque só com o seu relaxamento profundo você também se tornará um buda. Não há outra maneira.

"Aceite uma xícara de chá", diz Joshu. "Venha e relaxe comigo". O chá é simbólico, relaxe. Se estiver bebendo chá com um buda, você sentirá imediatamente que a sua presença não é a de um estranho, que você não é um forasteiro. Buda servindo chá na sua xícara... o Buda desceu, o Buda veio para "este", ele trouxe "aquele" para "este". Os cristãos, os judeus não podem conceber isso; maometanos não podem conceber isso. Se você bater no portal do céu, você pode conceber Deus vindo e dizendo: "Venha, aceite uma xícara de chá"? Parece demasiado profano. Deus está sentado no próprio trono, olhando para você com os seus mil olhos, olhando para cada canto e cada recanto de seu ser, para quantos pecados você cometeu. Você estará sendo julgado.

Esse Joshu é um não-juiz. Ele não o julga, ele simplesmente o aceita. Tudo aquilo que você diz, ele aceita e convida: "Venha e relaxe comigo". O relaxamento é o ponto. E se você pode relaxar com um ser iluminado, então a iluminação dele começará a penetrá-lo, porque quando você está relaxado, você se torna permeável. Quando você está tenso, você se torna fechado; quando você relaxa, ele vai entrar. Quando você estiver relaxado, confortável, bebendo chá, Joshu estará fazendo algo. Ele não pode entrar pela sua mente, mas ele pode entrar pelo seu coração. Ao pedir-lhe que aceite um xícara de chá, ele o está fazendo ficar relaxado, amigável, aproximando-o, tornando-o mais íntimo. E lembre-se, sempre que você está comendo ou bebendo com alguém, você fica muito íntimo. Comida e sexo são as únicas duas intimidades. No sexo você é íntimo, na comida você é íntimo. E a comida é mais básica e íntima do que o sexo, porque, quando uma criança nasce, a primeira coisa que ela recebe da mãe é comida. O sexo virá mais tarde, quando ela ficar madura sexualmente, catorze, quinze anos depois. A primeira coisa que você recebeu neste mundo foi comida, e aquela comida era uma bebida. Assim, aprimeira intimidade neste mundo é entre a mãe e a criança.

Joshu está dizendo: "Venha, aceite uma xícara de chá". Deixe que eu me torne a sua mãe. Deixe que eu lhe dê uma bebida. E um mestre é uma mãe. Eu insisto que um mestre é uma mãe; um mestre não é um pai. Os cristãos estão errados quando chamam os seus sacerdotes de padre (= pai), porque "padre" é uma coisa muito antinatural, um fenômeno da sociedade. O pai não existe em nenhum lugar da natureza a não ser na sociedade humana; é uma coisa criada, uma coisa cultivada. A mãe é natural, ela existe sem qualquer cultura, educação, sociedade; está lá na natureza. Até mesmo árvores tem mães. Pode ser que você não tenha ouvido que não só a sua mãe lhe deu a vida, mas até uma árvore tem mãe. Têm sido realizadas experiências na Inglaterra. Há um laboratório especial onde vem sendo realizadas experiências com plantas, e descobriu-se um fenômeno muito misterioso. Se uma semente é lançada na terra, e a mãe de onde a semente foi recolhida está próxima, a semente brota mais cedo. Se a mãe não está próxima, a semente leva um tempo mais longo. Se a mãe foi destruída, cortada, então leva um tempo muito maior para a semente brotar. A presença da mãe, até mesmo para uma semente, é útil.

Um mestre é uma mãe, ele não é um pai. Com o pai você está relacionado só intelectualmente, com a mãe a sua relação é total. Você fez parte da sua mãe, você pertence totalmente a ela. O caso é o mesmo com um mestre, mas na ordem inversa. Você saiu da mãe, você entrará no mestre. É um retorno à fonte.

Assim os mestres zen sempre o convidam para uma bebida. Eles estão dizendo, de modo simbólico: Venha e torne-se uma criança para mim, deixe que eu me torne a sua mãe; deixe que eu me torne o seu segundo útero. Deixe-me acolhê-lo, eu lhe darei um renascimento.

Comida é intimidade, e é tão profundamente enraizada em você que a sua comida inteira é afetada por isso. Homens no mundo inteiro, em sociedades diferentes, culturas diferentes, continuam pensando nos seios das mulheres. Nas pinturas, o seio permanece o ponto central. Por que tanta atração pelo seio? Essa foi a sua primeira intimidade com o mundo; você veio a conhecer a existência por intermédio dele. O seio foi o primeiro contato com o mundo. Pela primeira vez você aproximou-se da existência, pela primeira vez você conheceu o outro, através do seio. É por isso que há tanta atração pelo seio. Você não se sentirá atraído por uma mulher que tenha pouco seio, seios achatados. É difícil porque você não pode sentir nela a mãe. Assim, mesmo uma mulher feia fica atraente se tiver seios bonitos, como se os seios fossem o ponto, a coisa central do ser. E o que é o seio? O seio é comida. Sexo vem depois, comida vem primeiro.

O convite de Joshu para todos os três virem e tomarem um xícara de chá é um convite para a intimidade. Amigos comem juntos, assim, se você vê um estranho aproximar-se quando está comendo, você se sentirá incomodado. Estranhos sentem-se incomodados ao comer juntos. É por isso que num hotel, num restaurante, as coisas lhe fazem mal. Porque você está comendo com estranhos e a comida fica venenosa; você se sente demasiado cansado e tenso. Não é uma família, você não está relaxado.

Comida é intimidade, é amor. E os mestres zen sempre convidam para o chá. Eles o levarão ao salão de chá e lhe darão chá; eles estão lhe dando comida, bebida. Eles estão lhe dizendo: "Torne-se íntimo. Não fique tão longe, venha mais perto. Sinta-se à vontade".

Essas são as dimensões da história. Mas elas são dimensões da sensibilidade. Você não pode entender, mas pode sentir, e sentir é uma compreensão mais elevada; o amor é um conhecimento mais elevado. E o coração é o mais alto centro de conhecimento, não a mente; a mente é secundária, executável, utilitária. Você pode conhecer a parte superficial com a mente, nunca poderá conhecer o centro com ela.

Mas você se esqueceu do coração completamente, como se ele tivesse se tornado um nada; você não sabe nada sobre isso. Se eu falo sobre o coração, o centro do coração, você pensa nos pulmões, não no coração. Os pulmões não são o coração; os pulmões são só o corpo do centro do coração. O coração está escondido nos pulmões, em algum lugar profundo. Da mesma maneira que a alma está escondida no corpo, o coração está escondido nos pulmões. Não é algo físico; assim, se você for a um médico ele dirá que não há nenhum coração, nenhum centro do coração, só pulmões. E ele tem razão, até onde ele sabe, porque se você dissecar o corpo, nenhum centro do coração será encontrado, só os pulmões. Da mesma maneira que a sua alma está escondida no corpo, assim o centro do coração está escondido nos pulmões.

O coração tem sua próprias formas de conhecimento. Joshu só pode ser compreendido pelo coração. Se você tenta compreender pelo intelecto, é possível que entenda mal; mas compreender realmente não é possível. Isso é mais do que certo.

Basta por hoje.


quarta-feira, junho 25, 2008

Só existe Um, Só existe Deus!

ADVAITA


Só há uma alma
Só há um Deus
Só há um espírito
Só há um amor
Só há um momento: AQUI-AGORA
Só há um mestre: Consciência

Na ilusão da mente
O UM parece ser MUITOS
É como uma sala cheia de espelhos
Todos refletem você!
Lembre-se disso e investigue em sua vida.
Tenha muita reverência por cada pessoa
que passa por você.
Cada pessoa é um Mestre.
Porque você é um Mestre.
E porque o Mestre é apenas UM.
Você é Deus manifesto como corpo e mente.
Mas sua essência é puro silêncio e paz.
Aprenda a sentir este silêncio!
Meditação é abrir os olhos para esta verdade suprema.

DEUS É TUDO QUE HÁ !

(Swami Sambodh Naseeb)

segunda-feira, junho 23, 2008

Encobrimento da Natureza Divina do Homem (fim)

Masaharu Taniguchi


O PECADO CONCRETIZA-SE

Algumas pessoas afirmam "Pecado nem sempre é punido. Castigo de Deus é coisa que não existe", e citam exemplos dos que prosperaram apesar de serem iníquos. A Seicho-No-Ie também não reconhece a existência do castigo de Deus. Não é Deus quem castiga. O que nos parece castigo é a consequência do fato de o próprio pecado (o aspecto em que a Imagem Verdadeira perfeita está encoberta) revelar sua imperfeição sob forma concreta no "espelho" do mundo exterior. Também nos tempo bíblicos houve pessoas que perguntaram a Jesus acerca da relação entre o pecado e a ocorrência de infelicidades, doenças, etc. A resposta de Jesus Cristo foi a seguinte: "Pensais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem padecido estas cousas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependeres, todos igualmente perecereis. Ou cuidais daqueles dezoito, sobre os quais desabou a torre em Siloé e os matou, era mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis" (Lucas 13,2-5).

O pecado acaba sempre se manifestando concretamente. Mesmo que as consequências do pecado não estejam manifestadas em vocês agora, devem arrepender-ser, pois, caso contrário, o pecado -- "o aspecto imperfeito" -- fatalmente acabará por se manifestar concretamente e chegará a hora de vocês sofrerem as consequências infelizes. Este foi o ensinamento de Jesus Cristo.

Nos primeiros trechos do capítulo 9 do Evangelho Segundo João, consta que os discípulos de Jesus, vendo um homem cego de nascença, perguntaram "Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?", ao que Jesus respondeu: "Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifeste nele a glória de Deus". Subentende-se, aqui, que nem sempre a causa da doença está relacionada com o pecado. Em princípio, o pecado tem relação com a infelicidade, pois, sendo ele o aspecto em que a Imagem Verdadeira está encoberta, reflete-se no mundo externo sob a forma de estado imperfeito (infelicidade). E isso ocorre sob uma condição, que é: "Se não nos arrependermos". Se não nos arrependermos, cumprir-se-á a lei da concretização dos pensamentos, e a incontável quantidade de pensamentos iníquos que temos tido no passado, e que formam um carma negativo latente, passarão a se materializar no mundo real, não se extinguindo enquanto não punirmos a nós mesmos.


O MEIO PARA EXTINGUIR OS PECADOS

Por que o pecado se manifesta concretamente como infelicidade no mundo fenomênico? Não é para que ele próprio possa comprovar a sua existência.

Para melhor compreensão da explicação que darei a seguir, peço ao leitor que interprete o pecado como um "papel de embrulho" -- já que o pecado é "aquilo que encobre a Imagem Verdadeira e impede a sua revelação". Se um embrulho é dado a alguém, é para que ele remova o invólucro e receba com gratidão o presente que está dentro dele, e não para ficar olhando o embrulho em si. Se ele deixar o embrulho escondido numa prateleira, sem o abrir, a "Imagem Verdadeira" (isto é, o conteúdo) desse embrulho não se revelará. Quando o embrulho for trazido para um lugar claro e o invólucro for retirado, revelar-se-á o seu conteúdo. O mesmo acontece com o homem: somente quando ele for exposto à Luz da Verdade e for desfeito o "invólucro" do pecado, é que surgirá a Imagem Verdadeira de filho de Deus.

Assim sendo, mesmo que alguém seja cego, não é para mostrar o seu pecado que ele sofre de cegueira. Pelo contrário, pode-se dizer que ele expõe sua cegueira para revelar a sua Imagem Verdadeira de filho de Deus, ou, em outras palavras, para manifestar a glória de Deus. Se o pecado se concretiza em forma de infelicidade, é para que, com essa manifestação, ocorra sua "auto-desintegração". Se um pacote vem embrulhado, é para que o embrulho seja desfeito. Se a doença manifesta sintomas, é para que, através deles, se processe a cura. A sensação desagradável de formigamento nos pés ocorre quando o entorpecimento está começando a passar. Assim também é o pecado. Não é para comprovar sua existência que o pecado se manifesta no mundo fenomênico em forma de infelicidade. Podemos dizer que ele se manifesta para que, através de sua desintegração, se revele a Imagem Verdadeira perfeita criada por Deus, isto é, a glória de Deus.

Portanto, se "nos arrependermos", isto é, se a nossa mente se voltar completamente para a nossa Imagem Verdadeira, ou, em outras palavras, se apreendermos na prática a nossa Imagem Verdadeira de filho de Deus e o Paraíso da Imagem Verdadeira criado por Deus, todos os pecados se extinguirão imediatamente. O "embrulho" será desfeito num instante e o seu conteúdo se revelará imediatamente; então, o invólucro não terá mais importância, qualquer que seja a aparência dele, e será removido e jogado fora.


O PECADO CONTRA O PRÓXIMO

Pecar é deixar de manifestar a Imagem Verdadeira, mantendo-a encoberta. Peca contra Deus aquele que não conscientiza a verdadeira relação entre Deus e si mesmo, e não manifesta plenamente a sua Imagem Verdadeira de filho de Deus. Foi por isso que Jesus admoestou o povo, dizendo: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu espírito. este é o máximo e o primeiro mandamento". Com essas palavras, Jesus quis dizer que nós, seres humanos, devemos despertar para a nossa Imagem Verdadeira, a qual é originariamente um com Deus. Amar a Deus acima de todas as coisas constitui a base da doutrina de Cristo. E quando conseguimos cumprir esse primeiro mandamento, virá por si mesmo o cumprimento dos demais mandamentos.

Mas vejamos qual é o segundo mandamento citado por Jesus: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". O pecado contra o próximo consiste em não cumprir este mandamento. Mas porque é pecado "não amar o próximo como a nós mesmos"? É que o "próximo" é parte de nós. Em outras palavras, nós e o outro somos, na verdade, uma só vida. Quando compreendemos a Verdade Primeira e Suprema, ou seja, que "somos um com Deus", chegamos à natural conclusão de que "nós e o outro somos originariamente um". Se A é um com Deus, B é um com Deus, C é um com Deus e eu também sou um com Deus, é claro que A, B, C e eu somos um com Deus. Se uma pessoa não ama o seu próximo, é porque ela não vê a Imagem Verdadeira, em cujo plano ela e os outros são uma só Vida. Vendo a nós próprios e aos outros unicamente com os nossos olhos carnais, será inevitável a conclusão de que nós e os outros somos indivíduos separados, cada qual com sua própria cabeça, seus próprios braços e pernas, etc. A idéia de que "cada indivíduo é um ser isolado dos outros" é fruto da mente presa à ilusão dos cinco sentidos. Quando afastamos os cinco sentidos, ou em outros termos, quando contemplamos o mundo além dos cinco sentidos carnais, compreendemos que nós e os outros somos, na verdade, uma só Vida.

Sei que existem pessoas que parecem apreciar a solidão. Aliás, eu próprio fui um menino que procurava evitar as pessoas e, sempre que possível, ficava sozinho no quarto, lendo ou escrevendo. Mas acho que, no fundo, eu não gostava da solidão, pois costumava enviar pequenos artigos para revistas juvenis e ficava exultante quando os via sendo publicados. A verdade é que todo ser humano, mesmo aquele que diz gostar da solidão, procura de alguma forma ligar-se a outras pessoas, e fica contente quando consegue concretizar a Imagem Verdadeira, em que ele e os outros são um. Existem diversas espécies de amor: o amor entre homem e mulher, o amor entre amigos, o amor entre os irmãos, o amor que une os compatriotas, o amor que une os componentes de um grupo literário ou de um partido político, o amor que une as pessoas que possuem um mesmo ideal, etc. Cada tipo de amor é uma manifestação parcial da Imagem Verdadeia, em cujo plano todos os seres constituem essencialmente uma só Vida.


A PURIFICAÇÃO DO AMOR

A formação de pequenos e imperfeitos grupos de pessoas ligadas por uma determinada espécie de amor é a manifestação parcial, e não total, da Imagem Verdadeira, da Verdade de que todos os seres humanos são uma só Vida. Ao se ligarem através de uma ou outra forma de amor, as pessoas estão manifestando até certo ponto a Imagem Verdadeira. E, na medida em que exteriorizam a Imagem Verdadeira, elas estão contribuindo para o progresso da humanidade. Quando um homem e uma mulher se amam, eles sentem, do fundo do coração, que são um. Mas, como esse sentimento de unidade fica restrito aos dois apaixonados, estes tendem a se isolar dos demais e a agir egoísticamente. Eis porque às vezes ocorrem casos de pessoas apaixonadas que entram em choque com a família e com a sociedade, ameaçando a tranquilidade do lar e prejudicando a ordem social estabelecida. Todavia, quando os apaixonados procuram harmonizar a "pequena unidade de apenas duas pessoas" com a "unidade maior" formada pelo círculo familiar, sociedade, nação, etc., através dos esforços para integrar essa unidade maior, eles conseguem progredir espiritualmente. A esse esforço para integrar a pequena unidade em uma unidade maior, dá-se o nome de purificação do amor.

Não só o amor entre um homem e uma mulher, como também os sentimentos que unem os amigos, os compatriotas, os integrantes de um grupo literário fechado, os membros de um partido político, etc., são na verdade sentimentos de unidade restritos a um determinado âmbito (às vezes pequeno, outras vezes maior, porém sempre limitado). Mas, à medida que seus limitados sentimentos de unidade forem evoluindo para um sentimento de unidade mais grandioso e elevado, essas pessoas irão abandonando o egoísmo e passarão a contribuir mais para o bem de toda a humanidade. E, na medida em que elas contribuírem para isso, irá se purificando o seu sentimento de amor. Em suma, a purificação do amor consiste em elevar o sentimento de unidade restrito a um círculo para um sentimento de unidade de maior alcance.


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sábado, junho 21, 2008

Encobrimento da Natureza Divina do Homem - 03

Masaharu Taniguchi



A SALVAÇÃO PROVÉM DA CONSCIENTIZAÇÃO DA IMAGEM VERDADEIRA

Aquele que crê no homem verdadeiro (Imagem Verdadeira) como ser eterno alcançará a vida eterna, mesmo sem a mediação de um ser manifestado fisicamente (como Jesus Cristo ou Buda) -- esta é a Verdade descoberta pela Seicho-No-Ie.

Todos os seres humanos são manifestação do ser eterno. Não importa se é bom ou ruim o seu aspecto no mundo fenomênico, isso é como a boa ou a má qualidade de uma imagem fotográfica, e o homem verdadeiro (isto é, a Imagem Verdadeira) jamais se perverte. Por desconhecer esta Verdade, o homem tende a desprezar a si mesmo. Muitas pessoas pensam "Sou imprestável mesmo", e com isso cometem o "encobrimento de sua natureza divina" (pecado). Encobrindo a natureza divina, é impossível que essa natureza perfeita se revele no mundo fenomênico. Experimente fotografar alguém coberto com um véu: é claro que a imagem perfeita dessa pessoa não aparecerá na fotografia. Do mesmo modo, encobrindo a nossa natureza divina e projetando o filme no mundo fenomênico através da "lente mental" distorcida pelos pensamentos tais como "Eu não presto mesmo", será impossível surgir no mundo fenomênico o nosso aspecto perfeito. Assim, a idéia de que "somos pecadores" é a matriz de onde se originam todos os males do mundo fenomênico, ao passo que a convicção de sermos filhos de Deus é a matriz geradora de um bom mundo fenomênico.


EXPLICAÇÕES DO PECADO E DE SUAS CONSEQUÊNCIAS

Depois que uma pessoa comete um pecado, surge-lhe o desejo de auto-punição, do mesmo modo que, quando se lançam poeira e lixos na fogueira, levanta-se fumaça. A esse desejo de auto-punição damos o nome de "tormento da consciência". Judas Iscariotes, depois de ter vendido Jesus por trinta moedas de prata, foi acometido por um violento tormento da consciência e acabou cometendo suicídio.

Mesmo aqueles que não cometeram um pecado tão grave quando Judas Iscariotes, sentem remorsos pelos pecados cometidos. O remorço é a "fumaça" que se levanta no processo em que o "fogo" da natureza divina do ser humano busca reativar-se, rompendo a "manta do pecado" que o cobre. Lendo a biografia de São Francisco de Assis, de Honen (um santo busdista) e de Shinra (idem), e outras literaturas sobre eles, percebemos que neles também era acentuado o sentimento de auto-recriminação. Aliás, podemos dizer que, justamente por serem eles homens de grande virtude, mais forte era seu desejo de auto-punição quando julgavam ter cometido algum pecado.

Analisando oa inquietação que acompanha a consciência de pecado (a inquietação, em si, é uma forma de auto-punição do homem), podemos concluir que ela resulta da dissonância que ocorre no interior da alma. Quando cometemos um pecado, ocorre uma dissonância no interior de nossa alma, e por isso sentimos um desconforto mental e somos torturados pelo remorço. Mas, por que ocorre a dissonância mental no interior de nossa alma quando cometemos pecado? É porque sentimos que algo incompatível com nossa natureza divina está em contato conosco. Quando nossa pele está em contato com uma superfície lisa e macia, compatível com ela, temos uma sensação agradável; mas quando a nossa pele fica em contato com uma superfície áspera e dura, incompatível com ela, temos uma sensação desagradável. Se, por exemplo, esfregarmos uma lixa no rosto, certamente teremos uma sensação muito desagradável.

O pecado -- tanto em pensamentos como em atos -- causa a sensação desagradável à nossa alma porque não é compatível com nossa natureza divina. Se nossa natureza verdadeira não fosse divina, nossa consciência não se sentiria incompatível com o pecado. A consciência é a manifestação da natureza divina, que constitui a nossa essência.

No princípio, a dissonância sentida pela consciência ocorre apenas no nível psicológico; mas, pela lei mental segundo a qual "as vibrações da mente sempre acabam por se manifestar concretamente", pouco a pouco ela passa a se manifestar objetivamente, tomando aspecto visível e perceptível aos cinco sentidos, e assim começa a surgir na vida concreta sob a forma de doença, infelicidade, etc.

A Seicho-No-Ie exprime isso com a frase: "Tanto o corpo carnal como o ambiente que nos cerca são reflexo de nossa própria mente". A consequência de nossos pensamentos aparece objetivamente em nossa vida, tal como a sentença de um julgamento. Portanto, podemos dizer que nosso estado físico e nosso meio ambiente são "sentenças" ditadas por nossa própria mente.

Se a história de vida de um indivíduo é a história das sentenças ditadas por sua própria mente, podemos dizer que a história do mundo é a história das sentenças ditadas pela mente da própria humanidade. O despeito, a inveja, o medo, a inquietação, a ira, o ódio, etc., que pairam sobre o mundo inteiro vão tomando forma concreta a cada momento, constituindo sentenças tais como de guerras, saques, boicotes, greves, repreensões, revelando-se assim o conteúdo mental da maioria da humanidade. Se nenhuma pessoa deste mundo tivesse conteúdo mental negativo tais como o despeito, a inveja, o medo, a inquietação, a ira e o ódio, jamais surgiriam neste mundo cenas de guerras e conflitos.

Assim, os sofrimentos da humanidade são sempre o reflexo das ilusões da humanidade, isto é, do "pecado de encobrir a Imagem Verdadeira"; e os sofrimentos de um indivíduo são sempre o reflexo das ilusões da sua mente individual, isto é, do "pecado de encobrir a Imagem Verdadeira". Portanto, a história de um indivíduo é o reflexo de sua mente individual; e a história do mundo é o reflexo da mente da humanidade.


quarta-feira, junho 18, 2008

Encobrimento da Natureza Divina do Homem - 02

Masaharu Taniguchi


A ORIGEM DA FALTA DE LIBERDADE E DAS DISCÓRDIAS DO SER HUMANO

Quando o ser humano começa a se apegar, por pouco que seja, aos aspectos materiais, ele tolhe com sua própria mente a liberdade que lhe é inerente, e passa a sofrer a falta de liberdade. A discórdia também é uma faceta da falta de liberdade. Isto é, quando a liberdade intrínseca do todo é tolhida, surgem discórdias. Isso é comparável ao que ocorre com as engrenagens de um relógio: se não acontecer nenhum impedimento no movimento do mecanismo do relógio, não acontecerá de as engrenagens entrarem em atrito entre si; mas se ocorrer algum impedimento, as engrenagens não poderão se mover harmonicamente, atritam-se, e o relógio pára. O atrito resultante da perda de movimento livre e harmônico é que constitui a discórdia.

Atritos ocorrem também entre as entidades religiosas, havendo muitas se criticando e repelindo umas às outras. E, assim, as próprias entidades religiosas, cuja missão é pregar a paz, harmonia e união entre os homens, frequentemente estão agindo de maneira oposta a suas doutrinas. Isso acontece porque os seus seguidores estão presos ao erro chamado "primeiro encobrimento da natureza divina", tendo como objeto de adoração a imagem material de Cristo, de Buda, etc., e não a natureza divina eterna dEles.

Como já foi dito, o "pecado original cometido por Adão" é o primeiro encobrimento da natureza divina do homem, que consiste em considerar o homem um mero corpo carnal, em vez de reconhecer sua natureza espiritual de fiho de Deus.

Mesmo entre as religiões ocorrem discórdias quando as pessoas vêem numa forma material o seu objeto de adoração. Portanto, é evidente que, quando os homens buscam sua vida individual dentro de uma forma material chamada corpo carnal em vez de buscá-la na Vida Infinita, passem a surgir males de todas as espécies, decorrentes do pecado original (o primeiro encobrimento da natureza divina), que consiste em apegar-se à matéria em vez de reverenciar à Vida.

Lamentavelmente, nos dias atuais, muitas pessoas que se dizem cristãs estão cometendo o mesmo pecado cometido por Adão. Quão grande é o número de cristãos que só conseguem apreender como Cristo o Jesus carnal, e não o Cristo eterno (natureza divina) ao qual ele próprio se referiu ao dizer "Antes que Abraão existisse, Eu Sou", e vivem a pregar que a humanidade só poderá ser salva através do Jesus carnal! Eles estão confundindo o "corpo carnal" com a "natureza divina", a "ilusão" com a "Imagem Verdadeira". Alcançamos a salvação somente quando buscamos através da natureza divina eterna, à qual o próprio Jesus se referiu dizendo "Antes que Abraão existisse, Eu Sou". Na verdade, a salvação já está ao nosso alcance, dentro de nós próprios, pois a mesma natureza divina eterna de Jesus Cristo existe também em nós, ou, melhor dizendo, essa natureza divina eterna é que é o nosso verdadeiro ser. Portanto, é uma tolice acreditar que o homem só poderá ser salvo através do Cristo que está fora do nosso ser -- ou seja, através do Jesus carnal.

O cristianismo repudia e despreza o culto às formas, rotulando-o de idolatria. Mas muitos cristãos, ao afirmarem que o homem só alcançará a salvação através do Jesus carnal nascido na Judéia há cerca de 2.000 anos, e reverenciarem sua imagem carnal em vez de sua natureza divina eterna, estão cometendo a idolatria que eles próprios tanto condenam. Renegar assim a natureza divina eterna (consequentemente, renegar o próprio Deus) e adorar um determinado corpo carnal equivale a ignorar a natureza verdadeira de Deus. É um pecado grave que consiste em esconder o Deus verdadeiro com a ilusão da mente.


AS DESAVENÇAS RELIGIOSAS TÊM ORIGEM NA ADORAÇÃO DE IMAGENS

As coisas materiais, que possuem forma, são limitadas. Por isso, quando os homens transformam as coisas materiais em objeto de sua adoração, surgem disputas, cada qual procurando defender seus domínios. Mesmo em se tratando de religião, cuja missão principal é estabelecer a paz entre os homens, se os seus seguidores estiverem presos à imagem material de Cristo (ou de Buda, pois tal fato também ocorre em algumas ramificações do Budismo) manifestada em forma de ser humano, será inevitável o surgimento de desavenças entre eles, já que as imagens manifestadas variam conforme o lugar e a época. Podemos saber o quanto uma religião tende à adoração de imagens, verificando o quanto ela repele outras religiões. Em última análise, os germes de toda e qualquer discórdia surgem devido à adoração de coisas materiais, que têm forma -- no caso da religião, devido à adoração de imagens. Se alguém nos perguntar "qual é o maior de todos os pecados", responderemos "É a idolatria", de acordo com a doutrina da Seicho-No-Ie.

Quando todos os cristãos deixarem de ver o Cristo apenas como imagem física chamado "Jesus carnal" e passarem a vê-lo como natureza divina eterna, ou seja, como um ser espiritual, referido na frase "Antes que Abraão fosse, Eu Sou"; quando todos os budistas deixarem de adorar o Sakyamuni carnal e descobrirem o Buda eterno ao qual ele próprio se referiu assim numa resposta ao discípulo Ananda: "Todos os budas do passado foram meus discípulos"; e quando se compreender que a Seicho-No-Ie (Lar do Progredir Infinito) não é a casa do homem carnal chamado Masaharu Taniguchi, mas sim o Eterno Lar do Progredir Infinito referido na frase: "Todos os ensinamentos fluem para dentro de mim e vivificam-se"; aí então, as religiões não precisarão mais disputar entre si para ampliar seus domínios.


CRISTO E NICODEMOS

Na Bíblia, há uma passagem onde se diz que, chegando Jesus à Jerusalém, foi procurado por um homem chamado Nicodemos, que era fariseu e membro do Sinédrio. Este foi ter com Jesus depis do anoitecer, e lhe disse: "Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele" (João 3, 2). Jesus percebeu que Nicodemos acreditava em Deus, não por ter compreendido a natureza divina, mas por ter visto os milagres revelados no plano material. Por ter percebido esse equívoco de Nicodemos é que Jesus lhe respondeu: "Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus" (João 3, 3). Com isso ele quis dizer: Não pense que viu o Reino de Deus simplesmente por ter presenciado milagres no plano material. Mas Nicodemos interpretou literalmente as palavras de Jesus e pensou que "nascer de novo" era retornar ao útero materno e nascer outra vez. Por isso, perguntou a Jesus: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer uma segunda vez? (João 3, 4). Ao que Jesus respondeu: "... o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem pra onde vai; assim acontece com aquele que nasceu do Espírito" (João 3, 5-8).

Certas doutrinas espiritistas pregam que "a vida carnal é o período de preparação para ingressar no Reino de Deus". Assim, muitas pessoas pensam que o seu ingresso no Reino de Deus, depois desta vida, depende dos resultados dos empenhos do seu corpo carnal. Gostaria que essas pessoas refletissem acerca daquelas palarvas de Jesus Cristo: "O que é nascido da carne é carne...". Não é após o nascimento e renascimento através da carne que o homem pode, finalmente, alcançar o Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, não importa quantas vezes o seu corpo torne a nascer. O que é nascido do ser fenomênico é sempre ser fenomênico. Não é depois de encerrar a sua vida fenomênica que o homem finalmente pode passar para o Mundo da Imagem Verdadeira, assim como não é depois de se revelar o filme e aparecer a imagem na fotografia que a pessoa fotografada passa a existir. Desde o princípio, existe irrefutavelmente a pessoa real, e fotografando sua imagem é que se obtém seus retratos em diversas poses. Por mais que se reproduzam cópias, a pessoa real jamais se introduz na fotografia. O mesmo se pode dizer do homem verdadeiro (Imagem Verdadeira) e relação ao homem fenomênico: desde o princípio existimos como homem verdadeiro (ser espiritual), e neste mundo revelamo-nos como homem fenomênico.

Dependendo do tipo da "lente", pode-se obter diferentes "imagens": ora perfeitas, ora distorcidas. Mas o homem verdadeiro (Imagem Verdadeira) é aquele que, independentemente de estar ou não distorcida a sua imagem fenomênica, mantém sua original perfeição. Ele não é um ser que passa de um estado fenomênico para outro, como, por exemplo, do mundo fenomênico dos vivos para o mundo fenomênico após a morte. Tanto o mundo presente como o mundo após a morte são mundos fenomênicos. Podemos ter melhor compreensão disso, se os considerarmos como diferentes imagens reveladas pelas diferentes "lentes" com que se capta o Mundo da Imagem Verdadeira.

Explicando de forma objetiva e clara, a Verdade que Jesus Cristo transmitiu a Nicodemos foi a seguinte: "Ainda que a imagem tenha distorção, não pense que a pessoa real também seja distorcida. Ainda que o homem fenomênico esteja doente, não pense que o homem verdadeiro (Imagem Verdadeira) também o esteja. A Imagem Verdadeira é invisível aos olhos carnais. Você pode, por acaso, ver de onde vem o vento, e para onde ele vai? Certamente, não. Você não pode ver com os olhos da carne a Imagem verdadeira, assim como você não pode ver o vento. Nascer de novo significa volver para a Imagem Verdadeira os olhos da mente que estão voltados para o homem fenomênico".

Mas, como foi dito mais acima, Nicodemos não entendeu o significado das palavras de Jesus, e por isso redarguiu: "Como pode suceder isto?" E Jesus respondeu: "Tu és mestre em Israel, e não compreende estas cousas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitais o nosso testemunho. Se tratando de cousas terrenas não me credes (se não me compreendes apesar de eu ter lhe explicado usando a alegoria do vento do mundo fenomênico), como crereis, se vos falar das cousas celestiais (das coisas do Mundo da Imagem Verdadeira)?Ora, ninguém subiu ao céu (Mundo da Imagem Verdadeira), senão aquele que de lá desceu, a saber o filho do homem, que está no céu (poderá entrar no Mundo da Imagem Verdadeira somente aquele que nasceu do Mundo da Imagem Verdadeira, a saber, o homem verdadeiro). E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna (Importa que o filho do homem -- Jesus -- morra na cruz, para que aqueles que nele crêem compreedam que o homem verdadeiro é um ser eterno, um ser espiritual, que jamais morrerá, mesmo que o corpo carnal seja destruído)" (João 3, 10-15, com a interpretação feita entre parênteses).

"Para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna" -- este é o versículo em que os cristãos têm se fundamentado para afirmarem que o homem não poderá alcançar a vida eterna a não ser através de Jesus Cristo. Mas, por que será que o próprio Cristo disse "para que todo aquele que nEle crê tenha vida eterna", em vez de dizer "para que todo aquele que em Mim crê tenha a vida eterna"? Podemos constatar que, no referido trecho da Bíblia, Jesus usa as expressões "filho do homem" e "ele", em vez de "eu". E, quando se refere a "aquele que do céu desceu", acrescenta a explicação: "a saber, o filho do homem". Ao dizer isso, ele estava se referindo à Imagem Verdadeira de todo ser humano. Jesus não disse "Crê em mim" e sim "Crê no filho do homem; crê no homem verdadeiro (Imagem Verdadeira); eu sou um exemplo. Aquele que crê no homem verdadeiro como um ser eterno/espiritual, terá a vida eterna ainda que o seu corpo carnal pereça".


domingo, junho 15, 2008

Encobrimento da Natureza Divina do Homem

Masaharu Taniguchi


O homem verdadeiro, criado por Deus, à imagem e semelhança do Pai, traz em si a vida de Deus; ele simboliza a perfeição de Deus, sente alegria em viver como extensão do próprio Deus, e só se sente feliz quando ama a Deus, e a seus semelhantes -- que também são filhos de Deus -- e trabalha junto com eles, unindo forças. É contra sua natureza repudiar seus semelhantes ou conquistar a vitória somente para si mesmo, prejudicando os outros.

Por que, então, os seres humanos que habitam este mundo fenomênico não desfrutam da mesma vida perfeita do Paraíso da Imagem Verdadeira, e estão sempre em conflito uns com os outros? Na Sutra do Lótus consta: "O Paraíso permanece indestrutível. Mas a humanidade parece ser consumida pelo fogo, e este mundo se afigura cheio de tristeza, medo e sofrimento". No capítulo 1 do Gênesis está descrita a Imagem Verdadeira deste mundo, conforme foi criado por Deus: frutas e vegetais abundam nos campos e nas florestas, e o homem, criado à Imagem de Deus, ali vive repleto de felicidade. No entanto, no capítulo 2 do Gênesis, afirma-se que, quando a terra foi criada não havia nenhuma planta, nem havia homem para lavrar o solo, e que o homem foi criado do pó da terra, sendo posteriormente enganado pela astúcia da serpente, expulso do Jardim do Éden e condenado a obter o sustento com muito trabalho, "até que volte novamente a ser o pó da tera, de que foi criado". Isso é o que significa a queda do homem, do estado perfeito da Imagem Verdadeira para o estado imperfeito do aspecto fenomênico; do estado de homem autêntico para o estado de falso homem.

Então pergunta-se: Por que ocorreu essa queda? A verdade, porém, é que o homem verdadeiro (Imagem Verdadeira) jamais sofreu tal queda, embora assim pareça. Ele é imortal, indestrutível, jamais sofreu queda alguma, e continua vivendo tranquilo e feliz no Paraíso da Imagem Verdadeira, trabalhando na gratificante obra da criação. Porém, devido às ilusões da mente, a humanidade vê o ser humano como um ser material, um ser humano formado a partir do pó da terra.

Essencialmente, na Sutra do Lótus e no Gênesis é contada a mesma vedade: o homem verdadeiro (Imagem Verdadeira), ou seja, o "homem enquanto ser espiritual", é imortal e indestrutível; mas em vez de ver esse aspecto perfeito, a humanidade vê o homem material e o considera existência real. Essa é a primeira ilusão que constitui o primeiro "invólucro" (pecado) que encobre a Imagem Verdadeira. O primeiro e fundamental pecado é não ver o homem espiritual e real, mas apenas o homem material, acreditando ser real esse homem fenomênico e material.

O Reino de Deus -- o Mundo da Imagem Verdadeira, a criação autêntica de Deus -- não é algo incerto que existe ou deixa de existir ao sabor das ilusões da mente humana, isto é, não é algo que passa a existir se acreditarmos que ele "existe". O Paraíso da Imagem Verdadeira não é um mundo que esteja sujeito a surgir ou desaparecer, dependendo de acreditarmos ou não em sua existência. Ele continua a existir sempre, quer acreditemos ou não em sua existência.

Já as coisas do mundo fenomênico surgem se acreditarmos que elas "existem", e desaparecem se acreditarmos que elas "não existem". Por exemplo: acreditando que a doença existe, ela se manifesta; e, acreditando que ela não existe, isso a faz se extinguir. Acreditanto que "o homem está sujeito à pobreza" surge-nos a situação de pobreza; e, acreditando que "o homem é originariamente imune à pobreza", desaparece a situação de pobreza. Tais fatos tem sido muito vivenciado por muitos adeptos da Seicho-No-Ie. Como podemos perceber, as coisas do mundo fenomênico surgem ou se extinguem de acordo com nossa mente; vemos as situações e aspectos que nossa própria mente projetou e "coloriu".

Portanto, conforme está escrito na Sutra do Lótus, mesmo quando o mundo fenomênico parece "consumido pelo fogo e repleto de tristeza, medo e sofrimento", o Mundo da Imagem Verdadeira, de perene felicidade, mantém-se indestrutível. Se o mundo da Imagem Verdadeira continua intacto e perfeito, é impossível que exista como parte dele o mundo fenomênico repleto de sofrimentos. Na verdade, o mundo fenomênico repleto de sofrimentos não existe. O mundo da matéria não existe.

Então, o mundo fenomênico repleto de sofrimentos é um mundo ilusório, totalmente alheio ao Mundo da Imagem Verdadeira de perene felicidade? Também não é assim. O mundo fenomênico é o mundo que se nos apresenta através da "lente embaçada" de ilusões que cobrem o Mundo da Imagem Verdadeira. Na verdade, somente o Mundo da Imagem Verdadeira existe realmente. O mundo fenomênico não reflete o aspecto real do Mundo da Imagem Verdadeira, sendo apenas um mundo aparente que vemos através da "lente" embaçada pelas nossas ilusões. O mundo fenomênico que vemos através dessa "lente" é mutável e nele se alternam sofrimentos e alegrias; mas, não obstante esse aspecto do mundo fenomênico, e independente de o homem fenomênico extinguir-se ou não, o Mundo da Imagem Verdadeira de perene felicidade continua a existir intacta e indestrutivelmente. Assim mesmo como somos, aqui e agora, estamos vivendo dentro do Mundo da Imagem Verdadeira; não é que o mundo fenomênico exista numa "área" delimitada dentro do Mundo Imagem Verdadeira e que o homem se transfira para a área pura do Mundo da Imagem Verdadeira após a morte do corpo carnal. Isso não ocorre.

O primeiro capítulo do Gênesis refere-se à Imagem Verdadeira perfeita do homem-espírito. Já o segundo capítulo vê o homem como uma criatura imperfeita, formada do pó da terra. Isto constitui a primeira ilusão da humanidade, o primeiro pecado. É ilusão pelo fato de não se enxergar o Aspecto Verdadeiro; é pecado pelo fato de se ocultar a Imagem Verdadeira com o "invólucro" chamado "ilusão" (Em japonês, pecado é tsumi, termo derivado da palavra tsutsumi que significa invólucro ou envoltório).

O primeiro pecado consiste, pois, em encobrir e ocultar a natureza espiritual do homem e vê-lo como um ser material; consiste em encobrir e ocultar a Imagem Verdadeira do homem-espírito e vê-lo como homem-matéria; consiste em acreditar que o Reino de Deus é um mundo que se alcança somente depois que se deixa este mundo, e em acreditar que o homem não poderá "nascer no reino de Deus" a não ser quando sua existência física chegar ao fim. Em outras palavras, consiste na não-conscientização de que o Reino de Deus é um mundo eterno e ilimitado que já existe aqui e agora, e na não-conscientização de que o homem é filho de Deus e, portanto, um ser eterno. Dito na linguagem do cristianismo, esse primeiro pecado constitui o "pecado original cometido por Adão".

Devido ao pecado original (o primeiro encobrimento da natureza divina do homem), a humanidade passou a considerar o ser humano "pó da terra" -- um mero corpo material --, e a considerar o mundo um aglomerado de elementos materiais. Fisicamente, cada indivíduo é separado dos outros; por isso, enquanto o homem considerar a si próprio como um ser material, sempre surgirá o egoísmo. Todos os elementos materiais são limitados; por isso, enquanto o homem encarar o mundo como um aglomerado de elementos materiais, ele se empenhará em lutas, saques e disputas, defendendo a posse de coisas materiais, movido pela idéia de que "as coisas se diminuem se forem compartilhadas com os outros". Eis porque apesar de o homem verdadeiro -- que é filho de Deus -- jamais se empenhar em lutas, saques e disputas, o homem fenomênico vive se envolvendo em lutas, saques e disputas.


quinta-feira, junho 12, 2008

A Base da Cura Espiritual (Fim)

Joel S. Goldsmith


A CONDUTA DE UM MÉTODO DE CURA

Desenvolvendo o seu método de cura, tenha o cuidado de não repetir presunçosamente declarações da verdade a seus pacientes, de não lhes dar bonitas citações da Escritura nem de escritos metafísicos, salvo se você próprio teve uma dimensão consciente dessa verdade. Lembre-se: é muito melhor não dizer coisa alguma a seus pacientes além de "Deixe isso comigo" ou "Eu o ajudarei", ou "Eu estarei com você" ou "Chame outra vez pela manhã" -- é muito melhor não lhes transmitir qualquer declaração da verdade, mas apenas a sua garantia de que, com o seu entendimento da presença de Deus, você está conscientemente com eles em prece e realização.

Quando sua consciência está imbuída no espírito da verdade -- não apenas na letra da verdade, mas do espírito da verdade -- ocorrerá a cura. Então você pode explicar a seus pacientes o que é a verdade, transmitindo-lhes declarações da verdade que você provou ou demonstrou, e que se tornaram parte de sua consciência. Eles, então, não apenas ficarão contentes por ouvir essas declarações, como também sentirão a sua verdade. Fazer a seus pacientes ou estudantes citações e declarações da verdade das quais você próprio não tem consciência, é como dar-lhes pedra quando eles pedem pão. Preferivelmente, faça-lhes uma declaração simples, uma que você já tenha demonstrado repetidamente e que, portanto, sabe que é verdadeira. A menos que você possa fazer isso, dê-lhes o silêncio que cura. Nada diga, mas sinta dentro de seu ser esse Cristo que cura.

Lembre-se disto: você não é chamado para curar uma pessoa; você não é chamado para eliminar uma moléstia terrível; você não é chamado para mudar a atividade de um corpo humano. Tudo o que você é chamado a fazer é compreender a natureza espiritual do Deus onipotente e a criação perfeita de Deus. Você é chamado para sentir uma presença vivente, para sentir esta Presença vivente no centro do seu ser.

Em cada caso para o qual você é chamado, o verdadeiro chamado é para a sua compreensão de Deus como a vida do homem, Deus como a mente, a alma, a lei, a substância e a causa. Declarar estas coisas, no entanto, não constitui uma cura espiritual. Você tem de sentí-las; trata-se de uma verdadeira percepção espiritual dentro do seu próprio ser.

Não tente alcançar o seu paciente. Não tente transmitir o seu pensamento a um paciente. Esteja apenas certo de que dentro de seu próprio ser você sente a verdade, você sente a exatidão, você percebe o sentido espiritual de ser. Então o seu paciente correnponderá. Não leve o paciente para o seu pensamento -- não tome nota de seu nome, nem da natureza de sua moléstia, nem de qual é a sua aparência -- e, acima de tudo, jamais pense que você tem de transmitir ou de transferir algum pensamento para ele.

Não importa qual seja a alegação ou o problema. Quando o Cristo de você toca o Cristo do seu paciente, acontece a cura. Não tente curar humanamente pessoa alguma, seja mental ou fisicamente. Procure ficar calado no centro de seu ser e sinta o Cristo, sabendo que tudo isso está ocorrendo no Coração único, no coração de Deus, que é o seu coração. Você tem de sentir uma unidade consciente com Deus. Deus inclui tudo e, já que é assim, você e eu precisamos estar incluídos nesse ser-Deus, de modo que quando você é um com Deus, você é um comigo. "Minha união consciente com Deus constitui a minha unidade com você, e com cada ser espiritual, e com cada atividade de Deus que está incluída na minha vida". Todas estas são idéias divinas, cuja forma traduzimos em termos de nossas necessidades humanas.

Assim, como o seu corpo é um corpo espiritual em Deus, nem masculino, nem feminino, quando você está em contato com o seu Cristo, no centro do seu ser, que é o Cristo de cada indivíduo... quando ocorre o contato com o Cristo, há somente amor puro, Espírito puro. Entretanto, por causa do sentimento humano, as qualidades de Deus são interpretadas como masculinas e femininas, indiferentemente.

Da mesma maneira, a idéia de transporte pode ser traduzida num jumento, num avião, num bonde, ou num automóvel. Estes representam somente os conceitos humanos da idéia divina de transporte. A verdade sobre transportes é encontrada em uma palavra: instantaneidade -- Eu estou em todos os lugares -- aqui, lá, e em todos os lugares! Esta é a verdade a respeito do transporte espiritual. É por isso que é tão fácil a um clínico de São Francisco curar alguém na China como curar alguém que esteja fisicamente presente.




A PERCEPÇÃO DE DEUS É NECESSÁRIA

No livro "O Caminho Infinito" há um capítulo sobre 'Meditação' que delineia um curso sobre o que poderia ser chamado de preparação espiritual. A primeira parte dessa preparação é a prática de despertar pela manhã na compreensão consciente de sua unidade com Deus. "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam". Se você não trouxer conscientemente Deus para sua experiência em seu primeiro momento de vigília, você pode ter perdido a oportunidade de ter Deus com você em cada ocasisão durante todo o dia.

Talvez, à medida que você lê isto, possa pensar: "Ó, Deus é onipresente; Deus está sempre comigo!". Não acredite nisso, porque não é absolutamente verdade! Este é um daqueles lugares-comuns, uma daquelas citações!

É verdade que Deus é onipresente. É verdade que Deus está exatamente onde você está. Mas se é verdade que Deus é onipresente, então deve ter estado presente quando todos os rapazes foram mortos na frente de batalha, ou quando os antigos cristãos foram atirados aos leões, ou quando nas últimas décadas milhares de pessoas inocentes foram massacradas em campos de concentração. O que Deus estava fazendo enquanto aconteciam esses horrores? Ele estava lá? Então, por que Ele não estava ajudando? Certamente Deus estava lá, mas Deus não é uma pessoa e Deus não pode olhar você aqui embaixo e dizer que sente o sofrimento que você está suportando. Deus está onipresente nos hospitais, nas prisões, na frente de batalha. Deus é onipresente! Mas de que isso serve para alguém? De que serve isso para você? Somente isto: Deus está disponível em cada caso, na medida da sua percepção consciente da presença de Deus.

Deus está presente! Sem dúvida. A eletricidade estava presente através das eras quando as pessoas estavam usando óleo de baleia e querosene. Mas que benefício a eletricidade representava para elas? Nenhum, porque não havia compreensão consciente da presença da eletricidade.

Jesus também poderia estar viajando ao redor da Terra Santa em um aeroplano. E o que dizer dos hebreus em sua longa caminhada cruzando os areais? Hoje isso leva quarenta minutos! As leis da aerodinâmica estavam presentes e a seu dispor, mas não havia percepção consciente delas, embora essas leis pudessem ter sido implementadas se houvesse qualquer conhecimento de sua existência.

A eletricidade está presente hoje como sempre esteve, mas agora, por causa de uma percepção consciente de suas leis, ela nos dá calor, luz e força. Deus está presente aqui e agora, mas é preciso haver uma percepção e compreensão conscientes -- na realidade, mais do que isso; um sentimento consciente da presença de Deus para que você possa recorrer a essa Presença e Poder. Conversa lisojeira, citações e lugares-comuns metafísicos não devem ser confundidos com essa percepção e compreensão conscientes, através das quais Deus se torna uma realidade vivente para você. Concordar com os lugares-comuns metafísicos é tão inútil quanto seria para alguém que, vivendo nos tempos antigos, dissesse: "Você sabe, a eletricidade está disponível". Sim, é claro que estava -- se soubessem como fazer uso dela.

Essa conversa a respeito de Deus tem acontecido há milhares de anos, e ainda há muitas pessoas religiosas nas igrejas que estão falando sobre Deus e mesmo assim estão passando por todas as vicissitudes da experiência humana. Não é a conversa, no entanto, mas a compreensão consciente da presença de Deus que é o segredo do viver espiritual.

A respeito do desenvolvimento desse estado de consciência, há certas práticas que constituem passos ao longo do caminho. A mais importante delas é treinar a fim de realizar um esforço consciente para compreender a presença de Deus ao despertar pela manhã. Se você não pode sentir imediatamente a presença de Deus, pode pelo menos aprender a reconhecer a onipresença, a onipotência e a consciência de Deus; você pode, pelo menos, tentar compreender: "Assim como a onda é uma com o oceano, do mesmo modo eu sou um com Deus. Assim como o raio de sol é um com o Sol, do mesmo modo eu sou um com Deus."

Se você tomar um, dois ou três minutos para fazer isto perceberá, ao sair da cama e colocar os pés no chão, que está com uma disposição mental bem diferente. Quando você aprender a não sair da cama enquanto não estiver estabelecido sua unidade consciente com Deus, seu dia começará bem.

Quando acordo pela manhã, tenho o hábito de estabelecer esta compreensão consciente da presença de Deus. Considero essa a parte mais importante do meu trabalho diário, porque depois que fiz isso, não tenho muito a fazer durante o resto do dia, a não ser olhar sobre meus ombros e ver Deus trabalhando.

Por exemplo, quando você sai de casa de manhã, não passe pela porta sem compreender conscientemente que a Presença foi à sua frente e que a Presença permanece atrás de você para abençoar os que passam por aquele caminho. Não saia sem fazer isso conscientemente, porque o esforço consciente determina a sua revelação.

Da mesma maneira, quando você senta-se à mesa, não coma até que tenha pelo menos piscado seus olhos e dito silenciosamenta: "Obrigado, Pai!". Isto não é dito em qualquer sentido ortodoxo de ação de graças. É um reconhecimento de Deus como a fonte do seu suprimento, um reconhecimento de que não foi o seu próprio esforço humano que lhe trouxe o alimento, e que por si só você nada pode fazer; o Pai dentro de você colocou esse alimento à sua frente.

Não há maneira de saltar do ser humano para ser um ente espiritual, mas pouco a pouco precisamos começar a espiritualizar nosso pensamento até que nos encontremos no reino do céu. Precisamos aprender que, não importa o que estejamos fazendo durante o dia, é somente por causa da presença de Deus que o estamos fazendo. Jesus disse: "Não posso por mim mesmo fazer coisa alguma... O Pai que está em mim é quem faz as obras" E Paulo disse: "Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim".

Você precisa ver que cada pedacinho de bem que você faz ou vivencia é o Cristo atuando dentro e através de você; é o Espírito de Deus ativando você. A atividade de cura é a atividade da Consciência divina, a atividade do Cristo do seu próprio ser, que ocorre dentro de você.

terça-feira, junho 10, 2008

A Base da Cura Espiritual - 02


Joel S. Goldsmith


ENTENDIMENTO DA NATUREZA DE DEUS

Toda a nossa vida espiritual depende de nossa capacidade de compreender Deus e, a menos que compreendamos a onipresença e onipotência de Deus, não progrediremos nesta tarefa.

Através dos tempos, muitos nomes foram dados a Deus: Abraão conheceu Deus como Amigo. Nas antigas escrituras dos hindus, que remontam a milhares de anos e abrangem um pouco mais da primitiva literatura dada ao mundo sobre o assunto de Deus, este é mencionado como "Mãe" e às vezes como "Pai". O grande místico hindu moderno, Ramakrishna, conheceu Deus como a "Mãe Kali"; mas, freqüentemente, alguns termos como "Mestre", "Princípio", "Alma", "Luz", "Espírito", "Amor" e outros sinônimos bem-conhecidos de Deus também serão encontrados nas escrituras hindu. Entretanto, porque era da natureza dos hindus primitivos, assim como dos hebreus primitivos, personalizar, eles trouxeram Deus para mais perto de si da maneira que melhor entendiam -- como uma Mãe amorosa e, ocasionalmente, como um Pai.

No século XIX, as pessoas versadas em sânsccrito traduziram muitos dos grandes clássicos hindus para o alemão e o inglês, de modo que pela primeira vez o ocidente teve a oportunidade de familiarizar-se com a terminologia hindú. O resultado foi que muitos dos seus conceitos à respeito de Deus se infiltraram na literatura do século XIX. O Termo "Pai-Mãe", como sinônimo de Deus, obteve ampla aceitação por sua incorporação ao ensino da Ciência Cristã de Mary Baker Eddy. Com a utilização do termo na literatura da Ciência Cristã, ele mais tarde foi incorporado em muitos outros ensinamentos metafísicos. E, assim, Deus tem sido conhecido como Mãe, algumas vezes como Pai e, também, como Pai-Mãe. Nenhum desses termos procurou indicar um gênero, nem significar que Deus era masculino ou feminino. Em vez disso, esses termos carinhosos conotam as qualidades suaves, amorosas e protetoras de uma mãe, e as qualidades severas, legisladoras, de proteção, de apoio e de defesa de um pai.

Por isso, quando Deus vem à sua consciência individual, Ele chega de uma maneira tão suave que você pode ainda usar o termo "Pai" ou "Mãe". Cada vez mais, no entanto, as pessoas estão começando a pensar em Deus como Luz e Vida; e, quando Deus é compreendido na consciência individual como Vida ou como Luz, não há sentido de masculino ou feminino, apenas um sentido de Deus como a vida universal que permeia a forma que você tem -- a vida que permeia a forma da árvore, do animal, da flor... uma vida impessoal mas, mesmo assim, vida.

Deus é Espírito, e Espírito é a substância e a essência da qual todas as coisas são formadas -- tudo o que está na Terra e no Céu, no ar, e na água. A criação espiritual é formada dessa indestrutível e indivisível Substância, ou Espírito, denominado Deus.


A CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL REVELA A REALIDADE

Você pode, então, questionar: porque há coisas como árvores apodrecendo e vulcões entrando em erupção? Eles também são essência de Deus? Não; eles representam o nosso conceito daquilo que realmente está lá. No reino de Deus não há jamais uma árvore apodrecendo, nem existem forças destrutivas ou arrasadoras em ação. O místico alemão Jacob Boheme via a realidade através das árvores e da relva. Para todos os místicos é como se o mundo se abrisse e eles vissem o mundo como Deus o fez.

Deus é a substância e a realidade subjacentes a toda forma; mas o que vemos, ouvimos, degustamos, tocamos ou cheiramos é o produto da mente humana, do sentido mortal, material, finito. A soma total dos seres humanos no mundo, sob o que se chama lei material -- médica, teológica ou econômica -- estabeleceu esse sentido finito do universo que eles vêem, ouvem, degustam, tocam ou cheiram.

Nada é aquilo que parece ser. Todos nós poderíamos olhar para o mesmo objeto e cada um de nós poderia vê-lo diferentemente. Por que? Porque cada um de nós o interpreta à luz da educação, do ambiente e dos antecedentes de nossa experiência individual. Compreender que aquilo que vemos representa apenas o nosso conceito do que na realidade existe é importante, porque sobre este ponto criamos ou perdemos nossa consciência curativa. Deus criou tudo o que foi criado e tudo o que Ele criou é bom. Por isso, todo este mundo, quer visto como seres humanos, ou como animais e plantas, é Deus manifesto. Mas quando o vemos, não o vemos como é: vemos somente nosso conceito finito dele.

Isto é muito importante porque é nessa premissa que se baseia toda cura espiritual, e a falta de recohecimento deste ponto responde por noventa e cinco por cento das falhas na cura espiritual. Muitos metafísicos estão procurando curar o corpo físico, e este não pode ser curado porque nada existe que um metafísico possa fazer a um corpo físico; mas quando ele muda seu conceito de corpo, este passa a corresponder àquele conceito mais elevado. Então o paciente diz: "Fui curado!". Ele não foi curado: ele era perfeito no começo. O que estava errado não se achava no corpo, mas em seu falso conceito de si mesmo e de seu corpo.

Se você compreender esta idéia, isto poderá poupá-lo de cometer o engano fatal na tentativa de curar alguém ou o corpo de alguém. Quando vejo o seu corpo através do sentido espiritual, considero você como Deus o fez, e você declarará que foi curado. A criação de Deus está intacta; está perfeita e harmoniosa, e essa criação perfeita e harmoniosa está bem aqui e agora. Porém, isso não pode ser visto com os olhos do corpo. Somente pode ser discernido através da visão espiritual, do sentido espiritual -- através da consciência espiritual, ou do que é chamado de consciência de Cristo.

Não tente reformar o mundo exterior. Quando você encontra roubalheira, embriaguez, ou qualquer outra forma de degradação, não olhe para essas coisas, mas através delas. Feche os olhos, ou então vire-se de costas. Olhe através do indivíduo, considerando com o seu sentido espiritual a realidade do ser dele, e você proporcionará o que o mundo chama de cura. Com o seu sentido espiritual interior, dado por Deus, olhe dentro do coração de cada homem e veja o Cristo, e lá você encontrará a mais maravilhosa força curativa que existe no mundo. Depois, deixe que o seu sentimento o guie. Procure obter o sentimento ou a sensação do Cristo presente bem no centro de cada ser, e quando você alcançar esse Cristo terá uma cura instantânea.

Para conseguir uma cura de pecado ou moléstia não se preocupe com o ser ou com o corpo humano. Recolha-se no silêncio interior: sinta a presença de Deus, o sentimento divino/interior, e então você não será tentado a pensar em pessoa alguma. Não é necessário pensar no nome da pessoa que recorreu a você em busca de auxílio, nem em sua forma nem em sua moléstia. A Inteligência onisciente sabe e, por isso, quando você percebe um sentimento de Alma que a empolga, terá testemunhado uma cura.