"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, outubro 22, 2008

Explicações detalhadas sobre o post "Revelação ou Doutrinas?"

Este post é um desdobramento do post anterior. O debate que surgiu em torno dos questionamentos de um amigo meu, companheiro de blog e de busca, foi tão produtivo, tão oportuno, e tão esclarecedor e significativo que não pude evitar publicar o diálogo ocorrido entre meu amigo Merton e meu outro amigo - e autor do texto postado -, Dárcio Dezolt. Ao questionar o teor da mensagem do post, as colocações feitas pelo Merton foram bastante pertinentes, porque, logo a seguir, foram dadas as explicações a fim de tentar elucidar tudo o que foi questionado. O resultado desse jogo de perguntas e respostas resultou uma síntese perfeita. Por isso não pude deixar de publicá-la aqui. Esse post tem como objetivo esclarecer pontos essenciais para aqueles que buscam entender a sério este ensinamento que diz que o homem é filho de Deus, que já é uno e perfeito em Deus. Vamos ao debate...




Merton: Olha só, eu acho que há um erro de interpretação clássico nesse texto. A parte que eu não concordo nessa abordagem é essa história de afirmar que "somos iguais a Deus"... Acredito que muitos místicos bem intencionados confundiram algumas coisas e acabaram caindo na mesma "cilada" que foi armada desde o princípio da humanidade (é só um jeito metafórico para tentar explicar).

Dárcio: Quem acha "um erro de interpretação" não é um "eu", mas a "mente carnal". Ela afirma achar blasfêmia afirmar que "somos iguais a Deus" para SE MANTER! A "mente carnal" é a inimizade contra Deus! Enquanto ela ILUDIR alguém, parecerá haver "algo diferente de Deus", razão pela qual Jesus disse: "Para me seguir, RENUNCIE A SI MESMO, venha, tome sua cruz e me siga". É o caso da afirmação de Paulo: CRISTO É TUDO EM TODOS (Colossenses 3-11), em que ele afirma a VERDADE alertando que, ANTES, deve ser despida a "velha criatura", o ego que somente a "mente carnal" enxerga, e que é desconhecido de Deus e da Verdade.


Merton: Segundo Zaratustra, o Talmud, o Zohar e a Cabala, a Bíblia, o Alcorão e uma infinidade de outros livros sagrados e doutrinas ancestrais da humanidade, foi exatamente assim que o mal entrou no nosso plano e as coisas começaram a despirocar por aqui: quando o homem começou a acreditar que era igual a Deus. No Gênesis, esta é a frase exata de Satanás: "Comei dessa árvore, e sereis iguais a Deus"... Já no Apocalipse, surge Miguel, o príncipe dos anjos, que clama "Quem pode ser como Deus?"

Dárcio: O "mal" JAMAIS entrou no NOSSO PLANO, pois, "NOSSO PLANO", se aceitamos a Onipresença, é DEUS! Jesus nunca ensinou a vencer "o mal neste plano", mas, sim, a VENCER O MUNDO, que ele explica ser o mundo do pai-da-mentira, uma ILUSÃO, apenas! "Vós, deste mundo não sois"; "Não chameis de pai a ninguém sobre a face da terra" (Mateus 23-9). Jesus nos vê em DEUS, como também Paulo, ao declarar: "NELE vivemos, nos movemos e TEMOS O NOSSO SER" (Atos 17 28). O "Satanás" é a mente carnal! Uma ILUSÃO que se dissipa exatamente com o conhecimento da Verdade. "Temos a mente de Cristo" (I Cor 2-16). ENQUANTO a pessoa não se entregar à REVELAÇÃO de que "tem a mente de Cristo", e não a ilusória "mente do mundo", o que chamamos de "panenteísmo" será visto como afirmação de "panteísmo", e a VERDADE parecerá estar encoberta! Somente por REVELAÇÃO é "vencido o mundo". O que as Escrituras alertam é que NENHUM SER HUMANO É DEUS ou IGUAL A DEUS; e isso é óbvio: o ser humano é o ego, a ILUSÃO forjada pela mente carnal, a "velha criatura a ser despida", ou, o suposto "eu" . Jesus disse que teremos de RENUNCIAR A ELE.


Merton: O fato é que há uma diferença sutil no significado de certas expressões nos Evangelhos, que precisam ser cuidadosamente observados... É o caso da expressão "comunhão", citada no post: estar em comunhão com alguém não quer dizer que você “é” esse alguém, ou que você “é igual” a esse alguém.

Dárcio: Quaisquer "observações CUIDADOSAS" de "certas expressões nos Evangelhos" partem da "mente carnal". Enquanto a pessoa não RENUNCIAR a esta mente falsa, a palavra "comunhão" não será captada em seu sentido absoluto.


Merton: Eu vivo numa comunhão maravilhosa com a minha esposa, por exemplo. Nós nos completamos, nos amamos profundamente e fazemos questão de declarar o nosso amor a todo instante... Nós dois nos respeitamos, nos ajudamos, vivemos em cumplicidade, temos gostos, idéias e objetivos parecidos, etc, etc, etc... Mas isso não quer dizer que eu "sou” ela nem que eu "sou igual a ela". - Vivemos numa perfeita comunhão, mas cada um é cada um, cumprindo seu próprio papel: cada um produz a sua própria nota musical na infinita orquestra sinfônica cósmica.

Dárcio: Fazer analogia do sentido de "comunhão" com acontecimentos DESTE MUNDO será total perda de tempo. A "comunhão", em termos absolutos, é a percepção da VIDEIRA UNA...só DEUS PRESENTE--, que traduz o sentido da fala de Jesus: "NAQUELE DIA (o da REVELAÇÃO) conhecereis, EU estou no PAI, VÓS em MIM e EU em VÓS". Em sua visão iluminada, Jesus via o fato verdadeiro: O VERBO SENDO TUDO E TODOS, ou O CRISTO SENDO TUDO EM TODOS. Enquanto a pessoa estiver "sem renunciar a si mesma", "sem ter vencido o mundo", terá de acatar estes princípios pela FÉ (a certeza do não-visto) e meditar em total entrega à ação do Espírito Santo (Sua Consciência Iluminada), que lhe trará o ENTENDIMENTO REVELADO.


Merton: O mesmo se dá com as nossas relações com o divino. Estar “em Comunhão" com Deus não significa “ser” igual a Deus, essa interpretação é um erro crasso. Toda busca espiritual começa exatamente do ponto em que nos conscientizamos que não somos auto-suficientes, quando detectamos um vazio dentro de nós mesmos, que grita por ser preenchido... Muitos místicos se referiram a esse "vazio" como o “Ponto Deus”, que já foi identificado inclusive pela ciência no cérebro humano(!).

Dárcio: Aqui é dito que interpretar "ser igual a Deus" é "erro crasso" porque a pessoa PENSA (mente carnal)estarmos falando do ego, da falsa e velha criatura, do homem natural. Se a RENUNCIA a ele for feita, pela entrega à "mente de Cristo" que temos, a REVELAÇÃO espontaneamente lhe dará a EXPERIÊNCIA DA COMUNHÃO: "Eu e o Pai somos um", "Aquele que vê a MIM, vê o Pai".

Toda Verdade é impessoal e universal. Tudo que Jesus disse sobre SI, em Deus, e não como Jesus, é Verdade absoluta ONIPRESENTE. Ele sabia o que era o MIM e o que era o Jesus. O MIM, o PAI em MIM, o VIR A MIM..significa uma escalada interna de CONSCIÊNCIA, a SUBIDA AO PAI. "Minha doutrina NÃO É MINHA", disse JESUS, mas DAQUELE QUE ME ENVIOU. E disse também: EU SUBO A MEU PAI E VOSSO PAI..isto é SOBE A MIM (O EU SOU presente em todos). Não disse ser DELE a doutrina, exatamente para que Jesus(pessoal) não fosse CONFUNDIDO com o MIM, que é DEUS(UNIVERSAL) EM TODOS. Por isso, em Gálatas 2-20, declara Paulo: "Já não sou mais eu(ego) quem vive... mas CRISTO VIVE EM MIM". Este "MIM", presente em Jesus, em Paulo, em TODOS, é o CRISTO que SOMOS, e revelado em Colossenses 3-11.


Merton: Eu vejo muita literatura pseudo-mística girando em torno de certos trechos específicos da Bíblia, sempre usados fora do seu real contexto, numa tentativa de justificar idéias panteístas. Pegam-se sempre as mesmas passagens, como aquela em que Jesus diz que "Quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas..." - Mas esses autores nunca citam a continuação desta mesma frase: "...porque eu vou para o Pai, e farei o que pedirdes em meu nome". Ou seja, ele não está dizendo que podemos fazer as mesmas coisas porque somos iguais a ele ou iguais a Deus, mas sim que, se pedirmos, ELE fará! São coisas muito diferentes!

Dárcio: QUEM crê em MIM (no EU SOU), já está FAZENDO AS OBRAS! É DEUS em cada um! Mas, infelizmente, a visão materialista da "mente carnal" pensa que estas "obras" são as que Jesus realizou na matéria! Lastimável crença falsa! As OBRAS DE DEUS são permanentes! As da matéria sempre são ILUSÃO! Por isso, não achamos, em todo o planeta, o Lázaro ressuscitado, o paralítico curado, nem a adúltera perdoada! AS OBRAS não eram estas! AS OBRAS eram as VISTAS POR JESUS: A REALIDADE PERMANENTE!


Merton: Esse mesmo Evangelho, que é o mais místico de todos (o segundo João), ele continua:

"Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo, de si mesmo, não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como um ramo, e secará; tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito." (João, 15)


Dárcio: Acima já expliquei o que é "MIM". Aquele que permanece em MIM é aquele que renuncia ao ego ou à mente carnal" para se identificar com o CRISTO em si mesmo.


Merton: Mais claro do que isso seria impossível! Existem muitas e muitas outras passagens nesse sentido, nos Evangelhos. Jesus deixa muito claro, o tempo todo, que os seres humanos são como o sal (falei no meu blog): por ele mesmo não tem valor; mas se misturado e usado na medida certa, se torna a própria essência da vida...

Dárcio: CRISTO É CRISTO e ego é ego. Jamais se misturam ou se usam "em medida certa". Jamais o ego se torna Cristo nem jamais joio se torna trigo. O que se requer é o DESPERTAR!

"Desperta, TU QUE DORMES, e a Luz de Cristo (sempre sendo VC) te alumiará".


Merton: Então, o erro que eu vejo no raciocínio dessa postagem, é querer associar essa idéia panteísta de que "tudo é Deus" com a mensagem de Jesus. Nada mais distante da verdade! Jesus nunca disse nada que nem de longe lembrasse essa idéia.

Dárcio: O erro está em ler a postagem com a "mente carnal". Um texto da Verdade absoluta é revelado da Consciência e não escrito pela mente carnal. Para "sentir" a veracidade, é preciso estar sem ego e em comunhão com o lido. Sem "mente carnal", o panteísmo seria desconhecido, a Verdade seria discernida (DEUS É TUDO)...e, com a VERDADE conhecida, também a liberdade estaria evidenciada.


Merton: Veja, cada um de nós tem a perfeita liberdade de acreditar no que quiser, de escolher o que seguir e o que rejeitar. Mas desvirtuar as palavras de um mestre, qualquer que seja ele, para adequá-las ao seu ponto de vista, como fazem tantos autores como esse, isso não é honesto, não é coerente; não é a postura de um estudante autêntico. Essa postura é pérfida, é maliciosa, interesseira, contaminada...

Dárcio: No estudo da Verdade Absoluta, a postura real do "estudante" é uma só: SUMIR! O ser estará livre em Deus, e Deus livre nele! "Quando Cristo, que é a NOSSA VIDA, se manifestar, também nos manifestaremos com ele em glória" (Colossenses 3-4). Assim descreve Paulo este DESPERTAR GLORIOSO!


Merton: O buscador tem que ser puro, investigar com um coração aberto, livre de idéias pré-concebidas, pronto para aceitar a Verdade seja ela qual for. Muitos se esforçam não para encontrar e entender a Verdade, mas sim para confirmar os seus pontos de vista individuais, para se manterem numa certa zona de conforto pessoal. - A partir daí, passam a adaptar tudo o que encontram para justificar as suas crenças. Nesse caminho, distorcer o que disse Jesus é uma prática muito comum... Diria que é a favorita de 10 entre 10 pseudo-místicos e panteístas. E, bem, pra quem estudou realmente a fundo o que Jesus diz nos Evangelhos, certas afirmações são simplesmente ridículas.

Dárcio: "Estudar Jesus a fundo" é mera pretensaõ ILUSÓRIA do ego. É por isso que Jesus disse: "O Pai oculta estas coisas a sábios e entendidos, para destiná-las aos pequeninos(sem ego)". Somente por REVELAÇÃO a Verdade é conhecida e Jesus é entendido a fundo! E foi o que ele disse: "Se eu não for (se não me tirarem de vista), o CONSOLADOR não virá a vós (o DESPERTAR para o próprio Cristo).


Merton: Veja, o problema do panteísmo não é afirmar que "somos Deus e Deus somos nós", porque isso, num certo sentido, é verdade. O problema é dizer que Deus é SÓ isso. Essa é apenas uma forma elegante e poética de ateísmo, se você pensar bem. Eles não dizem que “Deus não existe”, mas dizem que não existe Deus a não ser a natureza: eu, você, as nuvens, os cães, os pássaros. – A mesma coisa dita de um modo diferente. - Ora, se eu sou Deus e se não há outro Deus além de mim mesmo, para que serve a oração? Por que Jesus ensinou a orar? Para quem vou orar? Para que serve a meditação, e por que me preocuparia em buscar aperfeiçoamento? Pra que vigiar e orar? Para que servem as práticas espirituais, para que buscar o Amor?? Eu sou Deus, ora, eu me basto!..

Dárcio: O panteísmo não tem fundamento algum! É mera crença ilusória! Não existe matéria! Tudo é ESPÍRITO! Mas, como já foi dito, este discernimento somente se dá por REVELAÇÃO. Pode ser aceito a priori pela FÉ; isso até abre campo à REVELAÇÃO, mas, enquanto não houver a "descida do Espirito Santo", ou seja, a AUTO-REVELAÇÃO, a Verdade não será conhecida.


Merton: Deus é imanente, mas é também (e principalmente, eu diria) transcendente. E quando leio afirmações como as dessa postagem, sinto a responsabilidade de deixar o meu testemunho pessoal: em todas as minhas experiências místicas, - e eu tive experiências MUITO intensas MESMO, - eu experimentei a Energia Infinita que fluía de fora para dentro de mim, e que daí expandia e passava a extravasar o meu próprio ser, de dentro para fora. A experiência e o sentido de uma Força Infinita, incompreensível e EXTERNA, que entra em COMUNHHÃO com o meu interior finito, é inquestionável. E foi somente nesse momento que eu senti o meu próprio eu chegando mais próximo do Infinito, do Cósmico, do Universal.

Dárcio: Nem Deus nem experiência em Deus podem ser explicadas pela mente humana ou por palavras deste mundo. Quem tem a experiência absoluta SABE que TUDO É DEUS, e sabe que algo além de Deus é NADA! Se, após a experiência, a pessoa continuar acreditando NESTE PLANO, em INTELECTO, é indicado a ela que RENUNCIE AO EU QUE DISSE TER TIDO A EXPERIÊNCIA! Muito fenômeno psíquico é confundido com a Experiência em Deus; sabemos se é, ou não, se realmente tivermos VENCIDO O MUNDO devido a ela. "Todo aquele nascido de Deus vence o mundo", diz a Bíblia .


Merton: Há uma centelha divina em cada um de nós. Até poderíamos dizer que somos como "deuses", cada um de nós, num sentido metafísico. Mas afirmar que nós é que somos o único Deus, e que não há outro Deus senão nós mesmos, continua sendo a mesma coisa que sempre foi: blasfêmia e viagem na maionese...

Dárcio: Sem "vencer o mundo" não somos nem deuses e nem nada! Por outro lado, por REVELAÇÃO, é-nos revelada a Verdade Absoluta: "QUEM ME VÊ, VÊ O PAI.". Não foi por acaso que Jesus disse: BUSCAI O REINO EM PRIMEIRO LUGAR! Sabia, e sabe, que "deste mundo", nesta referência falsa e vazia do ego humano, só conheceremos ILUSÃO.


Merton: Mas isso não resume tudo. A questão complicada, aí, é que a percepção trazida pela postagem NÃO está completamente errada. Há alguma verdade nela, e é por isso que existe tanta confusão nesses assuntos. - Sim, somos infinitos, somos divinos, o Reino dos Céus está dentro de nós e a nossa fé pode mover montanhas... Todas essas afirmações são verdadeiras e preciosas!

Mas a confusão começa quando o buscador, deslumbrado com essas percepções, descarta Deus! Ele começa a acreditar que, por ser divino, possuidor de um espírito infinito e glorioso, não precisa mais de Deus, e que Deus só pode ser ele mesmo... Não pode ser mais do que isso!
Esse é o erro primordial, que até “grandes mestres” deste mundo cometeram.

Tudo que estou sugerindo é que se considere o que eu falei aí atrás, e que o buscador se esvazie e peça pela luz do Infinito antes de buscar por orientação. Tem muita gente por aí ensinando a “esvaziar a xícara”, o que é um conselho maravilhoso, mas com a sua própria xícara cheia de idéias pré-concebidas, até a boca. Muitas vezes, no caminho do buscador da Verdade, exatamente o que parece ser, não é, e o que não parece, é.


Dárcio: SE for DEUS, é! Se não for, não É!


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Mais coisas foram faladas, além desse diálogo, houve réplicas e tréplicas. Para ler o restante dos debates, vá até o espaço de comentários do blogger, clicando aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sobre o tema em questão proponho um texto de Lillian DeWaters, que aprofunda o assunto

OLHA DESDE ONDE ESTÁS.

“Ergue os olhos e olha desde onde estás” (Gen. 13,14). O que vemos geralmente depende do lugar em que nos posicionamos. Permanecendo no Reino e olhando a partir do plano da Consciência divina, seríamos capazes de ver alguém doente, pecador, aflito? Quem estaria carente de Integralidade, Harmonia e Paz?

“Olha desde onde estás!” Poderia o pecado ou o pecador serem vistos na Realidade? A idade, a morte? A tristeza, a separação? O sofrimento? Que vês tu?

Em geral é bem aceito que o mundo fenomênico ou aparência material externa não passa de pensamento. Pensamento de quem? De que lugar alguém olha? Com que se identifica, para ver algo a ser feito ou alterado nele ou em outro qualquer? O texto das Escrituras deveria ser lembrado: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar”. (Habacuque 1:13).

Em iluminação, vê-se como Deus. Sem estar inspirado e iluminado, vê-se como homem. Um oriental escreveu: “O Eu que brilha como o sol dentro do coração é Real e a tudo permeia. No mergulhar profundo da questão “Quem sou eu, de onde vim?”, some o pensamento e a Consciência de Ser aflora como EU SOU no interior do Coração. Este é o paraíso, a morada da bem-aventurança. Qual é o sentido de não se conhecer outra coisa, senão o Eu único? Que sobraria a ser conhecido por alguém, quando o Eu em Si for conhecido? Uma vez conscientizado o “Eu” nada restará a ser conhecido. O Eu é o Todo”.

Deus é o “Eu” de todos nós. Eu, a Mente Divina, Deus, Realidade, Consciência Pura, o Absoluto, denotam o mesmo “Um”. Mente, personalidade, mentalidade, conceito finito, ego, homem e intelecto denotam a mesma coisa. A conscientização da Verdade é impossível para a mente ou intelecto.

Pela identificação como o “Eu único”, sabemos que sempre estivemos sendo “Ele próprio” —e nada mais. Despertos para o Eu Iluminado, despertamos para o Mundo Real e, despertando para o Mundo Real, estaremos despertando para a Realização e Revelação como nossa única Existência verdadeira. Isto, somente, é verdadeiro e Real referente ao que existe de Nós próprios: Autocontenedor e Autorevelador, o Eterno e Imutável.

“Eu” sou a Verdade, você é a Verdade; “Eu” sou o Um, você é o Um; “Eu” estou no Reino, você está no Reino, mas não como um “eu pessoal humano”, não como mente ou corpo individuais. O que vemos, aquilo em que cremos, depende daquilo com que nos identificamos. Quando alguém dorme e sonha fica identificado com outro ser diferente daquele que acordado ele é, passa a ver outras coisas e condições diferentes daquelas que circundam o local em que se encontra.

O primeiro ou ligeiro impulso do coração rumo à Realidade Espiritual constitui o início do nosso despertar. Assim que ouvimos a Voz do Uno a nos chamar: “Venha a Mim como a seu Eu, seja este Mim e nenhum outro”, é como se, sonhando, ouvíssemos um chamado alto de nosso próprio nome e abríssemos a nossa visão para a Identidade Verdadeira. O ego-sonho ou o sonhador deixam de ser encontrados, eram absolutamente nada.

Apesar de o fato ser e permanecer o seguinte, ou seja, de que na Realidade somos sempre perfeitos na Mente, Ser e Forma, sem nascimento e sem morte, livres, tal fato não será lembrado enquanto estivermos nos identificando como um ser separado, desejoso de alcançar o estado de Perfeição através de próprios esforços.

Não escaparemos do senso pessoal, da mente ou pensamento pessoal, por tentar humanamente nos livrar deles. Nenhuma intenção de conquistar ou dominar tais coisas nos livrará da sensação de que somos possuidores de corpo e mente próprios, separados do Um. A Vida não é um sistema. Como, então, algum sistema de pensamento poderia interpretá-La ou explicá-La?

A crença em mente, pensamento e corpo pessoais é a conseqüência que encontraremos caso deixarmos de nos identificar como o Todo Indivisível. Pela identificação como a Realidade, que é a Vida como um todo, a crença na dualidade não perdurará, será absorvida pela Identificação Absoluta.

Que é responsável pelo senso finito ou pessoal? À medida que nos identificarmos como Verdade, Vida, o Ser em Si, e como nenhum outro, cessará este senso finito e os problemas pessoais desaparecerão. Estaremos conscientes somente daquilo que for Real.

“Ergue os olhos e olha desde onde estás!”