"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, janeiro 31, 2009

Reverencie o Jisso da Vida do próximo


[mestre.jpg]
Masaharu Taniguchi


Vivamos segundo o “princípio do relógio de sol”

Vocês já viram um relógio de Sol? Trata-se basicamente de um disco com as horas gravadas e um pino fixado perpendicularmente a ele; quando os raios de Sol incidem sobre o pino, a sombra deste projeta-se na superfície do disco, indicando, assim, a hora. Logicamente, sem Sol, não se pode ler as horas nesse relógio. Existem relógios de Sol que trazem a seguinte inscrição em seu disco:

“Eu registro apenas as horas em que o Sol brilha”

O homem também pode registrar apenas as horas em que o Sol brilha – e eu chamo a isso “modo de viver segundo os princípios do relógio de Sol”. Caro leitor, se você quer fazer do seu lar verdadeiro “Seicho-no-Ie” (Lar do Progredir Infinito), faça o possível para “registrar apenas as horas radiantes”, ou seja, lembre e fale somente de momentos alegres e felizes; use o poder criador da palavra para expressar a alegria. Eis o segredo da felicidade.

Se toda a humanidade passar a viver conforme “os princípios do relógio de Sol”, registrando somente as coisas boas, alegres e positivas na mente, e expulsando sem demora as recordações desagradáveis, pensamentos tristes ou imaginações sombrias, quão alegre e feliz se tornará este mundo!

Por que será que muitas pessoas ficam se lembrando e falando de infelicidade, aborrecimentos, ódio, ciúme, humilhações, etc., com que se deparam? É por desconhecimento da “lei mental” e do “poder criador da Palavra”. Essas pessoas precisam aprender que “manifesta-se tudo aquilo que se pensa e fala”; precisam saber que a infelicidade continua existindo somente quando se fica com a mente presa a ela, e fala-se nela com freqüência.

A nossa “memória mental” é como um veículo coletivo, no qual viajam os mais variados tipos de passageiros: desde cavalheiros bem apessoados e moças bonitas, até bêbados exalando um odor insuportável de álcool, e doentes com o corpo cheio de chagas. Mas não precisamos viajar prestando atenção na presença desagradável de bêbados ou de pessoas cheias de feridas.

É muito mais agradável ficarmos observando a expressão feliz de uma moça bonita ou o aspecto elegante de um cavalheiro, não é? Estou dizendo isto para mostrar-lhe como é possível escolher livremente os “registros” do nosso “arquivo mental”. Não vá me interpretar erroneamente e pensar que não devemos nos compadecer dos doentes, bêbados, etc., que precisam de ajuda. Num outro capítulo do presente livro, eu explico quão nobre é tratar com bondade as pessoas necessitadas.

Caro leitor, seja como um “relógio de Sol”, que marca apenas as horas brilhantes. De que adianta ficar guardando a tristeza no coração, indefinidamente? De que adianta ficar lembrando as perdas sofridas? O mundo em nada se beneficiará com o fato de ficarmos desalentados, remoendo os nossos fracassos. Tristezas, perdas, fracassos – tudo isso são “bagaços” dos acontecimentos desta vida. Não fique indefinidamente co a mente segurando tais “bagaços”; jogue-os fora! Você deve expulsá-los como se expulsa um ladrão. Precisamos conscientizar que a mente é preciosa demais para ficar obstruída por “bagaços” como tristezas, desânimo e todos os demais pensamentos negativos.

Quando você ficar com a mente presa a pensamentos desagradáveis, ou se sentir dominado pelo ódio, ira, ciúme ou desejo de vingança, pense que “sua mente está sendo assaltada por ladrões que pretendem roubar o tesouro chamado felicidade”.

Se um ladrão entrar na sua casa para roubar, mesmo que seja apenas um par de sapatos, você o expulsaria, não é? Então, por que deixa permanecer tanto tempo dentro de sua mente os ladrões que entraram para roubar o maior de todos os tesouros – a Felicidade? Vamos jogar fora os “bagaços” que ficaram acumulados e nossa mente. Vamos atirar bem longe a tristeza, como se atira a pedrinha que entrou no sapato. Vamos abandonar o ódio, vamos nos livrar da melancolia e do tédio, e viver alegremente apenas os momentos resplandecentes do Sol. Este é o “modo de viver da Seicho-no-Ie”.


Reverencie o Jisso da Vida do próximo

Reverenciar o Jisso da Vida do próximo – podemos dizer que isso é aplicar os “princípios do relógio de sol” em nosso relacionamento com os outros. Viver segundo esse princípio é viver sem pensar ou falar em tristezas. Reverenciar o Jisso da Vida do próximo é “não falar, nem pensar, na aparente maldade de uma pessoa, e sim reverenciar a Natureza Divina que constitui a sua essência”. Isto está em conformidade com o ensinamento de Cristo, que diz: “Amai os vossos inimigos”.

Caro leitor, assuma, agora mesmo, a nobre atitude mental de jamais permitir-se envolver pelos males cometidos por outrem. Por que deveria você tornar-se infeliz e deixar-se prender pela “engrenagem” do mal cometido por outra pessoa? A sua mente não é algo que possa perder a serenidade pelo “mal” praticado por outrem. Você precisa conscientizar que sua mente é livre e pode alcançar a felicidade por si mesma. Reassuma a nobreza de espírito! Tenha a mente livre e independente! Quando alguém praticar um ato sórdido, perceba a estupidez de se igualar a ele. Não há razão alguma para você regredir a graus inferiores da “escala da nobreza espiritual” e colocar-se no mesmo nível daquele que se mostrou vil e pequeno.

Todavia, você não deve subir ao “Trono da Benevolência”, julgando-se consciente e superior – em outras palavras, não deve ter complacência somente para mostrar a sua integridade ou apenas por considerar o ofensor inferior. Quem age assim não está vivificando plenamente a sua Vida, nem está vivendo de acordo com o “modo de viver da Seicho-no-Ie”. Se, quanto mais alto uma pessoa subir, e mais baixo o outro lhe parecer, essa pessoa será obrigada a viver sempre com a mente presa à sordidez dos outros: quanto mais alto ela subir, mais a sua mente acumulará desprezo e crítica em relação aos outros; e esse pessoa acabará retendo dentro de si, sem se dar conta, os “bagaços da vida” que pensava ter jogado fora.

O espírito de reverência sustentado pela Seicho-no-Ie é totalmente diferente dessa mera “benevolência” com “inferiores” ou do espírito presunçoso dos que se consideram os únicos virtuosos e dedicam-se unicamente à sua própria elevação. O “espírito de reverência” consiste em não se deixar prender à aparente imperfeição do homem; consiste em ver apenas a Natureza Divina que constitui a essência do homem, não importando quão grande seja a sua aparente maldade ou imperfeição. Por mais malévolo que se mostre um indivíduo, em sua essência ele é “Filho de Deus” e é livre de máculas. Uma cédula não perde o seu valor, por mais suja e amarrotada que se apresente. Você não recusa uma cédula por duvidar do seu valor porque ela está suja e amarrotada, não é? Então você jamais deve duvidar do valor intrínseco de uma pessoa – o valor de “Filho de Deus” – por mais maculada de pecados que ela se apresente.

Nós, da Seicho-no-Ie, vemos o “Filho de Deus” em todas as pessoas. Como conseqüência natural disso, opera-se uma completa transformação em nossa visão de vida. A visão pessimista é substituída pela visão otimista (que integra a “visão correta”), e nós passamos a ver todas as pessoas como que envoltas pela esplendorosa luz do Sol.

Este é, realmente, o segredo de uma vida feliz. Cristo disse-nos para amarmos os nossos inimigos, mas, quando passamos a ver todas as pessoas como “Filhos de Deus”, deixa de existir para nós um único inimigo sequer.

Mas o que fazer para conseguir alcançar tão elevado estado espiritual? É sobre isso que desejo explicar. Como alcançar o estado espiritual que nos permita reverenciar a Natureza Divina de todas as pessoas, até mesmo das que estão, neste momento, nos fazendo mal? Para isso é preciso um treinamento mental. Conheço o caso de um senhora que conseguiu curar-se da histeria da seguinte forma: Sempre que surgiam acontecimentos tristes em sua vida, ela mirava-se no espelho, fazia a expressão mais alegre possível, e assim procurava combater a tristeza. Assim como essa senhora, você também precisa treinar sua mente no sentido de fazer o máximo para ver refletido no “espelho de sua mente” o lado positivo, as qualidades dos outros. Você conseguirá isso infalivelmente, pois os aparentes males e imperfeições das pessoas são “falsos aspectos”, comparáveis às nuvens que encobrem o céu: atrás dessas “falsas aparências” existe a perfeição, do mesmo modo que atrás das nuvens existe permanentemente o céu azul. Mesmo que exista fundamento para você acreditar que Fulano e Sicrano desejam-lhe mal, procure ver o lado bom deles, procure acreditar que eles o estimam. Procure acreditar no amor que existe neles, e procure tornar cada vez mais forte essa convicção. Se há alguém a quem você odeia, faça o seguinte para transformar esse ódio em amor: Todas as manhãs e todas as noites, faça a meditação Shinsokan durante cinco minutos e, quando estiver com o espírito concentrado na convicção de que você é “um” com Deus, mentalize ou diga em voz baixa, as seguintes palavras de auto-sugestão:

“Eu sou filho de Deus. Meu coração está repleto de amor. Por isso, eu não odeio o Fulano; pelo contrário, eu o estimo muito. Ele também passará a me estimar, pois o amor atrai o amor. Eu reverencio, e reverenciarei sempre, a Natureza Divina dele.”

Dizendo essas palavras para si mesmo, com as mãos justapostas em posição de oração, mentalize fortemente que você está realmente estimando essa pessoa. Continue com essa prática até conseguir sentir que lhe quer bem. A primeira transformação ocorrerá dentro de você mesmo: você logo começará a sentir que está se tornando melhor. Assim é o “poder criador” da palavra. À medida que você próprio vai melhorando, você poderá sentir que as pessoas que antes lhe mostravam “sombras” (o lado negativo) começarem a mostrar “luz” (o lado positivo). Os seguintes versos do fundador da seita Kurozumi encerram uma grande verdade: “O coração do próximo é um espelho; vejo nele refletida a minha própria alma”.

Compreendendo essa Verdade, você perceberá que o rancor de Fulano e Sicrano pareciam sentir, era, na realidade, o reflexo da sua mente; ou seja, você é que mantinha pensamentos de crítica quanto a eles. Diz-se frequentemente em “dominar o destino” ou “dominar o ambiente”, mas na realidade, isso consiste em “dominar a própria mente”.

(Do livro "A Verdade da Vida", vol. 7 - págs. 38 à 45)



______________________________________________

* Para saber mais sobre a Seicho-No-Ie, acesse o site: www.sni.org.br

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Presença de Deus: única demonstração necessária

[goldsmith.jpg]
Joel S. Goldsmith


“Não vos preocupeis quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir… Vosso Pai celestial bem sabe que necessitais destas coisas”.

Este é o principio sobre o qual a demonstração de nossa vida inteira deve ser fundada. Nunca devemos tentar demonstrar qualquer coisa em qualquer tempo: nem saúde, nem prosperidade; nem suprimento; êxito em negócios; harmonia no lar ou nas amizades. Se o fizermos, estaremos demonstrando a finitude ou forma -- e toda forma é destrutível e limitada. Em vez disso, deixemos de nos preocupar com o que havemos de comer ou beber ou vestir, ou como seremos alojados ou como melhorar nossos relacionamentos. Devemos buscar, em primeiro lugar, a realização de Deus; a consciência da Presença de Deus. Então Ele aparecerá como forma finita: como suprimento, como companheirismo, como lar, como transporte ou como segurança.

Deus é a “salvação de minha face”; “O Senhor é minha rocha e fortaleza”; “Deus é meu rochedo e nele confiarei”; “Deus é a força de minha salvação e meu alto retiro”; “Deus é meu refúgio”… Então por que demonstrar saúde, suprimento, segurança? Nossa necessidade não é de demonstrar altos retiros, abrigos e fortalezas, mas demonstrar Deus, que é torre alta, a proteção real, o único poder capaz de nos sobrepor às perturbações de toda espécie, sejam bombas, pobreza, discórdia etc…

Neste Caminho não tentamos demonstrar paz, mas, sim, a conscientização da presença de Deus. Ao adquirir esta consciência, encontramos nossa paz, nosso descanso, contentamento, abundância e plenitude em todas as coisas.

“Onde o Espírito do Senhor está, ali há liberdade” - liberdade do verdadeiro sentido: liberdade, justiça, misericórdia, benevolência, abundância.

A base inteira de demonstração deste Caminho é a conscientização da presença de Deus. Só isto é que devemos demonstrar. Não há espaço para qualquer outra demonstração. Não conheço melhor meio para eliminar febres e caroços; nenhum outro modo mais eficaz para levar um desempregado ao emprego certo; ou harmonizar desentendimentos em família, ou melhorar os negócios ou comunidades. Temos harmonizado disputas entre patrões e empregados; temos trazido reconciliação entre membros de família e pacificado relacionamentos humanos. E como podemos realizar todas estas coisas? De um só modo: conscientização da presença de Deus!

Quando somos solicitados a ajudar, através da contemplação e reconhecimento da Verdade -- o que chamamos de tratamento -- elevamo-nos a um plano de consciência tranqüilo, onde a presença de Deus pode ser realmente sentida e realizada. Deus se torna, então, algo mais do que a simples palavra ou conceito mental: converte-se em Algo atual, real, uma Presença perceptível, vivenciada, tangível, dentro de nós. Quase poderíamos dizer que vimos Deus face a face ou, pelo menos, que muitas vezes sentimos o Seu toque! Tenho sentido esta gentil Presença em meu íntimo e às vezes fora de mim, pela contemplação de Deus; em meditar e habitar nEle como uma realidade sempre presente.

Não importa o tipo de problema que estejamos enfrentando agora. A solução está em conscientizar a presença de Deus em nosso íntimo e deixar que Ele vá adiante de nós para acertar as coisas; que Ele caminhe ao nosso lado como proteção; ou atrás de nós, como real proteção. Deus não pode ser definido ou analisado, mas compreendido como uma Presença invisível.

Ninguém jamais comete o erro de tentar compreender o que Deus é. Ele está além de nossa compreensão, porque a compreensão é finita e Deus é infinito. Bem disse Maimônidas, o místico hebreu: Dizer que Deus é, é tudo que se pode dizer ou conhecer de Deus. Dizer que Deus é bom, ou poderoso, ou presente, ou amor, nada mais é do que dizer que Deus é”. Esse é o único e necessário conhecimento. Dizer "Deus é", é compreender que não apenas Deus é, mas também que Ele se encontra mais próximo do que a nossa respiração -- mais perto do que nossos pés e mãos. Nesse reconhecimento, o lugar em que piso é solo sagrado e ouço o Pai dizer-me: “Filho, tu estás sempre comigo; tudo o que é meu é teu. Sim, tudo o que Eu Sou, tu és”.

Todavia, da quantidade e qualidade da natureza infinita de Deus, só podemos demonstrar o grau de realização que tivermos atingido. No entanto, por pequena que seja nossa realização da Presença de Deus em nós, isso já produz milagres em nossa experiência!


terça-feira, janeiro 27, 2009

Aquieta-te e sabe, Eu Sou Deus!


Dárcio Dezolt



“Aquieta-te e sabe, Eu Sou Deus!”
(Salmo 46:10)



Podemos dizer que “estudar a Verdade é praticar a Presença de Deus". E, esta Presença deve ser reconhecida como sendo a nossa própria Presença! O hindu diz: “Se Deus desejasse se ocultar, escolheria por esconderijo o homem; este é o último lugar em que o homem procuraria Deus.”

Aquilo que a mente humana capta e interpreta como sendo “material, mortal ou imperfeito”, passa, então, a ser por nós reinterpretado como sendo algo “espiritual, eterno e perfeito”.

Quando a mente humana nos aponta um mundo material, de imediato reconhecemos a Revelação de que “temos a mente de Cristo”, que discerne espiritualmente todas as coisas, entendendo-as como a eterna Presença do Verbo divino.



1. “AQUIETA-TE…”

Seja qual for a aparência visível, não se deixe abalar: aquiete-se! Por pior que aquilo possa estar lhe parecendo, aquiete-se, pois tudo não passa de um “quadro hipnótico”, uma espécie de miragem. Seja firme nesta aceitação!



2. “…E SABE…”

Saiba que a Consciência única em existência é Deus! Avalie o sentido dos termos “Onipotência”, “Onipresença”, “Onisciência” e “Oniatividade”. Medite e sinta-se obrigatoriamente incluso em todos eles!



3. “…EU SOU DEUS!”

A conclusão inevitável e direta dos passos anteriores é a seguinte: descartadas a matéria e a “mente humana”, que a reconhecia, descobrimo-nos, pela unicidade da Consciência real, já ”sendo”, aqui e agora, a Consciência una iluminada!


Eis por que, em João 10:35, encontramos Jesus endossando estas palavras:

“A lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada.”

segunda-feira, janeiro 19, 2009

De hoje em diante és o filho de Deus!



Reflexão:

"Deus é o Todo de tudo.
Sendo Deus o Todo e o Absoluto, nada há além de Deus.
Deus cobre toda a Realidade.
De tudo aquilo que há, nada há que não tenha sido criado por Deus."

(Seicho-No-Ie: Sutra Sagrada - 'Chuva de Néctar da Verdade')




O que possibilita ao homem ser um filho de Deus é apenas uma única coisa: O fato de Deus ser tudo, o fato de Ele estar em todos os lugares, de ser Ele eterno, infinito e onipresente. Deus existe sozinho! Ele já é a existência toda, porque é infinito. Se houver alguma outra coisa, além de Deus, ocupando um espaço existencial, Deus perdeu sua infinitude. Deus não pode ver outra coisa além de Si mesmo, não pode interagir com nenhum outro ser existente além de Si mesmo. É essa característica e natureza de Deus que faz com que o homem seja "Um" com Deus.

O homem filho de Deus é o "homem Um com Deus". Somente dentro dessa unicidade que o ser humano é verdadeiramente o filho de Deus. Unicidade significa que Deus e o homem são um, de forma que não se sabe onde o homem termina e Deus começa; não há sequer que falar em tais coisas como "homem" e "Deus", porque isso gera dualidade, e Deus não conhece a existência do homem. Em Deus, o homem não existe: somente Deus existe! É somente dentro dessa conscientização, dentro deste estado espiritual de consciência, que o homem consegue sentir: "sou filho de Deus".

Deus não conhece pessoas, não conhece a humanidade, conhece apenas a Si mesmo. Se "existe" um homem doente, Deus não conhece/não vê tal homem nem tal doença, porque, para Deus, este homem não existe; o homem só existe para o próprio homem. O homem doente existirá somente aos olhos do homem que pensa, julga e está convicto de que Deus e ele não são um.

Deus é o homem. Porém, isso não deve ser avaliado como se existisse um "Deus" e um "homem". Este ensinamento não tem a mínima pretensão de querer tornar o homem equivalente à Deus, pois o homem nunca é Deus -- somente Deus é Deus. O que queremos, aqui, é fazer com que o leitor pare de ver as coisas de modo dualista (avaliação errônea que faz com que o homem caia dentro de determinado estado de percepção) e compreenda a frase sob a perspectiva da unicidade: Dizer "Deus é o homem" é o mesmo que dizer "Deus é Deus". O homem não existe. Essa outra forma de avaliar a mesma frase elimina da mente o estado de percepção mostrado pelo enfoque dual, e faz surgir uma percepção mais aprofundada, transcendental, que não pode ser captada pela mente que assume o homem como sendo uma existência real, existente ao lado de Deus. Deus é o homem! A mente divina é a mente humana! A realidade é a ilusão! Só existe UM. Entenda isso! E permaneça na contemplação silenciosa desta compreensão. Então será revelado silenciosamente a ti em tua consciência: "Tu és o filho de Deus", "eis que estou contigo desde o princípio até o fim dos tempos", "filho, eu te amo! Todas as tuas coisas são minhas e tudo o que é meu é teu."

Compreende de uma vez por todas que você já é o filho de Deus. Quando compreender, assuma de uma vez por todas esta compreensão como sendo a realidade, e não deixe jamais que a percepção dual torne a ocupar o espaço de aceitação de tua mente -- porque isso será possível de acontecer. Mesmo após compreender, você terá de lutar para manter-se dentro da visão correta; terá de manter-se sempre vigilante, alerta para não deixar a influência hipnótica-dual absorver-lhe a atenção. Fora de Deus o homem não é o filho-de-Deus. É somente alguma outra coisa mostrada pela percepção dual, e portanto é falsa.

Deus é tudo! Portanto não há espaço para nada mais existir. Deus está aí exatamente onde você está, sendo exatamente quem você é, vivendo a tua vida. O fato de você ser "Deus vivendo" não é mérito seu. Deus Se manifesta como você e Se expressa como a tua vida unicamente para a glória d'Ele! Só existe Ele! Você nem entra na questão. Você só existe porque essa é a vontade de Deus. Deus conhece a ti como sendo Ele mesmo. Se queres te conhecer como filho de Deus, aprenda a enxergar-te da mesma maneira como Deus te vê: perfeito, uno, em glória com Ele.

Em Deus tu és saudável. Em Deus doença alguma existe. Em Deus desarmonia alguma existe. Houvesse desarmonia em Deus, que é infinito, tal desarmonia seria infinita. Houvesse desarmonia em Deus, a existência de Deus e de todo o Universo estaria em jogo -- seria instável --, porque "a casa que é dividida contra si mesma jamais consegue subsistir". Esse é o motivo por que Deus é eterno. Esse é o motivo por que Deus é harmonia, sabedoria, perfeição. Aprenda a ver Deus em todos os teus caminhos, e Ele te dará prova de Sua presença. Deus é onipresente. A questão não é saber se Deus está "ali" ou não. A questão é: você tem olhos para ver?

Uma vez que compreenda a tua filiação espiritual divina, jamais olhe para trás novamente. Deixa para trás tudo o que era conhecido e considerado como Verdade para você. Segue em frente mantendo sempre a consciência de que "Deus está aqui onde estou".



"Retira dos teus pés as tuas sandálias, pois o lugar em que estás é solo santo."



Quando compreenderes que o lugar em que estás pisando é solo santo, tu retirarás as tuas sandálias, reconhecerá e exaltará: "tudo é santo!" Não há nenhum outro solo, a não ser o solo santo de Deus. Toda a existência é esse solo santo. Onde Deus estiver, ali o lugar será santo.

Agora, tome a resolução: "abandona o teu velho "eu". De hoje em diante és o filho de Deus." (Masaharu Taniguchi)

sábado, janeiro 17, 2009

Nossa existência verdadeira

[goldsmith.jpg]


Nossa verdadeira existência é como o espírito, e só abandonamos o falso sentido de vida material na medida em que percebemos isto. Vemos então que a vida física, do homem, do animal e da planta não passa de um sentido enganoso da existência; aquilo que geralmente nos preocupa com as chamadas necessidades da vida material é, de fato, desnecessário; que embora todas as belezas que contemplamos apontem para uma criação de Deus, elas não são a criação espiritual e perfeita de Deus; que as aparências de doença, de envelhecimento e morte não fazem absolutamente parte da vida real. Quando atingimos este estado de consciência, começamos a ter vislumbres da eterna existência espiritual, intocada pelas condições materiais ou pensamentos mortais. Quando damos as costas para o mundo sensorial, que podemos ver, ouvir, cheirar, saborear e apalpar, temos visões inspiradas que nos mostram a terra como criação de Deus.

No trabalho de cura, temos de dar as costas para o mundo físico, assim como o vemos. Temos de lembrar que não fomos chamados para curá-lo, para mudá-lo, para corrigi-lo ou salvá-lo; temos de perceber, antes de mais nada, que ele existe só como uma ilusão, como um sentido da vida totalmente falso. E deste ponto elevado de consciência, nós olhamos, através do sentido espiritual, para a "casa que não foi construída com as mãos, eterna no céu".

Temos o hábito de considerar certas pessoas como bons provedores, bons merecedores, bons vendedores ou curadores. Entendamos isso corretamente. Nunca é uma pessoa, e sim um estado de consciência, que cura, que regenera, que pinta, escreve ou compõe. O estado de consciência se manifesta a nós como pessoa por causa do conceito finito que temos de Deus e do homem. Ficamos com freqüência desapontados quando alguém não corresponde ao quadro que formamos dele. E isto porque lhe atribuímos as boas qualidades de consciência; e quando a pessoa não preenche tais qualidades, que nós acreditamos erroneamente serem sua personalidade, sofremos.

Na Bíblia, nos deparamos com as figuras de Moisés, de Isaías, de Jesus e de Paulo. Percebemos que Moisés representa o estado de consciência chefe, ou liderança; Isaías nos apresenta a profecia; Jesus mostra a consciência messiânica, ou a Graça da salvação e da cura; e Paulo traz a consciência do mensageiro, do pregador ou mestre. Contudo, sempre se trata de um estado de consciência específica que se manifesta a nós como homem.

George Washington representa certamente a consciência da integridade nacional; Abraham Lincoln, a consciência da integridade e da igualdade individuais.

Pensando em nós mesmos, esqueçamos nossa natureza humana com suas qualidades humanas e tentemos compreender o que nós representamos como consciência, para então perceber que esta consciência que se expressa como nós é também o que nos mantém e faz prosperar nosso empenho.

O fracasso ocorre freqüentemente por causa da descrença de que nós somos a expressão de Deus, ou da Vida, ou da Inteligência ou das qualidades divinas. Isso nunca é verdade. Deus, ou a Consciência, expressa eternamente a Si mesmo e Suas qualidades. A consciência, a vida, o Espírito, nunca pode falhar. Nossa tarefa é aprender a relaxar e deixar que nossa Alma se manifeste. O egoísmo é a tentativa de ser ou de fazer algo pelo esforço pessoal físico ou mental. O não nos preocupar é nos privar do pensamento consciente e deixar que as idéias divinas preencham nossa consciência. Uma vez que somos Consciência espiritual individual, podemos sempre confiar que a Consciência realize a Si mesma e à Sua missão. Somos expectadores e testemunhas desta divina atividade da Vida que realiza e manifesta a Si mesma.

Cada vez mais devemos nos tornar expectadores ou testemunhas. Temos de ser observadores da Vida e Sua harmonia. A cada manhã temos de acordar ansiosos para ver um novo dia que revele e desdobre, a cada hora, novas alegrias e vitórias. Diversas vezes por dia temos de perceber conscientemente que estamos testemunhando a revelação da Vida eterna, o desdobramento da Consciência e de Suas infinitas manifestações, da atividade do Espírito e de Suas grandiosas formas. Em cada situação do nosso dia-a-dia, aprendamos a ficar por trás de nós mesmos e ver Deus ao trabalho, testemunhar a ação do Amor nas nossas vicissitudes e esperar que Deus Se revele em tudo que nos rodeia.

Temos de perceber, toda noite, que o nosso descanso não nos leva a uma interrupção da atividade de Deus sobre nossa vida, mas que o Amor é a influência protetora e a substância do próprio descanso, que a Consciência nos transmite suas idéias mesmo durante o sono, que o Princípio é a lei que nos guia durante a noite toda. Nada de externo pode penetrar em nossa consciência para nos perturbar, e esta verdade fica de sentinela ao portal de nossa mente, para permitir o acesso só à realidade e suas harmonias.

Sejamos observadores, testemunhas; vejamos o desvelar-se do Cristo na nossa consciência.

Há um estado de guerra permanente entre a carne e o Espírito, e isso continuará enquanto mantivermos o sentido de identificação corpórea, mesmo pequeno. A tentativa de trazer o Espírito e suas leis para atuar sobre as concepções materiais, é o que constitui esta guerra, e a paz só poderá ser alcançada quando o sentido material do universo e corporal do homem tiverem sido superados.

Observe com quanta freqüência tentamos aplicar alguma verdade metafísica a algum problema humano, e descobrirá os motivos do conflito dentro de você. Nosso verdadeiro intento é mais a obtenção da harmonia espiritual do que a continuidade do enfoque material da existência, com mais facilidades e conforto.

Nos momentos iniciais de nossa busca da Verdade, não tínhamos provavelmente outra preocupação que não curar um corpo doente, fazer um pobre mais próspero ou transformar um pecador em alguém ético. Não há dúvida de que, ao nos tornarmos um praticante ou mestre de consciência espiritual, parecíamos ter atingido esta finalidade, e por algum tempo continuamos a "usar" a Verdade, ou Deus, para direcionar nossa concepção material do homem e do mundo.

Foi só com a continuação de nossos estudos e da meditação que nos apercebemos do conflito interior. Nos regozijamos com momentos de grande elevação; nós caímos no vale da incerteza; conseguimos vitórias e amargamos fracassos; oscilamos entre as aparências de bem e de mal, sucesso e fracasso, espiritualidade e mortalidade, saúde e doença. Este é o conflito interior que se evidencia como uma guerra entre a carne e o Espírito. E isso só terminará quando abandonarmos o conceito de mortalidade e a identificação corporal para alcançarmos a consciência da existência espiritual.

"Meu reino não é deste mundo" representa o fundamento da construção de uma nova e mais alta consciência. A vontade e a capacidade de olharmos para além do sentido material de pessoa e coisa, e de perceber o homem e o universo da criação de Deus, são fatos essenciais.

Ganhar mais dinheiro não é suprimento espiritual; poupar mais não significa segurança; saúde física não é necessariamente a base de vida eterna: tudo isso constitui meramente uma crença humana melhorada.

O estudioso avançado abandonará aos poucos sua tentativa de melhorar crenças ou aspectos humanos, para que a verdade da existência espiritual possa desabrochar em sua consciência.

O reino espiritual é a fonte da saúde que é, na verdade, a eterna harmonia do ser; é uma consciência de suprimento sem limites, e que é obtido sem esforço. Lembre-se, contudo, de que não estamos associando novamente Deus, ou o Espírito, com o conceito humano de saúde e suprimento. Estamos, antes, entrando numa concepção espiritual de saúde e suprimento. Até aqui, nossos esforços foram na direção de manifestar maior harmonia e domínio em nossos negócios terrenos. É verdade que esta consciência de ser celestial parece resultar num viver humano mais harmonioso, mas estas são "as coisas dadas de acréscimo", conseqüência da busca do céu e de sua justiça. E será visto como sendo muito diferente do conceito humano de bondade, e este conceito mais elevado é o que devemos estar buscando.

"Meus pensamentos não são os teus pensamentos e os meus caminhos não são os teus caminhos." Por esta razão não tentamos ter mais ou melhores pensamentos humanos, ou tornar nossos caminhos humanos mais planos. Na verdade estamos buscando aprender os pensamentos de Deus e o caminho de Deus.

Nesse estágio de desenvolvimento, sentimos a necessidade de nos desfazer das preocupações com nossa pessoa e com o nosso bem-estar. Aprendemos que os cuidados com nosso bem-estar são como construir sobre areia, enquanto uma vida voltada para a busca da Verdade é como uma base de sólida rocha sobre a qual podemos construir o templo eterno da vida. Encontramos felicidade e prosperidade permanentes quando temos um princípio ou uma causa a que podemos nos devotar. Assim encontramos menor escala da personalidade em nossa existência, e, por isso mesmo, deixamos espaço para a revelação e o desdobramento do nosso divino Eu. Nesse Eu encontramos nossa completeza e a infinitude de nosso ser. Aqui também descobrimos a razão de nossa existência.

Deus criou o mundo e tudo o que nele existe. O que nós observamos através dos sentidos não é o mundo, mas uma imagem finita e falsa do mundo que Deus criou. À medida que nos elevamos em termos de consciência, começamos a perceber o universo espiritual e um pouco de sua finalidade.

Aquele que encontrou seu Eu profundo, descobre que é um com todos os homens, animais e coisas. Ele sabe agora que aquilo que afeta um, afeta todos. A universalidade desta verdade é encontrada em todas as escrituras, como pode ser visto nestes exemplos:


"Conquista o homem avarento, com um presente.
A caridade é rica em recompensas; a caridade é
a maior riqueza, pois embora esbanjando, nunca
traz arrependimento."

ESCRITURA HINDU


"Deles era a plenitude dos céus e da terra;
quanto mais davam aos outros, mais possuíam."

ESCRITURA CHINESA


"Dê àquele que é teu parente o que lhe é devido,
e dê também aos pobres e aos viajores.
E os bens que envias à frente da tua alma,
reencontrarás em Deus."

ESCRITURA TURCA


"E mais abençoado dar que receber.
... Dê, e te será dado; uma medida boa, compacta
e sacudida, transbordante, será posta no teu colo.
Pois com a mesma medida com que medes,
tu também serás medido."

A BÍBLIA


À medida que percebemos nossa unidade, ou unicidade com toda a criação, nos tornamos mais amáveis, gentis, pacientes e compreensivos. Só então cumprimos o grande ensinamento "Ama teu próximo como a ti mesmo" e só então temos um vislumbre do reino de Deus, do templo "não construído com as mãos", do homem e do universo criados por Deus. E é a este homem espiritual, o homem criado por Deus, que foi dado o domínio sobre toda a terra.

Não há mistério algum, referente à vida interior, exceto o mistério da natureza divina. Todos os que pensam estão preocupados com seu bem-estar, com o bem-estar da família e da comunidade, do seu país ou mesmo do mundo. Contudo, a experiência logo os convence de que não há esperança para a humanidade nas pessoas ou nos poderes deste mundo. Os homens são por demais egoístas. No geral, estão demais ocupados e preocupados com seus próprios interesses para serem totalmente altruístas em sua atitude diante do mundo.

Os mais ambiciosos são com freqüência aquinhoados com talento físico ou mental superiores, e logo se sentam no trono dos poderosos e o mundo é então liderado por estes, que carecem de integridade e de amor. Os políticos raramente se elevam acima de seu próprio egoísmo, e o eventual homem estadista perde-se neste quadro.

Aqui e acolá, pelo mundo afora, existem homens e mulheres inspirados que anseiam pela vinda do dia em que os homens se irmanarão. Seu coração se condói pelo constante ridículo a que são expostos os homens de boa vontade e pelo sucesso dos embriagados pelo poder e dos ávidos de dinheiro, que se repetem a cada geração. Estes nobres visionários são levados de um lado para outro, entre a sua esperança de progresso da humanidade e a percepção da futilidade da superação das forças malignas que atuam no pensamento humano. Talvez a mesma pergunta ocorra a todos: Não haverá um poder para pôr um paradeiro a este reino do mal, para sustar as guerras, para evitar a fome e as pragas? Será o homem desamparado diante dos quatro cavaleiros do Apocalipse?

A busca de libertação das provas e das atribulações da vida humana já foi iniciada. Na verdade, trata-se da busca de Deus, e ela começa em qualquer condição de consciência em que o indivíduo possa estar. Se ele tiver um forte sentido religioso, com o suporte de uma Igreja, pode encontrar o Poder na fé recíproca, em algum credo ou dogma ou alguma forma específica de adoração. O intelectual buscará, sem dúvida, o Poder no campo da filosofia, ou em um dos ensinamentos religiosos filosóficos. Mais recentemente, a busca pode se orientar para os ensinamentos metafísicos ou para as práticas orientais de yôga. Sem dúvida, muitos irão passar de um estágio para outro, sempre buscando Deus ou o Poder que possa pôr um basta ao reino da mortalidade.

Mas um dia, no nosso interior, algo acontece. A consciência se expande e vê aquilo que antes era invisível. Sentimos um fluxo de calor: uma Presença, antes desconhecida, torna-se tangível, muito real. Isto, muitas vezes, é uma experiência fugaz. Podemos mesmo duvidar que ela tenha ocorrido. Subsiste na memória, mais como um sonho do que como uma realidade, até que se repita, e desta vez com mais clareza, mais definição, e, talvez, por um tempo maior. Aos poucos se fixa na nossa consciência a percepção de uma Presença constante. Esta Presença pode ser sentida como que furtiva por trás da consciência ordinária. Por vezes se torna uma Presença imperiosa, que domina a situação ou a experiência daquele instante.

Nesse momento, contudo, o mal se torna menos real; a doença não é tão aguda; a tensão financeira e mesmo a necessidade cedem caminho para a suficiência; a preocupação consigo mesmo desaparece, pois as necessidades são satisfeitas sem aflições, sem que planejemos, sem que nos aborreçamos ou temamos. As pessoas ou os poderes que antes temíamos, se esvanecem agora da vista, ou até desaparecem da nossa vida, ou então são vistas em sua impotência. Os desejos se fazem menos pungentes. Os medos se esvaem. Segurança, confiança, atenção e entusiasmo se tornam evidentes, não apenas para nós mesmos, mas também para aqueles que encontramos e com quem lidamos na vida quotidiana.

A Presença interior torna-se também um Poder interior. De uma experiência fugaz, transforma-se em consciência contínua. A força da dor e do prazer na vida externa diminui, enquanto nos tornamos cientes de um poder interior que é real, e que gera e direciona a vida externa de modo harmonioso e proveitoso. Não há mais o medo do mundo exterior, nem há o prazer intenso nas alegrias do mundo exterior. É possível ter os prazeres do mundo e se alegrar com eles, ou não tê-los e não lhes sentir a falta. O que passa a existir, é uma alegria interior que não precisa de estímulos externos.

Nesse estado de consciência, reconhecemos Deus como sendo a luz interior ou, no mínimo, sentimos esta luz como uma emanação de Deus. Deus é sentido como uma Presença divina, ou uma Influência interna. E é sentido por aqueles que entram em contato com o homem que encontrou seu Eu profundo. Reflete-se na sua saúde e no seu sucesso. Irradia dele como os raios irradiam do sol.

Encontrando sua vida interior, o homem encontra a paz, a alegria, a harmonia e a segurança. Mesmo em meio a um mundo tão decadente, ele permanece indiferente e intacto — é a exata presença do Ser imortal.

Quando não mais estamos limitados pelos cinco sentidos materiais e alcançamos, mesmo em parte, o sentido espiritual, ou a Cristo-consciência, nós não mais nos sentimos limitados pelos termos aqui ou acolá, agora ou depois. O que há é um entrar e sair sem qualquer sentido de espaço e de tempo, um desdobrar-se sem graduações, uma percepção sem um objeto.

Nesse estado de consciência, desaparece o sentido de finitude, e a visão se torna sem fronteiras. A vida é vista e compreendida como uma forma totalmente liberta e de beleza infinita. Mesmo a sabedoria milenar será abarcada em instantes. A morte desaparece, e vemos novamente aqueles que foram separados de nós por esta barreira tida como intransponível. Esta comunhão não é a comunicação como é entendida nos ensinamentos espíritas; é antes uma conscientização da vida eterna, intocada pela morte. É a realidade da imortalidade que é percebida e compreendida; é uma visão da vida sem começo nem fim. É a realidade trazida à luz. Nesse estado, não há barreiras físicas de espaço e de tempo. A visão abarca todo o Universo; funde o tempo e a eternidade; inclui todos os seres.

Nessa luz, vemos não com os olhos; ouvimos sem os ouvidos; compreendemos coisas que desconhecíamos. Onde nós estamos, Deus está, pois não há mais separação ou divisão. Aqui não há recompensas ou punições. Há harmonia. A vida não depende de um processo; nós não vivemos só do pão. Temos a sensação de espreitar para o céu e ver o que olhos mortais não podem ver.

O sentido espiritual não está ligado a bens humanos; porém, esta Cristo-consciência revela a harmonia do ser que se apresenta como nossa experiência humana e de forma utilizável em nossas condições atuais. Embora o "meu reino não é deste mundo", "vosso Pai sabe que precisais destas coisas" e Ele supre nossos desejos antes mesmo que lho façamos.


...e disse para Seus discípulos: "Portanto vos digo: não andeis preocupados com a vossa vida, pelo que haveis de comer; nem com o vosso corpo, pelo que haveis de vestir.

A vida vale mais que o sustento e o corpo mais que as vestes.

Considerai os corvos, eles não semeiam, não ceifam, nem têm dispensa nem celeiro; entretanto, Deus os sustenta. Quanto mais vaieis vós do que eles?

E qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?

Se vós, pois, não podeis fazer nem as mínimas coisas, por que estais preocupados com as outras?

Considerais os lírios, como crescem; não fiam nem tecem; contudo vos digo: nem Salomão, em toda sua glória, jamais se vestiu como um deles.

Se Deus, portanto, veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada ao forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé!

Não indagais pois o que haveis de comer ou que haveis de beber; e não andeis com vãs preocupações.

Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas estas coisas; mas vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso.

Buscai antes o reino de Deus e sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo.

Não temas, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o reino".
(LUCAS 12: 22-32)


quarta-feira, janeiro 14, 2009

Amor e Suprimento Espiritual (Joel S. Goldsmith)

Joel S. Goldsmith


"Eu e o Pai somos um". Na percepção desse relacionamento, deixo o Infinito Invisível trazer-me dos céus, das núvens, do ar, da terra, de toda parte do universo, tudo o que for necessário ao meu desenvolvimento. Mas, este não seria o "seu" suprimento, ou o "meu", pois isto denotaria limitação. O simples uso de "seu" e "meu" encerraria uma limitação. Podemos usar a palavra "meu" de início; mas, pela expansão da consciência, perceberemos que a Verdade, por ser universal, faz com que a Autocompleteza seja válida igualmente para todos os homens.

Quando falamos do sol ou da lua, não dizemos "meu" sol ou "minha" lua, "seu" sol ou "sua" lua. Falamos do sol como luz universal a brilhar para o santo ou pecador, para o branco ou negro, oriental ou ocidental, judeu ou gentio. Por fim, passamos a encarar o suprimento sob este enfoque, sem o rotularmos de "meu" ou "seu", pois, se o considerarmos como pessoal, estaremos tornando-o finito, transformando-o em conceito material, em vez de entendê-lo como verdade espiritual. Se quisermos falar verdadeiramente sobre suprimento, deveremos abandonar todo e qualquer senso pessoal de posse; deveremos eliminar todo conceito de limitação, deixando de alegar que isto ou aquilo seja "meu" ou "seu".

"Do Senhor é a terrra, e tudo que ela encerra"..."Filho, tu estás sempre comigo, e tudo que é meu é teu". Não devo ser egoísta ao extremo de acreditar que estas palavras sejam dirigidas apenas a Joel. Devo entender que estão endereçadas aos filhos de Deus. Se personalizá-las de algum modo, acreditando que Deus as está dirigindo somente a mim, que estarei fazendo de você? E, se excluísse um de vocês, mesmo o maior pecador, estaria excluindo a mim próprio, pois existe somente o infinito Eu divino, sendo este EU Automantido, além de englobar a totalidade da Existência. O conceito material de suprimento o personaliza! Ao falarmos em suprimento como "seu" ou "meu", ele estará sendo visto como limitado; porém, ao pensarmos na totalidade do suprimento como pertencente o Pai, ele será infinito!

Porque há tantas pessoas limitadas? A resposta é única: o mundo retém um conceito pessoal de suprimento. Enquanto esta idéia perdurar, haverá limitação. De fato, inexiste carência e inexiste abundância. Existe somente esta ou aquela pessoa experienciando individualmente a carência ou a abundância.

Suprimento é espiritual; portanto, é infinito! Se nos abrirmos à Graça de Deus, todo suprimento necessário nos será acrescentado. Mesmo quem não tiver sido ensinado a viver espiritualmente, se abrir a consciêcia para expressar o amor humano, deixando a concha em que vinha vivedo, terá abundância, desde que parta para a doação, aprendendo a compartilhar, a servir e a ser mais amigos. Nunca duvide do seguinte: quem está sem receber o suprimento está, de algum modo, barrando-o ele próprio. E esta ação difere de pessoa para pessoa.

Certas pessoas adoram se vangloriar, o que é tremenso contra-senso! Outras jamais entenderam o sentido real da gratidão, desconhecendo o que é dar, compartilhar, amar. Não falo de doação feita a filhos e familiares, mas da doação impessoal. Tais pessoas estão barrando o fluxo do suprimento, pois, embora ele esteja encostado rente à porta, é incapacitado de ultrapassá-la, a não ser que a pessoa abra a própria consciência. De uma maneira ou de outra, aqueles que estão carentes de suprimento, eles próprios se colocaram nessa condição, por terem fechado a porta à consciência infinita. Esta atitude não é tomada premeditadamente, mas sempre ignorantemente.

Muitos casos chegaram ao meu conhecimento de pessoas que concluíram serem elas próprias que estavam barrando seu suprimento por jamais darem ou compartilharem coisa alguma; assim, passaram a praticar o dízimo e mudaram completamente de situação, mesmo sem terem atingido o nível mais elevado de realização espiritual, mas apenas à nível de ajudar e dividir com o próximo. Não existe uma forma única de se experienciar abundância: há provisão em todo nível de consciência. A demonstração máxima, entretanto, é a conscientização da presença de Deus. Isto é que atende a todas as tuas necessidades.

No nível místico de consciência, jamais devemos permitir que a mente se prenda ao suprimento como sendo ele algo a ser buscado, conquistado ou merecido. Suprimento é a conscientização de que o Eu, em vosso interior, "veio para que tivéssemos vida, e vida em abundância".

Começaram a notar a diferença entre os dois mundos? O mundo exterior, em que parece que vivemos em coisas que são externas, e o mundo interior, em que mesmo as coisas que parecem vir de fora são, realmente, expressadas pelo Espírito que está dentro de nós? Permaneçamos na Verdade de que a nossa vida invisível é que nos atrai do exterior o que for necessário à nossa experiência individual.

Seja qual for o segmento da vida que estivermos considerando, jamais deveremos esquecer o grande princípio da IMPERSONALIZAÇÃO. Não é certo que cada confusão em que temos entrado se foi caudada por termos personalizado Deus ou o erro? Agora, deveremos dar outro passo e impersonalizar o suprimento, de tal forma que desapareça a idéia de "meu" ou "seu" suprimento: existe a Autocompleteza, Autodesdobramento, Autocorporificação da totalidade.

Na percepção de nosso relacionamento de unicidade, são encontradas completeza e totalidade. Esta unicidade com o Pai é minha plenitude, minha completeza, mas não implica que seja algum "meu" separado do "seu". Você possui a mesma plenitude, a mesma completeza, a mesma perfeição. Apenas terá de despertar para ela, e assim faremos em proporção à nossa capacidade de impersonalizar Deus, impersonalizar o erro, impersonalizar o suprimento e impersonalizar o amor.

A forma única de impersonalizarmos o amor e expressarmos divino amor está em sabermos que não temos poder nem para dar nem para reter qualquer coisa. Podemos meramente ser instrumentos pelos quais a coisa acontece. Apesar de tudo que conhecemos, humanamente seremos tentados a dar ou a deixar de dar amor em função de preferências pessoais. A dar mais "aqui" do que "ali". Tudo isso torna-se barreira à demonstração da real harmonia em nossas vidas. Cada um precisa reservar um período ao dia para ser uma transparência à ação do Espírito, para que Ele possa abençoar nosso lar, negócio, nação, sem qualquer influência de preferência pessoal.

Humanamente, talvez sintamos mais afeição por uns do que por outros. Mas são os outros os responsáveis pela diferenciação. Eu não poderia dar mais afeição humana àqueles não a dão nem a compartilham, pois seriam eles que estariam deixando de chamá-la para si. Quem expressa afeição em grau máximo é o que a recebe em maior medida. Sob o ponto de vista humano, a verdade é esta e tenho que admití-lo.

Este fato, entretanto, não me impede de, ao menos uma vez ao dia, buscar minha quietude interna para perceber que não posso dar amor a alguém ou represá-lo. Estarei sendo a transparência pela qual a Graça de Deus envolve todas as pessoas de todos os lugares. A receptividade delas lhes trará a vida abundante, e a falta dessa receptividade as excluirá. Serei responsável somente por "deixar a Luz brilhar". Abrir a porta da consciência para recebê-la será função de cada um.

Nossa maior contribuição ao mundo está não em prestarmos serviços pessoais a familiares. Nosso maior valor é a medida com que nos sentamos, em quietude, para sermos uma clara transparência para o Amor de Deus fluir em nosso ambiente, negócio e nação. Isto é impersonalizar o amor, e é esse tipo de amor impessoal que atende às necessidades individuais e coletivas.

Em alguns níveis de vida humana, uma pessoa deverá ser humanamente mais amorosa, caridosa, benevolente, pois será este seu único acesso à paz e à harmonia. À medida que der, receberá. Aquilo que semear, ceifará -- não, porém, em nível espiritual, onde a experiência máxima é amor divino, e este ninguém é capaz de dar ou de reter. Antes, é Algo que flui atrávés de nós, e atua fora do nível humano.

O Suprimento é infinito; porém, é preciso haver receptividade. Qualquer um diria: "Ora, eu receberei todo suprimento que você me der". Mas não é assim que a coisa funciona! Podemos ter todo suprimento que dermos. Mas a barreira encontra-se aqui: o não desejo de doação. Eis a causa da carência ou da limitação.

O povo faminto do mundo é culpado pela falta de alimento? Não, não mais que nós mesmos, quando desconhecíamos esta verdade, ou quando nos culpávamos por não estar desfruntando de maior hamonia. Os que sofrem carência estão barrando o suprimento com a ignorância espiritual. Alguns se permitiram se tornar desamorosos; e, onde inexiste amor, inexiste abundância. Permitiram-se parar de desenvolver, separados e apartados de seus irmãos humanos. Criaram uma mentalidade de "receber" e não de "dar", inclusive o de receber em troca de nada! Esse tipo de ignorância, porém, não é falha deles. Estão hipnotizados! E este hipnotismo durará até que haja um despertar interior que os direcione a algo superior ao sentido material, rompendo de vez com esse hipnotismo universal.

Adquira o hábito de, diariamente, sentar-se quietamente, sem dar amor humano a ninguém, e, por outro lado, sem conservar qualquer emoção negativa como ódio, inveja, ciúme, malícia, vingança ou indiferença. Abandone tudo isso, inclusive o desejo de amar alguém. Sente-se quietamente, por um momento, e deixe que o Espírito de Deus, o Amor divino, flua através da sua consciência para a seu lar, família, vizinhos, cidade, estado, comunidade, nação e, finalmente, o mundo.

"Tua Graça é a suficiência deste mundo. Deixo Tua Graça estar sobre o mundo e ser realizada em toda consciência humana. Deixo Tua Graça ser estabelecida assim na terra como o é no céu".

Depois, permaneça silencioso por alguns momentos, enquanto há o fluxo do Espírito. Você não terá dado amor algum; não terá retido amor algum; não terá sido desamoroso: terá simplesmente permanecido quieto, permitindo à "suave e pequenina Voz" ser ouvida por toda consciência humana a Ela receptiva.


domingo, janeiro 11, 2009

Não perca de vista o seu saber

Osho, mais uma vez você recordou-me que o saber tende a se tornar conhecimento, que tende a se tornar a prática de tal conhecimento. Isso quer dizer que o saber tende a torna-se uma prática viciosa. Por favor, comente sobre isso.






“A sabedoria sempre se torna conhecimento – e você precisa estar alerta para não permiti-lo. Uma das mais delicadas situações no caminho do buscador: a sabedoria sempre se torna conhecimento – porque no momento quando você sabe de algo, sua mente coleta isso como conhecimento, como experiência.

A sabedoria é um processo. Conhecimento é uma conclusão. Quando a sabedoria morre, ela se torna conhecimento. E se você seguir reunindo esse conhecimento, a sabedoria tornar-se-á mais e mais difícil – porque com o conhecimento o saber nunca acontece. E você segue levando o seu conhecimento consigo. A pessoa conhecedora está quase escondida atrás de seu conhecimento; ela perde toda a claridade, toda a percepção. O mundo fica distante, obscurecido; a realidade perde toda a transparência.

O homem conhecedor está sempre vendo através de seu conhecimento. Ele projeta o seu conhecimento. O conhecimento dele colore tudo – e já não há mais nenhuma possibilidade de saber. Lembre-se: o conhecimento não é compilado apenas através de escrituras – ele também é acumulado, e até bem mais, por meio de suas próprias experiências.

Você ama uma mulher, por exemplo. Você nunca havia conhecido uma mulher antes, nunca se apaixonou profundamente. Você se apaixona pela primeira vez – você é inocente, virgem. Você não conhece o que é o amor – sua mente está aberta. Você não possui nenhum conhecimento sobre o amor. Você é espontâneo; está se movendo no desconhecido. É misterioso. O amor abre portas de templos desconhecidos, canta canções desconhecidas em seus ouvidos e em seu coração, dança com tons desconhecidos. E você tudo desconhece; você não tem conhecimento algum para julgar, avaliar, condenar, dizer que é ‘bom’ ou ‘ruim’. Você se sente deslumbrado – arrebatado pela inexprimível experiência do amor. Você está vivendo momentos de graça.

Mas aos poucos você se torna um erudito – você já sabe o que é o amor, já sabe o que é uma mulher; você já conhece a geografia, a topografia do amor. Você se tornou um conhecedor.

Então você se apaixona por outra mulher. Agora, nada acontece como na sua primeira experiência – nada parecido. Agora é superficial, uma repetição: como se você tivesse ido assistir ao mesmo filme novamente, ou ler mais uma vez o mesmo romance. Há uma pequena diferença aqui e ali, mas não muita. O que deu errado desta vez? Por que a mesma experiência misteriosa não o está arrebatando? Por que não está você novamente palpitando com o desconhecido? Você já é um erudito. Algo tão lindo quanto o amor tornou-se uma repetição.

A sabedoria sempre transforma-se em conhecimento. Então você precisa permanecer bem alerta: saiba de algo – mas assim que isso começar a se tornar conhecimento, abandone-o. Siga morrendo para os seus conhecimentos, não os carregue com você – porque mulher alguma é igual à outra. A primeira mulher era um mundo totalmente diferente; e essa nova mulher por quem você se apaixonou é um outro mundo completamente diferente. Nunca serão a mesma coisa. Mas se você for olhar através do conhecimento, elas parecerão ser.

Abandone/desista do conhecimento. Torne-se outra vez inocente. Mova-se para o desconhecido novamente – porque duas pessoas nunca são iguais. Cada pessoa é tão única que nunca houve alguém como ela antes e nunca haverá outra novamente. Aprenda de novo do A B C e você ficará cheio de deslumbre. E então você terá aprendido uma profunda experiência: a de nunca permitir que conhecimento algum se edifique.

Todo saber se torna conhecimento. No momento quando ele se tornar conhecimento, jogue fora. É exatamente como poeira acumulada num espelho; você deve limpá-lo diariamente. A poeira acumula-se no espelho da sua mente, poeiras de experiências: ela se transforma em conhecimento. Limpe-o. Esse é o motivo pelo qual diariamente a meditação é necessária. Meditação nada mais é que limpar o pó do espelho de sua mente. Limpe-a continuamente. Se você puder limpá-la em cada momento de sua vida, não haverá mais a necessidade de sentar-se separadamente para meditar.

Lembre-se, esteja alerta para o fato de que o conhecimento não deve ser acumulado, que você deve conservar-se como uma criança – cheia de deslumbre, de graça. Todas as esquinas e cantos são misteriosos, e você não sabe o que eles são. É impossível desvendar o que a vida é. Encantado, você corre para esta e para aquela direção.

Você já observou uma criança correndo pelas praias do mar? Tão jubilosa! Com tanta euforia! Catando conchas e pedras coloridas. Já observou uma criança correndo atrás de uma borboleta no jardim? Mesmo se Deus estiver lá você não correrá dessa forma – não correrá. Você não será tão extático mesmo no caso se Deus estiver lá. Você se comportará como um cavalheiro; você não correrá, não será selvagem – continuará com suas maneiras, demonstrará que é maduro, que não é infantil.

E Jesus diz: "Somente os que são como criancinhas serão capazes de entrar no Reino de meu Pai" – somente aqueles que são como crianças, que ainda possuem a capacidade de se maravilhar. O maravilhamento é o maior tesouro da vida. Uma vez que você o perde, a sua vida foi perdida. Então você vai levando vida, mas deixa de viver. O conhecimento assassina o maravilhamento.

Este é um dos problemas mais difíceis que a mente moderna vem enfrentando, porque o conhecimento tem se acumulado a cada dia mais e mais. O século vinte está muito sobrecarregado com o conhecimento. E é por isso que a religião desapareceu – porque a religião só pode existir com o maravilhamento, com olhos preenchidos de deslumbre, de fascínio. Olhos que não possuem conhecimento, mas que estão prontos para correr em qualquer direção só para ver o que há ali. Olhos inocente, virgens. Então, lembre-se de permanecer capaz de deslumbrar-se como uma criança.

A ciência se desenvolve a partir da dúvida. Religião se desenvolve a partir do deslumbre. E a filosofia existe entre ambas – ainda não se decidiu entre uma ou outra: procede dependurada entre a dúvida e o deslumbramento. Algumas vezes o filósofo duvida e algumas vezes ele se maravilha: ele está exatamente no meio. Se ele duvida muito, pouco a pouco torna-se um cientista. E se ele se deslumbra muito, torna-se pocuco a pouco religioso.

É por isso que a filosofia está desaparecendo do mundo – porque noventa e nove por cento dos filósofos tornarm-se cientistas. E uns poucos – um Buber em algum lugar, um Krishnamurti em algum lugar, ou algum Suzuki em algum lugar – mentes grandiosas, intelectos magnamente penetrantes, alguns poucos tornaram-se religiosos. A filosofia está quase perdendo o seu chão.

Se vocês se tornam muito céticos, vocês se tornam cientistas. Se se tornarem assim como crianças, vocês se tornam religiosos. A ciência existe com a dúvida. Religião existe com o maravilhamento. Se você quer ser religioso, crie mais deslumbramento, descubra mais maravilhas. Permita seus olhos estarem mais preenchidos com maravilhamento antes de qualquer outra coisa. Surpreenda-se com tudo o que estiver acontecendo. Tudo é tão tremendamente maravilhoso que é simplesmente inacreditável como você segue vivendo a vida sem dançar, sem tornar-se extasiado. Você deve não estar percebendo o que está acontecendo em todo o redor.

É tão maravilhoso apenas ser, é tão maravilhoso apenas poder respirar. Apenas ser e apenas respirar! – Nada mais é necessário para a pessoa religiosa. Esteja cheio de deslumbramento. Quando alguém está repleto de deslumbre, de fascínio, surge o louvor, e o louvor é prece. Ao perceber essa existência maravilhosa, você começa a louvá-la. Em seu louvor, a prece surge. E você exalta: “santo, santo, santo”. Ela é santa. É tão bela e tão santa.

Assim, a pergunta levantada é de grande pertinência: “mais uma vez você recordou-me que o saber torna-se conhecimento, que se torna a prática de tal conhecimento.” Estes são os três passos. Primeiro o saber; então o saber morre, atrofia-se, torna-se conhecimento; e o conhecimento também se atrofia ainda mais e se torna prática ou caráter.

Um homem de caráter é o homem mais morto do mundo. Ele pratica o seu conhecimento; ele tenta seguir o seu conhecimento. Ele não é espontâneo. Está continuamente administrando, manipulando, obrigando-se a isto ou aquilo. Ele não é responsável – responsável no sentido de ser capaz de responder. Se você for até ele e abraçá-lo, ele corresponderá, mas essa resposta provirá de suas experiências passadas, de seu caráter.

Um homem de caráter é previsível. Apenas um mecanismo pode ser previsível. Um homem inteiramente consciente é imprevisível. Nenhum astrólogo consegue prever algo sobre um homem totalmente consciente. Ele se move de momento em momento, repleto de maravilhamento. Ele não carrega conhecimento algum, não carrega nenhum caráter. Cada momento é novo, renascido.

Assim, estes são os três passos: o saber morre; o saber torna-se conhecimento; o conhecimento torna-se caráter. Tenha cautela – cuidado! Não permita que o seu saber desabe e se converta em conhecimento. E jamais deixe que o seu conhecimento o controle e crie um caráter em você. Um caráter é uma armadura. Nessa armadura você está aprisionado... e você jamais consegue ser espontâneo. Você já está em sua tumba – um caráter é uma tumba.

Deixe que o seu saber mantenha-se aí, mas não o deixe converter-se em conhecimento ou caráter. No momento em que começar a se tornar conhecimento, abandone isso, esvazie as mãos. Esqueça tudo a respeito. E siga em frente: novamente como uma criança. Difícil, eu sei. É fácil apenas dizer; difícil ser assim – mas essa é a única forma de poder fazê-lo alcançar "satchitanand" – fazê-lo atingir a verdade, a consciência, o êxtase.

Sim, não é fácil. Há um preço alto a ser pago – mas Deus não é barato. Você terá de pagar com a totalidade do seu ser. Só quando você tiver pago totalmente, sem ter retido uma única coisa, só quando você não for um miserável, e você tiver se rendido e sacrificado a si mesmo totalmente, você atingirá. Deus vai até você quando você não é; quando você se torna um zero, Deus vem até você. Ele está apenas esperando na esquina. No momento em que você se torna vazio, Ele corre para você, Ele chega e o preenche.

Não permita que o seu saber torne-se conhecimento e caráter. Então surgirá em você um tipo totalmente diferente de caráter, um que não será igual a nenhum caráter que você já tenha visto neste mundo. Ele será interno – uma disciplina que surge do centro mais profundo do seu ser. Jamais forçada! – é sempre espontânea. Não como um mandamento: mas como um crescimento orgânico. Deus é o seu crescimento espontâneo e natural."






Osho – "A Sudden Clash of Thunder" – cap. 2 – pergunta 5

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Amor e Gratidão

No espaço de comentários, o meu amigo Mizi trouxe uma questão muito profunda, completa e reflexiva sobre o amor e a gratidão. Foi uma questão bastante proveitosa porque, nela, foram feitas perguntas diretas, sem rodeios. Enquanto lia, muitas coisas surgiram em minha mente, muitos comentários e forma de explicações; à medida que ia lendo e acompanhando o raciocínio de tais questões, uma compreensão foi se desdobrando dentro de mim e me senti como se estivesse sendo conduzido. E veio a sensação: "escreva isto!". Então escrevi abordando o assunto e, ao terminá-lo, decidi transformar o texto em post. Para isso, na parte das questões, selecionei aquelas em que centrei e desenvolvi a minha abordagem do assunto. Às questões seguem meu comentário. Vamos a eles.


[gratidão_baixa.jpg]


A reflexão

A primeira questão:

"Mesmo os atos apenas concretamente praticados, feitos sem amor, não são dignos de gratidão por parte do "receptor"?? Se por um lado, não houve amor ao "dar", o que impede de haver o amor ao "receber"?? Devemos "receber" com amor aquilo que nos foi dado sem amor?? Se a resposta é sim, então porque as pessoas desconfiam das intenções alheias? Receber é muito mais fácil que doar, pois poderá ser feito sempre com amor. Nesse sentido, qual o fundamento da ingratidão?? Não receber algo que não foi dado com amor é enxergar a mesmeridade do ato em si e coadunar com a ilusão deste mundo. Um iluminado não deveria receber com amor e gratidão tudo quanto lhe oferecerem sem se preocupar se aquilo lhe foi dado com amor ou sem amor?

Nesse sentido, não deveríamos ser todos sempre gratos a tudo, independente da "origem"? O único julgamento de atos que o ser humano deve fazer são os dos próprios atos, aqueles que ele próprio pratica, e não os que os outros praticam. Pois os que ele próprio pratica são doação de seu ser. Convém-lhe vigiar e saber se seus atos são manifestação de amor verdadeiro ou não. No entanto, não lhe convém julgar os atos alheios, posto que não somos doadores de atos alheios. Somos apenas receptores de atos alheios. Receber não exige julgamento ou vigília. Exige tão somente confiança e gratidão. E nessas duas coisas o Amor brilha mais forte e intenso do que em qualquer repúdio justificado por facticidades "deste mundo".

A segunda questão:

"Gratidão é retribuição de um ato ou é manifestação de amor de um ato recebido, mesmo que este tenha sido paticado sem amor?? Essa questão é fundamental, se temos em nossa cabeça que o amor não exige nem precisa de recompensa/retribuição. Quando se doa algo com amor, se doa perfeitamente, completamente, sem ressalvas ou condições. Sem expectativas de recompensas ou retribuições. No entanto, é errado esperar gratidão? Gratidão é retribuição? Quando se espera por gratidão, não se está esperando apenas que o amor seja correspondido na mesma intensidade? Se sim, porque temos medo de desejar gratidão? O desejo pela gratidão viola o amor incondicional? Deus também não gosta que sejamos gratos a Ele? Se sim, Deus ama incondicionalmente. Se não, então gratidão é retribuição. Se sim, gratidão é manifestação natural do amor. Afinal, gratidão é apenas o reconhecimento de que um ato de amor muito grande surgiu, seja ele no ato de dar ou no de receber, ou no de ambos. Mas será mesmo?"

"(...) Tentei meditar sobre isso... Tentei me curar sobre isso... Tentei obter alguma iluminação sobre isso, algum "satori", uma compreensão mística. Qualquer coisa. Mas a resposta vem sempre em enigmas cada vez mais complexos. Ilusão e realidade se misturam cada vez mais num grande turbilhão de sentimentos e emoções, catarses e noites mal dormidas. Com o amanhecer, a única grande certeza permanece: "eu amo". O resto já não tem como ser expressado. As aves cantam, mas não sei como expressar minha gratidão por tão formoso milagre. A brisa suave toca meu rosto passando pela sacada de meu quarto, e não sei como agradecer por tamanho vigor. Qualquer tentativa concreta me parece mera vaidade. Mera tentativa de endeusar criaturas e pessoas que estão sempre ao meu redor e fazem o meu dia ser perfeito, dia após dia.

E no fim do dia, quando chega a noite, vem o arrependimento, primeiro por não saber "como" agradecer à altura por tanto amor que recebo das criatura e/ou pessoas (ainda que seus atos não tenham o Amor como intenção original), segundo por ficar sempre entre o "agradecer" e o "não-agradecer", e terceiro por escolher sempre o "agradecer" e, com isso, parecer que faço tudo isso por vaidade."

A cura para isso?? Tem cura? Está em mim? As pessoas e criaturas nunca saberão o quanto as amo, por mais que eu tente demonstrar. Minha doença espiritual é a eterna sina de não saber "como" amar ou como me expressar.

Oh, céus, mais uma questão surgindo: "existe a forma adequada de amar ou de expressar o amor?" Rsss..."




Comentário:

O que o Mizi disse sobre gratidão é muito relevante e também está de acordo com o post do Osho.

Por que ele consegue sentir gratidão até pelos atos que são praticados sem o Amor como intenção original? Por que ele consegue receber com amor tudo, até mesmo as coisas que foram doadas sem amor? E por que ele não consegue nunca desconfiar das intenções alheias? É porque ele vê o mundo com uma outra visão; ele consegue olhar para as pessoas com outro olhar, diferente do usual.

O olhar usual está preenchido de conceitos, de expectativas, de condicionamentos. É como um espelho cheio de pó acumulado em cima: ele perde a capacidade de refletir. E olhares prenchidos de conceitos, expectativas e condicionamentos sempre fazem julgamento - o julgamento é o anuviamento da percepção/reflexão do espelho. O Mizi tem um olhar diferente, e, como eu o conheço pessoalmente, dou o meu testemunho de que é assim que ele é, pois já convivo há bastante tempo e conheço como é o seu modo de agir com as pessoas, com a vida, etc. O olhar simples e diferente que ele tem faz com que ele seja atraído, de modo que isso o torna incapaz de escapar do amor: o amor está em toda parte - mas só para quem tem olhos para ver, só para quem tem essa "outra" visão simples e, em suficiente medida, descondicionada.

Essa "outra visão simples e descondicionada", todo mundo já a possui; ela é o espelho sem o pó acumulado. Todas os seres são espelhos, todas as almas são espelhos. Todos os olhos já possuem a capacidade de refletir de forma simples, pura, límpida, total.

Uma pessoa que age em relação a nós com atos desprovidos de intenções de amor pode ser vista de duas formas: ou pela mente anuviada (acumulada com o pó) ou com a mente límpida (descondicionada de conceitos,qualquer conceito que nos diga que a pessoa tem que retribuir/reagir desta ou daquela forma). Se os olhos estiverem anuviados, você verá a ação do outro de maneira superficial, e essa maneira será sempre ditada com base em seus conceitos/condicionamentos -- e é a partir deles que o seu julgamento vai se formar. Por exemplo: você está andando na rua e vê um vendedor oferecendo-lhe alguma coisa - uma água. Você pode interpretar isso de muitas formas. Se os seus olhos estiverem anuviados, cheios de pó, milhões interpretações poderão surgir em você, dizendo algo sobre aquele vendedor (as interpretações serão fetas com base nos conceitos que estão edificados em você). Você poderá pensar: "este homem não está nem aí pra mim. Ele só quer vender a água para conseguir se sustentar, e esse é o motivo dele estar me oferecendo essa água. O ato dele não tem o amor como intenção original". E isso é um julgamento. Esse tipo de visão surge baseada em certos tipos de pensamentos, conceitos, condicionamentos que a pessoa carrega dentro de si. Se os pensamentos fossem outros, a interpretação também seria diferente - milhões de interpretações são possíveis de aparecerem numa mente que está anuviada por pensamentos, expectativas e condicionamentos. Dessa forma, a pessoa que estiver com os olhos anuviados verá milhões de coisas, milhões de realidades - todas elas ilusórias, porque aquilo que não é ilusão só tem uma única realidade, forma, jeito... é imutável. A visão desprovida de conceitos, condicionamentos, julgamentos, é diferente. Ela só consegue ver uma única coisa. Só há uma única coisa, porque ela está em todas as partes, não há como escapar dela. A forma simples e pura de ver olhará para o vendedor e não verá nenhum “homem vendedor” ali, tudo o que ela verá é que um homem está ali vendendo-lhe água e, naquele momento, isto é tudo. É assim que é. É isso o que está acontecendo/sendo naquele momento. Pronto! Ele se satisfaz com isso.

Essa percepção não julga, não projeta em ninguém conceitos, pensamentos, nem condicionamentos pessoais, e por isso não espera de ninguém que seja feita retribuição de uma ou outra maneira, nem que reaja de certa forma. Ela não espera nada. Ela está simplesmente ali, percebendo o que está acontecendo no momento. Um olhar desses não desconfia das intenções alheias. Ele é capaz de receber tudo sem desconfianças, porque enxerga amor em tudo. Se você retirar a poeira de seus olhos, verá que tudo – até mesmo um ato praticado sem a intenção de amor – está impregnado/repleto de amor. E é essa percepção que o tornará grato por tudo, independentemente do que esteja sendo feito pelo outro, independentemente do que o outro estiver dando a você. Você simplesmente receberá com amor, porque seus olhos estarão percebendo: “até mesmo esta ação deste homem denota amor. Aqui está um homem que está fazendo ‘isto’ e ‘isto’. É assim que é. Neste momento é isto o que está acontecendo”. As intenções do homem não importam – até mesmo elas são expressões de amor --, o que importa é o que você está vendo graças à sua capacidade de ver. O que importa é o que você está vendo, e não o que está “sendo mostrado”. Você não estará olhando para o homem e suas intenções, você estará vendo o amor. Tanto o homem como as intenções são imagens superficiais captados por uma percepção limitada. Se a percepção estiver mais aprofundada ela perceberá como se, sem desaparecer, o homem deixasse de estar ali e, tanto ele como suas intenções, seriam a pequena parte de uma expressão de amor que está em todos os lugares. Mas isso só é possível ser percebido para quem tem olhos para ver.

Essa visão mais espiritual faz surgir um sorriso no coração de quem a tem. A pessoa fica preenchida de contentamento, um sentimento sublime, e uma paz suave também surge no ser. A mera percepção de perceber as coisas como “apenas sendo” traz uma alegria e muda o foco, o nosso referencial, para um outro totalmente diferente de quando víamos o mundo com a poeira acumulada no espelho. A poeira no espelho faz você ter uma visão superficial, distorcida, e o mantém preso à aparência que lhe está sendo mostrada. O espelho sem poeira revela que uma certa "substância" está compondo tudo aquilo que por você estiver sendo captado – pessoas, coisas, acontecimentos. Mas essa substância é tão frágil, tão sutil e tão fugaz, que, na presença de poeira em seus olhos, ela se desfaz, se oculta, imediatamente. E de novo a superfície aparece.

Vamos exercitar de novo a percepção com mais um exemplo: uma pessoa vem e tenta lhe enganar, tenta trapaceá-lo, causar-lhe um prejuízo. Você tem dois modos de olhar para esta situação: um lhe mostrará milhares de interpretações possíveis, que poderão despertar milhares de emoções e milhares de reações em você: tudo dependerá da maneira como sua mente estará vendo, olhando para a situação. A outra maneira de olhar lhe permitirá uma única interpretação possível, que não é uma interpretação, em absoluto: é uma simples e pura percepção. Será apenas o espelho refletindo. Um modo de olhar pode mostrar-lhe milhares de coisas distintas porque, dependendo da posição que a poeira estiver sendo acumulada – dependendo do desenho formado pelo acúmulo de poeira – a imagem será refletida de formas diferentes, nunca de forma total. O espelho límpido, sem o acúmulo de poeira, só tem uma maneira de refletir a imagem: reflete totalmente. A reflexão é simples, pura, virgem, jamais distorcida, total.

Os olhos anuviados lhe mostrarão intenções de trapaça, de prejuízo. Você verá um homem mau ali na sua frente, e sentirá algum tipo de raiva, mágoa ou desprezo por ele. Você estará envolvido com a superficialidade das coisas – nada mais que uma das milhares de interpretações que poderiam emergir em você. Mas os olhos simples lhe mostrarão outra coisa: “aqui está ocorrendo um acontecimento, e isto é o que está acontecendo. É assim que é.”. É algo diferente. É uma visão diferente, um reconhecimento diferente. Essa visão diferente muda totalmente, leitor, o seu referencial como personagem inserido num contexto. Você percebe como se estivesse num filme, e é como se, de repente, você parasse de se identificar com o personagem que está sendo trapaceado, e passasse a ser a “história” que está sendo contada, você passa a apreciar o roteiro do filme. A mente anuviada percebe a si mesma como se estivesse sendo o personagem que está sendo trapaceado, para ela o ser que ela é é somente aquilo. A mente límpida deixa de ver-se como personagem, ou seja, deixa de estar identificada com o personagem da história para identificar-se com o roteiro, com a história. Antes ela estava dentro; então ela se desapega, fica leve, expande-se, deixa de sofrer com acontecimentos fragmentados, e passa para o lado de fora; subitamente ela vê-se do lado de fora: “espere! Eu não sou este personagem que pensava ser. E este homem à minha frente também não é o que ele ou eu pensava que ele fosse. Este homem é o mesmo que eu; ele é a história acontecendo, a história que é contada no roteiro. E tanto o homem que trapaceia quanto o homem que está sendo trapaceado são apenas personagens do roteiro. É uma história bela!”. Olhando de forma geral, toda história é bela. Para um ou outro personagem, no entanto, a história pode parecer ser feia, terrível, porque ele vive apenas parte da história, ele está limitado apenas a um pequeno contexto da história.

Com a mente sem poeira, você é capaz de perceber a história, o roteiro. Tudo é belo, porque você é a história em si. Com a mente coberta de pó, você percebe-se, limitadamente, sendo um personagem, e todos os sofrimentos do personagem serão os seus sofrimentos. Por que é possível ao homem colocar-se numa posição de receber tudo – qualquer que seja a coisa – com sentimento de gratidão? Porque ele adquiriu uma visão que transcende o personagem, uma visão que deixa de viver somente dentro da história e passa para o lado de fora. Lá ela percebe a história em sua totalidade, ela percebe o amor. A história está em todos os lugares, ela está em todas as partes do roteiro, é impossível escapar dela. Ela está acontecendo, a cada minuto. E ela é da forma que é – Essa é a visão que gera a gratidão na alma de cada individualidade existente.

Por isso, do referencial transcendental, podemos dizer isto: tudo é como é! O problema surge quando o ego, o personagem, entra no meio e tenta se fazer o centro da história, quando ele entra e assume que ele é a parte mais importante da história. Você já percebeu? Em muitas coisas da vida, ninguém diz a Deus o que fazer. Ninguém pede para que, de manhã, Deus faça nascer o sol e, à noite, o faça pôr-se. Ninguém pede à Deus para que o capim nasça na terra, para que brotem rosas na roseira, ninguém pede à Deus para que mude a lei da gravitação para esta ou aquela forma. Parece que os homens reconhecem a Deus o direito de governar o Seu mundo assim como Ele o está governando -- assim como o mundo já o é. Mas, quando entra em questão o ego, o homem se dirige a Deus e diz: “Deus, faça desta e daquela forma, por favor!”. Uma reação dessas só provém de um homem que ainda está identificado com o personagem da história. A pessoa que já percebeu, que já compreendeu que está fora da história, e que NUNCA o “ser que ela é” estivera sendo aquele personagem, olha para tudo e percebe: “tudo já é como é, e isso é amor.” Quanto amor! Todos já estão sendo, aqui e agora, assim como são. Todas as pessoas estão impregnadas com a substância do amor desde as células até à medula. O amor é a substância que permeia tudo, que forma tudo, que compõem tudo e todos. Para essas pessoas capazes de ver, ninguém age com más intenções, todos também estão dançando a dança do amor, estão palpitando com a mesma energia que essas pessoas capazes de ver sentem. Eles também estão “chutando” (usando a metáfora do post do Osho)! Todos estão! Todos já são como são. Não há ninguém que não esteja “chutando”, que não esteja sendo a história no roteiro, cumprindo um determinado papel e, assim, contribuindo para a história acontecer. Talvez o homem trapaceiro não esteja percebendo isso – não importa, isso também não significa que ele não esteja chutando. Ele também está cumprindo com a sua parte no papel da existência, e será percebido perfeitamente pela pessoa que tem a mente límpida e clara para ver. O personagem não importa. O que importa é a resposta muito profunda à questão: “Quem sou eu?”. A solução dessa charada trás a felicidade como recompensa, o contentamento, a paz.

Quem ama realmente não se importa com as aparências, apenas segue amando. Ama tanto ao doar quanto no receber. E, aqui, finalizo este texto com um trecho do comentário que o Mizi escreveu:

“O único julgamento de atos que o ser humano deve fazer são os dos próprios atos, aqueles que ele próprio pratica, e não os que os outros praticam. Pois os que ele próprio pratica são doação de seu ser. Convém-lhe vigiar e saber se seus atos são manifestação de amor verdadeiro ou não. No entanto, não lhe convém julgar os atos alheios, posto que não somos doadores de atos alheios. Somos apenas receptores de atos alheios. Receber não exige julgamento ou vigília. Exige tão somente confiança e gratidão. E nessas duas coisas o Amor brilha mais forte e intenso do que em qualquer repúdio justificado por facticidades "deste mundo".

A todos, um grande abraço.

Gugu.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

O mestre do mosteiro novo

Hyakujo reuniu todos os seus monges porque desejava enviar um deles para abrir um novo mosteiro.
Colocando a jarra cheia de água no chão, ele disse: "Quem pode dizer o que é isto sem utilizar o seu nome?"
O monge principal, que almejava conseguir a posição, disse: "Ninguém pode chamá-lo um sapato de madeira".
Outro monge disse: "Não é uma lagoa, porque pode ser carregado".
O monge da cozinha, que estava em pé ali perto, aproximou-se,chutou a jarra, e então foi embora.
Hyakujo sorriu e disse: "O monge da cozinha será o mestre do novo mosteiro".



[osho.jpg]


A realidade não pode ser compreendida por meio do pensamento, mas pode ser compreendida por meio da ação. O pensamento é só um fenômeno do sonho. No momento em que você age, você se torna parte da realidade. Realidade é atividade, ação. O pensamento é só um fragmento. Quando você age, você é inteiro; qualquer que seja a ação, todo o seu ser se envolve nela. Os pensamentos ocorrem numa parte da mente, seu ser inteiro não está envolvido; sem você, os pensamentos podem continuar como um processo automático.

Isso deve ser entendido profundamente. Essa é uma das coisas mais básicas para os que estão à procura da verdade e não à procura de qualquer outra coisa. Religião e filosofia são distintas nesse sentido: religião é ação, filosofia é pensamento.

Esta história tem muitas implicações. O mestre quis um monge, um discípulo, para torná-lo responsável pelo novo mosteiro que ia ser aberto. Quem deveria ser enviado? Quem deveria ser nomeado o guia de lá, um homem que tem muita filosofia em sua mente, um homem que pode falar, discutir, argumentar, um homem que é literato, um homem que é educado, ou um homem que pode agir espontaneamente? Ele pode não saber muito, ele pode ser simples; pode não ser intelectual, mas ele será inteiro.

O monge principal deve ter começado a sonhar pensando que seria o escolhido. A mente é sempre ambiciosa. Ele deve ter planejado como se comportar, o que fazer, de forma a ser escolhido como o chefe do novo mosteiro. Ele não deve ter dormido durante muitos dias; a mente deve ter se revolvido sobre o assunto muitas vezes.

O ego planeja tudo e aquilo que você planeja perderá a realidade, porque a realidade só pode ser encontrada espontaneamente. Se você pensa sobre isto antecipadamente, você pode estar pronto, mas irá perder. Uma pessoa que está pronta perderá; essa é a contradição. Uma pessoa que não está pronta, que não planejou nada, que age espontaneamente, alcança o próprio coração da realidade.

O monge principal deve ter teorizado, muitas alternativas devem ter-lhe vindo à mente. O mestre vai escolher; haverá algum tipo de teste. Ele deve ter consultado os textos, porque também nos tempos antigos os mestres tinham que escolher os discípulos a serem enviados para os novos mosteiros. Como eles faziam a escolha? Em que tipo de exame tinha de ser aprovado? Como ele poderia ter sucesso?

Há muitas histórias dos tempos antigos. Quase sempre este era um dos testes básicos que os mestres zen aplicavam aos seus discípulos, eles pediam para expressar algo sem usar a linguagem. Eles diziam: "Diga algo sobre esta coisa, mas não use nenhum nome, porque o nome não é a coisa".

A cadeira está aqui, eu estou sentado nela. Um mestre zen pode dizer: "Diga algo sobre esta cadeira, mas não use o nome, porque a palavra não é a cadeira. Assim, não use nenhuma expressão verbal, não use a linguagem, e diga algo".

A mente fica confusa, porque ela só sabe a linguagem, nada mais. Se a linguagem for impedida, a mente fica bloqueada. O que é a mente a não ser um acúmulo verbal, nomes, palavras, linguagem? E um mestre diz: "Não use o nome". Ele está dizendo: "Não use a mente, e faça algo de forma que aquilo que é a cadeira seja expressado".

A palavra deus não é Deus, a palavra homem não é o homem, a palavra rosa não é uma rosa. Sem nenhuma palavra a rosa existe; sem nenhuma palavra a árvores continua a existir, aquilo que existe não depende das palavras.

Aquele monge principal deve ter pensado no assunto muitas e muitas vezes. Então deve ter escolhido uma alternativa de antemão. Ele estava morto, sem vida. Naquele momento exato, ele falhou.

Interiormente, se você decide o que vai fazer e age diferentemente do que decidiu, você perderá a realidade, porque a realidade é um movimento sempre contínuo. Ninguém sabe para onde vai, ninguém sabe o que vai acontecer. Ninguém pode predizer; é imprevisível.

Existe uma história zen: Havia dois mosteiros vizinhos, lado a lado. Ambos os mestres dos mosteiros serviam-se de alguns meninos pequenos para resolver pequenos assuntos. Os meninos iam ao mercado bucas coisas para seus mestres, às vezes legumes, às vezes outras coisas. Os mosteiros eram antagônicos entre si, mas às vezes os meninos agiam apenas como meninos: eles esqueciam das doutrinas e se encontravam no caminho, conversavam e divertiam-se. Isto era proibido: eles não deveriam conversar, porque o outro mosteiro era o inimigo.

Um dia, o menino que pertencia ao primeiro mosteiro veio e disse: "Eu estou confuso. Quando ia para o mercado, eu vi o menino do outro mosteiro e perguntei: 'Aonde você vai?', e ele respondeu: 'Para onde quer que o vento sopre'; e eu fiquei perdido, sem saber o que dizer. Ele criou um quebra-cabeça para mim".

O mestre disse: "Isso não é bom. Ninguém do nosso mosteiro jamais foi derrotado por alguém do outro mosteiro, nem mesmo um criado. Você tem que pegar aquele menino. Amanhã, pergunte novamente: 'Aonde você vai', e ele responderá: 'Para onde quer que o vento sopre'; então você diz: 'E se não houver nenhum vento, então...?'".

O menino não conseguiu dormir a noite inteira. Tentou e tentou conceber o que aconteceria no dia seguinte; ele ensaiou muitas vezes. Ele perguntaria e o outro responderia, e ele daria a sua nova resposta.

No dia seguinte, ele esperou no caminho. O menino do mosteiro vizinho chegou, e ele perguntou-lhe: "Aonde você vai?" O menino respondeu: "Para onde quer que os meus pés me levem". E lá estava ele perdido sobre o que fazer. A resposta era categórica, e arealidade é imprevisível.

Ele voltou muito triste e disse ao mestre: "Aquele menino não é confiável. Ele mudou e eu fiquei perdido sobre o que fazer". Então o mestre disse: "Amanhã, quando ele disser: 'Aonde quer que meus pés me levem', você diz: 'E se você for aleijado e não tiver pernas, então...?'".

Novamente ele não conseguiu dormir. No dia seguinte, foi esperá-lo bem cedo na estrada, e quando o menino chegou, ele perguntou: "Aonde você vai?" E o menino respondeu: "Vou buscar legumes no mercado".

Ele voltou muito transtornado e disse ao mestre: "Aquele menino é impossível: ele continua mudando". (...)

A vida é aquele menino. Continua mudando. A realidade não é um fenômeno fixo. Você tem que estar presente, espontaneamente, para ela, só então a resposta será real. Se sua resposta é definida previamente, então você já está morto, você já perdeu. O amanhã virá, mas você não estará lá; você estará preso dentro do ontem, aquilo que é o passado.

Todas as mentes que são muito verbais são assim, suas respostas foram definidas no passado. Procure uma autoridade, um estudioso, e pergunte: "O que é Deus?". Antes de você perguntar, ele já começou a responder. A sua pergunta não é respondida porque, mesmo antes de você perguntar, o homem já tem a resposta. A resposta está morta; ela já está lá. Tem só que ser trazida da memória, não é uma resposta.

Esta é a diferença entre um homem de conhecimento e um homem de sabedoria. Um home de conhecimento tem respostas já prontas: você pergunta e a resposta já está lá. Você é irrelevante, a sua pergunta é irrelevante. Antes da pergunta, existe a resposta; sua pergunta simplesmente aciona a memória. Mas se você for um até homem de sabedoria, ele não tem nenhuma resposta para lhe dar; ele não tem nada preparado. Ele está aberto, em silêncio. Ele responderá. Primeiro a sua pergunta, e aí a pergunta toca e ressoa no ser e não na memória dele. Do ser dele virá uma resposta. Ninguém pode predizer aquela resposta. Se você procurá-lo no dia seguinte e fizer a mesma pergunta, a resposta não será a mesma.

Certa vez, um homem tentou testar Buda. Todos os anos ele ia até Buda e fazia a mesma pergunta, porque ele pensava: "Se ele realmente sabe, então a sua resposta deverá ser sempre a mesma. Como você pode mudar a resposta? Se eu venho e pergunto: 'Deus existe?', e se ele sabe, ele dirá sim ou dirá não, e no ano seginte virei e perguntarei novamente."

Então durante muitos anos o homem veio e foi ficando cada vez mais confuso. Às vezes Buda dizia sim, e em outras dizia não; às vezespermanecia calado, e em outras simplesmente sorria e não respondia nada.

O homem ficou confuso e disse: "O que é isto? Se você sabe, então deve ter certeza e sua resposta deve ser sempre a mesma. Mas você continua mudando. Uma vez você disse sim, depois disse não. Você esqueceu que eu já lhe fiz essa pergunta antes? Então uma vez você permaneceu em silêncio... e agora você está sorrindo? É por isso que eu tenho vindo com um intervalo de um ano, só pra ver se você sabe ou não".

Buda disse: "Quando você veio pela primeira vez e perguntou: 'Deus existe?', eu respondi. Mas a resposta não era só para a pergunta, era pra você. Você mudou; agora a mesma reposta não pode ser dada. E não só você mudou, eu também mudei. Muita água desceu pelo Ganges; a mesma resposta não pode ser dada. Eu não sou um texto que você abre e encontra a resposta sempre no mesmo lugar".

Um buda é um rio vivo. Ele continua fluindo. De manhã é diferente, o sol nasce, e todo o rio torna-se dourado. Ao meio-dia é diferente, de tarde é diferente. E quando a noite vem e as estrelas começam a refletir-se nele, ele é diferente. No verão encolhe; na época das chuvas alaga. Um rio não é uma pintura, é uma força viva.

Uma pintura, quer esteja chovendo quer seja verão, permanece do mesmo jeito. No período de chuvas um rio pintado não alaga. Está morto; caso contrário, a cada momento, haveria mudanças. Só uma coisa é permanente e essa é a mudança. Só há um coisa que continua permanentemente e essa é a revolução. Ela flui e continua fluindo.

Aquele monge principal devia estar decidido; a resposta estava lá, e ele só estava esperando o mestre perguntar. Então o mestre colocou uma jarra diante deles, um pote cheio de água, e disse: "Diga algo, mas não use o nome. Diga algo, mas não use a mente. Diga algo, mas não use a linguagem".

A coisa parece absurda. Quando você diz: "Diga algo e não use a linguagem", você está criando uma situação impossível. Como algo pode ser dito sem usar a linguagem? Mas se você não pode dizer algo sobre uma jarra comum cheia de água sem usar a linguagem, como poderá dizer qualquer coisa sobre Deus, que está repleto com o universo inteiro? Se você não pode designar essa jarra sem palavras, como poderá designar a grande jarra, o universo, Deus, a verdade? E se você não pode designar isso, como poderá tornar-se o chefe de um mosteiro? As pessoas estarão vindo até você, não para serem treinadas em filosofia, porque isso pode ser feio nas universidades... há milhões de universidades; elas ensinam palavras.

Então, qual é o propósito de um mosteiro? Um mosteiro tem que ensinar a realidade, não formulá-la; tem que ensinar religião, não filosofia; tem que ensinar a vida, não teorias. Assim, se você não puder dizer nada sobre uma jarra comum, o que fará quando alguém perguntar: "O que é Deus?". O que você fará quando alguém perguntar: "Quem sou eu?".

O monge principal respondeu. Sempre que a mente enfrenta uma situação dessas, a única maneira é tentar definir negativamente. Se alguém perguntar: "Diga algo sobre Deus, sem citá-Lo", o que você fará? Você só pode responder negativamente: você pode dizer "Deus não é deste mundo, Deus não é material".

Olhe nos dicionários, procure na Enciclopédia Britânica, e veja como eles definem as coisas. Você ficará surpreso: e procurar a página onde está a palavra mente, você achará esta definição: "Mente é aquilo que não é matéria". Então procure a página onde está definido o termo matéria, e você encontrará: "Matéria é aquilo que não é mente". Que tipo de definição é essa? Quando você pergunta pela mente, eles dizem que é não-matéria; quando você pergunta por matéria, eles dizem que é não-mente. Nada está definido. Este é um círculo vicioso. Se eu pergunto sobre A, você diz não-B; e se eu pergunto por B, você diz não-A. Você define uma coisa por outra indefinível. Como algo pode ser definido por outro indefinível? Esta é uma trapaça.

Assim, o monge principal disse algo negativamente, mas ele falou. Quando a mente se sente pedida sobre o que fazer, ela começa a fazer declarações negativas. Talvez o ateísmo seja só um fuga. Deus está lá, mas como definí-lo? A mente sente-se perdida, assim a fuga mais fácil é dizer que Deus não existe, o problema fica resolvido.

Alguém disse: "Não é um lagoa, porque pode ser carregado com as mãos".

Mas como você pode definir uma jarra cheia de água só dizendo que ela não é uma lagoa? Então o que é uma lagoa? Diga algo sem usar esse nome.

Então o cozinheiro do mosteiro, que deve ter-se mostrado um homem mais verdadeiro do que aquelas autoridades -- um cozinheiro que nunca esteve muito interessado nas escrituras; um cozinheiro que trabalha com a realidade, que a enfrenta, não fica pensando sobre ela, parou, chutou a jarra e saiu.

O que ele disse? Ele disse algo de um modo mais realista. Chutar não é pensar, é ação. Ele chutou a jarra e disse ao mestre: "Tolice! Você está falando absurdos. Você pede pra dizermos algo sem palavras. Nada pode ser dito sem palavras. Algo pode ser feito sem palavras, mas nada pode ser dito". Ele pegou o ponto, Algo pode ser feito sem palavras, mas nada pode ser dito. Assim, ele fez algo, chutou a jarra.

O mestre disse: "Este cozinheiro foi escolhido. Ele vai para o mosteiro novo e se tornará o mestre de lá. Ele sabe agir sem a mente; ele sabe responder sem usar a mente. Ele disse que o problema é absurdo".

Lembre-se de uma coisa: se o problema é absurdo, você não pode responder de modo racional. E se tentar, você será um tolo, isso demonstra tolice. Se o problema é um absurdo, você não pode tentar resolver de forma racional, porque para uma pergunta absurda não pode haver nenhuma resposta racional. Se tentar, você simplesmente prova que é um tolo. Estudantes são tolos, caso contrário eles não seriam estudantes. Eles estão desperdiçando suas vidas com palavras, textos. Ninguém desperdiça a vida com palavras se não for completamente estúpido.

O cozinheiro é mais sábio, ele chutou. Ele não está chutando a jarra, ele está chutando o problema inteiro; ele não está chutando a jarra, ele está chutando a situação toda, e ele sente: "Isto é absurdo!". Ele não está dizendo nada, não está usando uma palavra. Apenas imagine aquele cozinheiro que chuta a jarra com todo o seu ser. Ele está completamente envolvido nisso, mente, corpo, alma. O pontapé é vivo; o pontapé é espontâneo. Ele não decidiu anteriormente; ele nunca soube que ia estar lá. Ele pode nem mesmo achar que essa era a sua resposta; ele só estava vendo o que estava acontecendo. De repente, o pontapé aconteceu.

O mestre deve ter olhado para aquele estado de ser, quando o cozinheiro era só ação, nenhuma mente naquilo, só um vazio. Fora daquele vazio, fora daquela não-mente, surgiu a ação. Quando a ação vem do ator, ela está morta.; quando a ação vem do ego, ela foi premeditada. Quando a ação vem sem o ego, sem a mente, sem você estar lá, quando a ação borbulha para fora do seu nada, ela vem do divino, ela é total.

O cozinheiro não chutou; era como se a existência inteira chutasse. Ele chutou todo o conhecimento, todas as escrituras, o intelecto inteiro e seus círculos viciosos, e então foi embora. Ele não esperou. Veja: ele foi embora. Se ele tivesse esperado para ver aquilo que o mestre diria, então ele não teria sido escolhido, porque isso significaria que a mente dele estava procurando a conclusão ali, o resultado.

A mente está sempre orientada para o resultado: O que vai acontecer? Se eu fizer isto, então o que acontecerá? Se a causa está lá, qual será o efeito? A mente está sempre atrás do resultado. A mente é orientada para o resultado.

Aquele cozinheiro simplesmente foi embora. Ele não esperou pelo que ia acontecer; não pensou que ia ser escolhido. Como você pode pensar que simplesmente chutando uma jarra será escolhido para vir a ser o mestre de um mosteiro? Não, ele nunca se preocupou com isso.

Foi isso que Krishna disse a Arjuna no Gitá: "Faça! Aja! Mas não espere pelo resultado. Chute e vá embora". Arjuna continua pensando no resultado. Ele diz: "Se eu lutar, se eu enfrentar essa guerra, o que vai acontecer? Qual será o resultado? O resultado será bom ou ruim? Eu vou ganhar ou perder? Valerá o esforço, matar tantas pessoas?". E Krishna diz: "Não pense no resultado, Deixe o resultado para mim: você simplesmente deve agir".

Mas a mente não pode fazer isso. Antes de a mente agir, ela quer o resultado; ela age por causa do resultado. Se houver um resultado, só então...

Pessoas vêm a mim e perguntam: "Se nós meditarmos, o que vai acontecer? Qual será o resultado?".

Lembre-se a meditação não pode ser orientada para o resultado; você medita simplesmente, isso é tudo. Tudo acontece, mas não é como um resultado. Se você está buscando o resultado, nada acontecerá; a meditação será inútil. Quando você busca um resultado, é a mente; quando você não busca um resultado, é a meditação. Chute a jarra e vá embora. Medite e vá embora; não espere o resultado. Não diga: "O que acontecerá?"... porque se você pensa no que vai acontecer você não consegue meditar. A mente que está pensando no resultado não pode estar aqui e agora, estará sempre no futuro. Você está meditando e pensa: "Quando vai surgir o resultado? Ainda não apareceu nenhum"... será isso meditação? Se você ama e continua a pensar: "Quando virá a felicidade? Ainda não chegou"... será isso amor?

Quando você esquece do resultado completamente, quando não há nem mesmo uma luz bruxuleante na mente para o resultado, nem mesmo uma única vibração movendo-se para o futuro, quando você tornou-se um lago silencioso, aqui e agora, tudo aconteceu. Na meditação, causa e efeito não são dois; a causa é o efeito. A ação e o resultado não são dois; a ação é o resultado. Eles não estão divididos. Na meditação, a semente e a árvore não são dois; a semente é a árvore.

Mas para a mente tudo é dividido: a semente e a árvore são dois a ação e o resultado são dois. O resultado estará sempre no futuro e a ação é agora; você age por causa do futuro. Para a mente o presente é sacrificado em prol do futuro... e o futuro não existe. Não existe nenhum futuro, empre exite o presente. É um eterno agora, e você está sacrificando este agora por algo que não está em nenhuma parte e não pode estar em nenhum lugar.

Na meditação o processo inteiro é invertido. O futuro é sacrificado pelo presente; aquele que não existe é sacrificado pelo que existe. Não há nenhum resultado, nenhuma conclusão. Chute a jarra e vá embora. Não espere pelo resultado.

Essa é a beleza do que foi contado. O cozinheiro simplesmente foi embora dizendo: "A coisa inteira é absurda, a sua pergunta e as respostas dessas pessoas. Este é um jogo de tolice. Eu não faço parte disto". Ele deve ter ido para a cozinha e ter começado a trabalhar. É assim que uma mente meditativa age. E o mestre disse: "Esse homem é o escolhido, ele vai para o mosteiro novo, ele será o chefe de lá. Ele sabe ser inteiro, sabe agir espontaneamente; ele sabe agir sem motivação, sabe agir sem a mente. Esse homem também pode conduzir outros na meditação, esse home pode tornar-se um guia. Esse homem realizou-se. Não há mais nada a ser alcançado".

A história é bonita, muito rara; penetre nela. Mas você só poderá penetrá-la se começar a agir como o cozinheiro. Mas há uma armadilha, você pode premeditar isso. Se eu colocar uma jarra na sua frente e você chutá-la, você perderá, porque já sabe a resposta. Você pensará: "Muito bem, esta é a oportunidade. Chute a jarra e vá embora". Isso não vai funcionar. Você não pode enganar porque, sempre que a mente está presente, o seu ser total tem uma vibração diferente. Você não pode enganar um mestre.

E lembre-se, esse incidente foi repetido muitas vezes. Os mestres zen são realmente únicos. Eles costumam repetir o mesmo problema mais e mais vezes, e esses que leram as escrituras se comportam da velha forma. Eles pensam que esta é a resposta: chute a jarra, vá embora e torne-se o chefe.

Mas você não pode enganar um mestre zen, porque ele não se preocupa com o que você está fazendo, ele se preocupa com o que você é naquele momento. Essa é uma coisa totalmente diferente. Você tem um perfume, um perfume diferente, quando age a partir do vazio. E quando eu digo um perfume diferente, o que quero dizer é isto, literalmente, eu não estou usando uma metáfora. Quando você age a partir do vazio, há um frescor ao seu redor, como se de repente surgisse um alvorecer no meio do dia. Um frescor ao seu redor... vibrações que tocam... uma vida tão intensa que permeia tudo o que está ao seu redor, seus olhos, seu próprio ser, o modo como você senta, o modo como você fica de pé, a maneira como chuta a jarra. Pense: se você chutar a jarra, haverá ego; o ego estará chutando a jarra e você estará sendo agressivo. Quando aquele cozinheiro chutou a jarra, não foi algo agressivo, simplesmente era uma declaração de fato; não havia nenhuma violência.

Contam que um homem, um mendigo pobre -- e eu digo mendigo pobre porque há também mendigos ricos --, veio pedir comida. a dona da casa sentiu muita compaixão por ele e disse: "Eu lhe darei comida, e se você quiser algum trabalho, tem alguma madeira pra cortar. Você pode fazer isso e eu pagarei pelo serviço".

Então o homem trabalhou no bosque, cortou a madeira, e antes da noite, quando ele estava a ponto de ir embora, a dona da casa disse: "Tem um buraco no seu casaco. Dê-o para mim e dentro de minutos eu consertarei isso". O homem disse: "Não, porque um buraco no casaco faz toda a diferença, e quando é um casaco consertado, já é diferente. Quando você tem um casaco consertado, isso é pobreza premeditada; Mas quando você tem um buraco no casaco, pode ter acontecido agora mesmo, por algum acidente. E se você consertou, então fica antigo, não aconteceu acidentalmente, não foi agora; aconteceu muito tempo atrás e só agora é que foi consertado. Torna-se uma pobreza premeditada. Deixe minha pobreza ser espontânea".

Mas toda a sua mente é uma colcha de retalhos, uma pobreza premeditada. Você tem todas as respostas e não só uma resposta. Você já decidiu o que vai fazer, e com essa decisão você assassinou a si mesmo, matou-se; tornou-se suicida. A mente é um suicídio.

Comece a agir espontaneamente. Será difícil no início, você sentirá muito desconforto. Com uma resposta premeditada há menos desconforto, porque você tem mais certeza. Por que nós não somos espontâneos? É por medo. O medo de que a resposta possa estar errada, assim é melhor decidir antes. Aí você tem certeza. Mas a certez sempre pertence à morte. Tudo o que é morto é certo, a vida é sempre incerta. Tudo o que é morto é sólido, rígido; sua natureza não pode ser mudada. Tudo o que é vivo está mudando, movendo-se; é um fluxo, uma coisa líquida, flexível; pode voltar-se para qualquer direção. Quanto mais você adquire certezas, mais você perderá vida. E esses que sabem, sabem que a vida é Deus. se você perder vida, você perde Deus.

Aja espontaneamente. Se há algum desconforto no início, permita-se estar lá; não se esconda e não reprima, e não imite. Seja como uma criança, mas não infantil. Se você for como uma criança, você se tornará um santo; se você for infantil, pode tornar-se uma grande pessoa instruída.

Um dia, ao voltar para casa, um homem viu os seus filhos e os do vizinho sentados nos degraus da escada, então ele perguntou: "O que vocês estão fazendo?". Eles responderam: "Estamos brincando de igreja". O homem ficou confuso, porque as crianças estavam só sentadas, sem fazer nada. Ele indagou: "Que tipo de igreja?". Eles disseram: "Nós cantamos, fizemos sermão, rezamos. Tudo terminou, e agora estamos fumando nos degraus".

Você pode imitar, o conhecimento é imitação. Um buda diz algo: vem da sabedoria dele, não do conhecimento, não da memória; vem da experiência dele. Você pode imitar isso, pode brincar de igreja, pode preencher sua mente com isso, pode repetir isso. Isso é infantil. Seja pueril, mas não infantil. Ser como uma criança é estar na espontaneidade. Uma criança está fresca, sem respostas, nenhuma experiência acumulada. Na verdade, ela não tem memória, ela age. Ela não é incentivada, não pensa nos resultados, não pensa no futuro; ela tem uma inocência.

Aquele cozinheiro era realmente inocente. E a inocência é meditação. Comece a ser meditativo em seus atos, nas pequenas coisas. Enquanto come, seja espontâneo; enquanto fala, seja espontâneo; enquanto caminha, seja espontâneo. Permita que a vida reaja, não que responda. Se alguém disser alguma coisa, apenas observe se você está simplesmente repetindo algo costumeiro, só um hábito, ou se a resposta é uma reação; se a mente está repetindo simplesmente um hábito; se a resposta está vindo da memória ou de você.

É por isso que você aborrece tanto as pessoas. Todo mundo aborrece todo mundo porque tudo está morto, envelhecido, emprestado, lembra a morte; não está fresco. Olhe para as crianças que brincam e sinta um frescor. Por um momento você pode esquecer até mesmo que ficou velho. Escute os pássaros, olhe para as árvores ou para as flores, e por um momento você esquece, porque não há nenhuma mente. As flores estão florecendo: assim como o cozinheiro chutou, elas estão chutando. Os pássaros cantando, eles estão chutando. A própria vida está chutando, mas não há nenhuma teoria.

No início será um incômodo. Mas seja paciente, passe por esse desconforto Logo a energia vai irromper em você. É perigoso, é por isso que as pessoa o evitam. Ser espontâneo é perigoso, porquequandoa raiva vier, ela vem realmente. A mente diz: "Pense, não fique bravo, pode custar-lhe caro". Assim você pensa sempre e descarrega a sua raiva nos que são mais fracos que você, não naqueles que são mais fortes. O amor pode acontecer, mas o amor não é permitido. Você só pode ter uma atitude amorosa para com a sua esposa.

A vida não sabe quem é a sua esposa e quem não é. A vida é absolutamente amoral, não conhece nenhuma moralidade. Você pode apaixonar-se pela esposa de outro, porque a vida não conhece nenhuma relação, nenhuma instituição fixa. Todas as instituições foram feitas pelo homem; esse é o perigo. A mente diz: "Pense antes, ela não é a sua esposa, assim não a olhe dessa forma amorosa. Isso é imoral. Esta é a sua esposa, então olhe-a de um modo amoroso, sorria". Se você sente isso ou não, não tem importância, esse é o dever. É dessa forma que matamos todo mundo. Todo mundo vive em uma instituição, não na vida.

Por causa desses perigos é que a mente pensa antes o que deve ser dito. Ao voltar para casa, você está pensando no que sua esposa dirá, e como você vai responder. Sua esposa está esperando, e ela sabe que qualquer coisa que você diga será uma mentira. Ela já ouviu suas desculpas antes, e você repetirá as mesmas velhas desculpas. Você está atrasado...

Toda a vida tornou-se uma instituição, um hospício onde os deveres precisam ser cumpridos, não o amor; onde você tem que se comportar, não ser espontâneo; em que um padrão tem que ser seguido, não o transbordamento de vida e energia. É por isso que a mente pensa e decide tudo, porque o perigo está ali.

Eu chamo um homem de sannyasin quando ele foge dessas instituições e vive espontaneamente. Se um sannyasin é o ato mais corajoso possível. Ser um sannyasin significa viver sem a mente, e no momento em que você vive sem a mente, você vive sem a sociedade. A mente criou a sociedade, e a sociedade criou a mente; elas são interdependentes. Ser um sannyasin significa renunciar a tudo aquilo que é falso. Não renunciar ao mundo, mas renunciar a tudo aquilo que é falso, renunciar a tudo aquilo que não é autêntico, renunciar a todas as respostas, e reagir espontaneamente; não pensar nos resultados, mas ser real.

É difícil... porque muito foi investido na falsidade, nas máscaras, nas faces, nos jogos que você continua jogando. Ser um sannyasin significa que agora você tentará ser autêntico; quaisquer que sejam as consequências, você as aceitará e viverá no presente. Você sacrificará o futuro pelo presente; você nunca sacrificará o presente pelo futuro. Esse instante será a totalidade de seu ser; você nunca se moverá antecipadamente.

É isso que é ser sannyas. Chute a jarra e vá embora, e não espere pelos resultados. Os resultados vão cuidar de si próprios, eles o seguirão.

Esta história não diz isto, mas eu sei, o mestre deve ter corrido atrás daquele cozinheiro: "Espere, você foi escolhido. Você vai para o mosteiro novo e vai orientar as pessoas na vida e na meditação".

Basta por hoje.




Osho - Raízes e Asas - Discurso nº 5