"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, março 26, 2009

Satsang com Nisargadatta Maharaj - 2


Nisargadatta Maharaj


Pergunta: Nos tempos de criança, experimentei, freqüentemente, estados de felicidade completa próximos ao êxtase. Mais tarde, cessaram; mas, desde que vim para a Índia, reapareceram, particularmente desde que encontrei você. Ainda assim, apesar de serem maravilhosos, estes estados não duram. Chegam e se vão, e não se sabe quando voltarão.

Maharaj: Como pode haver algo estável em uma mente que em si mesma não é estável?


Pergunta: Como se estabiliza a mente?

Maharaj: Como poderia uma mente inconstante fazer-se estável? Certamente que não pode. A natureza da mente é vagar. Tudo o que você pode fazer é pôr o foco da consciência além da mente.


Pergunta: Como isto é feito?

Maharaj: Rechace todos os pensamentos exceto um: o pensamento “eu sou”. A mente se rebelará a princípio mas, com paciência e perseverança, cederá e permanecerá quieta. Uma vez que você esteja quieto, as coisas começarão a acontecer espontaneamente e de forma muito natural, sem nenhuma interferência de sua parte.


Pergunta: Posso evitar esta demorada batalha com minha mente?

Maharaj: Sim, você pode. Simplesmente viva sua vida como vier, mas sempre alerta, vigilante, permitindo que tudo ocorra da maneira que ocorrer, fazendo as coisas naturais de modo também natural, sofrendo, gozando, como for a vida. Esta também é uma maneira de viver.


Pergunta: Bom, então posso casar-me, ter filhos, levar um negócio...Ser feliz.

Maharaj: Claro que sim. Você pode ser feliz ou não; aceite-a calmamente.


Pergunta: Mas eu quero felicidade.

Maharaj: A verdadeira felicidade não se pode encontrar nas coisas que mudam e morrem. O prazer e a dor se alternam inexoravelmente. A felicidade procede do ser e só pode ser achada no ser. Encontre seu ser real (swarupa) e tudo chegará com ele.


Pergunta: Se meu ser real fosse paz e amor por que seria tão inquieto?

Maharaj: O seu ser real não é inquieto, mas seu reflexo na mente assim o parece, já que a própria mente é inquieta. É como o reflexo da lua na água movida pelo vento. O vento do desejo move a mente, e o “eu”, que não é senão um reflexo do Ser na mente, parece mutável. Mas estas idéias de movimento, de inquietude, de prazer e dor, estão todas na mente. O Ser está além da mente, consciente, mas desapegado.


Pergunta: Como alcançá-lo?

Maharaj: Você é o Ser, aqui e agora. Deixe a mente em paz, seja consciente e desapegado e você compreenderá que permanecer alerta, mas destacado, observando como os fatos vão e vêm, é um aspecto de sua verdadeira natureza.


Pergunta: Quais são os outros aspectos?

Maharaj: Os aspectos são infinitos em número. Compreenda um e compreenderá todos.


Pergunta: Diga-me algo que possa ajudar-me.

Maharaj: Você conhece melhor o que necessita!


Pergunta: Estou inquieto. Como posso obter paz?

Maharaj: Para que necessita paz?


Pergunta: Para ser feliz.

Maharaj: Não é feliz agora?


Pergunta: Não, não sou.

Maharaj: O que o faz infeliz?


Pergunta: Tenho o que não quero e quero o que não tenho.

Maharaj: Por que não inverter? Queira o que tem e não se preocupe com o que não tem.


Pergunta: Quero o que é agradável e não quero o que é doloroso.

Maharaj: Como sabe o que é agradável e o que não é?


Pergunta: Por experiências passadas, certamente.

Maharaj: Guiado pela memória, você tem perseguido o agradável e tentado escapar do desagradável. Tem tido êxito?


Pergunta: Não, não tenho tido. O agradável não dura. A dor sempre volta.

Maharaj: Que dor?


Pergunta: O desejo de prazer, o medo da dor, ambos são estados de sofrimento. Existe um estado de puro prazer?

Maharaj: Cada prazer, físico ou mental, necessita um instrumento. Os instrumentos físicos e mentais são materiais, portanto se fatigam e se esgotam. O prazer que proporcionam necessariamente é limitado em intensidade e duração. A dor é a tela de fundo de todos os prazeres. Você os deseja porque sofre. Por outro lado, a própria busca do prazer é a causa da dor. É um circulo vicioso.


P: Posso ver o mecanismo de minha confusão, mas não vejo a saída.

Maharaj: O próprio exame do mecanismo mostra a saída. Depois de tudo, a confusão está só na mente, a qual nunca se rebelou totalmente contra a confusão nem chegou a combatê-la. Só se rebelou contra a dor.


Pergunta: De modo que tudo o que posso fazer é permanecer confundido?

Maharaj: Esteja alerta. Investigue, observe, pergunte, aprenda tudo quanto possa sobre a confusão, como funciona, qual é seu efeito em você e nos demais. Vendo claramente a confusão, você se libertará dela.


P: Quando olho a mim mesmo, vejo que meu mais forte desejo é criar um monumento, construir algo que me sobreviva. Inclusive quando penso em um lar – esposa e filhos – é porque ele é sólido, duradouro, um testemunho de mim mesmo.

Maharaj: Correto, construa um monumento a si mesmo. Como quer fazê-lo?


Pergunta: Não importa do que seja construído, desde que seja permanente.

Maharaj: Você mesmo pode ver que nada dura. Tudo se gasta, quebra e se dissolve. O próprio alicerce sobre o qual se constrói cede um dia. O que você pode construir que sobreviva a tudo?


Pergunta: Intelectualmente, verbalmente, estou consciente de que tudo é transitório. Ainda assim, meu coração quer permanência. Quero criar algo duradouro.

Maharaj: Então tem que construir sobre algo duradouro. O que tem você que seja duradouro? Nem seu corpo nem sua mente durarão. Tem que buscar em outra parte.


Pergunta: Desejo permanência, mas não a encontro em nenhum lugar.

Maharaj: Não é você mesmo permanente?


Pergunta: Nasci e devo morrer.

Maharaj: Pode dizer em verdade que você não era antes de nascer, e poderá dizer depois da morte: agora já não existo? Você não pode dizer, pela própria experiência, que não existe. Só pode dizer: “eu sou”. Os demais tampouco podem dizer-lhe que “você não é”.


Pergunta: Não há “eu sou” no sono.

Maharaj: Antes de fazer afirmações tão incisivas, examine cuidadosamente seu estado de vigília. Cedo descobrirá que está cheio de intervalos onde a mente está em branco. Perceba que recorda pouco, mesmo estando totalmente desperto. Não pode dizer que não era consciente durante o sonho. Simplesmente não o recorda. Uma lacuna na memória não é necessariamente uma lacuna na consciência.


Pergunta: Posso chegar a recordar meu estado no sono profundo?

Maharaj: Certamente! Ao eliminar os intervalos de inadvertência durante as horas de vigília, gradualmente eliminará o grande intervalo de inadvertência mental que você chama sono. Então estará consciente de que está dormindo.


Pergunta: Mas o problema da permanência, da continuidade do ser, não será resolvido.

Maharaj: A permanência é uma mera idéia, nascida da ação do tempo. Por sua vez, o tempo depende da memória. Você chama permanência a uma memória contínua através do tempo ilimitado. Você quer eternizar a mente, o que não é possível.


Pergunta: Então, que é o eterno?

Maharaj: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar algo transitório, apenas o imutável é eterno.


Pergunta: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não anseio mais conhecimento, tudo o que quero é paz.

Maharaj: Pode ter toda a paz que queira, basta que a peça.


Pergunta: É o que peço.

Maharaj: Deve pedir com um coração indiviso e viver uma vida íntegra.


Pergunta: Como?

Maharaj: Separe-se de tudo o que inquiete sua mente. Renuncie a tudo o que altere sua paz. Se quiser paz, mereça-a.


Pergunta: Com certeza, todo mundo merece a paz.

Maharaj: Só a merecem aqueles que não a perturbam.


Pergunta: De que modo eu perturbo a paz?

Maharaj: Sendo escravo de seus desejos e temores.


Pergunta: Inclusive quando são justificados?

Maharaj: As reações emocionais nascidas da ignorância ou da inadvertência nunca são justificadas. Busque uma mente clara e um coração limpo. Tudo o que necessita é permanecer tranqüilamente alerta, investigando a natureza real de si mesmo. Este é o único caminho para a paz.


Maharaj: Todos vocês estão ensopados porque está chovendo a cântaros. Em meu mundo sempre faz um tempo esplêndido. Não há noite nem dia, nem calor nem frio. Ali não me incomodam as preocupações e os pesares. Minha mente está livre de pensamentos porque não há desejos que me escravizem.

Pergunta: Existem dois mundos?

Maharaj: Seu mundo é transitório, mutável. Meu mundo é perfeito, imutável. Pode dizer-me o que quiser de seu mundo, escutarei com atenção, até com interesse e, ao mesmo tempo, não esquecerei, por um só momento, que o seu mundo não existe, que você está sonhando.


Pergunta: O que diferencia o seu mundo do meu?

Maharaj: Meu mundo não tem características pelas quais possa ser identificado. Nada pode ser dito dele. Eu sou meu mundo. Meu mundo sou eu mesmo. É completo e perfeito. Toda impressão é apagada, toda experiência rechaçada. Não necessito nada, nem sequer a mim mesmo, pois esse 'eu mesmo' não pode ser perdido.


Pergunta: Nem mesmo Deus?

Maharaj: Todas essas idéias e distinções existem em seu mundo; no meu, não há nada parecido. Meu mundo é singular e muito simples.


Pergunta: Nada acontece ali?

Maharaj: O que acontece em seu mundo, apenas tem validade ali, provocando uma resposta. Em meu mundo não acontece nada.


Pergunta: O próprio fato de que você experimenta seu próprio mundo implica em dualidade, inerente a toda experiência.

Maharaj: Verbalmente, sim. Mas suas palavras não me alcançam. Meu mundo não é verbal. Em seu mundo, o inominado não tem existência; no meu, as palavras e seus conteúdos não têm nenhuma existência. Em seu mundo nada permanece, no meu nada muda. Meu mundo é real, enquanto o seu é feito de sonhos.


Pergunta: Mas nós estamos falando.

Maharaj: A conversa está no seu mundo. No meu, há um silêncio eterno. Meu silêncio canta, meu vazio é completo, não me falta nada. Você não pode conhecer meu mundo até que esteja ali.


Pergunta: Parece que só você está em seu mundo.

Maharaj: Como você pode dizer só ou não só, quando as palavras não são apropriadas? Certamente que estou só, pois eu sou tudo.


Pergunta: Você alguma vez vem a nosso mundo?

Maharaj: Que é ir e vir para mim? Novamente são palavras. Eu sou. De onde tenho que vir, e aonde tenho que ir?


Pergunta: De que me serve o seu mundo?

Maharaj: Você deve considerar com maior atenção seu próprio mundo, examine-o criticamente e, repentinamente, um dia você se encontrará no meu.


Pergunta: Que ganho com ele?

Maharaj: Não ganha nada. Simplesmente abandona o que não é seu e encontra o que nunca perdeu – seu próprio ser.


Pergunta: Quem é o governante de seu mundo?

Maharaj: Aqui não há governante nem governado. Não há nenhuma dualidade. Você não faz outra coisa senão projetar suas próprias idéias. Suas sagradas escrituras e seus deuses não têm aqui nenhum sentido.


Pergunta: Apesar de tudo, você tem um nome e uma forma, e mostra consciência e atividade.

Maharaj: Isso parece no seu mundo. No meu, só tenho que ser. Nada mais. Vocês são ricos com suas próprias idéias de posse, de quantidade e qualidade. Eu não tenho nenhuma idéia.


Pergunta: Em meu mundo há problemas, sofrimento e desespero. Você parece estar vivendo de alguma renda desconhecida, enquanto eu tenho que trabalhar para viver.

Maharaj: Faça o que quiser. É livre para abandonar seu mundo pelo meu.


Pergunta: Como seria feita esta passagem?

Maharaj: Veja seu mundo como é, não como o imagina. A discriminação o levará ao desapego; o desapego assegurará a ação correta; a ação correta construirá a ponte interna para seu ser real. A ação é prova de sinceridade. Faça o que lhe é dito, diligentemente e com fé, e todos os obstáculos se desfarão.


Pergunta: Você é feliz?

Maharaj: No seu mundo seria desgraçado ao extremo. Levantar-se, comer, falar, voltar a dormir, que incômodo!


Pergunta: De modo que nem sequer deseja viver?

Maharaj: Viver, morrer – que palavras sem sentido são estas! Quando me vir vivo, estarei morto. Quando pensar que estou morto, estarei vivo. Quão confuso você está!


Pergunta: Quão indiferente é você! Todas as dores de nosso mundo não são nada para você.

Maharaj: Sou totalmente consciente de seus problemas.


Pergunta: Então, que você faz por eles?

Maharaj: Não necessito fazer nada. Vão e vêm.


Pergunta: Os problemas desaparecem pelo mero fato de que você lhes dá atenção?

Maharaj: Sim. A dificuldade pode ser física, emocional ou mental; mas sempre é individual. Calamidades em grande escala são a soma de inumeráveis destinos individuais e leva tempo para pôr em ordem. Mas a morte nunca é uma calamidade.


Pergunta: Inclusive quando um homem é morto?

Maharaj: A calamidade é para o assassino.


Pergunta: Ainda assim, parece que há dois mundos, o meu e o seu.

Maharaj: O meu é real; o seu, mental.


Pergunta: Imagine uma rocha com um buraco, e uma rã no buraco. A rã pode passar toda a vida em felicidade perfeita, sem distrações, sem problemas. Fora do rocha o mundo continua. Se alguém falasse à rã do mundo exterior, ela diria: "Não existe tal coisa. Meu mundo é de paz e de felicidade. Seu mundo é só uma estrutura verbal, não tem existência". O mesmo acontece com você. Quando nos diz que o nosso mundo simplesmente não existe, não há base comum para a discussão. Ou tome outro exemplo. Vou a um doutor e me queixo de dor no estômago. Ele me examina e diz: "Você está bem”. "Mas me dói", eu lhe digo. "Sua dor é mental", ele reafirma. Eu digo que "Não me ajuda saber que minha dor é mental. Você é médico, cure minha dor. Se não puder curar-me, você não será meu médico".

Maharaj: Correto.


Pergunta: Você construiu a ferrovia, mas por falta de ponte nenhum trem pode passar. Construa a ponte.

Maharaj: Não existe a necessidade de uma ponte.


Pergunta: Tem que existir um elo entre seu mundo e o meu.

Maharaj: Não há necessidade de elo entre um mundo real e um mundo imaginário, já que não pode existir nenhum.


Pergunta: Então, o que podemos fazer?

Maharaj: Investigue seu mundo, aplique sua mente a ele, examine-o criticamente, observe de perto cada uma de suas idéias; isso será suficiente.


Pergunta: O mundo é demasiado grande para ser investigado. Tudo o que sei é que sou, que o mundo existe, que o mundo me incomoda e que eu incomodo o mundo.

Maharaj: Minha experiência é que tudo é felicidade. Mas o desejo de felicidade cria dor. Desse modo, a felicidade se converte na semente da dor. Todo o universo da dor nasce do desejo. Abandone o desejo de prazer e nem sequer saberá o que é a dor.


Pergunta: Por que o prazer teria que ser a semente da dor?

Maharaj: Porque em consideração do prazer você comete muitos pecados. E os frutos do pecado são o sofrimento e a morte.


Pergunta: Você diz que o mundo não nos serve para nada; é só um problema. Eu sinto que não pode ser assim. Deus não é tão louco. O mundo me parece uma grande empresa para converter potencial em atual, a matéria em vida, o inconsciente em Consciência total. Para realizar o supremo, necessitamos a experiência dos opostos. Como, para construir um templo, necessitamos pedra e cimento, madeira e ferro, cristal e mosaicos, do mesmo modo, para converter um homem em um sábio divino, um mestre da vida e da morte, será necessário o material da experiência. Da mesma forma que uma mulher vai ao mercado, compra todo o tipo de provisões, volta, cozinha, amassa o pão e dá de comer a seu marido, assim nós mesmos nos cozinhamos gentilmente no fogo da vida e alimentamos nosso Deus.

Maharaj: Bem, se assim pensa, aja de acordo. Alimente seu Deus, sem dúvida.


Pergunta: Uma criança vai à escola e aprende muitas coisas que logo não lhe servirão. Mas, à medida que aprende, cresce. Desse modo, nós passamos através de inumeráveis experiências e as esquecemos, mas, neste ínterim, crescemos todo o tempo. E o que é um gnani senão um homem com genialidade para o real! Este meu mundo não pode ser um acidente. Deve existir um plano por trás dele, ele tem sentido. Meu Deus tem um plano.

Maharaj: Se o mundo for falso, então o plano e seu criador também serão falsos.


Pergunta: Outra vez, você nega o mundo. Não há ponte entre nós.

Maharaj: Não há necessidade de ponte. Seu erro está em crer que você nasceu. Você nunca nasceu e nunca morrerá, mas você acredita que nasceu em certa data e lugar, e que tal corpo particular é seu.


Pergunta: O mundo existe, eu sou. Estes são fatos.

Maharaj: Por que se preocupa com o mundo antes de ocupar-se de si mesmo? Você quer salvar o mundo, não é assim? Você pode salvar o mundo antes de salvar a si mesmo? E o que quer dizer salvar-se? Salvar-se de quê? Da ilusão. A salvação é ver as coisas como são. Realmente, eu não me vejo relacionado com ninguém, nem com nada. Nem sequer com um ser, não importa o que esse ser possa ser. Permaneço indefinido para sempre. Estou dentro e além, íntimo e inalcançável.


Pergunta: Como chegou a isso?

Maharaj: Crendo em meu Guru. Ele me disse: "Só tu és", e eu não duvidei dele. Eu estava meramente confuso sobre isto, até que entendi que era absolutamente certo.


Pergunta: Convicção por repetição?

Maharaj: Por auto-realização. Dei-me conta que sou absolutamente consciente e feliz e de que só por erro atribuí ser-consciência-felicidade ao corpo e ao mundo dos corpos.


Pergunta: Você não é um homem instruído. Não leu muito, e no que leu, ou ouviu, não havia contradições. Eu tenho bastante educação, li muitíssimo, e descobri que os livros e os mestres se contradizem entre si sem nenhuma esperança. Daí, tudo o que li ou ouvi foi posto em dúvida. "Pode ser que seja assim, pode ser que não", foi minha primeira reação. E como minha mente é incapaz de decidir o que é verdade e o que não é, fico atado em minhas dúvidas. Na Ioga, uma mente duvidosa é uma desvantagem tremenda.

Maharaj: Alegra-me ouvir isto; mas meu Guru também me ensinou a duvidar de tudo, e absolutamente. Ele me disse: "Nega existência a tudo menos a ti mesmo". Através do desejo, você criou o mundo com suas dores e prazeres.


Pergunta: Deve também ser doloroso?

Maharaj: Como não? Por sua própria natureza, o prazer é limitado e transitório. Da dor nasce o desejo, na dor busca a satisfação, e termina na dor da frustração e do desespero. A dor é a tela de fundo do prazer, toda busca de prazer nasceu na dor e acabará na dor.


Pergunta: Tudo o que diz me parece claro. Mas, quando chega algum problema físico ou mental, minha mente torna-se preguiçosa e obscura, e busca alívio freneticamente.

Maharaj: Que importa? A mente é a que é preguiçosa ou inquieta, não você. Veja todo tipo de coisas ocorrem nesta habitação, por exemplo. Acaso sou eu que as faço ocorrer? Simplesmente ocorrem. O mesmo acontece com você; a meada do destino desvela a si mesma e atualiza o inevitável. Não pode mudar o curso dos fatos, mas pode mudar sua atitude, e o que realmente importa é a atitude e não o mero fato. O mundo é a morada de desejos e temores. Não pode encontrar paz nele. Para encontrar paz tem que ir além do mundo. A causa raiz do mundo é o amor a si mesmo. Por isso buscamos prazer e evitamos a dor. Substitua o amor a si mesmo pelo amor do Ser e o quadro muda. Brahma, o Criador, é a soma total de todos os desejos. O mundo é o instrumento para sua realização. A alma pega qualquer prazer que deseja e o paga em lágrimas. O tempo acerta todas as contas. A lei do equilíbrio reina suprema sobre tudo.


Pergunta: Para ser um super-homem, primeiro deve-se ser um homem. A humanidade é o fruto de inumeráveis experiências. O desejo leva à experiência. Desse modo, em seu próprio tempo e nível, o desejo é correto.

Maharaj: Tudo isto é verdade em certo modo. Mas chegará um dia quando você já acumulou o suficiente e deverá começar a construir. Então ordenar e descartar (viveka-vairagya) serão absolutamente necessários. Tudo tem que ser examinado atentamente, e o não necessário, destruído sem contemplações. Acredite-me, não haverá demasiada destruição, pois, na realidade, nada tem valor. Seja apaixonadamente desapaixonado; isso é tudo.

*Post extraído do livro:


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