"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, abril 22, 2009

Qual era o teu impedimento? (final)

Joel S. Goldsmith

A verdadeira cura pelo espírito é totalmente diversa de todos esses processos. Na cura espiritual, como é ensinada pelo caminho da auto-realização, não há nenhuma causa psíquica nem mental, quer dizer, não existe nenhuma causa mental individual para um doença física. É certo que há causas mentais que têm conseqüências materiais, mas essas causas não estão contidas pessoalmente no homem individual; trata-se de uma crença geral na existência de uma egoidade separada de Deus, e essa crença atua hipnoticamente.

No ambiente dessa hipnose coletiva, seja qual for a doença e questão, não é o doente o responsável, tampouco é ele responsável pela “falsa ideologia” da humanidade, que atuou como preliminar da enfermidade. Não sejamos tão “metafísicos” ao ponto de pensar que fulano contraiu a sua doença pelo fato de ter alimentado pensamentos errados – ele, ou talvez sua avó. Não sucumbamos a semelhantes conversas! Por esses pensamentos errôneos é ele tão pouco responsável como pelas chamadas conseqüências dos mesmos, porque em ambos os casos ele é apenas vítima de uma crença universal, de uma hipnose coletiva, que ele aceitou, e que também nós, tu e eu, temos aceitado.

Com outras palavras: se tu és ciumento ou invejoso ou desonesto, não é esta a tua culpa, e, além disto, nunca te libertarás desses erros enquanto não aparecer alguém e te mostrar, ou enquanto tu mesmo, pela experiência própria, não te tornares consciente de como libertar-te desses erros. Não poderás corrigi-los tentando ser apenas um homem melhor, ou pelo fato de resolveres “Eu deixarei de ser ciumento”, ou “A partir de hoje, deixarei de ser desonesto”. Deste modo, nada conseguirás; através de gerações e gerações foi feita esta tentativa, e sem resultado – e daqui por diante será o mesmo insucesso.

Mais do que isto é necessário. Algo tem de achar entrada no teu consciente, algo que te liberte de um falso pensar e que torne impossível esse falso pensar em toda a tua vida. O primeiro passo para essa decisiva metamorfose está no seguinte: Cessa de condenares a ti mesmo! Cessa de repreender-te por causa dos teus pecados e erros! Nada conseguirás condenando-te a ti ou a teus semelhantes. Acaba com essa autocondenação e compreende que marcarás passo no plano negativo, de ordem mental ou material, na medida em que aceitares e fizeres atuar sobre ti crenças que te foram impingidas pelo mundo.

Começa a compreender que a natureza do teu ser é Deus, que a essência de tua alma é a essência de Deus, e que a natureza do teu corpo é a do templo de Deus. Sim, o teu corpo é o santuário do Deus vivo; cessa de condená-lo, de odiá-lo ou de temê-lo. Compreende que a tua mente é um instrumento através do qual pode fluir Deus, a Verdade. Não condenes a tua inteligência, dizendo que é imperfeita ou mortal, ou má. Tal inteligência não existe no mundo de Deus; existe uma mente só, e essa mente é instrumento de Deus. Se desistires dessa incessante mania condenatória, verás que a tua mente é um espelho límpido para refletir a tua alma.

Quem lida com animais ou com crianças sabe que, por meio de censuras e punições, não se consegue despertar neles o que neles há de bom; não adiante mostrar-lhes quanto são maus e malcreados. Para despertar o bom que há em uma criança, em um animal, em uma flor, ou em outro ser vivo qualquer, deve-se amá-lo, abençoá-lo e reconhecer que o próprio Deus é o fundamento do ser e da natureza deles.

Se alguém solicita a tua ajuda, não te arvores em juiz sobre ele, não o critiques, não o censures; não procures descobrir os seus pecados de comissão ou de omissão; porque, mesmo que eles existissem, seriam apenas conseqüências de outra coisa. Não são causas. Por detrás de cada erro e cada culpa há uma causa, mas essa causa nunca é pessoal – a causa é uma hipnose universal.

Isto faz compreender porque há doentes e culpados, como se desenvolvem os desejos e concupiscências, porque há homens fracos que se embriagam, e homem assaz tresloucados para dirigirem loucamente o seu carro. Não é porque eles mesmos queiram ser assim. Essa hipnose coletiva subjuga os homens, sem que eles tenham disto consciência, e atua sobre eles de tal modo que milhares sofrem resfriados quando o mundo afirma que está chovendo lá fora.

O curador espiritual, porém, nada tem que ver com resfriados, câncer, tuberculose ou paralisia infantil; nem se interessa por influências intra-uterinas, por sintomas de períodos de transição ou de velhice; o curador enfrenta um fenômeno de falsa interpretação da realidade – hipnose, sugestão, crenças universalmente obrigatórias. Estas coisas, porém, não possuem realidade intrínseca, nem identidade. Hipnose é algo que produz uma imagem mental; mas essa imagem não tem substância, nem tem força de lei, não tem fundamento real; no momento em que a hipnose cessa dissipa-se a imagem.

Procuremos agora compreender como se desenrola esse processo. Fecha os olhos. Visualiza, em pensamentos, uma rua, uma rua qualquer, uma rua tua conhecida. Contempla as casas, casas de todos os feitios; casas de tijolos, de pedra, de madeira. Diante das casas há gramados; diante de uma há um canteiro de rosas; diante de outra, florescem zínias e cravos. Crianças estão brincando, e pela rua passa, de vez em quando, um automóvel. De repente uma das crianças tenta cruzar a rua, diante de um carro em plena corrida; ouves o ranger dos freios, percebes o grito da criança.

Neste momento toca a campainha de entrada da casa, ou telefone – e tu acordas. Abres os olhos – e lá se foi o sonho! Onde estão as casas? Onde estão as crianças? Que é do acidente? Tudo desapareceu, porque nunca existiu; pois um sonho não pode produzir casas, crianças, acidentes. A substância de um sonho só pode crear imagens sem substâncias. O mesmo se dá com a hipnose. Um hipnotizador pode fazer com que vejas no teu quarto uma dúzia de burros a dançar – mas nenhum deles estará lá realmente. Suposto que estejas tão hipnotizado que tenhas a certeza de ver esses burros na realidade; que deveria fazer para libertar-te deles? Despertar da hipnose, e nada mais.

Na cura pelo espírito, não importa que o curado se chame Fulano, Sicrano ou Beltrano; nem importa que se trate de câncer, tuberculose ou paralisia: quer se trate de desemprego, de inflação ou de desarmonias no lar – não sucumbas à tentação de focalizar pessoas ou situações, em teu tratamento. Não prestes atenção a essas substâncias insubstanciais, que poderás chamar como quiseres – mente mortal, hipnose, sugestão, etc. Pode ser tudo e qualquer coisa contanto que tu tenhas a consciência de que não significa nada – que é sem substância, sem força de lei, sem fundamento real.

Quando compreendemos que, na terapia espiritual, não se trata de pessoas como pessoas; quando as podemos eliminar dos nossos pensamentos com todas as suas necessidades peculiares, sabendo que tudo isto é mente mortal, braço de carne, um nada – então não tardaremos a sentir uma presença espiritual. Esta presença não será sentida enquanto não estivermos livres da barreira – e esta barreira é a crença em dois poderes, a barreira é a crença em algo separado de Deus.

Quem quiser, pode usar a palavra “tentação”, em vez de hipnose. Quem se sente doente, pode considerar isto como tentação, que pode ser aceita ou rejeitada.

A mente mortal não é a antítese do espírito divino; e ninguém deve esperar que o espírito divino lute contra a mente mortal. A partir do momento em que verificamos que a mente mortal é um braço carnal, um traço de giz no chão, um simples nada, deixamos de admitir dois poderes, e podemos “repousar na palavra de Deus”, como diz a Escritura. Repousa, pois, nesta palavra do Senhor; quando ele vem, quebrará a magia da hipnose.

Depois que despontou em mim o conhecimento de que todos os males, de qualquer natureza, procedem de uma hipnose geral, andei quebrando a cabeça durante alguns anos, para descobrir como neutralizar esse estado hipnótico. Que fazer? Um hipnotizador estala os dedos – e seu médium acorda, ou então lhe dá uma simples ordem mental para acordar. É o que eu não posso fazer, porque no plano espiritual não posso servir-me de expedientes físicos e mentais.

Foi naquele tempo que descobri o tópico da Escritura, que vai através de todos os meus escritos, tópico que fala de uma “pedra arrancada do monte sem mão humana”. Até esse tempo, havia eu pensado, por alguns meses, sob a significação obscura dessas palavras; veio-me então a resposta: A arma contra o erro – para ofensiva e defensiva – é algo que não é físico nem mental, não são atos, nem palavras, nem pensamentos – é simplesmente a experiência da presença de Deus.

Quando transferimos isto para a prática e consideramos o modo como a pedra se forma em nossa consciência, e sai da nossa consciência, enquanto nós assistimos a esse processo como simples testemunhas e observadores – então surge em nossa alma um estado de grande paz. Então percebemos um vislumbre de Deus como “Aquele que é” – não como um poder sobre algo, mas simplesmente como “Aquele que é”, e começamos a compreender que não existe nenhum poder que possa fazer algo a alguém; passamos a ser simples espectadores, olhando como a Realidade vai aparecendo. Todas as dificuldades se dissipam na medida em que desenvolvemos a faculdade de ficar quietos, de contemplar, de sermos testemunhas de como a harmonia divina se desdobra; e, graças ao principio da unidade, também os nossos pacientes participam dessa harmonia.

O princípio que subjaz a esse processo resume-se no seguinte: uma vez que a substância e atividade da mente humana é a substância e atividade da hipnose, toda a hipnotização desaparece no momento em que a mente suspende a sua atuação. Quando deixamos de pensar pensamentos e palavras, e mergulhamos no grande silêncio, então a mente pára – e, na parada da mente, a hipnose acabou. Ao vivermos essa experiência, sentimos que entramos em uma nova dimensão, que ultrapassa a vida.

Homem, não percas o teu tempo em lutas contra as formas da ilusão; não tentes eliminar reumatismo, câncer ou tuberculose, nem te preocupes com o problema da decrepitude senil. Não procures modificar o mundo dos fenômenos. Remonta mais além! Reconhece que, na verdade, Deus somente é o teu ser, que a única coisa que te faz sofrer é essa crença generalizada em dois poderes. Remonta além de tudo e repousa na Palavra, no Verbo de Deus. Se debelares um aspecto do erro, e o derrotares, por detrás dele surgirão dez outros e tomarão o lugar do primeiro. É necessário que elimines a própria causa das desarmonias humanas. Que causa é essa? É uma vasta teia feita de Nadas, essa assim chamada mente carnal, que não tem poder algum, a não ser para aqueles que, sem cessar, lutam contra o mal, esquecidos da sabedoria do Mestre, que diz: “Não vos oponhais ao maligno!”.

Se, em qualquer caso que se te apresente puderes prescindir da pessoa, do seu nome e da natureza do caso em questão; se puderes evocar alguma palavra ou expressão que para ti represente o nada – e não algo que deva ser combatido, nem algo que deva ser superado, mas o puro nada, de maneira que tenham diante de ti um único Poder – então poderás ficar sentado em tranqüila meditação, e sentirás a descida do ESPÍRITO SANTO, e uma paz que ultrapassa toda a compreensão – sentirás a presença divina e a libertação de temores e discórdias.

Quando entrares em meditação, mantém em ti a consciência de não pedires alguma modificação ou cura, nenhum restabelecimento ou melhoramento de algo ou de alguém. Focaliza nitidamente isto: “Entro em meditação, mas não trato de nenhuma pessoa ou circunstância. Minha meditação nada tem que ver com isto. Só se ocupa com a experiência da presença de Deus, aqui e agora onde estou. Por isto, me mantenho quieto e permitirei essa realização.”

A única coisa necessária para estabelecer a harmonia é o reconhecimento da graça de Deus. Não necessitamos de um acervo de erudição metafísica; necessitamos de saber apenas as coisas simples e ingênuas, a realidade do poder único, e a irrealidade de todas as potências adversas.

Compreende que Deus é mais que uma palavra. Deus é mais que uma longa lista de sinônimos – Deus é uma experiência, e ninguém sabe o que Deus é se não o saborear por experiência própria.


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