"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, agosto 27, 2009

O incognoscível (Osho)

"Eu não acreditei,
em pé, às margens de um rio
largo e agitado,
que eu atravessaria aquela ponte
trançada de palhas finas e frágeis
amarradas com corda.
Eu caminhei delicadamente como uma borboleta
e pesadamente como um elefante,
eu caminhei certamente como um dançarino
e titubeante como um cego.
Eu não acreditei que iria atravessar aquela ponte,
e agora que eu estou do outro lado,
eu não acredito que eu a atravessei."
(Leopoldo Staff
)

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"Mesmo quando você conhecer Deus, você não será capaz de acreditar que O conheceu. Isso é o que eu quero dizer quando digo que Deus é um mistério.
Desconhecido, Ele permanece incognoscível.
Conhecido, Ele também permanece incognoscível.
Sem ser visto, Ele é um mistério.
Visto, Ele se torna um mistério ainda maior.
Ele não é um problema que você possa resolver. Ele é maior do que você. Você pode dissolver-se nele, você não pode resolvê-lo."
(Osho)




"A verdade é. Ela simplesmente é. Nada pode ser dito a respeito dela. E tudo que puder ser dito a respeito dela irá torná-la falsa.

Não há necessidade de qualquer explicação. Não explicada, completamente imediata, a verdade é. Ela circunda você. Ela está dentro de você e sem você. Não há necessidade de se chegar a qualquer conclusão a respeito dela. Ela já é conclusiva! Você está nela.Você não consegue ser sem ela. Não há maneira alguma de perdê-la. Não há maneira alguma de se desviar dela. Você pode estar dormindo profundamente, inconsciente, mas ainda assim você estará nela.

Assim, aqueles que conhecem a verdade sabem muito bem que a filosofia não irá ajudar. Quanto mais você tentar conhecer a respeito da verdade, mais você se tornará adormecido. O próprio esforço para conhecer levará você a se perder. A verdade pode ser sentida, mas não pode ser conhecida. Quando eu digo que ela pode ser sentida, eu quero dizer que você pode estar presente nela, que ela pode estar presente em você. Existe uma possibilidade de um encontro. Existe uma possibilidade de tornar-se um com ela. Mas não existe uma maneira de se conhecê-la.

A verdade não pode se tornar um objeto. Você não pode colocá-la ali e vê-la. Você não pode segurá-la em suas mãos e vê-la. Você não pode examiná-la externamente. Somente do lado de dentro, somente tornando-se um com ela, você pode senti-la. Sentir é o único conhecimento possível. Por isso, aqueles que conhecem dizem: o amor é a maneira.

O conhecimento é um tipo de ignorância. A palavra 'ignorância' é muito bonita. Divida-a em duas e ela se torna 'ignor-ância'. A verdade pode ser ignorada. Isso é o que ignorância é, de outra forma, a verdade já está presente. Ignorância nada mais é que ignorar a verdade que já está aí. E um homem de conhecimento se torna mais ignorante, porque quanto mais ele pensa que sabe, mais ele se torna capaz de ignorar aquilo que é. Perdido em suas teorias, dogmas, credos e escrituras, ele não tem mais olhos para ver a realidade. Perdido em palavras e verbalizações, a sua visão está anuviada. Ele não consegue ver aquilo que é.

Quanto mais você estiver anuviado pelo seu pensar, quanto mais você estiver na mente, mais você será capaz de ignorar a verdade. O conhecimento não é necessário, mas apenas a inocência, a inocência de uma criança. Vulnerável, aberto... Sem tentar conhecer. No próprio esforço para conhecer você se torna um voyeur. Você agrediu a realidade, você está tentando estuprar a realidade.

É por isso que eu continuamente digo que a ciência é um estupro da realidade. A palavra 'ciência' vem de uma raiz que significa 'conhecer'. Ciência é conhecimento. Religião não é conhecimento. Religião é amor. A palavra 'religião' vem de uma raiz que significa comprometer-se, apaixonar-se, tornar-se um.

A verdade é sentida. Ela é uma experiência vivida. Assim, qualquer coisa que puder ser dita a respeito da verdade não será verdadeira. Pelo simples fato de ter sido dita, ela já se torna não verdadeira.

Tudo o que já foi dito até agora e tudo o que vier a ser dito no futuro, nada tem a ver com a verdade. Não há maneira alguma de expressá-la. A verdade é muito arisca. Você não consegue pegá-la em palavras. Você não consegue pegá-la através da mente. A mente perde-a seguidamente, porque o próprio funcionamento da mente é anti-verdade. O funcionamento da mente é não-existencial. A mente funciona naquilo que não é, ou no passado ou no futuro. O passado não existe mais e o futuro não existe ainda. E a mente só funciona, ou no passado ou no futuro. No presente existe a não-mente.

Se você está no aqui e agora, de repente você terá se separado da mente. Como você pode pensar aqui e agora? O pensar leva você para longe do aqui e agora. Um simples pensamento e você já estará a milhares de quilômetros longe do aqui e agora. No aqui e agora não há qualquer possibilidade, não há qualquer espaço para o pensamento surgir.

A mente funciona no não-existencial, no fictício, no imaginário. A mente é uma faculdade de sonhar, ela é uma faculdade de sonhos. A verdade não é conhecida pela mente, é por isso que eu digo que ela não é conhecida de jeito algum. A verdade é sentida pelo coração, pela sua totalidade, por você, não pela sua cabeça, por você enquanto uma unidade orgânica. Quando você vier a conhecer a verdade, você a terá conhecido pela cabeça e pelos dedos do pé; você a terá conhecido pelos ossos e pelas suas entranhas; você a terá conhecido pelo seu coração e pelo seu sangue; você a terá conhecido pelo seu respirar; simplesmente pelo seu ser. A verdade é conhecida pelo ser.

Esse é o significado quando eu digo que a verdade é sentida. Ela é uma experiência. (........ )

Na terminologia budista, 'Buda' é equivalente a 'verdade'. Eles não falam muito a respeito da verdade. Eles falam muito mais a respeito de Buda. Isso também é significante, porque quando você se torna um Buda, a verdade é. E Buda significa que você se tornou Acordado. Então, porque conversar a respeito da verdade? Simplesmente pergunte o que é o acordar. Simplesmente pergunte o que é consciência, porque quando você está consciente, a verdade está ali. Quando você não está consciente, a verdade não está ali.

Assim, a pergunta básica e real é a respeito da consciência. Mas isso também não pode ser perguntado e resolvido. A pessoa tem que se tornar consciente, não existe outra maneira.

Um discípulo perguntou a um mestre Zen: 'Se alguém me perguntar daqui a cem anos o que eu penso ter sido a sua compreensão mais profunda, o que eu deverei dizer?' O mestre respondeu: 'Diga a ele que eu disse: é Isto!'

Agora, que tipo de resposta é essa: 'é Isto!'? Ele indicou a realidade imediata: Isto.

Vedanta, o maior trabalho em Filosofia da Índia, fala a respeito do 'aquilo'. ... O povo Zen fala a respeito do 'isto'. Certamente a compreensão deles é mais profunda, porque 'aquilo' está de novo no futuro, lá longe, enquanto 'isto' é presente. Isto é aquilo. Esta margem é a outra margem. Esta vida é a única vida e este momento é a eternidade.

Se você puder viver este momento, se você puder estar aqui neste momento, então tudo irá se arranjar por si mesmo. Então você não precisa estar ansioso. Então não há necessidade de perguntar. Antes que você pergunte, a resposta já terá sido dada. A resposta sempre tem estado ali, mas nós não estamos conscientes. Por isso, todo o esforço do Zen é como trazer consciência para você.

É como se o homem estivesse dormindo. O homem vive num estado de estupor: ele se movimenta, trabalha, nasce, vive e morre, mas dormindo, quase profundamente, roncando. A mente humana é burra. Mente é burrice. A mente não tem qualquer inteligência em si. Nunca houve uma mente inteligente. Eu não quero dizer que nunca houve pessoas inteligentes, mas sim que nunca houve uma mente inteligente. Inteligência é alguma coisa que vem quando a mente é abandonada. A mente nunca é original, nunca é radical. A mente sempre é ortodoxa. A mente sempre é repetitiva, mecânica. Ela funciona como um robô. Ela segue repetindo a mesma coisa por várias vezes. Ela é como um computador: qualquer coisa que você lhe der para alimentar, ele irá mastigar repetidas vezes.

Você já observou a sua própria mente e o seu funcionamento? Nada de novo acontece com ela. Nada de novo pode acontecer com ela. E por causa disso você permanece alheio a tudo o que está ocorrendo ao seu redor, você segue ignorando. Você está muito apegado a esse instrumento medíocre e estúpido. Ela é boa para ser usada; ela é boa como um reservatório, como memória; ela é boa para manter registros. Mas esse não é o jeito de se ver a realidade. Ela não tem olhos.

A mente é cega como um morcego. Ela não tem olhos. A mente nunca pode ser inteligente. Apenas a não-mente é inteligente. Apenas a não-mente é original e radical. Apenas a não-mente é revolucionária - revolução em ação.

Essa mente dá a você um tipo de estupor. Carregada pelas memórias do passado, carregada pelas projeções do futuro, você segue vivendo no mínimo. Você não vive no máximo. A sua chama permanece muito fraca. Uma vez que você começa a abandonar os pensamentos e a poeira que você acumulou no passado, a chama se levanta, limpa, clara, viva e renovada. Toda a sua vida se torna uma chama, e uma chama sem qualquer fumaça. Consciência é isso.

Consciência sem pensar: isso é consciência. Estar alerta e sem qualquer pensamento. Tente isso! Sempre que você vir pensamentos se reunindo, disperse-os. Puxe você mesmo para fora disso. Olhe para as árvores sem qualquer tela de pensamento entre você e as árvores. Ouça o gorjeio dos pássaros sem qualquer gorjeio dentro da mente. Olhe para o sol nascente e sinta dentro de você também um sol de consciência nascendo... mas não pense sobre isso, não faça comentários, declarações, não fale. Simplesmente esteja. E, pouco a pouco, você vai começar a sentir vislumbres de consciência, súbitos vislumbres de consciência, como se uma brisa fresca tivesse entrado em seu quarto que estava ficando velho e morto; como se um raio de luz tivesse entrado na noite escura de sua alma; como se, de repente, a vida tivesse chamado você de volta.

Você já ouviu a história de Lázaro. Conta-se que Lázaro morreu. Jesus amava-o muito. Suas irmãs mandaram avisar Jesus. Com o tempo as notícias alcançaram-no. Lázaro tinha morrido quatro dias antes. Jesus veio correndo. Todo mundo estava chorando aos prantos e ele disse: 'Não chore! Deixe-me chamá-lo de volta à vida!'

Ninguém podia acreditar nele. Lázaro estava morto. E as irmãs de Lázaro diziam: 'Ele já está apodrecendo, ele não pode voltar. Seu corpo está se deteriorando.'

Mas Jesus foi ao túmulo onde o corpo estava sendo preservado até que ele viesse. Puxaram a pedra para o lado e na caverna escura Jesus chamou: 'Lázaro, levante-se'. E conta-se que ele se levantou.

Isso pode não ter acontecido desse jeito. Isso pode ser apenas uma parábola, mas é uma bela parábola a respeito do homem. Quando eu olho em seus olhos, isso é tudo o que eu posso dizer: 'Lázaro, levante-se'. Você está morto e apodrecendo. Você não está mais vivo. Você teve um nascimento, mas você precisa renascer. O seu primeiro nascimento não foi de muita ajuda. Ele o trouxe a uma certa dimensão, mas isso não é o suficiente. Você tem que ir um pouco mais. O nascimento que já aconteceu para você foi apenas físico. Você precisa de um nascimento espiritual. (...)

O primeiro nascimento é apenas um nascimento físico. Não se satisfaça com ele. Ele é necessário mas não suficiente. Um segundo nascimento é necessário. O primeiro nascimento foi através de seu pai e sua mãe. O segundo nascimento será a partir de sua mente.Você tem que se separar da mente e esse será o seu renascimento, você estará renascido.

E, pela primeira vez, as árvores estarão mais verdes; estarão mais verdes do que eram antes; as flores estarão mais lindas do que eram antes; e a vida estará mais viva como você jamais a conheceu, porque você só pode conhecer a vida dentro da dimensão em que você estiver vivo. Você não pode conhecer a vida se você não estiver vivo. Seja você o que for, você conhecerá a vida somente dentro daquela sua dimensão.

A mente e o controle da mente sobre você, são aprisionamentos. Livre-se da mente. A questão não é como conhecer a verdade. A questão é como ficar livre da mente; como livrar-se desse constante ignorar, dessa ignorância; como estar simplesmente aqui, despido, palpitando, jorrando, fluindo, transbordando e encontrando a verdade que já está aí, que sempre esteve aí. (...)

A filosofia tenta explicar as coisas e nunca é bem sucedida. ... A religião não faz qualquer esforço para explicar a vida. Ela tenta vivê-la. A religião não considera a vida como um problema para ser resolvido, mas um mistério a ser vivido. A religião não é curiosa a respeito da vida. A religião está num deslumbramento, num tremendo maravilhamento a respeito da vida.

O nosso simples estar aqui é um tal milagre... Não se pode explicar porque eu estou aqui, porque você está aqui. Porque essas árvores estão aqui, porque essas estrelas estão aqui. Porque todo esse universo existe e segue povoando a si mesmo com árvores, pássaros e pessoas. Porque originalmente ele está aí, não há maneira alguma de se saber. Ele simplesmente está aí. Mas ele inspira um deslumbramento! Ele preenche o coração com um maravilhamento. Ele é inacreditavelmente verdadeiro, ele é incrível! Ele é absurdo, mas tremendamente belo.

Não há maneira alguma de se dizer porque ele está aí, mas ele está aí. E a religião diz: Não desperdice seu tempo com os porquês. Ele está aí: Curta-o! Celebre-o! Perca-se nele! E deixe que ele se perca em você. Encontre-o! deixe que o encontro seja como dois amantes entrando um no outro. Deixe que isso seja uma experiência orgástica.

Mas a religião no ocidente tem uma conotação muito errada. Chegou-se a um ponto em que a própria palavra 'religião' cria uma repulsa, em que a própria palavra 'religião' faz lembrar igrejas mortas e padres mortos. Ela faz lembrar pessoas com olhares sérios, rostos sisudos. Ela perdeu a capacidade de dançar, de cantar, de celebrar. E quando uma religião perdeu a capacidade de dançar, de celebrar, de cantar, de amar, de simplesmente ser, então ela já não é mais religião, ela é um cadáver, ela é teologia. Teologia é religião morta.

No ocidente a teologia dominou a religião. Quando a teologia domina a religião, então a religião nada mais é senão filosofia. E uma filosofia que também não é muito filosófica, porque a filosofia somente pode existir através das dúvidas, e a teologia se baseia na fé. Assim, ela é uma filosofia impotente, nem mesmo é uma filosofia no seu verdadeiro sentido.

A religião não é baseada em crenças ou fé. A religião é baseada no deslumbramento, a religião é baseada no maravilhamento. A religião é baseada no mistério que o circunda. Para sentir isso, para estar consciente disso, para ver isso, abra os seus olhos e abandone a poeira acumulado por séculos. Limpe o seu espelho. Veja quanta beleza circunda você. Veja a tremenda beleza que segue batendo em suas portas. Por que você está sentado com os olhos fechados? Por que você está sentado com esse rosto sisudo? Por que você não pode dançar? E por que você não pode rir?

Nietzsche está certo: Deus está morto... porque os teólogos O mataram. Deus pode estar vivo somente quando um amante está dançando. Mas quando um teólogo está tentando encontrar argumentos para provar Deus, Ele está morto. Deus está vivo quando duas pessoas se apaixonam, então Deus está palpitando e saltitando. Deus está vivo quando você olha para uma flor e você não consegue se mover diante dela, alguma coisa o domina e o emociona. Quando você olha para as estrelas e você se torna um com o mistério, e o seu barco começa a velejar em direção à outra margem, então Deus está vivo. Quando você canta uma canção, ela pode ser sem significado, ela pode ser um simples lá-lá-lá, ela pode não ter qualquer sentido, mas Deus está vivo naquela pura expressão de alegria.

Deus está vivo quando você está vivo. Se você não está vivo, como pode o seu Deus estar vivo? O seu Deus é seu. Se você está morto, o seu Deus está morto; se você está vivo, o seu Deus está vivo. O seu Deus não pode ser maior do que você, porque o seu Deus é o centro mais profundo do seu ser. Assim, se você quiser saber o que é Deus, torne-se mais vivo. Se você quiser saber o que é Deus, torne-se mais divino. Se você quiser saber o que é Deus, então não tente saber, tente sentir. Ele chega através da porta do coração.

Deus é um tal mistério, ou chame isso de vida, ou existência. A vida é um tal mistério que mesmo se você entrar no santuário mais interno dela, você não será capaz de acreditar. Ela é inacreditavelmente verdadeira. Ela é Incrível. (...)

Sim, a vida é um mistério, e nada há para se explicar, porque tudo está simplesmente aberto, ela está exatamente diante de você. Enfrente-a! Encontre-a! Seja corajoso! Esse é o ponto de vista do Zen. (...)"

OSHO - A Sudden Clash of Thunder

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2 comentários:

Tom disse...

Como eu amo esta criança, este velho rabugento e mal educado, sem papas na língua e de uma juventude vigorosa, apaixonada, estonteante.

Quando ele não mede palavras é como uma criança completamente inocente que diz a verdade, quando é um velho conta estórias e lendas de outrora ou cita-nos a história da filosofia, da ciência e da religião; quando é rabugento contraria em cheio o público que o ouve e é o jovem quando conta piada e faze-nos rir.

Ele parece flutuar no tempo e no espaço sem necessidade de sair do lugar, como ele permanece presente até hoje junto de nós...

Um homem de consciência desaparece de nossos olhos e permanece presente em nossos corações e mentes e é justamente quando a sua vida torna-se ainda mais vivificante, mais vibrante.

Como uma onda segue vindo e voltando do mar e soprando a leve brisa de seus frescor.

O que falar deste texto?

Bem... É isto!

Templo disse...

Uma das melhores definições sobre o Osho que eu já li!