"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, setembro 28, 2009

Uma história com Ramana

Um sadhu (monge mendicante) surgiu inesperadamente à porta da casa de Hariwansh Lal Poonja em Lyalpur, distrito do Punjab - Norte da Índia.

Hariwansh buscava, ardentemente, em todas as oportunidades que lhe surgissem, conhecer pessoalmente Deus. Então, aproveitou o ensejo, pela enésima vez, para colocar, a questão diante daquele homem que deveria manter uma relação estreita com o Divino:



Ramana Maharshi



Hariwansh: “Pode mostrar-me Deus, senão..., conhece alguém que o possa fazer?”

Sadhu: “Sim, eu conheço uma pessoa que lhe pode mostrar Deus. Se o visitar, tudo ficará bem consigo. O seu nome é Ramana Maharshi.”

E o sadhu dera-lhe também a indicação que essa pessoa vivia num Ashram (Ramanasramam) situado no sopé da montanha sagrada de Arunachala-Shiva, nos arredores da cidade de Tiruvannamalai - Sul da Índia.

Mas quando finalmente chegou a esse local, descobriu, para sua surpresa e frustração, que Ramana Maharshi era o sadhu que lhe aparecera à porta de casa em Lyalpur. Sentindo-se enganado, esteve prestes a deixar o lugar, quando foi informado por um devoto residente que Ramana Maharshi jamais havia saído de Tiruvannamalai. Intrigado, decidiu ficar.

E na primeira ocasião em que se encontrou com Ramana Maharshi no Ashram, expôs-lhe o que o intrigava:

Hariwansh: “É o homem que me apareceu à porta da minha casa no Punjab?”

Ramana permaneceu em silêncio.

Hariwansh: “Já viu Deus, em caso afirmativo, pode permitir-me vê-Lo?”

Ramana: “Eu não posso mostrar-te Deus porque Deus não é um objeto que possa ser visto. Ele é o sujeito. Ele é aquele que vê. Não te preocupes com objetos que possam ser vistos. Descobre quem é aquele que vê. Apenas tu és Deus.”

Mas Hariwansh, embora não estando disposto a seguir tal conselho, mesmo assim, recebeu a Graça do Iluminado, numa experiência transformadora diante da sua presença; e relata assim:

Hariwansh: “As suas palavras não me impressionaram. Elas pareceram-me mais uma desculpa na longa lista daquelas que eu já havia ouvido de diversos swamis por todo o país. Prometera mostrar-me Deus (quando apareceu em minha casa no Punjab), mas agora tentava dizer-me que não só não me pode mostrar Deus, como ninguém poderá!

Tê-lo-ia abandonado imediatamente e às suas palavras sem pensar duas vezes, se não fosse a experiência que tive de seguida, após me dizer para descobrir quem era o “eu” que queria ver Deus.

Ao concluir as suas palavras, olhou-me, e à medida que olhava profundamente nos meus olhos, todo o meu corpo começou a tremer e a sacudir-se. Um eletrizante disparo de energia nervosa atravessou-o. Sentia como se as minhas terminações nervosas estivessem dançando; e os meus pêlos permaneceram em pé. Tornei-me consciente do Coração espiritual dentro de mim. Este não é o coração físico. É, isto sim, a fonte e apoio de tudo o que existe. Dentro do coração, vi ou senti algo como um botão de flor fechado. Era brilhante e azulado.

Com o Maharshi a olhar-me e eu num estado de silêncio interior, senti esse botão a abrir-se e a florescer. Uso a palavra “botão”, mas essa não é uma descrição exata. Seria mais correcto dizer como algo que parecia um botão que abriu e floresceu no meu Coração. E quando digo “coração”, não quero dizer que a florescência estava localizada num sítio particular do corpo. Este Coração, este Coração do meu Coração, não estava dentro do corpo ou fora dele.

Não consigo dar uma melhor descrição exata do que aconteceu. Tudo o que posso dizer é que na presença do Maharshi, e sob o seu olhar, o Coração abriu e floresceu.

Foi uma experiência extraordinária que nunca tinha vivido antes. Não tinha ido procurar nenhum tipo de experiência, assim aquilo surpreendeu-me totalmente quando aconteceu.”

Hariwansh decidiu, apesar dessa experiência, que os ensinamentos de Ramana não eram para si. Foi então para o outro lado da montanha de Arunachala e continuou as suas meditações em Krishna que lhe aparecia inúmeras vezes.

A dada altura, mais uma vez, resolveu ir à presença do Sábio para o questionar sobre o significado de ter visões constantes de Krishna. Mas, novamente, Ramana pareceu subestimar a importância dessas visões, comentando:

Ramana: “Qual é a utilidade de um Deus que aparece e desaparece? Se Ele é um Deus real, deve estar contigo permanentemente.”

Entretanto, Hariwansh passou a viver em Madras, uma cidade bastante afastada do Ashram de Ramana.

Algum tempo depois, intensificando a sua prática de repetir o nome de Krishna, foi surpreendido pela visão de Ram, Sita e Lakshman, durante toda uma noite.

A partir dessa experiência, sentiu-se incapaz de continuar a sua disciplina. Perplexo com esse novo desenvolvimento, retornou ao Ashram de Ramana para indagar sobre o seu predicado ao Maharshi. Este escutou-o e comparou a sua prática com o comboio que o trouxera até ali:

Ramana: “O comboio (de Madras à Tiruvannamalai) trouxe-te até ao destino. Desceste dele porque não mais precisavas do veículo. Trouxe-te ao local que querias chegar... Foi isso que ocorreu com a tua prática de repetição. O teu japa (repetição do nome de Deus), as tuas leituras, a tua meditação, trouxeram-te ao teu destino espiritual. Não precisas mais deles. Não os abandonaste: eles deixaram-te por convenção de si mesmos porque alcançaram o seu propósito. Tu chegaste.”

Hariwansh: “Então ele olhou-me atentamente. Eu conseguia sentir todo o meu corpo e mente sendo lavados por ondas de pureza. Estavam a ser purificados pelo seu olhar silencioso. Sentia-o fazendo diretamente para o meu Coração.

Sob o efeito daquele olhar encantador, senti cada átomo do meu corpo sendo purificado. Era como se um novo corpo estivesse a ser criado para mim. Um processo de transformação estava a ocorrer: o velho corpo estava a morrer, átomo a átomo, e um novo corpo estava sendo criado no seu lugar.

Então, repentinamente, Eu entendi. Compreendi que este homem com quem havia falado era, na realidade, aquilo que Eu já era, aquilo que sempre fui. Ocorreu um súbito impacto de reconhecimento, à medida que Me tornei consciente do Ser.

Uso a palavra “reconhecimento” propositadamente, uma vez que eu sabia, assim que essa experiência me foi revelada, sem dúvida alguma, que este era o mesmo estado de paz e felicidade, no qual tinha ficado imerso, quando era uma criança de seis anos de idade em Lahore, numa ocasião em que recusei aceitar um sumo de manga.

O olhar silencioso do Maharshi restabeleceu em mim esse estado original. O desejo de buscar um Deus externo extinguiu-se no conhecimento direto e experiência do Ser que o Maharshi me relevou. (...) Eu sabia que a minha busca espiritual havia terminado. (...)”




(Extraído do texto traduzido a partir da Introdução do livro “The Fire of Freedom – Satsang with Papaji I”)

sexta-feira, setembro 25, 2009

O mestre é necessário?

Osho,

Você é a única pessoa iluminada neste ashram? Caso seja, é impossível iluminar-se ou ficar iluminado perto de uma pessoa iluminada?





"Desde que me tornei iluminado, nunca mais encontrei alguém que não fosse iluminado. Você só vê aquilo que é. Antes de me iluminar, acontecia o mesmo comigo - o mundo todo me parecia adormecido, na escuridão, na morte, não iluminado, porque você está sempre se refletindo em todo lugar. Todas as pessoas são apenas espelhos; você vê a si mesmo. Portanto, não se preocupe com os outros; pense em si mesmo. Este deve ser o seu problema.

Os outros não são problemas seu. Se são iluminados ou não, o que lhe interessa? Por que você teria que se preocupar? Se alguém quer permanecer não iluminado, é absolutamente da conta dele decidir sobre isso. Se quiserem brincar com o jogo de não serem iluminados, está perfeitamente bem. Se você estiver cansado do mundo, cansado de sua angústia e ansiedade, e compreender que agora é hora de acordar, então não há dificuldade. Ninguém pode impedí-lo. A decisão de jogar como um ser não iluminado ou jogar como um ser iluminado é somente sua. É só uma questão de decisão interior.

Num único momento, num golpe, você pode se tornar iluminado. Não é um processo gradual, pois a iluminação não é algo que você tenha de inventar. É algo a ser descoberto. Já está aí. Não é uma coisa que você tenha de manufaturar. Se tivesse de manufaturar, é claro que levaria tempo; mas já está aí. Feche os olhos e sinta. Fique em silêncio e prove o sabor. A sua própria natureza é o que chamo de iluminação. Iluminação não é algo alheio, algo que está fora de você. Não está em nenhum outro lugar do tempo e do espaço. É você, é o seu próprio centro.

Eu estava hospedado na casa de Mulla Nasrudin. Uma manhã, quando tomávamos chá, a mulher de Mulla lhe disse, 'Mula você me xingou terrivelmente esta noite enquanto dormia'. Mulla Nasrudin riu e disse: 'Quem estava dormindo?'

Você não está dormindo. Tudo o que você está fazendo é o que escolheu fazer; a escolha é sua. E insisto em que a escolha é sua, pois sendo sua pode ser abandonada imediatamente, no momento em que você estiver pronto para escolher outra coisa. Você escolheu que a sua vida fosse dessa maneira - de angústia e de agonia.

Você certamente perguntará: 'Por que alguém escolheria uma vida de angústia, de agonia, de ansiedade , de dor e de sofrimento? Por que? Por que escolheria uma vida de sofrimento?' Existem razões, grandes razões, por trás disso: porque você só pode existir no sofrimento. No êxtase, você desaparece. Somente na dor você pode existir como entidade. Na graça você se perde, assim como uma gota se perde no oceano. Você teme perder-se a si mesmo; e por isso escolheu os caminhos da agonia. Eles criam o ego; quanto mais você sofre, mais sente que existe. Sofrer lhe dá uma definição. Faz com que você se sinta sólido; dá a sensação de que você está separado do todo. É por isso que você escolheu esse caminho. Ninguém escolhe a dor e o sofrimento diretamente. Indiretamente você escolhe ser egoísta. Por isso tem de escolher o sofrimento: sem sofrer você não pode ser egoísta. O ego não pode existir sem um mar de sofrimento ao seu redor. O ego é como uma ilha num mar de sofrimento.

Você está gostando do seu ego. Está fortalecendo-o constantemente, enfeitando-o, tornando-o mais valioso. Essa escolha é sua.

Quando puder ver que o ego está profundamente ligado ao sofrimento e que sem sofrer ele não pode existir, então, se você não quiser sofrer, terá de abandoná-lo, esquecer tudo sobre a linguagem do ego. A linguagem do ego é a linguagem da agonia. E então as coisas serão muito mais simples.


Ouvi contar:

Um garotinho, sentindo-se aflito no primeiro dia de escola, levantou a mão a fim de pedir permissão para ir ao banheiro. Voltou logo depois dizendo que não o havia encontrado. Despachado uma segunda vez, agora com uma direção explícita, ainda assim não conseguiu encontrá-lo. Na terceira vez, a professora pediu a um aluno mais velho que o acompanhasse. O sucesso coroou seus esforços. 'Finalmente encontramos', contou o mais velho à professora. 'Ele estava usando as calças de trás para a frente.'

Esta é a situação. Vocês são seres iluminados, só que as suas calças estão de trás para a frente. Você precisa de um rapaz mais velho para guiá-lo, só isso. É para isso que serve um Mestre.

Nada está faltando; nada pode estar faltando. Você nasceu iluminado. Depois escolheu uma vida de sofrimento e agonia. Você pode viver iluminado e pode morrer iluminado. Depende de você. É uma questão de pura escolha.

'Você é a única pessoa iluminada neste ashram?' Neste ashram você não encontrará nem uma planta que não seja iluminada.

'Caso seja, é impossível iluminar-se ou ficar iluminado perto de uma pessoa iluminada?' Não é uma questão de estar perto de uma pessoa iluminada. Se você não quiser escolher, poderá permanecer aqui para sempre e não escolherá nunca. Se escolher ser iluminado, poderá se iluminar em qualquer lugar.

Eu sou necessário, um Mestre é necessário, porque o seu desejo de se tornar iluminado não é tão forte, não é muito intenso. Você não sente a urgência, não tem sede suficiente para isso. Não é a sua prioridade. Talvez esteja em algum item de sua lista de compra - quase no final. Se sobrar algum dinheiro, se sobrar algum tempo e as lojas continuarem abertas, aí você verá. Mas não é prioritário. Primeiro vem o mundo e depois vem Deus. É claro que assim você nunca chegará a Deus, pois o mundo é vasto - uma coisa leva a outra e assim por diante. Deus tem de ser a sua prioridade. Eu sou necessário apenas para ajudá-lo a pôr Deus na sua lista como uma prioridade, só isso. Se você mesmo puder fazer isso, então poderá se iluminar em qualquer lugar.

Tornei-me iluminado sem nenhum Mestre, portanto pode não haver qualquer problema para você. Se pôde acontecer comigo, pode acontecer com você. O Mestre não é uma necessidade. Tornou-se uma necessidade porque você é letárgico, sem vontade de mover-se para o êxtase; isto porque você está ligado demais aos caminhos do sofrimento e da angústia.

Você se tornou tão agarrado à prisão, que não quer sair dela. Mesmo que as portas fiquem abertas, você não foge. Fica enganando a si mesmo sem olhar para a porta. Fica fingindo que a porta está fechada e os guardas estão lá. Mas você quer ficar na prisão; está preso demais. Investiu muito nessa prisão. Na verdade, você começou a ver a prisão como seu lar. O mundo exterior parece estranho e selvagem e você sente medo.

As pessoas têm medo da liberdade e temem conhecer a vida mais profundamente. As pessoas têm medo de amar, têm medo de ser. Viveram muito tempo na escuridão, agora temem a luz - com medo, elas não são capazes de abrir os olhos; com medo, elas estão ofuscadas, seus olhos quase destruídos; com medo, porque suas vidas na escuridão tornaram-se rotinas estabelecidas. É seguro. Por que arriscar? Por que ir para o desconhecido e inexplorado?

A escuridão tornou-se muito familiar; de outro modo, você poderia se tornar iluminado em qualquer lugar. É o seu tesouro. Você pode reclamá-lo a qualquer momento. É surpreendente que não o tenha reclamado até agora.

E lembre-se: ninguém pode iluminá-lo contra a sua vontade. Se você decidiu ficar como é, então não há possibilidade; Todos os Budas, todos os Cristos e todos os Krishnas juntos não poderão fazer nada - e você continuará o mesmo que é. De certa maneira é bom que seja assim. Se pudesse ser iluminado por outra pessoa, contra a sua vontade, então a iluminação não teria muito valor. Não poderia ser uma liberdade. Se você pudesse ser forçado a iluminar-se, então seria uma escravidão, um cativeiro, um novo cativeiro.

Não, a escolha é absolutamente sua! Escolha ou não escolha, mas, lembre-se sempre, a responsabilidade é sua.

Existem muitas pessoas que se rendem a um Mestre só para deixarem de se sentir responsáveis. É um tipo errado de rendição. Render-se significa: 'Estou pronto para cooperar', só isso. Não significa: 'Agora você é responsável, e se eu não me tornar iluminado você será responsável por isso'. Então, mesmo que haja rendição, nada acontecerá, porque em primeiro lugar a rendição aconteceu por razões erradas.

Quando você chega para ser iniciado por mim, todo o significado da iniciação é: você me diz, 'estou pronto', diz, 'não impedirei os seus esforços. A sua ajuda será bem-vinda. Se você bater à minha porta me encontrará pronto para recebê-lo. Estou pronto para hospedá-lo; cooperarei; meu sim é total'. Este é o significado do sannyas, é o que significa render-se. 'Não direi não; não resistirei, não lutarei com você'. Não é livrar-se da responsabilidade, mas simplesmente abandonar a resistência. Não abandonar a responsabilidade, mas só a resistência. E quando a resistência é abandonada, as coisas começam a acontecer por si mesmas. Eu sou apenas uma desculpa.

Um Mestre é exatamente o que os cientistas chamam de agente catalisador. Ele não 'trabalha'; a sua presença é suficiente. Ajuda simplesmente por estar presente. Na realidade, um Mestre não pode fazer nada por você, mas a sua presença... Você sente mais confiança. Confia em mim porque não pode confiar em si mesmo. Se pudesse confiar em si mesmo, não haveria necessidade. Se você se bastasse, não haveria necessidade. Se você não se basta, não sente confiança suficiente, não se sente capaz de escolher o certo, não sente que está se movendo na direção certa, então a rendição ajuda muito. Confiar em alguém que você sente que sabe, que você sente que o ama, não o prejudicará; alguém que você sente que tem mais do que você. Confie nele. Segure em suas mãos.

Tudo o que acontece, acontece sempre dentro de você - e acontece sem que o Mestre faça nada. A iluminação não é algo que possa ser 'feito' por alguém. Você apenas relaxa e confia, e ela começa a surgir em você. É esperar pelo momento em que você possa dizer sim. Se você disser sim ao todo, ótimo, não há necessidade de um Mestre.

Se você não puder dizer sim a todo o céu - pode parecer vasto demais - diga então a uma janela. O Mestre é uma janela; abre-se para o céu. Leva-o para o céu. O Mestre é só uma passagem. Passe pelo Mestre confiando, amando, rendendo-se, e as coisas começarão a acontecer.

OSHO - Êxtase: A Linguagem Esquecida - Cap. 10 - pergunta nº 1


quarta-feira, setembro 23, 2009

SEU ÚNICO "MESTRE"


Dárcio Dezolt



“Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo”, disse Jesus.

A associação de “Cristo” somente com Jesus faz com que muitos pensem, até hoje, que esta citação considera Jesus como o único “mestre” de todos. Mas, a palavra “Cristo”, na Bíblia, quer dizer “Vida”, não o conceito humano de vida, mas a Vida-Essência, o Absoluto vivendo como todos nós. Nesse sentido, disse Paulo: "Quando CRISTO, que é a NOSSA VIDA, se manifestar, então também vos manifestareis com ele em glória” (Colossenses 3; 4).

O “NOSSO ÚNICO MESTRE” é o Cristo, a nossa própria Vida-Essência Se expressando livremente, aqui e agora! Sem que coloquemos “outros mestres”, “outros ensinamentos”, “outras crenças”, no caminho de suas espontâneas revelações! O Cristo é o nosso Mestre Absoluto! Nossa eterna identidade perfeita! A “Mente perfeita” consciente unicamente da Luz Onipresente!

Os “mestres do mundo” falam em seres encarnados ou reencarnados! Perdem-se em explicações de inexistências! E muitos “seguidores” acabam sendo tapeados por supostos “conhecedores da Verdade”, que, por um ou outro motivo, puderam conquistar total confiança da parte deles, a ponto de serem aceitos, em suas palavras, como que plenamente capacitados a emitir parecer final a respeito de tudo que dizem ou que pregam.

Não importa que um “instrutor espiritual” seja renomado, líder de movimentos, fundador de religião, criador de doutrinas ou denominações: ELE NÃO É O SEU MESTRE! Este é o alerta dado por Jesus! Podemos e até devemos conhecer os variados ensinamentos, seus pontos de vista, seus enfoques da Verdade, etc. Tudo é muito natural e válido! Entretanto, nada é palavra final e nada capacita qualquer “mensageiro”, bem ou mal intencionado, a se intitular “mestre”.

“UM SÓ É O VOSSO MESTRE, QUE É O CRISTO”. Por isso, a “Prática do Silêncio” é o real “estudo da Verdade”. Nesses períodos, abra-se EXCLUSIVAMENTE à VOZ DO MESTRE, que é o Cristo de seu próprio ser! Sem idéias pré-concebidas, sem aceitação de “verdades vindas de homens”: unicamente aberto e receptivo á VOZ DO MESTRE, dedique-se à “escuta interna”. Assim fazendo, além de discernir o que é Verdade diretamente, você estará “anulando” a ilusória mente humana, com suas crenças em vida material e em supostos “mestres” deste mundo.

domingo, setembro 20, 2009

"O Pai em Mim"

Dárcio Dezolt



Não há processo gradativo de Iluminação espiritual. A percepção individual de nossa Consciência divina é o reconhecimento (imediato) de nossa Identidade única como sendo o Cristo, o “Pai em MIM”. A mesma natureza crística que vive em Jesus, em Paulo, em cada um de NÓS, é a Consciência iluminada totalmente manifesta, aqui e agora. O Cristo vive em NÓS como a “glória do Senhor”, que é “nascida sobre NÓS”. A intenção de se classificar, por exemplo, o grau de cristicidade evidenciado como Jesus, Paulo ou outros, não passa de atitude ilusória de se dividir o que é indivisível. Deus é a Consciência infinita única, indivisível, que Se evidencia aqui e agora COMO a “sua” Consciência individual, como o Cristo, o que lhe possibilita chamá-Lo de “o Pai em MIM”.

DEUS É TUDO! As pessoas do mundo parecem crer que Deus seja “quase tudo”, pois aceitam a existência também de certa mente humana, passível de “receber a Iluminação espiritual”. Apesar de inexistir tal mentalidade humana, vem sendo aceito que “ela” acabará por adquirir, paulatinamente, a compreensão plena da Verdade, através de leituras, palestras, meditações ou contemplações, até “alcançar” o pleno reconhecimento de que Deus é TUDO e não “quase tudo”. Por causa dessa crença falsa, a Consciência divina aparenta estar limitada em sua expressão, impossibilitada de SER ou de AGIR como a totalidade de SUA CONSCIÊNCIA, aqui e agora. Além disso, fica a impressão de que você é dependente de “compreensão humana” para poder vivenciá-La exatamente neste instante. QUANTO ABSURDO! Quanta ênfase à ilusão! Não existe “mente humana”; assim, não pode haver compreensão da Verdade por algo que inexiste!. DEUS É TUDO! E, esta totalidade abrange e constitui o “seu” Ser de modo pleno, completo e harmônico.

“O Pai em MIM” é o Reino de Deus DENTRO DE VOCÊ, em Sua Totalidade Infinita. Isto não quer dizer que exista “outro mundo” fora de seu ser! O Reino de Deus é o Universo espiritual, e este é o ÚNICO MUNDO QUE EXISTE REALMENTE! Se o Reino infinito está DENTRO DE VOCÊ, esta infinitude exclui, por sua natureza, todo conceito ilusório de “fora de você”. Em termos práticos, isto significa erradicar o dualismo! Assumir, a partir do Absoluto, que A MENTE DIVINA é a “mente inexistente”; que a MENTE DIVINA é a “mente carnal”; que o TUDO é o “nada”; que DEUS é o “ego humano”; que o CORPO DE LUZ é o “corpo humano”; e que “o PAI EM MIM “é a totalidade daquilo que EU PERCEBO. Que ocorre nessa percepção? A anulação da visão humana pelo reconhecimento pleno da sua Visão Simples ou iluminada, que apenas vê Deus, perfeição, totalidade! Com esta Visão simples, há somente a PERCEPÇÃO do “Pai em Mim”.

O discernimento espiritual jamais modifica algo deste Universo: apenas o revela a nós tal como realmente é. O mundo pode enxergar um “ego humano imperfeito”, mas nossa Consciência (o Pai em Mim) de imediato ali reconhece o Cristo, plenamente consciente e iluminado. Se a mente humana existisse, tentaria induzi-lo a crer que VOCÊ, com a leitura deste texto, está adquirindo compreensão espiritual e a Iluminação. Não creia nisso! Não existe mente alguma para lhe sugerir algo desse tipo. DEUS JÁ É A SUA ÚNICA MENTE, A QUAL JÁ ESTÁ RESPLANDECENTE E ILUMINADA! A SUA MENTE É A IMACULABILIDADE EM SI, “e não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no Livro da Vida do Cordeiro”. (Apoc. 21:27).

A aceitação incondicional de que a Mente Divina é a “mente inexistente” (ou mente carnal), é um expediente iluminado para “não resistirmos ao maligno”. Se reconhecêssemos a mente humana como real, DEUS, A MENTE REAL ÚNICA, pareceria não estar totalmente manifesta, o que não é verdade. DEUS É A TOTALIDADE MANIFESTA! AQUI E AGORA! Se, porventura, pareceu ter havido algo chocante, devido à referida declaração, este “choque” não terá se dado na Mente Divina! Ocorreu, apenas, que a “inexistente” mente humana quis se mostrar estando chocada, ou alarmada, justamente para continuar lhe dando a impressão de ser ela existente. Não se prenda às alegações ilusórias de que a Mente Divina deva Se manifestar para “dissipar” a chamada mente ilusória. Faça a “superposição aparente”, isto é, reconheça, partindo da Visão absoluta, que a Mente divina é a “mente carnal”, e pare de lutar com algo que jamais existiu!

Deus sempre foi, é e sempre será a nossa Mente ÚNICA! Alem disso, a Mente divina jamais será envolvida na “superposição aparente”, pois JAMAIS HOUVE, POR PARTE DA MENTE DIVINA, QUALQUER IDÉIA REFERENTE À EXISTÊNCIA DE MENTE HUMANA.

“O PAI EM MIM” é a Totalidade de Deus aparecendo como a “sua” Consciência crística. Essa Totalidade, que já lhe está dada, inclui a Percepção do Universo, tal como ELE REALMENTE É, e inclui a totalidade de “sua” Iluminação espiritual, AQUI E AGORA! E assim vivencia-se a frase endossada por Cristo: “SOIS DEUSES!”.


“Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois não lhe dá Deus o Espírito por medida. O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos.”
(João 4: 34,35).

sexta-feira, setembro 18, 2009

“EIS AQUI E AGORA O DIA DA SALVAÇÃO”


Unidade
- Núcleo -


Diz um ditado: "O tempo cura todas as feridas". Não há dúvida que com o passar do tempo, nossas mágoas, frustrações, acontecimentos infelizes, tendem a desvanecer-se.

No entanto, faço uma objeção a esse brocardo popular: por que preciso esperar certo tempo, após uma experiência desagradável, para, de novo, usufruir minha paz, alegria, motivação e positiva atitude em relação ao futuro? Sou mesmo obrigado a sofrer um período de desânimo e tristeza, por causa de um desentendimento com alguém? Ou porque um empreendimento não deu certo? Não! Se todos estamos sujeitos a experiências frustradoras, isso não quer dizer que sejamos obrigados a sempre reagir negativamente a elas. Só quando aceito o teor negativo de uma experiência é que me magoo e levo certo tempo para recuperar o estado natural.

Não sou obrigado a reagir negativamente! Tenho outra alternativa. Aceito que o Divino, em mim, (Eu) tem o poder de curar todas as feridas e restaurar todos os desentendimentos, ao revelar-me que a parte humana (eu) reage por causa de suas falhas. Ele (Eu) me dá compreensão das causas, em mim, para eu extrair proveito da experiência e evitá-las no futuro. Esse tratamento interno (percepção de quem Sou) é muito rápido, consciente e iluminador.

No Espírito (Em Mim, no Eu) não tenho que esperar que a tempestade humana se acalme, para de novo nascer o sol; nEle (no Eu, ou, em Mim) me restauro, aqui e agora mesmo. Ele (Eu) não deseja ver-me (a mim, personagem) mergulhado dias, semanas, meses, em sombras e amarguras.

Obrigado, meu Deus (minha real identidade, o Eu do Ser que Sou), por me fazeres saber (por me tornar consciente de) que não sou meus pensamentos, sentimentos e hábitos (de que esse eu é apenas a máscara, o títere, o personagem). Tudo isso é provisório (essa visão do eu, a percepção do personagem). Meu verdadeiro Ser, que és Tu (o Ser Real, o Eu, a minha identidade real), transita, incólume, através de todas as experiências.



Comentário:

Divinos personagens,

Se observarmos com atenção veremos que esse texto expressa a distinção entre perceber algo mentalmente (perceber com a mente do personagem, da identidade humana, o "eu") e perceber algo consciencialmente (perceber com a Consciência do Ser, da identidade divina, o "Eu").

Notemos que quando reagimos a algo que percebemos estamos acionando a "percepção mental", pois quem reage é o "eu", a mente do personagem. Da mesma forma, quando interpretamos algo, estamos o fazendo mentalmente, pois quem interpreta também é o "eu", a mente humana. Mas somos o Ser! Nossa real identidade é o "Eu", aquilo que "É" e sempre "É". Esse "Eu" de nossa real identidade É o que É. Quando Moisés subiu a montanha, ele recebeu os "dez mandamentos"; esse "subir a montanha" significa elevar-se ao mais alto nível de percepção, o da Consciência do Ser, que realmente somos. Nesse alto nível de percepção Moisés teve a revelação do Ser: Eu Sou o que Sou.

Enquanto personagens do Ser, estamos imersos no mundo dos nomes e formas, das circunstâncias sempre mutáveis e então oscilamos conforme muda o cenário, como os títeres (bonecos/marionetes) se movem com os movimentos da mão daquele que os movimenta.

Até que estejamos conscientes de Quem Somos, nosso "animador" é o mundo. Seremos títeres do mundo reagindo mentalmente aos acontecimentos e imagens que nossa mente percebe. A mente do personagem percebe, interpreta e reage.

O "dia da salvação" ocorre no instante em que nos livramos das reações mentais e percebemos que "apenas Deus, o Ser que É aquilo que É, e sempre É, é real". O mundo ao qual a mente do personagem interpreta e reage é sempre mutável, ou seja, não é o que é - ele "está sendo", está sempre mudando. Há aqui ainda uma sutileza realmente importante e digna de toda a atenção: Quando percebemos a realidade consciencialmente, do "alto da montanha", despertamos para o fato de que o mundo que a mente percebe não é o mundo real. A mente humana não está de fato percebendo aquilo que É, mas, ela percebe apenas aquilo que parece ser! Não é real. O universo divino e real é perfeito, mas a mente percebe apenas a imagem que é capaz de "conceber"; Ela "vê" de forma distorcida Aquilo que realmente É, ou seja, não vê - ela imagina, distorce, se ilude. Assim, o universo percebido pela mente é ilusório. Não que ele seja ilusório em Si mesmo, mas significa que aquilo que a mente do personagem vê, a imagem que ela capta, a interpretação que ela dá, e as reações que ela tem, fazem do personagem um títere do cenário que vê, que interpreta e ao qual reage.

O texto evidencia que podemos nos colocar acima da percepção mental, que podemos "perceber" as experiências pelas quais passamos de outra forma, não com a mente do personagem, mas com a Consciência do Ser, que JÁ somos, somos AGORA. É esta percepção (a da Consciência do Ser que somos, do "Eu") que revela a verdade expressa no texto: "EIS AQUI E AGORA O DIA SALVAÇÃO".

No texto há comentários escritos entre parênteses. A percepção da identidade enquanto personagem foi colocada como (eu ou mim); a percepção da identidade como o Ser real que somos foi colocada como (Eu ou Mim).

Nós não somos "títeres do mundo", ou ao menos não precisamos estar sendo. Basta nos elevarmos acima da percepção mental, das reações e interpretações que a mente dá ao que vê. Como Moisés, nós podemos "subir a montanha" e nos elevar aos mais altos níveis de percepção. Nada há que nos "prenda ao solo" a não ser o ato de estarmos vinculados "julgando" cada acontecimento, como sendo bom ou ruim, certo ou errado. Esses pensamentos nos vinculam ao mundo que está sendo "percebido" pela mente. Essa interpretação mental do mundo é o que nos faz ter a sensação/a idéia/a impressão de nos sentirmos pessoas, "personas", "títeres", personagens felizes ou infelizes. Ao contrário dos julgamentos, que nos vinculam ao mundo, há percepções que agem como balões de gás leve, que nos alçam direto ao céu! A contemplação das pequenas e grandes maravilhas de Deus é uma delas. Quando contemplamos a vida como sendo "atividade de Deus" algo (a percepção da Consciência do Ser) nos revela aquilo que a mente humana não percebe: o universo é a manifestação da Consciência, e que o universo "percebido" pela mente é concepção do homem!

O universo real é perfeito, porém a "imagem" do universo "percebida pela mente" é apenas aquilo que ela (a mente humana) consegue conceber.

Cuidado com o universo que está aparecendo a sua frente, na forma de sua vida, pois você a está concebendo mentalmente!

Não faça julgamentos sobre os acontecimentos, permita que Deus te revele o real. Deus se revela no homem como Consciência, eleve-se à ela, transcenda a mente.

Desfrute a bem-aventurança. Deus te fez assim. Não pense o contrário. Perceba!

Saudações a todos.




terça-feira, setembro 15, 2009

VENDO DO PONTO DE VISTA DE DEUS

Marie S. Watts



O homem, como aparenta ser, é limitado em praticamente todos os aspectos de sua existência. Embora cada identidade seja eterna, a ilusão chamada “vida humana” aparenta ter começo e fim. Esta experiência humana, completamente ilusória, é limitada porque é suposto (por todos - crença coletiva) existir uma limitada quantidade de “tempo” em que o homem pode permanecer vivo. Em nosso interior, sabemos que este limitado conceito de vida é incorreto, e nem é necessário, razão pela qual nos rebelamos contra ele.

Tentamos prolongar a vida, e tentamos escapar ou dominar este falso conceito de limitação em todos os aspectos de nossa experiência. Sempre, neste limitado cenário ilusório, estamos procurando nos livrar de alguma falaciosa ideia de limitação. Vejamos, a partir de agora, o que deve ser feito para que nos libertemos de todas estas limitações ou crenças equivocadas.

Devemos percorrer o caminho todo, em nossa “visão”. Isto significa que temos de discernir toda a Existência a partir do PONTO DE VISTA DE DEUS, em vez de fazermos isso partindo do fictício ponto de vista limitado do “homem nascido”. Devemos ver tudo a partir do ponto de vista da Inteireza impessoal viva, perfeita, eterna, indivisível, que é Deus - o Universo.

Quando percebermos toda a Existência do ponto de vista divino, e não do limitado ponto de vista do "homem supostamente nascido", perceberemos do ponto de vista da Perfeição eterna, ininterrupta e constante. Perceberemos também esta Perfeição Divina como sendo TUDO O QUE SEMPRE ESTÁ PRESENTE. Todo falso sentido de dualidade é transcendido nesta ilimitada percepção. Nunca estaremos conscientes de algo ou de alguém separado do UM infinito que nós somos. Tampouco estaremos conscientes de "Deus e homem", "Mente e ideia", "Causa e efeito", "Luz e treva", "Inteligência e ignorância", "Amor e ódio". Não poderá haver percepção de opostos, pois, não haverá nada para se opor nem para estar se opondo. Não lutaremos para “atingir” ou nos tornar algo além do Deus-EU-SOU, que somos. Tampouco iremos pretender sobrepujar algo que não somos, e que jamais poderíamos ser. Perceberemos inteiramente do ponto de vista do Amor consciente, inteligente, vivo, perfeito e eterno; e,
não seremos movidos por qualquer aparência de limitação, imperfeição, ou alguma outra.

Alguém poderia perguntar: “E quanto aos quadros ilusórios que constantemente se apresentam à minha Consciência?” Quando isso ocorrer, faça esta indagação: “É ASSIM QUE DEUS VÊ A EXISTÊNCIA?” Por ser Tudo, é impossível que Deus esteja consciente de algo além do que Ele próprio esteja sendo. Se Deus pudesse estar consciente de imperfeição, Deus teria que ser esta imperfeição. E isto é impossível. Como Deus nada sabe de imperfeição, carência, medo, etc., e como Deus é a ÚNICA Consciência, não existe nenhuma consciência de qualquer aspecto do mal ilusório. Desse modo, o Eu que EU SOU não pode estar consciente de nenhum dos ilusórios aspectos da nulidade chamada mal, sob qualquer disfarce.
Em outras palavras, se Deus o desconhece, é ele desconhecido.

A Bíblia estabelece: “Conservarás em perfeita paz aquele cuja mente está estabelecida em ti; porque confia em ti” (Isaías 26:3). Ver constantemente a partir do ponto de vista de Deus significa "conservar a Mente estabelecida em Deus". Significa perceber a partir do ponto de vista “EU SOU”, e jamais do ponto de vista do “eu serei”, ou “eu irei me tornar”. Significa conhecer o que nós somos, e constantemente ser o que conhecemos. Oh, amado, podemos viver normal, amorosa e livremente cumprindo o nosso objetivo, exatamente aqui e agora! Tudo isto é possível ocorrer em nossa percepção se pudermos conscientizar o fato de que "SOMENTE PORQUE DEUS É, NÓS PODEMOS SER"; somente o que Deus é, nós podemos ser. Neste reconhecimento, prosseguimos com nossa tarefas diárias, livre e jubilosamente. Somente o que Deus experiencia, nós podemos experienciar, e somente o que Deus conhece, nós podemos conhecer. Isto é realmente perceber a Totalidade, a Unicidade que Deus é. E isto é estabelecer a Totalidade, a Unicidade que é o EU SOU que VOCÊ É.

domingo, setembro 13, 2009

A Nova Jerusalém


Joel S. Goldsmith



As primeiras coisas passaram" adiante e "todas as coisas se tornaram novas... e embora eu fosse cego, agora eu vejo", e não "através de um espelho em enigma", mas "face a face". Sim, mesmo em meu corpo de carne, eu vi Deus. As montanhas se afastaram, e já não há horizonte pois a luz do céu torna claras todas as coisas.

Por longo tempo te procurei, oh Jerusalém, mas só agora meus pés de peregrino tocaram o chão do paraíso. Não há mais lugares desertos. Diante de mim estão terras férteis, como jamais eu sonhei. Oh! Na verdade "lá nunca haverá noite". Sua glória brilha como o sol do meio-dia, e lá não precisa de luz, pois o próprio Deus é a luz.

Sento para descansar. À sombra das árvores eu descanso, e encontro a minha paz em Ti. Na Tua graça está a paz, ó Senhor! Eu andava exausto pelo mundo — em Ti encontrei o repouso.

Eu estava perdido na densa floresta das palavras; na letra da verdade havia cansaço e medo, e só no Teu Espírito há sombra, água e repouso.

Quão longe estive vagando do Teu Espírito, ó Terno e Real, quão longe, quão longe! Como estive profundamente perdido no emaranhado de palavras, palavras, palavras! Mas agora voltei, e em Teu Espírito encontrarei minha vida, minha paz, meu vigor. Teu Espírito é o pão da vida, e encontrando-o, nunca mais terei fome. Teu Espírito é uma nascente de água, e dela bebendo, nunca mais terei sede.

Como um viajante cansado procurei por Ti, e agora meu cansaço se foi. Teu Espírito montou uma tenda para mim, e em sua fresca sombra me deixo ficar; a paz enche minha Alma. Tua presença me encheu de paz. Teu amor colocou diante de mim um banquete de Espírito. Sim, Teu Espírito é meu repouso, um oásis no deserto das palavras da verdade.

Em Ti quero me refugiar do ruído do mundo dos argumentos; em Tua consciência encontrar sossego da língua maligna dos homens. Eles repartem a Tua vestimenta, ó Senhor da Paz, eles se engalfinham por Tua Palavra — sim, até que se tornem apenas palavras, e não mais a Palavra.

Como mendigo busquei o novo céu e a nova terra, e Tu me fizestes herdeiro de tudo.

Como poderia eu estar diante de Ti, senão em silêncio? Como poderia eu Te honrar, senão na meditação do meu coração?

Graças e elogios não Te aprazem, mas recebes um coração compreensivo.

Quero ficar em silêncio diante de Ti. Minha Alma, meu Espírito e meu silêncio serão a Tua morada. Teu Espírito preenche minha meditação, me edifica e me preserva por inteiro. Ó Tu, Terno e Verdadeiro, meu lar está em Ti.



quinta-feira, setembro 10, 2009

O novo Horizonte


Joel S. Goldsmith



O sentido que nos apresenta quadros de discórdia, desarmonia, doenças ou morte é o sono hipnótico universal que gera todo o sonho da existência humana. Temos de entender que não há mais realidade numa existência humana harmoniosa do que em condições desarmônicas. Devemos entender que todo o cenário humano não passa de sugestão hipnótica, e nós temos de nos colocar acima dos desejos, mesmo de boas condições humanas. Compreendamos por completo que a sugestão, a crença ou a hipnose são a substância ou o tecido de todo o universo mortal e que as condições humanas, quer boas quer más, são quadros de sonho, sem qualquer realidade ou permanência. Estejamos prontos a aceitar que as condições, harmoniosas ou não, da existência mortal desapareçam de nossa vida, para que a Realidade possa ser conhecida, usufruída e vivida.

Acima desta vida dos sentidos, há o Universo do Espírito governado pelo Amor, povoado pelos filhos de Deus que vivem na casa ou no templo da Verdade. Este mundo é real e permanente; sua substância é a eterna Consciência. Nele não se percebe desarmonia nem bens efêmeros e materiais.

O primeiro lampejo da Realidade — do Reino da Alma — nos chega com a percepção e o reconhecimento do fato de que todas as condições e experiências temporais são produto de auto-hipnose (a matéria é o nada, e não existe!). Com a conscientização de que todo o cenário humano — quer seja o bem, quer seja o mal — é ilusório, temos a primeira visão do mundo da criação de Deus e dos filhos de Deus que habitam o reino espiritual.

Agora, neste momento de elevação de consciência, conseguimos ver, embora difusamente, a nós mesmos livres das leis mortais, materiais, humanas e legais. Vêmo-nos separados e afastados da escravidão dos sentidos, e vislumbramos em parte as ilimitadas fronteiras da Vida eterna e da infinita Consciência. Os grilhões da existência finita começam a cair; os rótulos começam a desaparecer.

Nosso pensamento não mais se delonga na felicidade ou na prosperidade humanas, nem resta qualquer preocupação quanto à saúde ou à moradia. A maior e mais ampla visão está agora em foco. A liberdade do ser divino tornou-se agora visível.

A experiência, no início, é como se observássemos o mundo desaparecer no horizonte e desvanecer diante de nós. Não há apego para com este mundo, não há desejo de nele nos manter — provavelmente devido em grande parte ao fato de que tal experiência não ocorre até que tenha sido superado o desejo pelas "coisas deste mundo". Há um sentimento do tipo "Não me toques; eu ainda não 'subi para meu pai' — estou ainda entre dois mundos; não me toques nem me faça falar sobre isso, pois isso poderia me arrastar para trás. Deixe-me livre para a ascensão; quando então estiver completamente livre da hipnose e de suas miragens, eu contarei muitas coisas que os olhos nunca viram e os ouvidos nunca ouviram".

Uma ilusão universal ata-nos à terra, às condições temporais. Perceba, compreenda isso, pois apenas através dessa compreensão podemos começar a soltar de nós suas amarras. Quanto mais fascinados estivermos com as boas condições humanas e quanto maior for o nosso desejo das coisas boas da "carne", mais intensa é a ilusão. À medida que nosso pensamento se focaliza em Deus, nas coisas do Espírito, maior é a liberdade que obtemos das limitações. Não pensemos nem nas discórdias nem nas harmonias deste mundo. Não temamos o mal nem amemos o bem da existência humana. Na medida em que conseguimos isso, diminui a influência mesmérica sobre nossa vida. Começam a se desfazer os laços terrenos; as cadeias da limitação caem; as condições de erro cedem lugar à harmonia espiritual; a morte dá lugar à vida eterna.

A primeira visão do céu do aqui e agora é o começo de nossa ascensão. Esta ascensão é agora entendida como um subir para além das condições e experiências "deste mundo", e nós contemplamos as "muitas moradas" preparadas para nós na Consciência espiritual — na conscientização da Realidade.

Já não estamos presos à evidência dos sentidos físicos nem limitados ao suprimento visível; não estamos circunscritos a vínculos ou prisões; não estamos atados por laços visíveis de tempo e espaço. Nosso bem flui do reino invisível e infinito do Espírito, da Alma, para nossa imediata compreensão. Não julguemos nosso bem pela chamada evidência dos sentidos. A compreensão instantânea de tudo o que podemos usar para ter uma vida abundante, surge dos inesgotáveis recursos de nossa Alma. Nenhuma das coisas boas nos é negada quando olhamos acima das evidências físicas, para o grande Invisível. Olhe para o alto, para o alto! O reino dos céus está próximo!

Eu destruo em ti o sentido de limitação como uma evidência de Minha presença e de Minha influência sobre tua vida. Euo teu Euestou bem no meio de ti e revelo a harmonia e infinitude da existência espiritual. Euo teu Eu — nunca um sentido pessoal de eu — nunca uma pessoa, mas o teu Eu — estou sempre contigo. Ergue os olhos!



segunda-feira, setembro 07, 2009

Relatos da Seicho-no-Ie sobre a Verdade - (fim)


Masaharu Taniguchi



Sra. Ishikawa(apresentando um senhor de idade) Este é meu pai.

Dr. Ogi – Eu estudei um pouco os livros de budismo, mas há quatro anos estudo a Christian Science, e até fui especialmente a Tóquio conhecer um professor dessa filosofia e pedir-lhe explicações. Como a sra. Eddy esclarece muito bem a Verdade do budismo apesar de seguir a filosofia cristã, acreditei que só seria possível ela escrever tais coisas por inspiração divina, e sempre que eu tinha tempo, lia Science and Health (Ciência e Saúde) da sra. Eddy. Recentemente fui informado sobre a Seicho-no-Ie e li o livro sagrado Seimei no Jisso, mas fiquei surpreso ao lê-lo, pois, por mais que a pessoa tenha profundo domínio da arte literária, não é possível escrever um texto daqueles, o qual, elucidando a Verdade de ordem religiosa com tanta fluidez, cativa e arrasta os leitores até o fim, sem deixá-los entediados. Acreditei que tais obras não poderiam ter sido escritas pela força humana, e que só poderiam ser por inspiração divina, assim como o livro da sra. Eddy, e estou lendo-o com muito interesse. Graças a isso, ultimamente estou podendo sair e participar de reuniões como esta. Mas pelo jeito a ilusão é muito profunda, pois ainda permanece a paralisia na mão, as pernas estão enfraquecidas pela idade, e a vista ainda está fraca.

Taniguchi – O senhor está com quantos anos?

Dr. Ogi – Já completei setenta anos.

Taniguchi – Ao meu pai adotivo faltam ainda dois anos para ele completar setenta anos; no entanto, dez anos atrás ele não conseguia ler livros sem a ajuda de óculos. Mas ultimamente, devido à minha influência, começou a ler a Seicho-no-Ie e o Seimei no Jisso. Gosta de vir à minha casa e participar da mesa-redonda ou ficar lendo livros. Um dia, ele estava certo de que tinha trazido os óculos, mas quando quis ler um livro, abriu o estojo, estava vazio; os óculos, que eram o mais importante, não estavam ali. “Ah, e agora? Assim não dá para ler o livro, e vou morrer de tédio”. Pensando assim, ele abriu o folheto da Seicho-no-Ie, e percebeu que conseguia as letras miúdas e até mesmo os “furigana” que as acompanhavam, coisa que há dez anos não conseguia fazer sem a ajuda de óculos. O meu pai adotivo tem sessenta e oito anos e é dois anos mais novo do que o senhor; mas, seja como for, enquanto lia o Seimei no Jisso, melhorou da vista sensivelmente.

Dr. Ogi – Como o senhor vê, ainda ando carregando óculos. Eu também gostaria de ser como ele.

Sra. Ishikawa – Este é o meu filho que quebrou a omoplata, de quem lhe falei outro dia. Graças a Deus, já está indo à escola normalmente, mas diz que ainda sente um pouco de dor quando mexe o braço. Para dizer a verdade, eu escrevi ao Mestre, mas, como não recebi a resposta, tinha ficado um tanto decepcionada.

Taniguchi – Oh, queira desculpar-me. Devido ao fato de ter-me ausentado durante cerca de dez dias em janeiro (período em que aconteceu toda história contada no vol. 5 da coleção ‘A Verdade da Vida’), o serviço acumulou-se, e não tive outro recurso senão sentar-me e orar por todos, em vez de escrever respostas. E como está ele?

Sra. Ishikawa – Quando o trouxeram da escola para casa de automóvel ele estava muito abatido devido às dores da fratura e, mesmo depois que o carro parou, continuava sentado e não conseguia descer.

Dr. Ogi – Eu pensei em pegá-lo nos braços e descê-lo, mas nesse instante lembrei-me de que minhas pernas eram fracas e pensei que se eu o pegasse nos braços, eu poderia cambalear. No fim acabei não ajudando-o. Fiquei preso ao físico e não pude ver o Jisso. Se eu visse o Jisso ileso dele e o Jisso perfeito das minhas próprias pernas, e o descesse do carro, obedecendo ao fluir natural da Vida, creio que osso dele ficaria curado no mesmo instante, e minhas pernas também não iriam cambalear, mas eu ainda não tinha conseguido atingir tal estágio.

Sra Ishikawa – O meu filho, como não conseguia descer, ficou mais de duas horas sentado na poltrona do carro. Mesmo assim, eu não o ajudei a descer do carro. Daí a pouco ele me pediu que o descesse, pois sentia vontade de urinar. Então, eu lhe disse: “Ou você desce sozinho, ou, se não consegue descer, faça aí dentro, sentado mesmo”. Então, ele saiu arrastando-se do carro e foi ao banheiro. Não dava para saber direito se a omoplata estava deslocada ou se estava quebrada, mas eu tinha a seguinte fé: qualquer que seja o aspecto manifestado no mundo fenomênico, isso é falso e não existe originariamente; se eu procurar ver o Jisso que já é perfeito, esse Jisso perfeito se manifestará, e a fratura ou o deslocamento, seja o que for, desaparecerá. Por isso, além de pedir ao Mestre que fizesse a mentalização à distância, eu lia para ele o livro sagrado a seu pedido, e orava fervorosamente. Eu tinha a convicção de que seguramente ele se restabeleceria em precisar de médico, mas aí as pessoas à nossa volta e as da escola começaram a criticar-me por não levar ao médico um filho com ferimento tão grave. Nesses casos, devo levá-lo ao médico? Ou é melhor permanecer firme, não o levando ao médico?

Taniguchi – Não há proibição no sentido de que não se deve levar o doente ao médico. Abolir “proibições” e “obrigatoriedades” é justamente a função da Seicho-no-Ie. Se a senhora ficar contemplando o Jisso, como projeção deste começarão a ocorrer no mundo fenomênico as coisas convenientes na devida ordem. Mesmo que leve ao médico, se este tomar providências corretas, esse fato será “projeção do Jisso”. Mesmo que não leve ao médico, mas se a senhora tomar providências erradas, esse fato será a “projeção da ilusão”. Ainda que na forma o ato de levá-lo ou não ao médico seja igual, haverá efeitos contrários, dependendo do “pensamento” com que se pratica esse ato: o pensamento do Jisso ou o pensamento da ilusão.

Sra. Ishikawa – Entendi muito bem. Nessa ocasião, eu levei meu filho ao médico para fazer um exame radiográfico, apenas como consideração aos que nos rodeiam. Disseram-me que não chegava a ser fratura, mas que o osso estava trincado. Depois disso não mais o levei ao médico e fazia somente o Shinsokan e a leitura do livro sagrado. Então, no terceiro dia, ele já pôde ir à escola. Quando o meu filho mais velho teve pleurite e esteve internado no Hospital da Universidade de Tóquio, em estado grave, eu, resoluta, tirei-o de lá, aboli os medicamentos e ele se curou; mas esse caso fora uma afecção interna. Desta vez, pude viver a experiência de que também os ferimentos externos podem ser curados sem o tratamento médico, e estou muito agradecida.

Taniguchi – É uma história de fé bastante profunda.

Sra. Ishikawa – Os conhecidos me elogiaram pelo fato de eu manter inabalável tanta fé na ocasião do ferimento do meu próprio filho, mas eu disse rindo que quebrar os ossos era uma coisa a que ele estava costumado (risos).

Kimura – Ouvi muitos casos de cura de doenças, mas em se tratando de problemas econômicos, acho que não é muito fácil ter os bolsos vazios e vermos o Jisso acreditando que a riqueza infinita já está dada a nós. E mesmo que contemplemos o Jisso e vejamo-nos como possuidores da riqueza infinita, não é de uma hora para outra que virá dinheiro em quantia infinita em nossos bolsos.

Taniguchi – Não é correto pensar em riqueza infinita como sendo apenas aquela que está em nosso nome. Se nos referirmos somente à riqueza que está em nosso nome, mesmo o milionário será um possuidor de riqueza limitada e não de riqueza infinita. Além disso, se possuirmos milhões e milhões de dólares no bolso quando não é preciso, essa riqueza só nos pesará e nos tolherá a liberdade. A verdadeira riqueza infinita não nos tolhe a liberdade, que existe para desenvolver a liberdade infinita; é aquela que, por mais que se gaste, vem manando infinitamente de acordo com a necessidade, como a água do poço que, por mais que se tire, jamais se esgota.

Kimura – Isso me parece ser riqueza infinita ao nível da teoria, e não a verdadeira riqueza infinita.

Taniguchi – Ainda que alguém seja milionário, se sua riqueza consiste em uma quantia determinada, ela diminui à medida que ele gasta. Mas para quem possui a verdadeira riqueza infinita, ela não diminui, por mais que se gaste, e continua surgindo infinitamente. Na Seicho-no-Ie se diz que a matéria não existe, que ela é “sombra da mente”. Já que originariamente a matéria não existe e é sombra da mente, ela pode aparecer, conforme a mente, tanto infinitamente como escassamente. Isso é um fato incontestável vivenciado por nossos adeptos. Portanto, aqueles que acham que, despertando para a Verdade de que a matéria é originariamente inexistente, o mundo fenomênico será totalmente negado e destruído, são os que só teorizam, e não os que compreenderam realmente a Verdade; são aqueles que argumentam por argumentar, e que teimam em fechar os olhos para o fato de o quanto essa Verdade, ao contrário, vivifica o mundo fenomênico.

Okabayashi – Será que poderia explicar-nos mais detalhadamente a questão do Jisso e do fenômeno? Talvez não adiante muito compreendermos apenas ao nível do raciocínio, mas, como isso é uma coisa fundamental...

Taniguchi – (apontando uma xícara cilíndrica) – Suponhamos que esta xícara é o Jisso, uma coisa perfeita, sem defeitos. Esta xícara tem existência real e inegável. Acontece que os nossos órgãos sensoriais não captam diretamente a existência desta xícara. Nós a vemos através da “lente do pensamento”, a lente que aqui está torna-se ora côncava, ora convexa, ora regular, ora irregular. Porém, seja qual for o tipo da lente (em outras palavras, seja correto ou ilusório o nosso pensamento), o Jisso que está aí (apontando a xícara) permanece perfeito e NÃO está deformado. Mas o que se vê do lado de cá da lente pode parecer ora deformado, ora elíptico. A “xícara deformada” – ou seja, a “xícara fenomênica” – não existe originariamente. Existe somente a “xícara-Jisso” perfeita. Existe somente o Jisso. Se tirar a “xícara-Jisso” dali, a xícara fenomênica que se enxerga do lado de cá da lente também desaparecerá. Portanto, o fenômeno é sombra do Jisso e ele em si não é uma existência independente. Podemos dizer que ele é uma imagem projetada pelo mundo do Jisso, ou que é um pseudo-prolongamento dele. Mas como o fenômeno não é existência real, não pode constituir uma parte do mundo do Jisso. Se trocarmos a “lente do pensamento” com outra que tem diferentes graus de refração, parecerá que a “xícara fenomênica” está em vários lugares: Ora parece estar aqui, ora parece estar lá, ou ainda, parece existirem três ou quatro delas. Portanto, mesmo que pareça haver inúmeras “xícaras fenomênicas” ou que ela se mostre deformada, na verdade tais xícaras não existem; o que existe é unicamente a “xícara-Jisso”. Pois bem, quanto menor o grau de refração da “lente do pensamento”, a forma que enxergamos através dela (isto é, a “xícara fenomênica”) mais se aproximará da forma perfeita da própria “xícara-Jisso”, e quando finalmente a lente deixar de ter grau de refração, a "xícara fenomênica” será exatamente igual à “xícara-Jisso”. Esse é o momento em que é feita a vontade de Deus assim na terra como no céu; é o momento em que o mundo fenomênico se torna tão harmonioso como o mundo do Jisso; é o momento em que o homem fenomênico coincide exatamente com o homem-Jisso; o fenômeno se identifica com o Jisso e se realiza o paraíso terrestre.

Morita – Poderia explicar mais minuciosamente a questão de que “a matéria é o nada”?

Taniguchi – Bem... O senhor precisa compreendê-la através da sua própria experiência. As argumentações teóricas só servirão para deixá-lo confuso.

Morita – O “nada” é a mesma coisa que o inesgotável?

Taniguchi – Nem sempre o “nada” significa inesgotável. Sendo originariamente “nada”, ele pode aparecer, segundo o pensamento, ora como algo limitado, ora como algo inesgotável.

Morita – Quero ouvir a explicação do “nada” no sentido do “nada inesgotável”

Taniguchi – “Nada inesgotável” – este é o slogan da seita Ittoen. Ele fundamenta-se na experiência vivida pelo sr. Tenko Nishida, segundo o qual, se o homem estiver com a mente despertada para a Verdade, por mais que ele consuma a matéria, esta não diminui; pelo contrário, aumenta. Antigamente o sr. Tenko trabalhava como fiscal dos operários na mina de carvão em Hokkaido. Nessa época, aos olhos do sr. Tenko parecia que todos os seres viviam roubando uns aos outros. E ele pensou: “Não suporto mais continuar levando uma vida de roubos como esta. Já que não posso viver sem roubar, prefiro não viver”. E assim, ele voltou a Omi, sua terra natal, e ficou uns três dias sem comer nada, sentado no interior de um quiosque que havia no recinto do Templo Ubusuna. Então, no terceiro dia, ouviu o choro de um bebê. Como ele estava faminto, logo fez uma associação mental e deduziu que aquele bebê estava com fome. Nisso, o choro cessou. “Ah, aquele bebê deve estar mamando agora no colo da mãe”, imaginou novamente. E ficou a meditar: “O leite materno, que é o alimento do bebê, ele o está roubando da mãe? Não, não estaria. A mãe também ficaria com os seios intumescidos e sofreria, se o bebê não sugasse o leite. Com isso beneficia tanto a mãe como a si próprio. Então, o alimento correto do homem deve ser como o leite materno. Mas, se por acaso o bebê não chorasse, a mãe poderia não saber que ele está com fome e não lhe daria de mamar. Então, o fato de o bebê chorar não é mau. Pois então eu também ‘vou chorar’. Vou chorar para o céu e para a terra. Talvez o Pai do céu e da terra me dê ‘o leite que não diminui por mais que eu tome’”. Pensando assim, ele se levantou e começou a andar cambaleante pela rua. Não estou dizendo que ele chorou de verdade como bebê. Andava como se reclamasse chorando da sua fome ao céu e à terra, no pensamento. Nisso, viu que no meio da rua havia um punhado de arroz, que alguém acabara de derramar. Nesse momento, ele percebeu: “Este arroz, sim, é o leite que o céu e a terra me deram. Se eu recolher esse arroz, não estarei roubando-o de ninguém. Ao contrário, estarei limpando a rua e valorizando o trabalho do agricultor que o produziu. Se eu o deixar abandonado aqui e os transeuntes pisarem sobre ele, aí sim, não estarei beneficiando ninguém. É comendo esse arroz que eu beneficio a mim e também aos outros, e isso não é, em absoluto, ‘roubar alguém’”. Assim, ele estava recolhendo o punhado de arroz, quando uma senhora passou com um balde de água na mão. Ele pediu à senhora que o deixasse lavar o arroz; aproveitando a ocasião, pediu emprestado também o fogão, fez duas tigelas de papas de arroz e comeu. Ele tomou emprestados a água e o fogão. Mas, como não os roubou, precisava pagar por eles. Em sinal de agradecimento, varreu a área e fez a limpeza do banheiro. Quando agradeceu e ia embora, a referida senhora interpelou: “Escute, se o senhor não tem emprego fixo, será que poderia trabalhar em meu estabelecimento?” E assim ele passou a trabalhar para essa senhora. Como trabalhava por gratidão, sua atitude perante o trabalho era positiva. Por isso, os outros empregados da casa foram aos poucos sendo influenciados. No fim do mês, a senhora chamou-o a um aposento à parte e agradeceu-lhe profundamente, dizendo: “Para dizer a verdade, desde que meu marido morreu e eu fiquei sozinha para dirigir o grande número de empregados, estes começaram a relaxar e eu já estava achando que esta casa não subsistiria, que em breve iria à falência. Porém, graças ao senhor, que veio para cá, a atitude deles em relação ao trabalho começou a mudar. Agora a casa está salva da falência. Sinto que o espírito do meu falecido marido está orientando o senhor e protegendo esta casa”. Nesse momento, o sr. Tenko pensou: “Esta é a vida correta. Eu comi nesta casa sem diminuir nada que há nela; ao contrário, aumentei os bens dela e salvei-a da falência. Vida em que não se rouba, vida que não se escasseia por mais que se coma – para viver tal vida, é melhor levar uma vida destituída de posse, como esta que estou levando”. E assim começou a vida do “nada”, a “vida em que não se rouba”, da Ittoen.

Na Seicho-no-Ie, o “nada” quer dizer “o estado natural”, o estado em que não há o artifício do ego. Abandonando o “artifício”, a pessoa sintoniza com o Jisso de provisão infinita do céu e da terra, e a provisão infinita surge espontaneamente no mundo fenomênico. A idéia de que a realidade do mundo dos seres vivos é de roubo mútuo, é um ponto de vista do ego. Enquanto mantivermos a imagem de roubo mútuo na mente, ela não desaparecerá também no mundo fenomênico. Quando acreditamos que o céu e a terra são o exclusivo mundo de provisão infinita de Deus (porque somente Deus existe!) e reduzimos o ponto de vista do ego ao “nada” (pois este não é capaz de Deus), manifestar-se-á a provisão infinita também no mundo fenomênico.


(Do livro 'A Verdade da Vida', vol.05 -- págs. 195 à 206)


sexta-feira, setembro 04, 2009

Relatos da Seicho-no-Ie sobre a Verdade - 01


Masaharu Taniguchi



(...) Pois bem, a Seicho-no-Ie prega dessa maneira a essência de todas as doutrinas, mas o ensinamento principal dela é o de que “o homem é Filho de Deus”. Falando na linguagem budista, os homens são todos filhos de Buda e originariamente libertos de restrições e possuidores da capacidade infinita. Falando na linguagem xintoísta, os homens são todos filhos do Sol e herdam a capacidade infinita da Deusa Amaterasu que tudo ilumina. Por que esse ser originariamente livre das restrições e possuidor da capacidade infinita projeta no mundo fenomênico situações cheias de inconveniências e privações? A matéria não existe originariamente, e o mundo fenomênico também; é o homem quem faz surgir no mundo da forma, através de sua própria capacidade infinita, coisas exatamente iguais às que concebeu em sua mente.

Originariamente, o sofrimento não existe; mas, se a pessoa conceber a idéia do sofrimento, ela faz surgir no mundo fenomênico, através de sua capacidade infinita, um fato que representa exatamente essa “idéia do sofrimento”. Por isso, a Seicho-no-Ie diz que o mundo fenomênico não é existência verdadeira, sendo apenas corporificação da “idéia”. Algo que existe verdadeiramente é difícil de ser modificado (e esse é Deus); mas o mundo fenomênico, justamente por não ser existência verdadeira, podemos modificá-lo, através da nossa força infinita e de acordo com as nossas “idéias”, na forma em que desejarmos.

Como terminei de explanar de maneira sumária a Verdade pregada pela Seicho-no-Ie, agora vou pedir a alguém que relate a comprovação desta Verdade. Sr. Miwa, o senhor poderia expor seu testemunho para os presentes?

Miwa – Não sou muito bom para falar, mas vou relatar minha experiência à guisa de informação. Há mais ou menos um ano e meio, eu estava com depressão nervosa e, mesmo ao andar pela rua, tinha medo de cair e morrer por aí; vivia com a idéia obsessiva de morrer de taquicardia. Internei-me no Hospital Sansei, e depois no departamento de psiquiatria da Universidade de Tóquio, e me submeti a tratamento, mas não sarei. No departamento de psiquiatria, a vigilância era rigorosa e praticamente eu estive confinado como se fosse doente mental, levando uma vida incômoda. O meu peso foi diminuindo e os cabelos, que já eram grisalhos, foram embranquecendo a olhos vistos. Nisso, o sr. Zenkichi Oka, que é gerente da Companhia de Gás Kyoto, pedindo desculpas por não nos ter feito conhecer a Seicho-no-Ie até então, apesar de morar sozinho, mandou-me por sua esposa um folheto da Seicho-no-Ie chamado "A mente me faz viver" e recomendou-me que o lesse. Abri o folheto com a intenção de ler. Nessa época, enquanto eu estava internado no departamento de psiquiatria, freqüentava também o departamento de oftalmologia. Fazendo o exame de vista, constatou-se que eu tinha hipermetropia e astigmatismo. No começo eu lia o folheto com os óculos, já que sem eles não conseguia ver nitidamente sem as letras maiores dos títulos. Lendo-o, compreendi que até aquela época eu ficara amarrando a mim mesmo com minha própria mente, e fui gradativamente perdendo o medo. Como ouvi dizer que o Mestre Taniguchi viria em fevereiro à reunião dos adeptos de Kyoto, quis ouvir a sua palestra e pedi que fossem me buscar, e deixei o hospital, mas com a intenção de voltar a me internar. No entanto, andando pelas ruas, para surpresa minha, já não sentia medo como antes, e conseguia andar tranquilamente. Pensei comigo: já estou bem; é melhor eu ir fazer treinamento espiritual na Seicho-no-Ie do que ficar no hospital. E assim, estou atualmente em Sumiyoshi e vou todos os dias para a sede da Seicho-no-Ie.

A partir da época em que comecei a ler o folheto A mente me faz viver, em mais ou menos um mês aumentei uns quatro quilos. E depois que visitei pela primeira vez a sede da Seicho-no-Ie, em meio mês aumentei quase dois quilos e meio. Quanto à vista, ela estava tão fraca que eu não conseguia enxergar direito os títulos dos artigos sem a ajuda de óculos; no entanto, agora consigo enxergar nitidamente sem eles até os “furigana” que acompanham as letras pequenas. Voltando a Kyoto, acompanhando o Mestre nesta viagem, todos quantos me conheciam ficaram admirados, dizendo que meus cabelos estavam escurecendo. Ouvindo isso, percebi que os cabelos estavam gradativamente ficando pretos a partir da raiz, e estavam muito brilhantes apesar de não ter feito nenhum tratamento. O sr. Oka até acabou brincando comigo: “Não é justo que só você rejuvenesça, sem rejuvenescer a sua esposa”.

Okabayashi – Já faz mais de dez anos que conheço o Mestre. O Mestre está ainda mais jovem do que há dez anos atrás.

Taniguchi – Naquela época, eu lhe falei sobre a Ittoen, não? Que o pão de cada dia se consegue quando se prestam serviços ao próximo anulando o ego, ou coisa parecida... E o que o senhor faz agora?

Okabayashi – Faço limpeza de sanitários.

Taniguchi – É coisa parecida com mendicância religiosa da Ittoen?

Okabayashi – Não foi só baseado na Ittoen que tive essa idéia, mas também em outras coisas. Mestre, não quer me deixar fazer treinamento espiritual na “Academia para a Manifestação da Natureza Divina”?

TaniguchiTODOS OS LUGARES são “Academia para Manifestação da Natureza Divina”. Não é só em Sumiyoshi que existe tal academia.

Okabayashi – É, o senhor tem razão.

Isozaki – O sr. Miwa acabou de relatar sua experiência de cura da depressão nervosa e de ter rejuvenescido, e eu relato a minha: Eu antes tinha o estômago e o intestino fracos, e com um pouco de comida já ficava com estômago pesado e me sentia mal; mas desde que conheci a Verdade, eles ficaram totalmente saudáveis. Tudo isso devo à leitura do livro sagrado "Seimei no Jisso".

Kimura – Na palestra que fez há pouco, o senhor disse que “o mundo fenomênico não existe na realidade”, mas eu acho que é um argumento um tanto absurdo. Se desprezarmos a tal ponto o mundo fenomênico, o mundo ficará desordenado, ou poderá ser levado ao ascetismo radical.

Taniguchi – O senhor pensa teoricamente que, se a humanidade compreender que “o mundo fenomênico não existe”, o mundo vai ficar desordenado e que o homem vai se isolar do mundo; mas, pelo contrário, este mundo fica desordenado e os homens brigam e se odeiam mutuamente porque pensam que o mundo fenomênico existe e se apegam a ele. Quando se pensa/compreende/sabe que o mundo fenomênico não existe, a pessoa deixa de se apegar obstinadamente às coisas materiais e, inversamente ao que se pensa, não se isola; justamente porque deixa de se apegar e de se prender, a atividade harmoniosa inata à Vida começa a fluir livremente, e o mundo fenomênico passa a ser mais ordenado. Outro dia fui a Morioka, onde há uma adepta chamada sra. Tetsu Kudo. Ela sofria de câncer, mas enquanto ela pensava que o ser humano do mundo fenomênico era uma existência real e que não poderia viver sem se alimentar, vomitava toda vez que comia, e a comida não parava no estômago. Porém, em contato com a filosofia da Seicho-no-Ie, conheceu o homem-Jisso e, tendo esquecido do homem fenomênico que não vive sem comer, compreendeu a Verdade de que “o homem pode viver sem comer”. Essa senhora repetia a cada pessoa que encontrava: “Não há problema: eu posso viver sem comer”. Esse eu que pode “viver sem comer” é o homem-Jisso. Se o senhor seguir pelo seu argumento, poderá achar que essa sra. Kudo terá morrido de fome, por ter ignorado dessa maneira o ser fenomênico; mas, a partir do momento em que ela, ignorando o ser fenomênico, convenceu-se de que “o ser humano pode viver sem comer”, ao contrário, o ser fenomênico dela começou a melhorar e passou a poder comer normalmente a comida,que até então era devolvida e não entrava no estômago. Já faz três anos que ela se curou desse câncer, e está cada vez mais forte. Quando pensamos que o homem fenomênico existe, e tentamos curá-lo com os métodos do mundo fenomênico, muitas vezes não dá certo. No caso da bebida alcoólica e do fumo, por exemplo, são numerosos os casos de pessoas que, mesmo sabendo que beber ou fumar são vícios, ao tentarem abandoná-los, não conseguiram; mas assim que leram o livro sagrado Seimei no Jisso, praticaram o Shinsokan e, fechando os olhos para o “eu fenomênico”, procuraram ver unicamente o “eu-Jisso”, deixaram espontaneamente de gostar do fumo e de apreciar coisa desnatural como a bebida alcoólica. Com isso, podemos perceber que fechar os olhos para o nosso “eu fenomênico” e ver somente o “eu-Jisso”, não significa ignorar o mundo fenomênico e anarquizá-lo; mas, ao contrário, é restabelecer-lhe a ordem. Mesmo lendo a revista Seicho-no-Ie, aqueles que não conseguem ainda compreender perfeitamente que o mundo fenomênico é sombra e que originariamente não existe, têm na sua vida cotidiana algo desarmonioso, isto é, não conseguem ler sem ajuda de óculos ou deixar de fumar ou tomar bebidas alcoólicas, que são coisas contrárias à Natureza.

Kimura – Pelo que observei, o senhor só menciona casos de cura de doença ou de vício. A meu ver, o fato de o senhor alegrar-se pela cura de doenças ou coisas parecidas mostra que ainda está preso ao fenômeno.

Taniguchi – Se relato casos verídicos de cura de doenças e vícios, não é porque estou preso ao fenômeno. O senhor parece estar argumentando por argumentar e contestando por contestar. Se digo que "o fenômeno não existe originariamente" para que as pessoas não fiquem presas a ele, o senhor contesta dizendo que, se menosprezarmos o mundo fenomênico, o mundo da realidade perde o controle; e se eu cito o exemplo real de que, ao contrário, o fenômeno melhorou, o senhor contesta dizendo que estou preso ao fenômeno. Se eu citei o exemplo de melhora do fenômeno, não é porque estou preso ao fenômeno; foi para mostrar-lhe que, sendo o fenômeno projeção da mente, é passível de se modificar, de acordo com a mudança da própria mente.

Kimura – Por mais que uma pessoa comum se aprimore espiritualmente, parece-me muito difícil compreender que este mundo visível aos olhos carnais seja o “nada”.

Taniguchi – Na Seicho-no-Ie, apenas pelo poder da palavra falada ou escrita, só de ler o livro sagrado Seimei no Jisso, a pessoa consegue compreendê-lo.

Kimura – Bem, eu nunca li o Seimei no Jisso, mas será que isso é mesmo possível?

Taniguchi – Se o senhor ler a coluna “correspondência dos adeptos” que sai mensalmente na revista Seicho-no-Ie, creio que poderá perceber que o número de tais casos é deveras grande, e que a porcentagem das pessoas que foram iluminadas em relação ao número de adeptos é realmente grande.

continua...

(Do livro 'A Verdade da Vida', vol.5 -- págs 188 à 195)


terça-feira, setembro 01, 2009

Bhakti, o caminho da devoção




Já faz algum tempo que eu andava querendo publicar neste blog alguma coisa a respeito da filosofia Hare Krishna. Isso porque eu nunca falei nada a respeito desta grande filosofia hindu, a qual admiro bastante, muito embora não seja praticante e não tenha um profundo entendimento.

O texto apresentado anteriormente foi escrito voltado mais para quem possui intimidade ou familiaridade com os ensinamentos; nele, o autor dirige-se às pessoas que são mais afeiçoadas ao movimento - é um texto fechado -, então ele não explica muito, mas vai direto ao ponto. Para quem nunca ouviu falar ou não conhece muito a respeito, este texto pode ter ficado um tanto obscuro, portanto. Por isso, quero falar um pouco hoje sobre os caminhos do Yoga. E acredito que isso deixará mais claro o que está escrito no texto do post anterior.

O Yoga é uma ciência da auto-realização, é um ensinamento ou um caminho que permite ao homem unir-se, a realizar sua união com Deus, a "religar-se" ao Todo. A palavra Yoga significa "união" e a palavra religião significa "religar". Unir o que? Religar o que? Religar o homem a Deus! O homem vive num mundo onde aparenta existir a dualidade, quando na verdade tudo é um. Existe somente uma imensa unidade - imensurável, infinita, sendo tudo quanto existe. Mas o homem está mergulhado num tremendo senso de separatividade; ele enxerga si mesmo e aos outros como seres distintos, individuais, isolados, desconectados uns dos outros, porque acredita somente naquilo que mostram os seus cinco sentidos. Deus está além da mente humana, além da mente individual, por isso, o homem que quiser conhecer a Verdade, o Supremo, ou Deus, precisa transcender a mente humana. Deus é encontrado e percebido quando vemos através da Mente Divina, a Mente Universal, que está presente em todos, porquanto une tudo e todos. O Yoga é um caminho que possibilita ao homem sair das ilusões da mente humana (de maya) e ter um reencontro com Deus.

O Yoga é uma ciência antiga, milenar - surgiu na Índia há milhares de anos, e ao longo do tempo foram aprendidas diversas técnicas/maneiras/métodos de fazer o homem atingir a transcendência. O Yoga dividiu-se em três caminhos: o Yoga da ação (Karma Yoga), o Yoga do conhecimento ou da sabedoria (Jnana Yoga) e o Yoga da devoção (Bhakti Yoga). Esses são os três métodos de meditação. Através deles, o homem consegue atingir o estado de liberação, de liberdade, a iluminação. Cada um desses métodos surgiu através de diferentes mestres, que, ao lerem e praticarem o Bhagavat Gita, atingiram a iluminação espiritual à sua própria maneira, e passaram adiante ensinamentos com base em suas compreensões. Tilak, Shankara, Ramanuja - esses homens conseguiram entender a fundo os ensinamentos de Krishna e conseguiram autorrealizar-se, cada um deles à sua maneira. Tilak atingiu o nirvana através da ação (Karma). Neste caminho, algo tem de ser feito para alcançar Deus, através dele um esforço é exigido/necessário. Shankara estudou a escrituras e atingiu através da compreensão; ele nada precisou "fazer" em termos de ação, mas meramente alcançou pelo entendimento, pelo esforço consciencial; essa é a via do conhecimento ou sabedoria (Jnana). E Ramanuja conseguiu apreender a Verdade através do caminho da devoção, o caminho do amor (Bhakti). Esse caminho é o mais simples, o mais direto, o mais íntimo. Nele, nada é necessário ser feito - você só precisa se entregar e confiar.

Esses fatos foram possíveis de acontecer porque, lendo o Bhagavat Gita, percebemos Krishna ensinando a Verdade valendo-se destes três métodos: ação, sabedoria e devoção. E é por isso que o Yoga possui tantos métodos, tantos caminhos, tantas vertentes.

O autor do texto publicado no post anterior é um mestre hare krishna. Pertence à linhagem do Bhakti, da devoção. Todos os três caminhos são eficientes, mas o Bhakti é o caminho mais delicado de todos os três. É um caminho onde o devoto vive um amor que aceita, que não exige, não questiona, mas que é leve, puro e incondicional. No caminho do amor, você simplesmente confia. As coisas acontecem quando é preciso que elas aconteçam. Se elas não estão acontecendo, elas não são necessárias. Isso é entrega. Existe uma história para ilustrar a pureza e a grandeza dessa entrega.

Conta-se que um homem santo costumava rezar diariamente a Deus pela manhã e pela noite, e sempre agradecia a Deus depois de realizar a sua oração: "Você é tão grandioso, tão lindo, você sempre cuida de mim, você sempre supre todas as minhas necessidades; tudo o que eu preciso, você me dá". Esse homem santo possuía discípulos que não entendiam como seu mestre era capaz de orar sempre dessa maneira, com tanta devoção e fé, porque sabiam que as coisas não andavam nada bem. E o velho homem sempre continuava rezando. Um dia, em meio às suas grandes dificuldades, tiveram que passar fome durante três dias, e ninguém os ajudava, não lhes davam comida nem abrigo. Um discípulo não pôde mais se conter e disse: "Durante três dias estivemos com fome, sedentos, nenhum abrigo, e você está agradecendo a Deus novamente? Por que?". O velho homem riu e disse: "sim, porque durante esses três dias, essa era a nossa necessidade. Estar sedento, ter fome, ser recusado e rejeitado, essa era a nossa necessidade - porque tudo o que nos acontece é nossa necessidade".

Isso é ter confiança. Esse é o caminho do amor. Não conhece reclamação, não espera nada. Você não pode frustrar um devoto, não há possibilidade. Até mesmo se você o matar, ele morrerá agradecendo a Deus: "Você é tão grandioso, tão lindo, você sempre supre as minhas necessidades. Se minha morte ocorreu era porque a morte era a minha necessidade". A confiança dele é absoluta. A história utilizada como ilustração é um exemplo extremo que foi usado para que se possa entender como é o amor que o devoto possui por Deus. A confiança dele é imensa! E quando um devoto atinge tal nível de confiança, muitas graças começam a acontecer, muitas bênçãos, e até mesmo a iluminação pode ser alcançada através desse método.

Quando o homem atinge tamanho grau de entrega, ele nada mais faz. Então ele é como um botão de rosa - da mesma maneira que um botão de rosa se abre ao sol, o devoto se abre a Deus. De fato, dizer que o devoto se abre a Deus não é verdade - a entrega é tanta que ele simplesmente permite que Deus o abra, ele não impede, isso é tudo. Na abertura, a iluminação! O botão não se abre, o botão simplesmente se permite ser aberto. O devoto permite que Deus o abra, ele é como um girassol: aonde quer que Deus se mova, ele o acompanha. Ele está sempre olhando para o sol, sempre pronto para ser movido, transformado. Não tem idéia de como as coisas deveriam ser. Esse é o sentido do que Jesus disse, ao ensinar na oração: "Deixe vir o teu reino. Seja feita a tua vontade".

No caminho da ação e no caminho do conhecimento, você luta para dissolver o ego. O bhakta, o devoto, não luta para dissolver o ego, e também não luta para se fazer merecedor de Deus. Se ele lutar para fazer-se digno de Deus... quem é este que luta e que quer/deseja ser merecedor de Deus? Ele, o ego! O verdadeiro devoto esquece tudo a respeito disso, porque ele segue o caminho espiritual através da aceitação, da confiança e da entrega. Assim, ele diz: "O que posso fazer? Merecedor ou não-merecedor, como sou, aqui estou. Estou disponível. Se você, ó Deus, sentir que chegou o momento, derrame-se em mim, eu esperarei com as portas abertas. Merecedor, não merecedor - sobre isso é o Senhor que tem de pensar. Seja qual for o seu pensamento, será o pensamento certo e eu aceitarei. Bom ou ruim, isso não me diz respeito. Pecador ou santo, não sei nada sobre isso. Isso é o que eu sou. Aceite-me, rejeite-me - isso eu confio e deixo com você". O devoto simplesmente se rende. Esse caminho livra o homem das armadilhas mais sutis do ego, porque querer ser piedoso, merecedor, humilde, virtuoso - essa também é uma forma de ego: um ego sutil, esperto, habilidoso, ladino, escorregadio. Mesmo esse ego precisa ser colocado de lado.

O Bhakti oferece ao homem a chave, o segredo dos segredos - a devoção, o amor. Ele pede que abandone sua dúvida, seu pensamento e sua mente, e dê um salto, um mergulho no Todo. Confie na vida. Essa chave abre as portas do céu. Muitos homens alcançarão Deus por esse caminho, porque ele é simples, fácil, e também o mais majestoso, o mais mágico, porque o homem não necessita fazer simplesmente nada. Se sua entrega e confiança for grande o bastante, Deus realiza em você a sua iluminação neste exato instante. Na realidade, nossa iluminação já está acontecendo exatamente agora, mas são a confiança e a entrega que nos permitem sentí-la, desfrutá-la.

Confiança. O verdadeiro devoto deixa essa única palavra se tornar sua Bíblia inteira, seu Alcorão, seu Veda, seu Gitá. Isso pode transformá-lo. É uma chave-mestra. Abre todas as portas.

Para finalizar este post, deixo as palavras de Yogananda, um dos maiores devotos que houve neste mundo até hoje. Sempre que Yogananda fala de devoção, ele o faz com tal poder, com tal autoridade, com tal pureza e com tal amor, a ponto de nos estremecer o ser da cabeça aos pés. Busquemos sentir com a alma a nobreza destas palavras:

"Primeiro você precisa ter uma idéia correta do que é Deus - um conceito definido, por meio do qual possa estabelecer uma relação com Ele - e, então, precisa meditar e orar até que essa concepção mental se transforme em realização. Então você O conhecerá. Se persistir, o Senhor virá. O Caçador de Corações quer apenas o seu amor sincero. Ele é como uma criança: alguém pode lhe oferecer toda a sua fortuna e Ele não a quer; mas outro grita: 'Senhor, eu Te amo!' e para o coração desse devoto Ele virá correndo.

Não procure Deus com segundas intenções, mas reze a Ele com devoção - devoção incondicional, exclusiva, imperturbável. Quando o seu amor a Ele for tão grande quanto o seu apego ao corpo mortal, Ele virá até você.

Na busca de Deus, a atividade tem o seu lugar, logo após a devoção. Há quem diga: 'Deus é poder; logo, vamos agir com poder.' Quando você for assíduo na prática do bem, com o Senhor sempre ocupando o primeiro plano em sua mente, você O perceberá desse modo. Porém, mesmo ao fazer o bem, pode-se agir correta ou incorretamente. Um sacerdote zeloso que traz para sua congregação um número crescente de pessoas, somente para satisfazer seu próprio ego, não agradará a Deus com essa conduta. Perceber a presença do Morador Divino deveria ser o desejo de todos os corações.

Quando de maneira persistente e inegoísta, você executar todas as suas ações com pensamentos inspirados pelo amor de Deus, Ele virá a você. Então, compreenderá que é o Oceano da Vida que se tornou a pequena onda da existência individual. Essa é a maneira de se conhecer o Senhor pela atividade. Quando, em cada ato, você pensar nEle antes, durante e depois da ação, Ele se revelará a você. Você tem de trabalhar, mas deixe que Deus trabalhe por seu intermédio; essa é a melhor parte da devoção. Se pensar constantemente que Ele está caminhando por meio de seus pés, trabalhando por meio de suas mãos, realizando as coisas por meio da sua vontade, você O conhecerá. É preciso também desenvolver o discernimento, dando preferência a atividades espiritualmente construtivas, com a consciência em Deus, em vez de trabalhos executados sem pensar nEle.

Trabalhe, coma, caminhe, cante, ria, chore, medite - só para Ele. É a melhor maneira de se viver. Se assim proceder, você será verdadeiramente feliz - servindo-O, amando-O, comungando com Ele. Talvez você pense que, após duas horas de meditação, eu estaria morto de tédio. Não, eu não poderia achar neste mundo nada que fosse mais inebriante do que esse meu Deus. Quando bebo desse vinho envelhecido de minha alma, um céu de felicidade pulsa em meu coração. A alegria divina se encontra em todos. A luz do sol brilha igualmente sobre o carvão e o diamente, mas é o diamante que reflete a luz. Da mesma forma, são as mentes transparentes (limpas, inocentes, puras) que refletem o Espírito. Estou lhe indicando um mundo mais belo do que qualquer coisa aqui. Estou falando de uma felicidade que o embriagará noite e dia. Essas verdades profundas não se destinam a inspirá-lo por um breve momento, mas devem ser assimiladas e postas em prática para seu maior proveito. (...)"
(Paramahansa Yogananda)




O que mais há para se dizer? Qualquer semelhança entre o Yoga e os ensinamentos de Jesus Cristo não são meras coincidências. Os ensinamentos cristãos também seguem o caminho do Bhakti, porque pedem a nós que tenhamos um profundo amor para com Deus. Devemos amá-lO em primeiro lugar. Devemos buscar primeiro o Reino de Deus e Sua justiça e, assim, as demais coisas nos serão dadas de acréscimo. Devemos amar ao próximo como a nós mesmos. Cristo disse: "Se vós fizerdes o bem a um destes pequeninos (e isso vale para todos, indistintamente, pois eles são o nosso próximo), em verdade o estareis fazendo a mim". Quem é este "mim"? Este "mim" é o Deus que vive no âmago de cada ser existente. O mesmo Deus que habita dentro de ti habita também dentro do teu próximo. É o mesmo Deus, a mesma Vida. Quando amamos ao nosso próximo, amamos a Deus diretamente, essa é uma outra maneira de prestarmos a nossa devoção a Deus. Essa maneira também faz parte do caminho do Bhakti. A Verdade é universal! O homem que é um verdadeiro iogue é também um praticante cristão. E o que é um verdadeiro cristão é também um iogue. Porque há apenas uma única Verdade; existe apenas um Deus.

Om Shanti!