"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, outubro 20, 2010

"Julgar o próximo"






Pergunta: Osho, como deixar de julgar o próximo?









Osho: Não há necessidade de parar de julgar o próximo ou abandonar o julgamento; você deve compreender por que você julga e como você julga. Você pode julgar apenas o comportamento ou a ação do outro, porque apenas o comportamento ou a ação estão ao seu alcance. Você é incapaz de julgar a pessoa porque a pessoa está se escondendo atrás - está escondida -, você nunca vê a pessoa, ela é sempre um mistério para você. Você pode julgar a ação mas não pode julgar o ser.

E a ação é irrelevante. Não será correto você julgar uma pessoa por meio de um ato dela. Algumas vezes pode acontecer de um homem estar sorrindo. A ação está lá na superfície mas interioriormente ele poderá estar de fato triste. Ele não quer deixar transparecer sua tristeza para ninguém - por que expôr as feridas ou os machucados de alguém para todo mundo? Por que? Isso parece tão embaraçoso. Pode ser que ele está sorrindo só porque lá no fundo ele esteja chorando.

Nietzsche disse, "Sigo sorrindo. A pessoas pensam que sou alguém de muita alegria mas isto está absolutamente errado. Eu prossigo sorrindo porque tenho medo que, se eu não rir, de repente posso começar a chorar. Assim, necessito direcionar minha energia para algum outro lugar, ou então ela se converterá em lágrimas. Antes que ela se torne lágrimas, eu a converto em risadas".

O insight é a pura verdade. Nietzsche é um dos homens mais perspicazes que já nasceram na terra. Lágrimas e sorrisos são muito próximos. Nas aldeias da Índia, as mulheres costumam dizer aos seus filhos: "Não ria muito, senão você vai começar a chorar." E é o que acontece. Se uma criança rir muito, ela começa a chorar. Lágrimas e sorrisos são muito próximos. Se você quiser esconder suas lágrimas a melhor maneira é sorrir - é por isso que as pessoas estão sorrindo.

Só por ver um rosto sorridente você não deve julgar o que deve estar se passando dentro. O interior não está disponível para você. O interior é deconhecido, não está disponível para qualquer um. Então a primeira coisa a entender é que você pode olhar apenas o comportamento, e o comportamento não significa muito. Tudo o que significa realmente é a pessoa que está por detrás. E você não sabe - você nunca pode saber. Suas decisões serão erradas, e você sabe disso - porque quando as pessoas o julgam por seus atos, você sempre sente que elas julgaram erroneamente.

Você não julga a si mesmo por seus atos, você se julga pelo seu Ser. Assim as pessoas sentem que todos os julgamentos são injustos. Você sente que os julgamentos são injustos porque para você o seu ser está disponível - e ser é um fenômeno tão grande, enquanto que o ato é um fenômeno tão pequeno. Ele não define nada. Pode ser apenas uma coisa momentânea.

Você disse alguma coisa para alguém e ele ficou bravo... mas não o julgue por sua raiva, pois pode ser que ela tenha tido apenas um acesso momentâneo. Ele pode ser uma pessoa muito amorosa. Se julgá-lo pelo ato de ter ficado bravo, você avaliou mal. Então o seu comportamento dependerá da sua própria avaliação - você vai sempre esperar que o homem fique bravo e, com base nisso, pensará sempre que ele é um homem bravo. E você vai evitá-lo. Você perdeu uma oportunidade.

Nunca julgue alguém por suas ações - e as ações são a única coisa que está disponível para você. Então, o que fazer? Não julgue. Aos poucos, torne-se cada vez mais consciente da privacidade do ser. Cada ser, em sua alma, é tão particular que não há maneira nenhuma de acessá-la. Mesmo quando você ama, algo no âmago mais profundo permanece privado, reservado, secreto. Essa é a dignidade do homem. Esse é o significado quando se diz que o homem tem uma alma. "Alma" significa aquilo que nunca poderá se tornar público.

Algo permanecerá sempre profundo, perdido em algum mistério.

Eu ouvi... Dois homens foram chamados numa casa e foi-lhes pedido para jogarem certa quantidade de entulhos no caminhão de lixo. Depois de terem carregado o caminhão, a traseira do veículo ficou totalmente lotada. Um deles disse: "Você pode entrar em apuros com a polícia se nós dirigirmos pela cidade com todo esse lixo caindo pelas ruas."

O outro homem disse: "Não se preocupe, eu tenho uma ideia. Você dirige e eu vou deter o lixo com o meu corpo, enquanto o caminhão estiver em movimento. Isso vai impedir que o lixo seja derramado nas ruas." No caminho para o depósito, eles passaram debaixo de uma ponte. Enquanto passavam sob ela, dois homens que estavam em cima da ponte olharam para baixo e viram o homem deitado no lixo com os braços e as pernas abertas.

Um desses homens disse: "Olhe só para aquilo! Alguém jogou fora um homem perfeitamente sadio!"

Estando de fora, isso é tudo o que podemos enxergar e julgar. Pelo lado de fora é sempre errado. Se procurar prestar atenção nisso, olhando para isso sempre novamente e novamente, procurando compreender as coisas sempre de novo e de novo, você perceberá que não será preciso abandonar os julgamentos, eles param por conta própria. Apenas olhe, observe. Sempre que julga, você está cometendo algo estúpido. O que você julga não se aplica à pessoa, só pode ser aplicado ao ato. E esse ato sempre será visto fora do contexto, porque você não conhece toda a vida da pessoa.

É como quando você rasga a página de um livro de romance e a lê, e você julga toda a história do livro por isso. Não é certo, é fora de contexto. A novela toda pode ser totalmente diferente. Você pode ter apanhado uma parte negativa, uma parte feia. Mas você não conhece a vida de ninguém em sua totalidade. Um homem viveu durante quarenta anos antes de encontrá-lo e conhecê-lo. Aqueles quarenta anos de contexto estão lá. O homem vai viver mais quarenta anos quando você o tiver deixado.

Aqueles quarenta anos de contexto vão estar lá. E você viu o homem - apenas uma pequena amostra dele -, e você o julgou. Isso não está certo. Isso é simplesmente uma tolice. Seu julgamento não terá qualquer relevância em relação à pessoa em si. Seu julgamento vai mostrar algo mais sobre você do que sobre o homem. "Não julgueis, para que não sejais julgados", é o que diz Jesus.

O seu julgamento mostra algo sobre você, nada sobre a pessoa que você julgou - porque a história dela permanece indisponível para você. Todos os contextos estão fora de alcance, você estará se deparando com uma fração pequena e momentânea da situação - e sua interpretação será a sua interpretação. Ela vai mostrar algo sobre você. Compreendendo isso, o julgamento desaparece.

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