"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

domingo, janeiro 09, 2011

VOCÊ JÁ ESTÁ SALVO - 02 (FINAL)

Masaharu Taniguchi

Alguns budistas pregam que a Imagem verdadeira é vazia. Segundo eles, "o ser humano é vazio e Buda também o é, pois Buda é a Realidade absoluta, que é vazia; e, como o vazio (Buda) e o vazio (o homem) são da mesma natureza, o primeiro pode atuar sobre o segundo". Porém, se Buda e o homem fossem ambos "vazios", suas respectivas forças seriam igualmente nulas, e Buda não poderia exercer seu poder sobre o homem. Certas pessoas pensam que "Buda, que veio do princípio absoluto, que é vazio, ilumina e salva o homem, que veio igualmente do princípio absoluto, que é vazio, da mesma forma como a luz, que é uma das manifestações do elemento vazio chamado éter, ilumina os objetos materiais, que também são manifestações do éter". Porém, não é correta essa idéia de que um ser proveniente do "vazio" ilumina outro ser proveniente do mesmo "vazio", porque o "vazio" é efêmero e, assim como a luz que ilumina os objetos materiais vai se enfraquecendo com o desgaste de sua energia, Buda também, se fosse uma das formas de manifestação do "vazio" (efêmero), mudaria de aspecto com o passar do tempo e deixaria de ser Buda.

Se Buda fosse proveniente do "vazio", Ele seria um ser instável, mutável, e poderia se transformar em criatura mortal. Acreditando em um ser tão instável, é impossível ser salvo. Por isso a Seicho-No-Ie não diz que Buda veio do "vazio".

Quando o Budismo diz que "a Imagem Verdadeira é vazia", quer dizer que "a natureza verdadeira (Imagem Verdadeira) do fenômeno é vazia". Entretanto, a natureza verdadeira (Imagem Verdadeira) da existência verdadeira não é vazia. É louvável compreender que a Imagem Verdadeira (natureza verdadeira) do fenômeno é vazia, mas considerar vazia também a Imagem Verdadeira da existência verdadeira é um erro, e tal modo de ver constitui "visão interruptiva", que Sakyamuni reprovou. Mas muitos dos eruditos budistas pensam que a Imagem Verdadeira da existência verdadeira é "vazia", razão pela qual o budismo atual não possui força para influir na vida cotidiana, e os sacerdotes budistas se tornaram pessoas distantes da vida prática, orando apenas pelos mortos. Aos olhos desses eruditos budistas, o budismo pregado pela Seicho-No-Ie pode parecer estranho ou errado, mas, se possui força para mudar a vida prática, é porque apreendeu verdadeiramente a Verdade.

Certos estudiosos do budismo pregam que "Buda é a Imagem Verdadeira e a Imagem Verdadeira é vazia", mas, por outro lado, pregam que "Buda é a Imagem Verdadeira, um ser imutável e indestrutível". Se, por um lado, eles consideram que a Imagem Verdadeira e Buda são o "vazio" (algo efêmero e mutável), é uma contradição afirmar, por outro lado, que "Buda é imutável e indestrutível". Então eles dão a seguinte explicação: "Imagem Verdadeira ou Buda é o elemento que pode se tornar falsa existência, assim como os átomos que, sendo indestrutíveis e imutáveis, podem constituir a matéria que muda constantemente de aspecto. E a Imagem Verdadeira é como os átomos, que são onipresentes, indestrutíveis e imutáveis. Assim é a Imagem Verdadeira, assim é Buda".

Parece que são muitos os budistas que pensam dessa forma (pelo menos no meu círculo de conhecimento, pois não creio que todos os budistas pensem assim). Mas, se é nesse sentido que Buda é indetrutível, e se é que o homem se torna Buda quando se destrói o fenômeno, já que este é falsa existência, então "tornar-se Buda" seria retornar ao elemento vago e universal parecido com o átomo. Se é para isso, não são necessários nem a oração a Buda, nem budismo, nem religião alguma. Seguindo o raciocíno deles, o homem seria uma existência falsa (corpo carnal) mas constituído de "elementos, como átomos, indestrutíveis e imutáveis, porém que podem se tornar falsa existência". Ele seria ao mesmo tempo "corpo carnal" (falsa existência) e "corpo búdico" (semelhante a átomo). Segundo eles, o corpo carnal é falsa existência porque é destrutível, mas Buda (átomo) é Vida eterna porque é indetrutível. Se encararmos a "Vida eterna" dessa maneira, não sentiremos alegria alguma pelo fato de sermos Vida eterna; seria o mesmo que termos vida mortal. Todo mundo sabe que o corpo carnal retorna à terra quando morre e que, por enquanto, o homem vive manifestando-se fisicamente, assim como os átomos estão manifestados como matéria.

Mas tal explicação de "eternidade da Vida" não satisfaz o anseio do nosso íntimo, e é por isso que buscamos a religião. Tal filosofia, que vê o homem apenas como matéria, é materialista. Ela diz: "O homem, quando morre, retorna ao mundo de origem, tal como um copo de água despejada no oceano; esse mundo é de quietude; é o vazio. Isto é a Imagem Verdadeira". Este pensamento é do budismo do pequeno veículo (hinayana), ou melhor, do budismo materialista. Esse budismo, segundo o qual a finalidade da Vida é alcançar a quietude, caiu no niilismo e não possui força para dinamizar a vida. É por isso que a Seicho-No-Ie não diz que a Imagem Verdadeira é vazia. O que é verdadeiro é consistente. O vazio é sempre vazio, e o que é consistente é sempre consistente.

A Seicho-No-Ie não compartilha a idéia de que Buda veio da transformação do vazio. O que surgiu da transformação (inclusive aquilo que está manifestado como Buda) um dia se transformará e desaparecerá. A Seicho-No-Ie nega o "Buda que surgiu da transformação", dizendo categoricamente que o "Buda" da trindade "mente, Buda e criaturas", citado no Avatamska Sutra, não existe. A imitação de ouro muda de cor facilmente e logo se descobre que é falso. Também o "Buda que veio da transformação do vazio" transformar-se-á um dia e se revelará falso. "O ser que se transforma em criatura quando cai em ilusão e se torna Buda quando se ilumina" - esse Buda, que é produto de transformações, é tal qual uma imitação de ouro e não é o Buda verdadeiro. O Buda verdadeiro não se transforma, assim como o ouro verdadeiro; Ele é Buda desde o princípio. O homem não se torna Buda pela combinação de vários elementos tais comp doutrina e práticas religiosas, como se fosse uma liga de ouro formada pela combinação de diversos elementos. O homem traz a natureza búdica dentro de si; ele é precioso desde o princípio, tal como o ouro.

Na Sutra do Nirvana está escrito: "Todas as criaturas possuem natureza búdica". Entretanto, quando se diz que "possuímos natureza búdica", temos a sensação de que somos um recipiente que contém a natureza búdica e não sentimos que somos a própria natureza búdica. Por isso, a Seicho-No-Ie não diz que "todas as criaturas possuem natureza búdica"; ela diz: "Criaturas não existem; existe unicamente a natureza búdica, e esta constitui o nosso Eu verdadeiro".

A natureza búdica é que pronuncia oração a Buda; é ela que mentaliza "Eu sou Deus" ou "Eu sou Buda". É a natureza búdica (divina) que se torna Verbo e se manifesta como prática religiosa; esta é a manifestação do Jitsu (conteúdo) de Buda (Deus). O fato de orar a Buda (Deus) constitui prova de que o homem é Buda (Deus). A prática da Meditação Shinsokan é, em si, manifestação de Buda (Deus) desde o princípio. "A grande prática consiste em pronunciar o nome de Buda de luz infinita" (Kyo-gyo-shin-shô, de autoria de Shinran).

Realmente, "oração a Buda" não é um ato em que uma criatura mortal se dirige a Buda; é o ato em que Buda vive o Buda, em que a Imagem Verdadeira vive a Imagem Verdadeira. Logo, não há prática maior que esta. E, quando Buda vive o Buda, quando a Imagem Verdadeira vive a Imagem Verdadeira, desaparecem todas as formas de "falso eu", que não é existência verdadeira. E nesse momento, como o corpo carnal não é existência verdadeira, já estamos experienciando o "supremo nirvana", mesmo parecendo possuir ainda o corpo carnal.

Agora vamos ver o que é "oração a Buda". Shinran (fundador da seita Shin) disse: "A grande prática consiste em pronunciar o nome de Buda de luz infinita". E como é o nome dele? A pronúncia correta de seu nome completo, em sânscrito, consta que é Amithaba Amitayus Tathagata Arhat Samyaksambuddha. Se fosse indispensável pronunciar corretamente o nome de Buda de luz infinita para sermos salvos (para sermos Buda), então quase nenhum de nós o seria, pois no Japão o nome de Buda é Amida-Butsu. Não é necessário pronunciar tantas palavras, em sânscrito, para sermos Buda; basta que o sentido seja o mesmo. Então podemos pronunciar outros nomes além de Amida-Butsu. Podemos, por exemplo, dizer Amaterassu-oomikami, Deus Myo-hô, God ou simplesmente Imagem Verdadeira, e estaremos igualmente sendo Budas.

Aqui também vemos o ponto de identificação de todas as religiões. Se mentalizarmos a Imagem Verdadeira ao pronunciarmos qualquer um desses nomes no mesmo sentido em que se pronuncia o nome "Buda de luz infinita", nesse momento estará ocorrendo aqui, em nós, a "grande prática" da própria Imagem Verdadeira, pois existe unicamente a Imagem Verdadeira e porque quem mentaliza a Imagem Verdadeira é a própria Imagem Verdadeira. É a "grande prática" da força externa, ou melhor, a "grande prática" da força absoluta, que transcende tanto a força do ego como a força externa.

A Força Absoluta realiza, aqui, a grande prática. Quando digo "aqui", não estou me referindo a nenhum local geográfico. A Força Absoluta, sendo absoluta, não é relativa e não confronta com nada; logo, Ela vive a força absoluta dentro de Sua própria força absoluta. O espaço onde se desenrola o Verbo da Força Absoluta é projeção dEla mesma. Não existem palavras para exprimir a natureza sumamente bela e sublime da Força Absoluta, contudo uso as expressões "sabedoria infinita", "amor infinito", "Vida infinita" e "provisão infinita", resumindo nelas todos os atributos da Força Absoluta. É Ela que mentaliza Buda, isto é, verbaliza a Imagem Verdadeira ou realiza a grande prática através do Verbo. E o mundo que então surge como projeção desse Verbo é o Paraíso. Para quem perguntou onde é o Paraíso, a Sutra da Vida Imensurável diz: "Buda não vem de lugar algum nem vai para lugar algum; não nasce nem morre; não está no passado nem no presente nem no futuro. Entretanto, a fim de atender aos rogos das criaturas e salvá-las, Ele se encontra no Oeste, distante daqui trilhões de léguas, onde se localiza o mundo búdico, que se chama Paraíso. E Buda é Vida eterna. Ele Se tornou Buda há dez ciclos". (Sutra da Vida Imensurável, tradução de Hôken)

A frase "Não vem de lugar algum nem vai para lugar algum" quer dizer que Buda transcende o espaço. E o trecho "não nasce nem morre; não está no passado nem no presente nem no futuro" indica que Ele transcende o tempo. No entanto, ao mesmo tempo, o texto indica um lugar no espaço, dizendo "encontra-se no Oeste", e também se refere ao tempo quando diz "há dez ciclos" (no budismo, um ciclo corresponde a um tempo quase infinito).

Uns contestam a existência de tal Paraíso localizado no tempo e no espaço, e outros acham que esse Paraíso acabará se destruindo porque não é existência eterna, já que surgiu há apenas dez ciclos. Como interpretar esse trecho da sutra?

Se compreendermos que a verdadeira oração a Buda é a "grande prática" realizada pelo próprio Verbo da Imagem Verdadeira e que a vibração desse Verbo se manifesta como Paraíso no plano de tempo e espaço, compreenderemos também que Buda-Imagem-Verdadeira - o que não vem de lugar algum nem vai para lugar algum; não nasce nem morre - pode manifestar objetivamente o 'Paraíso do Oeste' por meio de Seu Verbo, surgindo então um mundo maravilhoso como aquele que Sakyamuni descreveu à Ananda: "No país da Vida eterna, todos os seus habitantes se vestem com elegância, têm o que comer e beber em abundância, são cercados de flores aromáticas e adornados com jóias preciosas; suas vozes são maviosas; suas moradas, de variados tamanhos, são como palacetes ou palácios; atraem poucos, muitos ou infinitos tesouros conforme desejam e mentalizam".

Esse "Paraíso do Oeste" é o mundo onde se projeta o Verbo de Buda e também o verbo das pessoas que vivem o Verbo de Buda (ou de Deus). Portanto, ele é "Paraíso do Oeste", mas, ao mesmo tempo, não o é. É o lugar "de onde não se vem e para onde não se vai", isto é, que transcende o espaço. Quando a nossa Imagem Verdadeira realiza a "Grande Prática" através do Verbo, nesse momento já somos Buda, e a vibração de nosso Verbo projeta-se ao nosso redor como Paraíso. Logo, podemos viver no Paraíso manifestado aqui, agora mesmo, "sem vir de lugar algum e sem ir a lugar algum". Compreendendo isto, não seremos mais iludidos pela idéia de que "só poderemos ser Budas e ir para o Paraíso após a morte carnal".

Na Seicho-No-Ie, quando as pessoas praticam a Meditação Shinsokan, seus lares se harmonizam, as coisas desejadas são atraídas naturalmente e surge um mundo igual ao paraíso descrito na referida sutra. Isso acontece porque, através da "Grande Prática" em que a Imagem Verdadeira mentaliza a Imagem Verdadeira, as vibrações de Seu Verbo manifestam-se em forma de situação paradisíaca neste mundo palpável. A mentalização da Imagem Verdadeira pela Imagem Verdadeira, é a Budificação, é a manifestação do sublime Paraíso no mundo palpável.


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 27"; pgs. 100 à 108)

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