"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, julho 24, 2012

Ilusão é nada! Só existe a Realidade!

Ranjit Maharaj


Pergunta: Quando considero minha verdadeira natureza e fico no "EU SOU", invade-me um sentimento de amor sem causa. Esse sentimento é correto ou ainda é uma ilusão?

Maharaj: É o êxtase do Ser. Você sente a presença do "EU SOU". Você se esquece de tudo, dos conceitos e da ilusão. É um estado não-condicional. Essa felicidade aparece quando você se esquece do objeto, mas na felicidade ainda há um pequeno toque do eu. Afinal, é ainda um conceito. Quando você se cansa do mundo externo, você quer ficar só, para estar consigo mesmo. É a vivência de um estado mais elevado, mas ainda faz parte da mente. O Ser não sente prazer nem desprazer, sem o eu, sem o "EU SOU". O completo esquecimento da ilusão significa que nada é, nada existe. Ela ainda está aí, mas para você ela não tem realidade. É a isso que se chama de Constatação (Realização), ou Auto-Conhecimento. É a constatação do Ser sem o eu.

Se alguém o chama, você diz "Estou aqui", mas antes de dizer "Estou aqui", você estava. A ilusão não pode colar mais alguma coisa na Realidade. Não pode colar algo extraordinário na Realidade, porque a Realidade está na própria base de tudo que existe. Tudo que existe, tudo que você vê, os objetos da sua percepção, tudo se deve à Realidade. A ignorância e o conhecimento não existem. Não existem. Então, como é que você poderá expressá-los?

Quando você objetifica algo significa que está sentindo alguma coisa. Tão logo sinta alguma coisa, você se afasta de Si, do Ser. Você sente amor, que é melhor que estar na ignorância, mas, afinal de contas, isso ainda é um estado, e um estado é sempre condicionado. O não-condicionado não tem estados. É a experiência da inexistência da ilusão. Tão logo você sinta a mínima existência, isso é ignorância. Isso é muito sutil. Ignorância e conhecimento ambos são sutis. É difícil entender, mas, se você realmente averiguar, chegará a esse estado. Isso é, e sempre foi, mas você não sabe; essa é a dificuldade. Não há um único ponto em que a Realidade não esteja. Você vivencia a existência através dos objetos, mas tudo isso não é nada. É onipresente, mas você não pode vê-la. Por quê? Porque você é a própria Realidade. Então como pode você se ver? Para ver seu rosto, você precisa de um espelho.

A verdadeira felicidade está dentro de você e não fora. No sono profundo, você é feliz. Esquece-se do mundo. Portanto, a felicidade jaz no esquecimento do mundo. Deixe o mundo ser como é; não o destrua, mas saiba que ele não é. Faça tudo quanto tenha que fazer, mas fique desapegado com a compreensão de que seja lá o que for que você sinta, perceba e alcance é ilusão; não existe, e a sua mente precisa aceitar isso.

Os santos dizem: "Já que tudo é nada, como poderá você ser afetado por este nada, como o nada poderá atingi-lo?" Então, o que fazer? A mente não passa de conhecimento. As pessoas diferenciam a mente do conhecimento, mas isso não é correto. Não há nada no mundo. É ilusão. Só a Realidade existe, e, quando você entender que a ilusão é realmente ilusão, como poderá ela afetá-lo? Como poderá você sequer sentir que ela o afeta? A pétala de lótus origina-se da água; fica em cima d'água, mas não é tocada pela água. Se você verte água sobre ela, a água escorre; a flor não se molha.

Quando você compreende que nada permanece, já não se trata mais do amor. A felicidade do Ser que você sente é ainda o prazer do conhecimento. Primeiro você precisa se conscientizar e depois se tornar a própria Realidade, porque você é Ela. Portanto, não faz mal algum viver na ilusão, no mundo, mas ele não existe, você não é atingido. O lótus permanece na água, mas nem liga para ela.

É assim que você deve vivenciar sua verdadeira natureza. Digo "vivenciar", mas aí essa palavra já não existe, porque ela está além do espaço, além do zero. E as palavras não podem entrar aí; param aí. No Bhagavad Gita, o Senhor Krishna diz: "Para onde as palavras retornam está o meu estado". Ainda assim, ele era rei e reinava, mas sabia que nada existe. Você não sabe que nada pode atingi-lo. Quando sentir que nada o atinge, você estará fora da ilusão. Esse é o ponto culminante da filosofia e você pode chegar lá. Lá, lá não há Mestre nem discípulo, pois ambos são um só. Não existe dualidade. Existe somente a Unidade e nada fica fora dela. Portanto, fique na ilusão, mas por compreensão.

Dois amigos queriam pregar uma peça num outro amigo. Um começou a insultar o outro, mas o outro ria do insulto. O terceiro ficou perturbado e disse: "Como podes rir quando ele está te insultando?". Ele ria porque tinha a chave do jogo, mas o terceiro rapaz não entendia. Do mesmo modo, uma pessoa Realizada, embora viva no mundo, compreende que tudo isto é nada e o que quer que esteja acontecendo, nada está acontecendo. Portanto, ela não é atingida. As pessoas andam sempre com medo do que acontece ou vai acontecer. Temem o que as pessoas vão dizer. Pensam: "O que é que vou fazer? O que vai acontecer comigo?" Lutam ou desfrutam. Todos esses cativeiros se devem à mente.

Aquele que está fora do círculo entende que tudo é nada. Não existe; é apenas ignorância. Diz-se que só quem mergulha fundo no oceano é que pode encontrar a pérola. Quem fica na superfície é levado pela corrente do prazer e do sofrimento. Você deve mergulhar fundo até as profundezas do ilimitado, porque é lá que você está. Nunca pare no limitado. O ouro não liga para as formas que ele assume nos ornamentos; pode ser a forma de um cachorro ou de um deus, ele não se preocupa com a forma. Da mesma maneira, seja indiferente com as coisas, porque elas não existem.

Nada pode atingi-lo. Você é intocado. A mente deve chegar ao ponto de uma compreensão completa da ilusão. Ali jaz o seu estado. Nada permanece para quem compreendeu. Não há mais perda ou ganho. Não pergunte se você pode atingir a Realidade, porque você é a Realidade, então por que dizer: "Será que eu posso?" Primeiro saia do círculo. Largue tudo, uma coisa após outra, e entre fundo em seu Ser. Depois volte e esteja em tudo.

O que você descreveu é um bom estado, não há dúvidas, mas vá um pouco mais adiante. Quando a mente aceita que tudo é ilusão, somente ilusão, então você está no seu Ser. O corpo e a mente são ilusões; você devia ficar contente de saber isso. Desvencilhe-se da identificação com eles. A única coisa que o Mestre faz é dar o seu verdadeiro valor ao Poder que está em você, ao qual você nem presta atenção. Ele não faz nada mais. Era uma pedra, e o Mestre revela a própria natureza dela, que é diamante. Ele faz de você a pedra mais preciosa.

Eu sou onipresente, todo-poderoso, sou o Criador de tudo que existe. Quando você está na base de tudo, você está em tudo. É por isso que nem um assassino pode ser considerado mal. O que quer que esteja acontecendo, é "ordem minha". Seja o senhor, não o escravo! Você é o senhor.

Pergunta: Eu gostaria de saber por que algumas pessoas Realizadas reencarnam a fim de ajudar os outros a acordar?

Maharaj: Ninguém vem, ninguém vai. Quem lhe contou isso? Você leu livros e repete. Diz-se que o maior homem é aquele que morre desconhecido. Rama e Krishna foram heróis secundários. O homem realizado vive em silêncio e morre em silêncio. Depois, o pensamento dele funciona numa outra pessoa; mas que eles voltam é bobagem. Veja "A Doutrina do Renascimento".

Ninguém vem, ninguém vai. É tudo um sonho. Num sonho você pode se tornar um grande Mestre, mas, quando acorda, você volta ao seu estado normal. Quem foi lá e quem voltou? Não aconteceu nada. O conceito de um grande Mestre passou por você e você virou aquele "grande Mestre", mas, quando acorda, você percebe: "Nossa, tudo isso é absurdo! Como posso eu ser um grande Mestre? Não sei nada!" Mesmo assim, no sonho você dava palestras e falava com facilidade sobre todas essas coisas, mas, quando chega o despertar, todo conhecimento se esvai. Era um sonho.

De onde ele veio e aonde desapareceu? Quando nada existe, tudo são apenas crenças e conceitos da mente. O suposto sábio que diz "Eu sou a reencarnação de Deus" não o conhece, não conhece a Realidade. Ao contrário, é escravo do seu ego, da ilusão. Quando o próprio conhecimento não tem entidade, não vêm à baila todas essas coisas.

Aquele que compreende, livra-se de tudo. Uma pessoa assim parece comum, mas seu coração é bem diferente. Se ficar do lado de fora, como você poderá entender? Para se tornar o dono da casa, você precisar entrar nela. Da mesma maneira, você precisa penetrar o seu próprio Ser para tornar-se o dono. Mas aí o "eu" não permanece "eu". Não mais se trata de Mestre ou discípulo. O pensamento em um Mestre pode inspirar quem quer que assuma um corpo porque ele e o Sábio são unos. Penetre o coração do Realizado e você não permanecerá como "Você", porque só ele é. É por isso que se diz que aqueles que ensinam são reencarnações de Deus. O Mestre passa o ensinamento a todos, mas não o valoriza, porque sabe que o conhecimento é a maior ignorância. Portanto não se deixe tocar por nada.

Pergunta: Se tudo é ilusão, você mesmo é uma ilusão?

Maharaj: Ah, sim! Eu sou a maior ilusão! Tudo que digo de todo o coração e com tanta franqueza é tudo falso! Mas o falso "eu" pode fazer você alcançar esse ponto. O endereço da pessoa não é o objetivo. Quando você chega a casa, é graças ao endereço que lhe deram, o endereço é verdadeiro somente até o momento em que você entra na casa. Assim que você entra, desaparece o endereço. As palavras não passam de indicações; não têm nenhuma realidade em si mesmas. Se o "eu" permanece, eu também sou ilusão. Não permaneça como "eu". Essa é a mais alta compreensão da filosofia. O santo Tukaram dizia: "Vi a minha própria morte, e o que vi lá, a alegria que se revelou, isso eu conheço". Antes de tudo, você precisa morrer. "Você" significa ilusão.

Por isso, o que digo é falso, todavia verdadeiro, porque eu falo daquilo. O endereço é falso, mas, quando você atinge o objetivo, é a Realidade. Da mesma maneira, todas as escrituras e os livros filosóficos destinam-se apenas a indicar esse ponto, e, quando você o atinge, eles se tornam inexistentes, vazios. As palavras são falsas; só o sentido que elas comunicam é que é verdadeiro. Portanto, tudo é ilusão, mas, para compreender a ilusão, é preciso ilusão. Por exemplo, para tirar um espinho do dedo, você utiliza outro espinho; depois joga fora os dois. Mas, se você guardar o segundo espinho que utilizou para remover o primeiro, certamente você estará de novo preso. Para remover a ignorância, é preciso conhecimento, mas por fim ambos devem dissolver-se na Realidade. O seu Ser é sem ignorância nem conhecimento.

Portanto, o Mestre e o buscador são ilusões, porque ambos são um só. Se você guardar o segundo espinho, que significa conhecimento, nem que seja um espinho de ouro, você estará preso (pelo segundo espinho). O ego é a única ilusão, e ego é conhecimento. Conta-se que para apanhar um ladrão é preciso tornar-se um ladrão. Então você poderá dizer-lhe: "Cuidado, eu estou aqui e sei que você é ladrão; portanto, não poderá me roubar". Mas você não pode apanhar o ladrão porque ele tem quatros olhos e você só tem dois. Num relance, o ladrão percebe os objetos de valor e, se você não estiver atento, ele lhos rouba. A ilusão é como o ladrão, de modo que você precisa ser mais forte do que o ladrão. A sua mente precisa aceitar que tudo é ilusão, somente ilusão. Então você será o "maior dos maiorais".

O conhecimento é uma grande coisa, mas deve ser apenas um remédio. Quando a febre baixa graças ao remédio que você tomou, você deve parar de tomá-lo. Não prolongue o tratamento, senão você criará mais problemas. O conhecimento só é necessário para remover o mal da ignorância. O médico sempre prescreve uma dosagem limitada! Antes de tudo, compreenda que o "eu" é uma ilusão e o que "eu" diz é ilusão. O Mestre e o que ele diz também são ilusão, porque na Realidade, "eu" e "Ele" não existem mais. Vá fundo para dentro de si, tão fundo até você desaparecer. Caso contrário, veja o que acontece. Entra um bode em sua casa, e, para fazê-lo sair, você abre a porta. O bode sai, mas entra um camelo. O camelo é apenas como a ilusão. Portanto, fique fora da ilusão.


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