"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, fevereiro 09, 2013

Matéria: a "sombra" da mente fenomênica (2/2)

Masaharu Taniguchi


O corpo carnal não passa de "sombra" da mente. Isso não é teoria, é fato. O corpo carnal é algo que desaparece com o tempo e pode até já estar abandonado pela substância que o sustenta. É por isso que o budismo prega que todos os fenômenos, inclusive o eu fenomênico, são fugazes. Entretanto, o homem carnal, o eu fenomênico, que é efêmero é o falso homem, e não o homem verdadeiro. Esta compreensão é de importância capital. Vendo apenas o corpo carnal e considerando-o como o homem verdadeiro, é natural que se chegue à conclusão de que o homem é um ser efêmero. O homem carnal é de fato efêmero, pois pode ser que já tenha se extinguido há um mês no mundo mental. Nossos corpos físicos, que estão aqui, podem ser "sombras" da força inercial da vibração mental já extinta.

A Seicho-No-Ie prega que o corpo carnal é inexistente desde o princípio. O corpo carnal (ou matéria) não é algo que um dia irá desaparecer; ele é inexistente desde o princípio! Se fosse algo que existisse e que irá desaparecer, poderíamos dizer que é efêmero. Na verdade, o que pode desaparecer é inexistente desde o princípio; logo, o desaparecimento de algo inexistente não constitui um fato triste. A sutra budista Vimalakirtinirdesa diz que "o corpo carnal surge da ilusão". Isso é correto, pois este corpo não é projeção direta do pensamento da Imagem Verdadeira (Deus), mas do "pensamento ilusório", que distorce e delimita a imagem projetada pela Imagem Verdadeira. E o que é ilusório, isto é, o que não é existência verdadeira, não tem outra alternativa senão desaparecer.

Disse anteriormente que nosso pensamentos são comparáveis às ondas que se formam na superfície do mar. Ondas não existem originariamente; sem vento, elas não se formam. Quando o vento sopra e levanta ondas, estas parecem existências sólidas. Porém, quando tentamos pegá-las, elas se deformam e desaparecem. assim também são os pensamentos, que não podem ser agarrados, por mais que o tentemos. E, quando pensamos que agarramos um, ele não existe mais. Se perseguirmos e tentarmos agarrar o que não é existência verdadeira, é porque os nosso sentidos estão iludidos; porque consideramos existente o que não existe originariamente. Vendo o homem carnal, que é a imagem do homem-Imagem Verdadeira refletida nas "ondas" mentais inconstantes (tal qual a imagem da lua cheia refletida distorcidamente nas ondas do mar), pensamos que essa é a nossa verdadeira imagem. É por isso que nos consideramos seres efêmeros e ficamos pessimistas. Entretanto, nossa Imagem Verdadeira não é o corpo carnal, imperfeito como a lua refletida nas ondas. Nossa Imagem Verdadeira é sempre perfeita, assim como a Lua é sempre redonda, independentemente de sua imagem refletir-se deformada nas ondas ou parecer incompleta nas demais fases que não o plenilúnio. Não é possível encontrar o Eu verdadeiro na imagem refletida (no homem carnal), que muda de aspecto constantemente, assim como é impossível encontrar a Luz redonda no espelho das águas inconstantes. Mesmo que a Luz refletida nas ondas esteja deformada ou fragmentada, a Luz verdadeira é sempre redonda e perfeita. Mesmo que o homem carnal seja imperfeito, o homem verdadeiro é perfeito e indestrutível.

Quando compreendemos isso, não podemos mais dizer que o homem é um ser efêmero. O homem verdadeiro jamais pode ser efêmero. Mas, enquanto considerarmos o corpo como sendo o homem, teremos de nos lamentar, dizendo que a vida é efêmera e que todos os seres vivos devem morrer. Entretanto, o que morre é algo que está morto desde o princípio, é inexistente desde o princípio; é natural que morra, pois é algo que surgiu do nada por meio de pensamentos iludidos. O que perece é inexistente desde o princípio. Nosso corpo carnal é algo que inexiste desde o princípio, e é natural que pereça. O desaparecimento de algo originariamente inexistente não é nem um pouco triste; é fato óbvio; não passa de retorno ao seu "nada" original. Ao saber que o corpo carnal é "inexistente", poderá alguém sentir-se inseguro, mas isso é porque ainda tem apego a algo que é inexistente (corpo carnal). Enquanto pensarmos que o corpo carnal seja o homem, será inevitável nos sentirmos inseguros. Mas, se compreendermos que o homem verdadeiro não é este corpo, mas um ser eterno e indestrutível, não nos sentiremos inseguros nem tristes.

A Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade diz que "A matéria é afinal o 'nada' e nela não existe qualidade inerente". Com as explicações dadas até agora, creio que entenderam que este corpo carnal (material) é projeção da mente, portanto "nada", mas poderão ter a seguinte dúvida: "E essas cadeiras, as roupas que vestimos e as vigas deste templo? Elas existem concretamente, por mais que neguemos a existência da matéria. Será que podemos simplesmente dizer que essas coisas também são meras aparências?". Então pergunto: como surgiram essas vigas? As madeiras foram feitas pela mente das árvores. Em outras palavras, são materializações da mente dar árvores, e se manterão enquanto perdurar a força inercial dessa mente. E com a participação da mente do homem, que fez a planta desta construção e desbastou as madeiras, surgiram essas vigas. Podemos, então, dizer que essas vigas foram feitas pelo trabalho conjunto da mente das árvores e da mente do homem. Enquanto moramos numa casa, cuidamos dela; mas, quando a desocupamos, nossa mente a abandona, e então ela começa a se arruinar rapidamente. As vigas deste templo também estão mantidas pela mente das pessoas que utilizam este imóvel. Por isso, quando desaparecer a mente que conserva o imóvel, as vigas também começarão a se destruir. Uma casa abandonada se arruína mais depressa porque nela não habita uma mente que a queira conservar.

No inverno, usamos o braseiro. Todos no Japão o usam. Mas, no verão, ninguém pensa em usá-lo, e consequentemente ele desaparece de nossa vista. Isto é, quando desaparece a mente que precisa do braseiro, este também desaparece. Os senhores poderão argumentar que o braseiro não deixa de existir, ficando apenas guardado na despensa. Realmente, ele fica na despensa, sem ser destruído, porque sua existência é mantida pela mente (pensamento): "Vou precisar dele quando voltar o frio". No verão, ele está fora do nosso campo visual porque foi afastado pelo pensamento "Agora ele não é necessário porque é tempo de calor" e é mantido na despensa pelo pensamento "Ele será necessário quando chegar o inverno". Se, no entanto, mudar o clima da Terra de tal modo que não faça mais frio, a mente da humanidade não se interessará mais por braseiros. Por conseguinte, não serão mais fabricados, e os atualmente existentes serão descartados e eliminados gradativamente. Eles não desaparecerão de repente. Mesmo após o desaparecimento da mente (pensamento) que criou e mantém os braseiros, estes continuarão a existir por algum tempo, sustentados pela força inercial daquele pensamento. Por isso se diz que a matéria é projeção da mente, é "nada".

Segundo a ciência, a matéria é constituída de elétrons. E que são elétrons? São partículas surgidas do éter (éter seria uma substância hipotética que estaria preenchendo o Universo e seria a responsável pela condução da luz e das ondas eletromagnéticas) e que formam turbilhões. E que é o éter? Os cientistas também não sabem explicá-lo. Uns negam a sua existência. Como o éter é invisível, impalpável, inodoro e inidentificável, podemos dizer que ele é o nada. Mas, como a ciência não pode admitir que os elétrons surgem do nada, a este deram o nome de éter. Se a matéria é formada pela união de elétrons, devemos admitir a existência de uma força capaz de provocar turbilhões a partir do nada e agrupá-los de modo a formar a matéria. O que cria turbilhões a partir do nada é a mente de Deus. Essa mente utiliza o "nada" como matéria-prima para criar um infinidade de formas no Universo. Por isso digo que a matéria é projeção da mente.

O general Hiçamura, que foi diretor do Centro de Pesquisas Científicas do exército japonês, tem um filho chamado Kei-iti. Este veio certo dia à Seicho-No-Ie e relatou um fato interessante. Certa noite, ele sonhou com o velório de uma jovem parente sua. Três dias depois, ela de fato morreu e, quando o jovem foi ao velório, teve uma surpresa: a posição do caixão, a disposição dos móveis e as pessoas presentes eram exatamente iguais às do sonho. Isso quer dizer que, três dias antes, no mundo mental, não só havia ocorrido a morte da moça, como também estava determinado quem iria ao velório e como se disporiam as pessoas e os móveis. Aparentemente, as pessoas foram ao velório por sua livre e espontânea vontade naquele dia, mas, na verdade, isso já estava consumado no mundo mental, isto é, no filme mental.

Frequentemente recebo cartas de adeptos relatando que as coisas desejadas apareceram como que por encanto. Por exemplo, quando desejaram biscoitos ou maçãs, alguém os trouxe inesperadamente. Algumas pessoas poderão achar isso estranho, misterioso ou impossível, mas é um fato normal. Se os fatos do mundo material são projeções de fatos criados no mundo mental, não é nada estranho que maçãs gravadas no filme mental se projetem na tela deste mundo. Para compreender isso, é preciso antes entender que este mundo fenomênico não passa de "sombra da mente".

"Mas a ideia de que tudo é projeção da mente não levaria o homem a desprezar a vida terrena e a se tornar inativo? Acho que não está certo menosprezar assim a realidade material", poderá alguém assim retrucar. Respondo que "compreender que a matéria é nada" não é desprezar o mundo material. Pelo contrário, quanto mais compreendemos que este mundo visível não passa de "imagem" projetada (efeito), e quanto mais corrigirmos o filme mental (a causa) dessa "imagem", mais perfeita se tornará a imagem projetada, refletindo cada vez mais a perfeição da Imagem Verdadeira, conforme desejarmos. Se, ao contrário, pensarmos que este mundo fenomênico é existência verdadeira e nos prendermos a ele, seremos seus prisioneiros e perderemos a liberdade. Por exemplo, enquanto considerarmos essa parede uma existência sólida, inabalável, ela será um obstáculo para nós e não conseguiremos atravessá-la. Da mesma forma, se encararmos todos os fatos como algo inflexível, teremos visão fatalista e pessimista da vida. Se trocarmos esse filme pessimista por um filme otimista, o mundo se modificará de modo favorável a nós, tornando-se um lugar extremamente agradável de viver. Portanto, longe de desprezar o mundo fenomênico, passamos a controlá-lo livremente, conforme nosso gosto, quando assimilamos o princípio que rege este mundo, isto é, a Verdade de que o mundo fenomênico é projeção da mente.
 

Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 21", pp. 65-72

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