"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, março 08, 2014

Interpretação da Avatamsaka Sutra - 1/2

Masaharu Taniguchi


INTERPRETAÇÃO DA AVATAMSAKA SUTRA  (Sutra Guirlanda de Flores)

ESTÁTUA DE DAIBUTSU (GRANDE BUDA) EM NARA

Nesta gravura, vemos a estátua de Daibutsu (Grande Buda) no Templo Todai-ji, em Nara. Nesta outra, vemos a estátua de Daibutsu no Templo Tosho-daiji: a impressão não está muito nítida, mas creio que dá para vê-las, mesmo a certa distância.

Outro dia, quando fui a Kansai proferir uma palestra, o monge do Templo Todai-ji, em Nara, que é leitor da revista Seicho-No-Ie, conduziu-nos até bem próximo à grande estátua, aonde o público em geral não tem acesso.

Esse monge, que se chama Sagawa, contou à nossa comitiva a origem e a história de Daibutsu (Grande Buda). Segundo ele, o nome Daibutsu não depende do tamanho da estátua; ele é abreviação de Dai-Hoko-Butsu (grande e onipresente Buda).

Este Templo Todaiji é o templo matriz do Kengon-shu (Ramificação do budismo surgida na Índia, tendo como base doutrinária a Avatamsaka Sutra, uma das sutras do budismo Mahayana), e seu alvo de adoração é o Daibutsu, isto é, Buda Vairocana (que brilha; Sol). O Buda Vairocana é chamado Grande Buda, não porque está representado nesta estátua grande. Mesmo sendo pequena a sua estátua, Ele é Grande Buda porque é Buda Vairocana – assim explicou.

A propósito, minha filha, que está no último ano do curso primário, foi a Nara há aproximadamente uma semana, integrando uma excursão escolar, e comprou como lembrança uma pequena estátua de Daibutsu (Grande Buda). Ela me disse:

- Papai, eu lhe trouxe este Daibutsu como presente.
- Mas como é pequenino este Grande Buda! – brinquei.
- Mesmo sendo pequeno, é Grande Buda – respondeu ela, e essas palavras foram de grande valia para o meu aprendizado.

Que vem a ser, então, esse Buda Dai-Hoko (grande e onipresente)? Sakyamuni ficou durante seis anos praticando ascese (espécie de penitência para aprimoramento espiritual) na floresta dos ascetas, mas compreendeu que as práticas ascéticas não levam à iluminação. Tal vida religiosa baseada no ascetismo corresponderia, no cristianismo, ao batismo na água feito por João Batista. Sakyamuni percebeu que o verdadeiro despertar (ou iluminação) está na compreensão da Imagem Verdadeira da Vida, saiu da floresta dos ascetas, banhou-se no rio Nairanjana, recebeu um prato de mingau de arroz cozido com leite ofertado por uma mulher e tomou-o sentindo a sua delícia. Sentado tranquilamente sob uma árvore bodhi (árvore do despertar), compreendeu que esse estado vívido – de delícia e de alegria e vívido de vida – é o próprio estado do despertar, e que isso é a Vida. Quatorze dias depois, ele falou sobre o estado de seu despertar (ou iluminação), não especialmente a alguém ou a algumas pessoas; ele expressou em palavras o estado de seu despertar, e isso é o que constitui o teor da sutra chamada Avatamsaka Sutra (Sutra Guirlanda de Flores).


QUE É KENGON-KYO (AVATAMSAKA SUTRA)

O termo Kengon de Kengon-kyô significa magnífica flor de lótus. Ele se refere ao mundo em forma de flor de lótus, ornado de modo infinitamente belo, isto é, ao mundo da Imagem Verdadeira (Jissô).

Os budistas costumam interpretar o termo Jissô como “vazio”, mas o mundo do Jissô (Imagem Verdadeira) não é vazio; ele é um mundo infinitamente belo. A Seicho-No-Ie prega que o mundo da Imagem Verdadeira é o mundo da “magnífica flor de lótus”. Sakyamuni pregou sobre isso na Kengon-kyô (Avatamsaka Sutra).

Em vida, Sakyamuni pregou várias sutras. Primeiramente, quatorze dias após o seu despertar, pregou a Kengon-kyô, mas, como eram poucos os discípulos que a compreendiam, pregou em seguida sutras como a Agon-kyô (uma sutra do budismo hinayana, ou pequeno veículo). 

Com o passar do tempo, quando seus discípulos alcançaram maior aprimoramento, pregou sutras tal como a Prajna-paramita-sutra (Sutra da Sabedoria). Em seguida, pregou outras de tendência mahayana (grande veículo) tais como Bonmô-kyô e Gujin-mikkyô. Mais tarde, antes de seu desencarne, pregou a Hoke-kyô (Sutra do Lótus), a Dai-muryôju-kyô (Sutra da Vida Imensurável) e a Nehan-Kyô (Sutra do Nirvana). Parece que a Sutra da Vida Imensurável e a Sutra do Nirvana foram pregadas na mesma época, pois o conteúdo de ambas as sutras comprovaria essa hipótese, mas não há registro cronológico.

Na verdade, a Avatamsaka Sutra, que Sakyamuni pregou quatorze dias após o seu despertar, contém tanto a Verdade descrita na Sutra do Lótus como a Verdade exposta na Sutra da Vida Imensurável. A Avatamsaka Sutra encerra em si o conteúdo de todas as demais sutras, mas, na época, os seus discípulos não puderam compreender essa sutra mahayana (do grande veículo). Como achou que ainda não era chegado o momento, Sakyamuni voltou a pregar as verdades mais fáceis, expondo as sutras tais como a Agon-kyô e as demais do hinayana (pequeno veículo).


QUE SÃO AS ESCRITURAS DO MAHAYANA?

Vejamos, então, o que pregam as escrituras do budismo mahayana (grande veículo). Elas pregam que o homem é Buda. Todas as escrituras do grande veículo pregam que originariamente o homem é Buda, por natureza, e pode manifestar a imagem Verdadeira de Buda. As escrituras ou sutras do budismo hinayana (pequeno veículo) proporcionam apenas despertar de grau médio, pregando verdades medianas que permitem às pessoas alcançar o nível de Arahant. Arahant é o nome genérico dado a pessoas que compreenderam a Verdade da causa-e-meio, mas que ainda não conseguiram atingir o estado búdico que transcendem a causa e o meio.

Repetindo, Sakyamuni pregou inicialmente ensinamentos do grande veículo (hinayana), segundo os quais o homem é originariamente Buda, mas como os seguidores não compreenderam essa Verdade pura, ele pregou vários ensinamentos do pequeno veículo (hinayana) a fim de conduzi-los à compreensão da Verdade do grande veículo (mahayana).

A respeito da Avatamsaka Sutra, não se sabia a sua origem; a transmissão dessa sutra é atribuída ao bodisatva Nargajuna. Segundo a biografia de Nargajuna, este não encontrou a Avatamsaka Sutra na face da Terra, por mais que a procurasse. Então foi ao Ryugu (Palácio do Fundo do Mar ou Palácio do Dragão Rei) e, de lá, trouxe essa sutra.

Portanto, a Avatamsaka Sutra estava no Ryugu. A que existe atualmente na face da Terra, isto é, a que foi trazida a este mundo visível aos olhos carnais, é apenas uma pequena parcela da Avatamsaka Sutra guardada no Ryugu. Essa sutra completa é dividida em três partes, e somente a Avatamsaka Sutra que temos hoje é a tradução dessa última parte. E, mesmo sendo a terça parte, ela constitui um grande volume.

Pois bem, supomos que a maior parte da Avatamsaka Sutra que ficou no Ryugu deve ter conteúdo maravilhoso, mas ela permanece oculta e não pode ser exposta porque ainda não chegou o momento.

A respeito do bodisatva Nargajuna (Ryuju, em japonês), que trouxe do Palácio do Fundo do Mar a Avatamsaka Sutra, não se sabe exatamente a época em que vivei, mas, de acordo com uma lenda, ele nasceu trezentos anos após a morte de Sakyamuni e viveu cem anos. Seja como for, ele foi uma pessoa que viveu bem posterior a Sakyamuni. E, como ele é considerado o responsável por trazer do Ryugu a primeira sutra do grande veículo, existem teorias de que Sakyamuni não pregou sobre o grande veículo, mas penas sobre doutrinas moralistas. Segundo essas teorias, as sutras que falam sobre a budificação do homem foram pregadas mais tarde, teórica e filosoficamente, por eruditos e sábios como Nargajuna e outros. Existem, obviamente, contestações a tais teorias. Há muita polêmica acerca disso.

Mesmo na atualidade, existem estudiosos do budismo afirmando que o grande veículo (mahayana) não foi pregado por Sakyamuni, e que são de autoria dele somente as doutrinas moralistas contidas nas sutras Ágama, Dhammapada e similares. Segundo esses budistas, as doutrinas mahayanas ou do grande veículo – isto é, os ensinamentos de que “o homem pode tornar-se Buda” ou de que “o homem é originariamente Buda” – são impossíveis de ser compreendidas. Existem até budistas pregando que no homem não existe espírito. Certa feita, um intelectual budista escreveu o seguinte em um texto de crítica à Seicho-No-Ie: “Na atualidade, ninguém acredita que existe algo chamado espírito e que este possa ir para o céu”. É espantoso um budista fazer tal afirmação.

Na Sutra da Vida Imensurável, está claramente escrito que Sakyamuni “deixou o palácio celestial, colocou a sua alma no útero materno e nasceu pela axila direita”. Essa alma é espírito. É espantoso que alguns budistas neguem a existência do espírito, mas essa é a posição dos que professam o hinayana (pequeno veículo). Eles não compreendem a Imagem Verdadeira do ser humano; entendem apenas da vida fenomênica restrita à vida terrena. Não entendem nem o que acontece com a vida no mundo pós-morte.

Bem, a doutrina que prega a Vida sempiterna da Imagem Verdadeira é a do mahayana (grande veículo), e a que prega sobre a vida fenomênica e a do hinayana (pequeno veículo). Esta é uma diferenciação bem simples das duas doutrinas.

Cont...

Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 161-167

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