"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, abril 29, 2015

A Verdade de Quem você é (Gangaji)




‎"QUEM É VOCÊ REALMENTE?

Qualquer pensamento que você teve sobre si mesmo, por mais desinflado ou inflado, não é quem você é. É simplesmente um pensamento. 

A verdade de quem você é não pode ser pensada, porque ela é a fonte de todos os pensamentos.

A verdade de quem você é não pode ser nomeada ou definida.

Palavras como alma, luz, Deus, verdade, 'self', consciência universal ou divindade, mesmo que capazes de evocar o êxtase da verdade, são totalmente inadequadas como descrição da imensidade de que você realmente é.

Independente de como você se identifica: como criança, adolescente, uma mãe, um pai, uma pessoas mais velha, uma pessoa mais saudável, uma pessoa doente, uma pessoa que sofre ou uma pessoa iluminada, sempre por trás de tudo isso está a verdade de você mesmo. Ela não é estranha para você. Ela está tão próxima que você não consegue acreditar que é você.

A verdade de quem você é, é intocada por qualquer conceito sobre quem você é, seja ignorante ou iluminado, sem valor ou grandioso.

A verdade de quem você é, é livre de tudo isso. Você é livre e tudo que bloqueia sua realização desta liberdade é seu apego a alguma idéia sobre quem você é.

Este pensamento não impede que você seja a verdade de quem você é. Você já é isso!

Ele apenas separa você de realização de quem você é.

Convido você a deixar sua atenção mergulhar naquilo que sempre esteve aqui esperando abertamente por sua própria autorrealização.

Quem é você realmente?

Você é alguma imagem que aparece em sua mente? Você é alguma sensação que aparece em seu corpo?

Você é alguma emoção que passa por sua mente e corpo?

Você é algo que alguém disse que você é ou uma rebelião contra algo que alguém disse que você é?

Estas são algumas das muitas vias de erros de identificação. Todas essa definições vêm e vão, nascem e depois morrem. A verdade de quem você é não vem e vai. Ela está presente do nascimento, durante toda uma vida e após a morte.

Descobrir a verdade sobre quem você é não é apenas possível, é o seu direito de nascença. Qualquer pensamento que esta descoberta não seja para você, agora não é o tempo, você não é digno, você não está pronto, você já sabe quem é, são apenas truques da mente.

Está na hora de investigar este pensamento sobre “eu”, e ver qual é a sua validade real. Nesta investigação existe uma abertura para que a consciência inteligente que você é finalmente reconheça a si mesma. A pergunta mais importante que você jamais pode perguntar-se é: Quem sou eu?

De certa forma esta tem sido uma questão implícita perguntada em cada etapa de sua vida. Toda atividade, seja individual ou coletiva, é motivada em sua raiz por uma busca de auto-definição.

Tipicamente, você busca por uma resposta positiva a esta pergunta e foge de uma resposta negativa.

Quando esta questão se torna explícita, o impulso e o poder da pergunta direcionam a busca pela verdadeira resposta, que é aberta, viva e cheia de insights cada vez mais profundos.

Você experimenta tanto o sucesso como a fracasso.

Após um certo estágio, cedo ou tarde, você percebe que quem você é, independente da definição, não é satisfatório.

Se esta questão não for verdadeiramente respondida, não apenas convencionalmente respondida, você vai continuar com fome de saber.

Porque, independente de como você tenha sido definido por outros bem intencionados ou não e independente de como você tenha definido a si mesmo, nenhuma definição pode trazer certeza duradoura.

O momento em que se reconhece que esta pergunta é crucial. Ele é muitas vezes referido como o momento de amadurecimento espiritual. A partir deste ponto você pode conscientemente investigar quem você realmete é.

Em seu poder e simplicidade a questão: “quem sou eu?” lança a mente de volta a raiz da identificação pessoal: a suposição básica “ eu sou alguém”.

Ao invés da automaticamente aceitar esta suposição como a verdade, você pode investigar mais profundamente. Não é difícil ver que este pensamento inicial 'eu sou alguém' leva a todos os tipos de estratégias: ser alguém melhor, alguém mais protegido, alguém com mais prazer, mais conforto e mais realização. Mas quando este pensamento muito básico é questionado, a mente encontra o eu, que se assume estar separado daquilo que ela vinha procurando.

Isso é chamado de autoinvestigação.

A pergunta mais básica: 'quem sou eu?' é aquela que é a mais negligenciada.

Passamos a maior parte dos nossos dias dizendo a nós mesmos ou aos outros, que somos alguém importante, alguém sem importância, alguém grande, alguém pequeno, alguém jovem ou alguém velho, sem nunca realmente questionar esta suposição mais básica.

Quem você realmente é?

Como você sabe que É quem você é? Isso é verdade? Realmente?

Quando você voltar sua atenção para a questão: 'quem sou eu?', talvez você veja uma entidade que tem seu rosto e seu corpo. Mas quem está ciente deste entidade? Você é o objeto ou você é a percepção do objeto? Objeto vem e vai. O pai, a criança, o amante, o abandono, o iluminado, o vitorioso, o derrotado. Todas estas identificações vem e vão.

A percepção destas identificações está sempre presente. A identificação errada de si mesmo como alguém objeto dentro da percepção leva a extremo prazer ou extrema dor e ciclos intermináveis de sofrimento.

Quando você está disposto a parar a identificação errada e descobrir direta e completamente que você é a própria percepção e não estas definições impermanentes, a busca por você mesmo nos pensamentos termina.
Quando a pergutna: “quem?” é perseguida de forma inocente, pura, por todo caminho de volta a sua origem, surge uma enorme e espantosa realização. Não há absolutamente nehuma entidade ali. Há apenas o indefinível e ilimitado reconhecimento de si mesmo, como inseparável de qualquer outra coisa. 

Você está livre.

Você está completo. Você é infinito. Não há nenhum fundo em você, nenhum limite em você.

Qualquer idéia sobre você aparece em você e desaparecerá de volta em você.

Você é percepção e percepçãp é consciência.

Deixe todas as autodefinições morrerem neste momento. Deixe todas irem, e veja o que resta. Veja o que nunca nasce e o que não morre.

Sinta o alívio de se desfazer da carga de definir a si mesmo.

Experiencie a efetiva não-realidade da carga.

Experiencie a alegria que está aqui.

Descanse na paz infinita de sua verdadeira natureza, antes que qualquer pensamento de 'eu' surja."


(Gangaji, do livro "O diamante no seu bolso")


Gangaji

segunda-feira, abril 27, 2015

Verdade + Inverdade = Dúvida (Sai Baba)

Sathya Sai Baba


Pergunta de um devoto a Sai Baba:

"Qual é o grande fator que nos impede de ver a verdade da vida claramente?"

Sai Baba: "Tempo, trabalho, motivação e experiência: esses quatro juntos, em harmonia, são a Verdade. Quando os quatro são encontrados sem harmonia, vocês sentem que há algo falso."

Devoto: "Mas a verdade, em termos de trabalho, tempo, motivação e experiência..., olhando-se em redor, notam-se essas coisas operando, e o mundo está numa confusão muito grande. Assim sendo, deve existir algo além disso."

Sai Baba: "Quando você não tem fé absoluta no resultado, então a dúvida surge. Um exemplo: agora é dia e os objetos na sala são vistos claramente e não há dúvidas a respeito deles. À noite, quando está completamente escuro e você tem que andar tateando e não vê nenhum dos objetos, não há dúvida a respeito da situação. Mas ao cair da noite, quando há meia-luz e meia-treva, a dúvida pode surgir e você, ao ver uma corda, pode imaginar que ela é uma cobra e sentir medo.

A luz não é total e a visão não é clara. A luz plena é sabedoria e a completa escuridão é ignorância. A dúvida aparece quando há metade escuridão e metade sabedoria. A meia-luz é sabedoria e a meia-treva é ignorância. Ignorância e sabedoria: quando ocorrem juntas, em metade-metade, há dúvida. Agora você está no estado intermediário, no qual tem um pouquinho de sabedoria e também alguma ignorância, onde a ignorância e a sabedoria estão misturadas. Você não é totalmente experiente. Quando tiver a experiência apropriada, a dúvida desaparecerá. Como você não tem experiência, está sentindo essa dúvida.

Um pequeno exemplo: sofrendo de malária, você come um doce, mas sente que ele tem um sabor amargo. O doce não é amargo, mas, na sua experiência, ele é amargo. Não é culpa do doce. A ignorância também é uma doença, como a malária. E a cura para esta doença da ignorância é Sadhana (disciplina espiritual). O homem tem dúvida somente enquanto ele não conhece a verdade. Quando você vivenciar a verdade, a dúvida desaparecerá. A verdade é única e eterna. Tudo o que muda, saiba que é inverdade.

Você foi pequeno e cresceu. Isso também é inverdade. Onde está o corpo do menino de dez anos? Tudo se juntou no presente corpo. Primeiro, inverdade; depois, quando temos a experiência, conhecemos a verdade. Luz e trevas não são diferentes, são apenas um. (...)

O mesmo se passa com a luz e as trevas. Quando a luz vem, as trevas vão. Mas, na verdade, as trevas não vão a parte alguma e nem a luz vai a parte alguma. Quando uma surge, a outra é ignorada, ela não vai a parte alguma."

(Conversações com Sai Baba, de J. S. Hislop)


quinta-feira, abril 23, 2015

Método meditativo para "apenas ser"

- Nisargadatta Maharaj - 


Você não pode dizer que você é o que você pensa ser! As suas idéias sobre si mesmo mudam de dia para dia e de momento a momento. A sua auto-imagem é a coisa mais inconstante que você tem. É totalmente vulnerável, à mercê de um transeunte. Uma privação, a perda de um emprego, um insulto, e a sua imagem de si mesmo, a qual você chama de sua pessoa, altera profundamente.

Para saber o que você é, você deve primeiro investigar e saber o que você não é. E para saber o que você não é você deve observar-se cuidadosamente, rejeitando tudo o que não vai necessariamente com o fato básico: "eu sou". As idéias: eu nasci num determinado lugar, num determinado momento, dos meus pais e agora eu sou desta forma, vivendo em, casado com, pai de, empregado de, e assim por diante, não são inerentes à sensação "eu sou".

A nossa atitude usual é a de "eu sou isto". Separe consistentemente e com perseverança o "Eu sou" de "isto" ou "aquilo", e tente sentir o que significa ser, apenas ser, sem ser "isto" ou "aquilo". Todos os nossos hábitos vão contra isso e a tarefa de lutar contra eles é longa e difícil por vezes, mas um claro entendimento ajuda muito. Quanto mais claro for o seu entendimento que, ao nível da mente, você pode ser descrito em termos negativos apenas, mais rapidamente você irá chegar ao fim da sua busca e realizar o seu Ser ilimitado.


terça-feira, abril 14, 2015

O poder da Presença (Ramana Maharshi)

- Ramana Maharshi -


"Gostaria de começar, fazendo uma referência a uma experiência um tanto "mística", que tive durante a minha estadia no Ashram de Sri Ramana Maharshi. Mesmo que seja difícil de descrevê-la, tentarei transmitir alguma ideia a respeito. (...)

Com aquele primeiro darshan de Ramana Maharshi, que tive na sala, e acabava de chegar, descobri o brilho resplandescente do sol em um só olhar; foi como se esse olhar atravessasse o mais profundo do meu ser. Minha respiração parou por um tempo e a mente ascendeu a uma dimensão espiritual de paz e felicidade inefáveis.

Mediante o desapego e o discernimento se pode aspirar alcançar o estado de sakshibhava, o estado do testemunho; mas existe um estado mais elevado, no qual se toma consciência de existência, com tudo o que existe; este estado se denomina abhinnabhava. Este estado, alcançado por Maharshi, supera qualquer possível forma de compreensão da mente do buscador.

Apesar de estar sentado na sala, observei Maharshi, que descansava no sofá e se mostrava completamente indiferente a tudo o que se sucedia em sua presença, (por exemplo, o ir e vir constante dos visitantes que um após o outro se prostravam diante dele) e mesmo assim pude discernir nele, de forma muito evidente, essa atitude de unidade com o todo chamada de abhinnabhava. Posso afirmar com total confiança que tocava o ser interior de todos os visitantes com aquele abhinnabhava que transcendia os pensamentos e então, os visitantes se viam capacitados para sentir em seu interior a presença do espírito universal.

Ao perceber que era assim que Maharshi irradiava a energia do Ser, decidi perguntar-lhe qual era a melhor forma de preparar-me, apesar de estar sentado em sua presença, para receber aquela transmissão de graça.

Pergunta - Quando estamos sentados perto de ti que estado mental devemos manter para receber a transmissão de teu Ser?

Sri Ramana - Mantenha a mente em silêncio, isso é o bastante. Se te manténs em silêncio, receberás a ajuda espiritual que necessitas nesta sala. O objetivo de qualquer prática é acabar com a mente. Quando a mente se aquieta, experimenta-se a energia do Ser. As ondas do Ser estão por toda parte e se começa a experimentá-las quando a mente está em paz.

Pergunta - O que é melhor para mim: olhá-lo nos olhos ou no rosto? Ou é melhor ficar quieto com os olhos fechados e dirigir a mente a algo determinado?

Sri Ramana - Fixa seu olhar em sua própria natureza. É indiferente que tenhas os olhos abertos ou fechados. O único que existe por todas as partes é a Unidade, e assim não importa se manténs os olhos abertos ou fechados. Se quiser, medite no "EU" que carregas dentro de ti. Esse é o atman, e como não tem olhos, não é necessário abri-los nem fechá-los. Quando alcançar o conhecimento do seu próprio Ser, já não restará nenhum conceito sobre o mundo. Quando estás sentado em sua casa, se as janelas estão abertas ou fechadas, você segue sendo a mesma pessoa, no mesmo estado. Da mesma forma, quando estás estabelecido no estado da realidade, não importa que tenhas os olhos abertos ou fechados: as coisas que acontecem externamente tem escassa importância.

A reciprocidade que existe entre Sri Ramana Maharshi e sua abhinnabhava, e o buscador que está sentado em sua presença, é análoga a do radio-transmissor e o radio-receptor, quando o visitante está verdadeiramente ansioso por obter o máximo benefício de energia de bondade que irradia a presença silenciosa do sábio, deve sintonizar sua mente - receptora - com a longitude adequada de onda.

O silêncio do sábio é constante, e exerce sua influência positiva sem interrupção, tanto que se tem a sensação de que o sábio é consciente do mundo como que não é. Voltando à analogia do transmissor, posso afirmar que no que se refere ao sábio, sua influência espiritual se transmite sem parar, desde o ponto de vista do buscador, que mesmo preso ao poder de maya, o efeito permanentemente benéfico do sábio, não terá efeito aparente a menos que o buscador esteja preparado para recebê-lo. Em uma conversação que manteve com outro devoto durante minha estadia no ashram, o próprio Maharshi comparou a irradiação de sua graça com um radio-transmissor.

Pergunta: Segundo algumas pessoas, é egoísta dedicar-se a alcançar a liberação, e em seu lugar deveria se dedicar a ajudar aos demais, realizando algum tipo de serviço altruísta.

Sri Ramana - Estas pessoas creem que os jñanis são egoístas, e eles não são. Mas isso não é certo. Os jñani vivem a experiência de Brahman e o efeito de sua experiência se estende por todo mundo. Da mesma forma que uma transmissão de rádio se realiza de um lugar determinado, seus efeitos podem sentir em qualquer lugar do mundo e aqueles que quiserem se beneficiar com ele, assim podem fazê-lo. Da mesma maneira, o estado de iluminação do jñani se estende por todas as partes e está a disposição de todos que queiram se conectar com ele. Portanto, não se trata de um serviço menor.

Durante minha estadia no ashram, tomei nota das conversações sobre a auto-indagação que aconteceram entre Maharshi e vários visitantes. Vejamos diretamente o que Maharshi tem a nos dizer sobre isso, ele mesmo nos explica como devemos praticar a auto-indagação.

Pergunta: Quem sou eu? A quem se refere esta pergunta?

Sri Ramana - A pergunta se refere ao "eu" individual, não ao Atman (Ser).

Pergunta - É conveniente que repita "Sou Shiva," cada vez que me pergunto "Quem sou eu"? Não seria melhor responder: "Não sou a mente, não sou o intelecto, não sou o corpo", etc..?

Sri Ramana - No transcurso da auto-indagação, não há que se dar respostas à mente, pois há que se permitir que a resposta surja de dentro. A resposta que provém do "eu" individual não é real. Há que se seguir indagando, até se obter a resposta com o método de jñana marga (o caminho do conhecimento). Esta auto-indagação se chama meditação e a experiência inativa, plena de paz e conhecimento que surge deste estado, é jñana.

Pergunta: Às perguntas "Quem sou eu? Sou de onde?", há que fazer constantemente japa (repetição de palavras sagradas), ou há que se fazer a pergunta uma ou duas vezes mentalmente, até que ela atinja a raiz do "eu", e então que se interrompa todos os pensamentos sobre o mundo?

Sri Ramana -  Não se trata de fazer japa com a pergunta "Quem sou eu? Quem sou eu?". Uma vez que a pergunta seja plantada na mente, há que se buscar a raiz do "eu" e interromper os demais pensamentos. Se alguém se chama Desai, não necessita ficar repetindo: "Sou Desai, Sou Desai." Pelo mesmo motivo, tampouco é necessário que se repita frases como "Sou Brahman, Sou Brahman". Em todas as formas de sadhana se procura manter a mente quieta, mas mesmo que se faça japa, a mente nunca vai se manter quieta. Ao invés de praticá-lo dessa maneira, o que acontece é experimentar que Brahman é o sujeito que vê a mente, isto é, o testemunho. Se deve experimentar Brahman, o testemunho.

Pergunta: Segundo seus ensinamentos, quando se embarca na busca do "eu", a experiência do testemunho acontece?

Sri Ramana - Sim.

Pergunta: Depois, se você apaga completamente o que tem sido, o testemunho se converte na forma de Brahman?

Sri Ramana - Assim é.

Pergunta: É conveniente se praticar pranaiama (controle da respiração) com regularidade, juntamente com a pergunta "Quem Sou eu?", e mesmo repetindo a pergunta permanecer com a atenção focada na entrada e saída do ar?  

Sri Ramana - Não é necessário se fazer pranaiama; é muito melhor que se tente realizar a auto-indagação "Quem Sou eu?" sem centrar a atenção na respiração. O pranaiama existe para os que não são capazes de concentrar a mente de nenhuma outra maneira. À medida que a mente se fortalece, o pranaiama vai deixando de ser necessário. A função principal do pranaiama é proporcionar as rédeas necessárias para se manter sob controle o cavalo da mente. 

Pergunta: Qual sua opinião sobre os siddhis? (poderes sobrenaturais)

Sri Ramana - A iluminação é maior que os siddhis.

Pergunta: Quando me pergunto "Quem Sou eu?", não encontro nenhuma resposta que venha de dentro.

Sri Ramana - Isso se deve a uma crença errônea. Se buscar adequadamente, descobrirá que esse "eu" que está tentando descobrir algo, acabará mais tarde por deixar de existir. A medida que se libertas de pensamentos de nomes e formas, irá se aprofundando cada vez mais em seu interior.

Pergunta: Se conseguir eliminar todos os pensamentos, estaria então meditando adequadamente?

Sri Ramana - Isto está bem em princípio, mas só quando se intensificar a sua atração pelo Ser, começará a auto-indagação, e ao mesmo tempo cessará todo este esforço e aparecerá um novo estado.

Pergunta: Pode-se praticar Sadhana da auto-indagação levando uma vida normal ou há que se sair de casa?

Sri Ramana - É você que está em casa, ou é a casa que está em ti? Fique onde estiver.

Pergunta - Então, posso permanecer em casa.

Sri Ramana - Este não é o significado. O que quero dizer é que deves viver em sua verdadeira natureza. Você não está em casa, na verdade é a casa, assim como o mundo, que está em ti. É o dono da casa que está convencido de que não é o dono de nada, e apesar de viver nela é o autêntico renunciante. Imagina que existe um homem que está dormindo no trem. Ele é o mesmo homem, esteja o trem andando ou parado. Aquele que está adequadamente estabelecido no Atman, lhe acontece o mesmo, porque sabe que neste mundo não se sucede nada, e que ele nunca destrói nada. Só sentimos que sucede algo, quando estamos no estado de pramata - o sujeito conhecedor de algo - mas este estado não constitui nossa verdadeira natureza. Para o jñani que se despojou do  conceito de conhecedor, nunca acontece nada."


domingo, abril 12, 2015

18 regras de vivência (por Dalai Lama)

Dalai Lama


Regra 1. Leve em consideração que grandes amores e grandes conquistas envolvem grandes riscos.

Regra 2. Quando você perder, não perca a lição.

Regra 3. Siga os três R's: 1. Respeito próprio. 2. Respeito ao próximo. 3. Responsabilidade por todas suas ações.

Regra 4. Lembre-se de que não conseguir o que você deseja é algumas vezes um grande golpe de sorte.

Regra 5. Aprenda as regras para que você possa quebrá-las apropriadamente.

Regra 6. Não permita que uma pequena disputa cause danos a uma grande amizade.

Regra 7. Quando você perceber que cometeu um erro, tome atitudes imediatas para corrigi-lo.

Regra 8. Passe algum tempo sozinho todos os dias.

Regra 9. Esteja de braços abertos a mudanças, mas não perca seus valores.

Regra 10. Lembre-se de que o silêncio é algumas vezes a melhor resposta.

Regra 11. Viva uma vida boa e honrada. Então quando você envelhecer e olhar para trás, será capaz de aproveitá-la uma segunda vez.

Regra 12. Um clima amoroso em seu lar é o fundamento de sua vida.

Regra 13. Em desentendimento com pessoas amadas, lide apenas com a situação presente. Não evoque o passado.

Regra 14. Compartilhe seu conhecimento. É uma forma de atingir a imortalidade.

Regra 15. Seja gentil com a Terra.

Regra 16. Uma vez ao ano, visite algum lugar em que nunca esteve antes.

Regra 17. Lembre-se de que o melhor relacionamento é aquele em que seu amor pelo outro é maior do que sua necessidade pelo outro.

Regra 18. Julgue o seu sucesso pelo que você teve que abrir mão para consegui-lo.


terça-feira, abril 07, 2015

Acessando a suprema verdade

- OSHO -


Como pode alguém acessar a suprema verdade? Como pode alguém conhecer aquele supremo mistério que está tão perto e ainda assim permanece desconhecido, que está para sempre conosco e ainda assim está perdido? Como nós podemos alcançá-lo, como alguém já o alcançou? Nestes sutras está a explicação de tal ciência, o processo de tal caminho.

Primeiro vamos entender algumas coisas a respeito de Ilusão. Ilusão significa ver alguma coisa de uma maneira como ela não é. Verdade significa ver alguma coisa da maneira como ela é. Qualquer coisa que nós vemos é ilusão, porque nós envolvemos a nós mesmos em nosso ver, a nossa experiência não permanece objetiva, ela se torna subjetiva. O que quer que esteja do lado de fora, não nos alcança como é. Nossa mente distorce aquilo, embeleza aquilo, ornamenta, recorta – torna-o maior ou menor, modifica-o de muitas, muitas maneiras.

A maior modificação e a mais profunda ilusão é que associamos nós mesmos com tudo, e na verdade nós não estamos associados com nada, absolutamente. Tão logo nós nos associamos, a realidade é perdida e a projeção do sonho começa parecer verdade. Por exemplo, nós chamamos uma coisa de “minha” – “minha casa”... a casa que estava ali quando nós não estávamos e que ainda estará ali quando nós não estivermos mais. Alguma coisa que pode estar antes que eu esteja, que pode ser antes que eu seja, e que continuará depois que eu não estiver mais, que não desaparecerá com o meu desaparecimento – como pode aquilo ser “meu”? (...)

Em qualquer lugar que o homem põe o seu pé, ele rotula aquilo com o seu “Eu”. A natureza não aceita o seu rótulo, mas os outros seres humanos aceitam, senão haveria confrontação. Os outros têm que aceitar os rótulos porque eles também querem colocar os seus próprios rótulos nas coisas. Assim a casa se torna propriedade de alguém e o pedaço de terra se torna de outro alguém. Por que nós somos tão impacientemente ansiosos para cravar esse rótulo do “Eu” em algum lugar? A ansiedade é porque quanto mais lugares e coisas nas quais nós cravamos esse rótulo, ou colocamos as nossas assinaturas, maior se torna o círculo do “meu” e mais se desenvolve dentro de nós o “Eu”. (...)

Em qualquer lugar que o homem vai, ele chega lá com o seu “meu”. Tente compreender as implicações disso. O “Eu” na verdade se torna maior através do “meu”, mas quanto maior for a extensão do “meu”, maior será a infelicidade. O aumento no “Eu” é o aumento da infelicidade, porque o “Eu” é uma ferida. E quanto maior for o “Eu”, maior será a área vulnerável à dor, assim aquela dor crescente vai trazer mais sofrimento. É como se alguém tivesse uma grande ferida no corpo que tende a doer a qualquer momento e então qualquer movimento que a pessoa faz ela provoca dor. A ferida é grande, a área é grande, e qualquer pequeno toque se torna uma dor. Quanto maior for o “Eu”, maior será o sofrimento, maior será a dor.

Com a expansão do “meu” o “Eu” se expande. Na medida que o “Eu” cresce, a dor também cresce. Por um lado a pessoa sente que a felicidade está crescendo, e por outro lado a infelicidade também está crescendo. Quanto mais nós aumentamos essa felicidade, mais a infelicidade segue crescendo – e entre as duas uma ilusão é carregada. Ali onde não há possibilidade de dizer “meu”, ali também nós continuamos a dizer “meu”, falsamente, sem qualquer significado. Esta mão que você chama de “minha”, este corpo que você chama de “meu”, também não são seus. Quando você não estava aqui, mesmo então os ossos, a pele, o sangue de sua mão existiam em algum lugar, e eles continuarão a existir mesmo depois de você. (...)

A vida não aceita reivindicação de ninguém quanto a isso e segue fluindo a cada momento. Mas nós continuamos reivindicando. Essa ilusão de reivindicação é a mais profunda ilusão do homem.

Assim, sempre que uma pessoa diz “meu” ela está caindo na ignorância. Este sutra é para quebrar exatamente essa ilusão. Não apenas a terra não é minha, a casa não é minha, o dinheiro não é meu, mesmo o corpo não é meu. O seu corpo é composto pelos átomos de seus pais. Aqueles átomos existiam antes que você e eles chegaram até você através de uma longa jornada. Antes de seus pais, eles estiveram nos corpos dos pais deles. Esses átomos têm uma jornada de milhões de anos e agora eles constituem o seu corpo. Tal corpo também é um campo, uma terra na qual você está enraizado, mas você não é ele. Você não é o corpo, você é separado dele.

Este sutra diz que um homem não é apenas o corpo, ele vai mais profundo e diz que o homem não é nem mesmo a mente, porque a mente também é um amontoado de várias coisas.

Você tem um simples pensamento que possa ser seu, o qual você pode dizer que é seu? Não há nenhum. Alguns vieram da tradição, alguns vieram das escrituras, alguns vieram de ouvir alguém, alguns vieram de suas leituras – eles vieram de uma ou outra fonte externa. Se você pesquisar o mapa-natal de cada um de seus simples pensamentos, e você olhar para a jornada de cada pensamento, você descobrirá que não tem um único pensamento como sendo seu próprio, todos eles são emprestados, eles chegaram a você de algum lugar.

Nenhum pensamento é original, todos os pensamentos são emprestados. Mas nós reivindicamos até mesmo um pensamento como sendo “meu”.

Lembre-se de que mesmo uma respiração não pode ser chamada de “minha”; pensamento é uma questão muito mais sutil. Indo cada vez mais fundo nessa análise, onde nós chegaremos? Onde os Upanishades chegaram? Onde Buda chegou? Onde Mahavira chegou? Continuando essa análise, usando a negação: Eu não sou isso, eu não sou aquilo, quando no final nada restar a ser negado, quando nada permanecer a respeito do que eu possa mesmo pensar se aquilo é meu ou não... Quando nada ficar para trás para ser cortado, quando todas as relações forem quebradas e nada permanecer que ainda possa ser quebrado, aquilo que ainda assim permanecer é o que os Upanishads chamam sakshi, a testemunha.

Existe um grande mundo ao meu redor – ele não é meu. Reduzindo, eu chego mais perto – este corpo não é meu. Descendo mais fundo nisso – a mente não é minha. Então quem está ali que eu possa chamar de “Eu”? Ou nada existe em mim que possa ser chamado “Eu”? Eu sou, ou eu não sou? Cortando fora o “meu” em sua totalidade, qual a coisa mais pura que permanece dentro? Somente uma coisa permanece que não é descartada; não existe maneira alguma para que isso seja descartado. (...).

É disso que os Upanishads estão em busca. Uma após outra, todas as coisas são eliminadas, assim como se remove camada após camada de uma cebola. Se você continuar descascando uma cebola, no final nada restará em suas mãos. Uma cebola nada mais é do que camadas e mais camadas de pele – revestindo e revestindo – e não há nada a ser encontrado se você continuar descascando- É como se alguém pudesse ter feito uma boneca de pano e nós fossemos removendo suas roupas uma por uma. Ao remover a primeira camada, revela-se a segunda; ao remover a segunda camada a terceira é revelada, e assim por diante, até que todas as camadas tenham sido removidas – e não resta nenhuma boneca mais, apenas nada em suas mãos.

Assim, a maior busca do homem é por descobrir se ele também é nada mais do que um acúmulo de muitas, muitas camadas que nós podemos ir descascando e que no final nada haverá em nossas mãos. Se nós seguirmos negando e dizendo, “eu não sou o corpo”, “eu não sou a mente”, “eu não sou isso”, “eu não sou aquilo”, isso poderá se tornar a história da cebola e no final nada permanecerá do que possa ser dito que “isso sou eu”.

Mas os Upanishads dizem que mesmo se for assim, ainda é necessário conhecer a verdade, mesmo que seja verdadeiro que nada exista dentro, ainda vale a pena conhecer, porque o resultado de se conhecer a verdade é muito significante. Mas buscando profundamente, entretanto, descobre-se no final que o homem não é apenas um acúmulo de roupas, o homem não é apenas camadas sobre camadas sobre camadas. Existe alguma coisa dentro das camadas que é diferente. Mas nós só chegamos a conhecer tal coisa quando, removendo todas as camadas, nós chegamos dentro de nós. Tal elemento que permanece no fim é chamado sakshi pelos Upanishads, a testemunha.

Essa palavra sakshi é muito bela e preciosa. Toda a filosofia, genialidade e sabedoria do Oriente está implícita nessa pequena palavra. O Oriente não contribuiu para o mundo com outra palavra mais importante do que sakshi, a testemunha.

O que significa sakshi? Sakshi significa aquele que vê, a testemunha. Quem é esse que está experienciando que “eu não sou o corpo”? Quem é esse que está experienciando que “eu não sou a mente”? Quem é esse que segue negando que “eu não sou isso, eu não sou aquilo”? Existe um elemento que vê, que observa, o observador dentro de nós que vê, que observa tudo.

Esse que vê é o sakshi, a testemunha. O que é visto é o mundo. Aquele que está vendo é quem eu sou e o que está sendo visto é o mundo. ‘Adhyas’, a ilusão, significa que aquele que está vendo entende mal a si mesmo como se estivesse em tudo que é visto. Essa é a ilusão.

Existe um diamante em minha mão e eu estou vendo ele. Se eu começar a dizer que eu sou o diamante, isso é uma ilusão. Essa ilusão tem que ser quebrada e a pessoa tem que chegar finalmente àquele puro elemento que é sempre o que vê e nunca é visto. Isso é um pouco difícil. Aquele que vê nunca pode ser visto porque ele será visto por quem? Você pode ver tudo no mundo exceto a si mesmo. Como você pode ver a si mesmo? – porque dois serão necessários para se ver, aquele que vê e o outro que é visto. Nós podemos pegar tudo com um par de pinças, exceto as próprias pinças. Esse esforço irá falhar. Nós podemos achar isso embaraçoso, pois se as pinças pinçam tudo, por que elas não conseguem pinçar elas mesmas?

Nós vemos tudo, mas não somos capazes de ver a nós mesmos. E nós nunca seremos capazes disso. O que quer que possa ver, você sabe que não é você. Portanto, tenha uma coisa como certa, que aquilo que você é capaz de ver não é você. Se você for capaz de ver Deus, então uma coisa se torna certa, que você não é Deus. Se você vê luz dentro de você, uma coisa é conclusiva, que você não é a luz. Se você tem uma experiência de êxtase dentro de si, uma coisa é determinada, que você não é o êxtase. Qualquer coisa que tenha sido experienciada, você não é aquilo. Você é aquele que experiencia.

Assim, qualquer coisa que se torna sua experiência, você está além dela. Por conseqüência, será útil compreender um ponto difícil aqui, que espiritualidade não é uma experiência. Tudo no mundo é uma experiência, mas não espiritualidade. Espiritualidade é alcançar aquele que experiencia tudo, mas que ele próprio nunca se torna uma experiência. Ele sempre permanece sendo o experienciador, a testemunha, aquele que vê.

Eu vejo você: você está de um lado, eu estou do outro lado. Você está lá, aquele que está sendo visto; eu estou aqui, aquele que está vendo. Essas são duas entidades.

Não há maneira alguma de dividir alguém em dois, de modo que uma parte vê e a outra parte é vista. Mesmo se fosse possível dividir, então a parte que estaria vendo sou eu, e a parte que está sendo vista não seria eu. Simples assim.

Esse é todo o processo ou metodologia dos Upanishads: neti, neti – nem isso, nem aquilo. O que quer que possa ser visto, é dito que você não é aquilo. O que quer que possa ser experienciado, é dito que você não é aquilo. Você continua dando passos atrás, até que nada permaneça que possa ser negado ou eliminado. Um momento chega em que todo o cenário é perdido. Um momento chega em que todas as experiências são deixadas de lado – todas!

Lembre-se, todas! A experiência de sexo é certamente abandonada, a experiência de meditação também é abandonada. As experiências do mundo, de amor e de ódio são largadas, as experiências de êxtase e iluminação também são largadas. Somente o puro observador permanece. Nada está ali para ser visto, somente o vazio permanece por toda volta. Somente aquele que vê permanece, e o céu vazio por toda volta. E no meio está aquele que vê, o observador, aquele que vê nada porque tudo que poderia ser visto foi negado e eliminado. Agora ele experiencia nada. Ele removeu todas as experiências de seu caminho. Agora ele permanence só, aquele que estava experienciando.

Quando não há qualquer experiência, não há qualquer ver, nada é visto, não há qualquer objeto para ser visto, e permanece a testemunha só. Torna-se muito difícil de se expressar na linguagem o que realmente acontece porque nós não temos outra palavra a não ser “experiência” em nossa linguagem, por isso nós chamamos isso de “auto-experiência” ou “auto-realização”. A palavra experiência não é certa. Nós dizemos “experiência de consciência” ou “experiência de Brahma, o absoluto”, mas nenhuma dessas expressões são corretas porque a palavra experiência pertence àquele mesmo mundo que nós já tínhamos eliminado. A palavra experiência tem um significado no mundo da dualidade, onde havia “o outro” também. Aqui ela não tem qualquer significado em absoluto. Aqui somente o experienciador permanece, a testemunha permanece.

A busca por essa testemunha é espiritualidade. (...)

Se não houver menção alguma à testemunha, compreenda bem tudo isso nada tem a ver com religião. Tudo mais é secundário. Tudo mais pode ser útil, pode não ser útil, pode haver diferenças de opinião a respeito de tudo mais, mas não no que se refere à testemunha.

Por isso, se algum dia no mundo for criada uma ciência da religião, não haverá qualquer menção a Deus, à alma, a Brahma. Essas são questões localizadas – algumas religiões acreditam neles, outras não – mas o sakshi será mencionado porque ele não é uma questão localizada.

Não pode existir religião alguma sem a testemunha. Assim a testemunha sozinha é a base científica para todas as experiências religiosas – de toda busca e jornada religiosa. E é sobre isso e ao redor desse sakshi que todos os Upanishads giram. Todos os princípios e todos os indicadores são para assinalar a testemunha.

Vamos tentar compreender isso um pouco mais. Não é difícil compreender o significado da palavra testemunha, mas a sua prática real é uma coisa complexa.

Nossa mente é como uma flecha, afiada numa das pontas. Você já deve ter visto uma flecha: ela não pode ser atirada nas duas extremidades, uma flecha só vai em uma direção. Ela não pode viajar em direções opostas simultaneamente, ela somente vai em direção ao seu alvo, em uma direção.

Assim, quando a flecha está no arco e então ela é disparada, existem dois aspectos a serem considerados – quando ela deixa o arco no qual ela estava situada, ela começa a se mover para fora dele, e ela começa a se aproximar do alvo, onde ela não estava antes. Um estado era que a flecha estava no arco e, distante dali, numa árvore, estava o alvo. A flecha estava ainda no arco e ainda não havia atingido o alvo. Então a flecha deixa o arco, começa a se mover para fora dele e se aproximar do alvo. E em seguida chega o estado em que a flecha atinge o alvo, o arco permanece vazio e a flecha no centro do alvo.

Isso é o que nós estamos fazendo com nossa consciência o tempo todo. Sempre que a flecha de nossa consciência nos deixa, o arco interno se torna vazio e a flecha, ao alcançar o objeto, se apega a ele. Um rosto parece belo para você, a flecha de sua consciência é lançada. Agora aquela flecha não está dentro de você, a consciência não está dentro de você. A consciência correu para fora e se apegou ao belo rosto.

Existe um diamante no meio da Estrada; a flecha é lançada do arco. Agora a consciência não está dentro de você, agora a consciência se move e alcança o diamante, pinça o centro dele. Agora a sua consciência está com o diamante e não mais dentro de você. Agora a consciência está em algum outro lugar. Assim, todas as flechas de sua consciência tem alcançado e pinçado alguma coisa fora, em algum lugar fora. Você não tem mais a consciência dentro de si, ela está sempre indo para fora. Uma flecha consegue ir apenas em uma direção, mas a consciência pode ser bi-direcional – e quando isso acontece, a testemunha é experienciada. A flecha da consciência consegue ir em ambas as direções, ela pode ter dois gumes.

Quando a sua consciência é puxada para algum lugar, se você puder manejar somente um tanto, um dia então a testemunha acontecerá dentro de você. Quando sua atenção for puxada para fora – uma bela mulher ou um belo homem estiver passando – a sua consciência foi pega ali e agora você esqueceu completamente de si mesmo, a consciência não está mais dentro de você. Agora você não está consciente, agora você se tornou inconsciente porque a sua consciência viajou para algum outro lugar, agora a sua consciência se tornou uma sombra daquela pessoa ou objeto – agora você não está mais consciente.

Agora, se você conseguir fazer essa única coisa: você viu alguém belo, a sua consciência foi puxada para lá. Se no mesmo momento você conseguir estar alerta, consciente do arco de onde a flecha foi lançada, se você conseguir simultaneamente ver ambos – a fonte de onde a consciência foi disparada e o objeto para onde a consciência está indo – se ambos puderem chegar à sua atenção simultaneamente, então você irá experienciar pela primeira vez o que significa a testemunha. De onde a consciência está se levantando, de onde a consciência foi lançada para fora – essa fonte tem que ser encontrada. (...)

Compreenda dessa outra maneira: quando eu estou falando, a sua consciência está em minhas palavras. Faça disso uma flecha apontada para os dois lados... Isso pode acontecer justo agora, neste exato momento. Quando eu estou falando, não escute apenas o que eu estou dizendo, permaneça também simultaneamente consciente de que você está ouvindo. Aquele que fala é um outro alguém, ele está falando, eu sou o ouvinte, eu estou ouvindo. Se mesmo por um momento, aqui, agora, manejar ambas as coisas simultaneamente – ouvindo também se lembrando do ouvinte, essa lembrança interna de que “eu estou ouvindo” – e não há nenhuma necessidade de repetir as palavras. Se você repetir as palavras “eu estou ouvindo” você não será capaz de ouvir ao mesmo tempo, você perderá o que eu disse. Não há necessidade alguma de formar a frase interna “eu estou ouvindo, eu estou ouvindo”. Se você fizer isso, você ficará surdo por aquele período de tempo ao que eu estava dizendo. Naquele momento enquanto você ouvir sua própria voz dizendo “eu estou ouvindo”, você não ouvirá o que eu estiver dizendo.

É uma experiência simultânea de ouvir o que eu estou dizendo e também estar consciente de que você está ouvindo. A sensação, a realização, a experiência de que você é o ouvinte é o segundo aspecto. Alcançar a consciência desse segundo aspecto é difícil. Se você conseguir manejar isso, será muito fácil tornar-se consciente do terceiro aspecto.

O terceiro aspecto é esse: se quem fala é A, quem escuta é B, então quem é aquele que experiencia ambos, o que fala e também o ouvinte? Esse é o terceiro, e esse terceiro ponto é a testemunha. Você não consegue ir além desse terceiro. Esse terceiro é o último ponto. E esses são os três pontos do triângulo da vida: os dois são o objeto e o sujeito, e o terceiro ponto é a testemunha desses dois, o experienciador desses dois, aquele que vê esses dois.




quarta-feira, abril 01, 2015

O Estado de Presença (Eckhart Tolle)

- Eckhart Tolle -


Não é o que você pensa que é

Você continua falando que o estado de presença é a chave. Acho que compreendo a idéia mentalmente, mas não sei se alguma vez vivenciei esse estado. Imagino o que seja. É do jeito que eu penso ou é algo completamente diferente?

Não é o que você pensa que é! Não podemos pensar sobre a presença nem a mente pode entendê-la. Compreender a presença é estar presente.

Faça uma experiência rápida. Feche os olhos e diga: “Imagino qual será o meu próximo pensamento”. Depois fique bem alerta e espere pelo próximo pensamento. Aja como um gato espreitando o buraco do rato. Que pensamento será que vai sair do buraco do rato? Experimente já.

E aí?

Tive de esperar bastante tempo até que surgisse um pensamento.

Exatamente. Enquanto estamos num estado de presença intensa, estamos livres do pensamento. Estamos quietos, embora bem alerta. No instante em que a consciência desce abaixo de um certo nível, os pensamentos surgem aos borbotões. O ruído mental volta a aparecer e perdemos a serenidade. Estamos de volta ao tempo.

Para testar o grau de presença, alguns mestres zen tornaram-se conhecidos por se aproximarem dos alunos por trás e, de súbito, atingi-los com um bastão. Que susto! Se o aluno estivesse totalmente presente e em estado de alerta, se tivesse “mantido seu lombo cingido e sua lamparina acesa”, que é uma das analogias de que Jesus se utiliza para falar da presença, o aluno teria percebido o mestre se aproximar e o teria imobilizado ou se desviado para o lado. Mas, se o aluno fosse atingido, significaria que estava mergulhado em seus pensamentos, o que quer dizer, ausente, inconsciente.
Para ficarmos presentes no dia-a-dia, ajuda muito estarmos profundamente enraizados dentro de nós. Do contrário, a mente, que tem um impulso inacreditável, nos arrastará com ela, como um rio caudaloso.

O que você quer dizer com “enraizado em seu interior”?

Significa ocupar o corpo completamente. Ter sempre a atenção concentrada no campo energético interior do corpo. Sentir o corpo bem lá no fundo, como se diz. A consciência do corpo nos mantém presentes. Ela nos dá uma base firme no Agora.


O sentido "esotérico" de espera

Num certo sentido, o estado de presença poderia ser comparado à espera. Jesus empregou a analogia da espera em muitas de suas parábolas. Não se trata do costumeiro tipo de espera, tediosa ou agitada, que é uma negação do presente e sobre a qual já comentei. Não é uma espera na qual a atenção fica focalizada em algum ponto do futuro e o presente é percebido como um obstáculo indesejável, que nos impede de alcançar o que desejamos. Existe um tipo de espera que requer uma prontidão total. Alguma coisa pode acontecer a qualquer momento e, se não estivermos absolutamente acordados e calmos, vamos perdê-la. Esse é o tipo de espera da qual Jesus falou. Nesse estado, toda a nossa atenção está no Agora. Não há nenhum espaço para fantasias, pensamentos, lembranças, antecipações. Não há tensão, nem medo, apenas uma presença alerta. Estamos presentes com todo o nosso Ser, com cada célula do corpo. Nesse estado, o “você” que tem um passado e um futuro, em outras palavras a personalidade, dificilmente está ali. E, mesmo assim, não se perdeu nada de valor. Você ainda é essencialmente você. Na verdade, você é muito mais inteiramente você do que jamais terá sido, ou melhor, somente agora você é verdadeiramente você.

“Seja como um servo esperando pelo retorno do seu senhor”, diz Jesus. O servo desconhece a que horas o senhor vai chegar. Então fica acordado, vigilante, aprumado e sereno, para não perder a chegada do patrão. Em outra parábola, Jesus fala das cinco mulheres descuidadas (inconscientes) que não tinham levado azeite suficiente (consciência) para manter as lâmpadas acesas (ficar presente) e, assim, perderam a chegada do esposo (o Agora) e não participaram das bodas (iluminação). Essas cinco fazem um contraste com as cinco mulheres prudentes que tinham azeite (fique consciente).

Nem mesmo os homens que escreveram esses Evangelhos compreenderam o sentido dessas parábolas e, assim, os primeiros mal-entendidos e distorções surgiram enquanto eles estavam escrevendo. Com as interpretações equivocadas, perdeu-se completamente o sentido real. Essas parábolas não são sobre o fim do mundo, mas sobre o fim do tempo psicológico. Elas apontam para a transcendência da mente e para a possibilidade de se viver num estado inteiramente novo de consciência.


A beleza nasce da serenidade da sua presença

O que você acabou de descrever é algo que acontece comigo ocasionalmente por breves momentos quando estou só e em meio à natureza.

Sim. Os mestres zen usam a palavra satori para descrever um momento de insight, um momento de mente vazia e presença total. Embora satori não seja uma transformação duradoura, agradeça quando ele surgir porque terá uma amostra da iluminação. Isso já pode ter acontecido muitas vezes, sem que você soubesse o que significava e como era importante. A presença é necessária para tomarmos consciência da beleza, da majestade, do aspecto sagrado da natureza. Você alguma vez contemplou o espaço infinito em uma noite clara, estarrecido por sua calma absoluta e incrível vastidão? Já escutou, de verdade, o som de um riacho numa montanha na floresta? Ou o som de um melro ao cair da tarde em uma tranqüila tarde de verão? Para perceber tudo isso a mente tem que estar serena. Você tem de se despojar por um momento da sua bagagem pessoal de problemas, do passado e do futuro, e também do seu conhecimento. Do contrário, você olhará mas não verá, ouvirá mas não escutará. Estar totalmente presente é fundamental.

Existe algo mais sob a beleza das formas externas. Algo que não pode ser nomeado, que é inefável, uma essência profunda, interna e sagrada. Onde quer que exista a beleza, essa essência interior brilhará de alguma forma. Ela só se revela quando estamos presentes. Será possível que essa essência sem nome e a sua presença sejam coisas idênticas e uma coisa só? Será que a essência estaria lá sem a sua presença? Vá fundo nisso. Descubra por si mesmo.

Quando você vivenciou esses momentos de presença, provavelmente não percebeu que, por breves instantes, esteve em um estado de mente vazia. Isso aconteceu porque o espaço entre esse estado e o fluxo de pensamentos era muito estreito. O seu satori pode ter demorado só uns segundos antes que a mente surgisse, mas ele esteve lá, do contrário você não teria vivenciado a beleza. A mente não pode reconhecer, nem criar a beleza. Por alguns segundos, enquanto você esteve completamente presente, aquela beleza ou algo sagrado esteve lá. O pequeno espaço, sua falta de vigilância e a falha no estado de alerta impediram que você visse a diferença fundamental entre a percepção, a consciência da beleza sem pensamento, e a nomeação e interpretação disso como um pensamento. O espaço de tempo foi tão pequeno que pareceu ser um simples processo. No entanto, a verdade é que, no momento em que o pensamento surgiu, tudo o que lhe restou foi uma lembrança dele.

Quanto maior for o espaço entre a percepção e o pensamento, mais profundos seremos como seres humanos, ou seja, ficaremos mais conscientes.

Muitas pessoas estão tão aprisionadas em suas mentes que a beleza da natureza não existe para elas. Podem dizer “que flor linda”, mas é apenas um rótulo mental mecânico. Como elas não estão serenas, não estão presentes, não vêem a flor de verdade, não sentem a sua essência, do mesmo modo como não conhecem a si mesmas, não sentem a sua própria essência interior, sagrada.

Como vivemos em uma cultura dominada pela mente, a maior parte da arte moderna, da arquitetura, da música e da literatura é desprovida de beleza, de essência interior, com raras exceções. A razão é que as pessoas que criam essas obras não conseguem livrar-se das suas mentes, nem mesmo por um momento. Portanto, nunca estão em contato com aquele lugar interior, onde se originam a verdadeira criatividade e a beleza. A mente pode criar monstruosidades e não só nas galerias de arte. Olhe para as nossas paisagens urbanas e terrenos baldios em zonas industriais. Nenhuma civilização jamais produziu tanta feiura.


Vivenciando a consciência pura

Presença é o mesmo que Ser?

Quando tomamos consciência do Ser, o que de fato acontece é que o Ser se torna consciente de si mesmo. Quando o Ser toma consciência de si mesmo, isso é presença. Como o Ser, a consciência e a vida são sinônimos, podemos dizer que a presença significa a consciência se tornando consciente de si mesma, ou a vida tomando consciência de si mesma. Mas não se apegue às palavras e não se esforce para entendê-las. Não há nada que você precise entender antes de conseguir se tornar presente.

Compreendo o que você acabou de dizer, mas isso parece implicar que o Ser, a realidade transcendental definitiva, ainda não está completo e que está passando por um processo de desenvolvimento. Será que Deus precisa de tempo para um crescimento pessoal?

Sim, mas somente se visto da perspectiva limitada do universo manifesto. Na Bíblia, Deus declara: “Eu sou o Alfa e o Omega, eu sou Aquele que está vivo”. No reino eterno em que Deus habita, que também é a nossa casa, o começo e o fim, o Alfa e o Omega, são uma unidade, e a essência de todas as coisas que existem e existirão está eternamente presente na forma de um estado não manifesto de unidade e perfeição, totalmente além de qualquer coisa que a mente humana possa vir a imaginar ou compreender. Entretanto, em nosso mundo de formas aparentemente separadas, a perfeição eterna é um conceito muito difícil de imaginarmos. Aqui, até mesmo a consciência, que é a luz emanando da Fonte eterna, parece estar sujeita a um processo de desenvolvimento, mas isso se deve à nossa percepção limitada. Não é isso o que acontece em termos absolutos. Ainda assim, vou continuar a falar por um momento a respeito da evolução da consciência em nosso mundo.

Todas as coisas que existem têm um Ser, têm uma essência divina, têm algum grau de consciência. Até mesmo uma pedra tem uma consciência rudimentar, do contrário não existiria e seus átomos e moléculas se dispersariam. Tudo está vivo. O sol, a terra, as plantas, os animais, as pessoas, todos são expressões da consciência em níveis variáveis, a consciência se manifestando como forma.

O universo desponta quando a consciência toma um corpo e uma forma, formas abstratas e formas materiais. Olhe para os milhões de formas de vida só neste planeta. No mar, na terra, no ar e, em seguida, como cada forma de vida se reproduz milhões de vezes. Com que propósito? Será que alguma coisa, ou alguém, está jogando um jogo com a forma? É isso o que os antigos profetas da Índia se perguntavam. Viam o mundo como lila, uma espécie de jogo divino jogado por Deus. As formas de vida individuais não são obviamente muito importantes nesse jogo. No mar, a maioria das formas de vida não sobrevive por mais de alguns minutos depois de ter nascido. A forma humana também vira pó bem rapidamente e, quando ela se vai, é como se nunca tivesse acontecido. Isso é trágico ou cruel? Só se criarmos uma identidade separada para cada forma e esquecermos que a consciência de cada uma é a expressão da essência divina através forma. Mas você não sabe de verdade essas coisas até que vivencia a sua própria essência divina como pura consciência.

Se um peixe nasce no seu aquário e você lhe dá o nome de John, escreve uma certidão de nascimento, conta-lhe a história da família dele e, dois minutos depois, o vê sendo engolido por um outro peixe, isso é trágico. Mas só é trágico porque você projetou um eu interior separado onde não havia nenhum. Você se apoderou de uma fração de um processo dinâmico, uma dança molecular, e fez dela uma entidade separada.

A consciência assume formas tão complexas para se disfarçar que acaba se perdendo completamente nelas. Nos dias atuais, a consciência está totalmente identificada com seu disfarce. Só se conhece como forma e assim vive com medo da destruição da sua forma física ou psicológica. Essa é a mente egoica, e é aqui que surge uma grave disfunção. Agora parece que alguma coisa deu errado em algum ponto ao longo da linha da evolução. Mas mesmo isso é parte da lila, o jogo divino. Por fim, a pressão do sofrimento criada por essa aparente disfunção obriga a consciência a se desidentificar da forma e a faz despertar do sonho da forma. Ela recobra sua autopercepção, mas num nível muito mais profundo do que quando a perdeu.

Esse processo é explicado por Jesus na parábola do filho pródigo, que deixa a casa paterna, esbanja a sua fortuna, vira um mendigo e então é forçado por suas provações a voltar para casa. Ao chegar, seu pai o ama mais do que antes. O estado do filho é o mesmo que anteriormente, ainda que não o mesmo. Tem agora uma dimensão adicional de profundidade. A parábola descreve uma trajetória a partir de uma perfeição inconsciente, passa por uma aparente imperfeição e “demonismo”, até chegar a uma perfeição consciente.

Você consegue perceber agora a profundidade e a grandeza de se tornar presente como o observador da sua mente? Sempre que observamos a mente, livramos a consciência das formas da mente, criando aquilo que chamamos o observador ou a testemunha. Conseqüentemente, o observador – que é a pura consciência além da forma – se torna mais forte, e as formações mentais se tornam mais fracas. Quando falamos sobre observar a mente, estamos personalizando um fato de verdadeiro significado cósmico porque, através de você, a consciência está despertando do seu sonho de identificação com a forma e se retirando da forma. Isso é o prenúncio – e também parte – de um acontecimento que provavelmente ainda está num futuro distante, no que diz respeito ao tempo cronológico. Esse acontecimento é conhecido como o fim do mundo.

Quando a consciência se liberta da sua identificação com as formas física e mental, torna-se o que podemos chamar de consciência pura ou iluminada, ou presença. Isso já aconteceu com alguns indivíduos e parece que está destinado a acontecer em breve em uma escala muito maior, embora não haja garantia absoluta que vá acontecer. Muitos seres humanos ainda estão identificados com a mente e são governados por ela. Se não se libertarem a tempo, serão destruídos por ela. Vão se ver envolvidos em confusões cada vez maiores, conflitos, violência, doenças, desespero, loucura. A mente se transformou em um navio que naufraga. Se você não pular, vai naufragar com ele. A mente egoica coletiva é a entidade mais perigosamente insana e destruidora que jamais habitou nosso planeta. O que você acha que acontecerá ao planeta se a consciência humana não se modificar?

Para a maioria dos seres humanos, a única maneira de descansar a mente é ocasionalmente reverter a um nível de consciência abaixo do pensamento. As pessoas fazem isso todas as noites, durante o sono. Mas, até certo ponto, isso também acontece através do sexo, da bebida e de outras drogas que suprimem a atividade excessiva da mente. Se não fosse pela bebida, por tranquilizantes e antidepressivos, bem como pelas drogas ilegais, todas consumidas em grandes quantidades, a insanidade das mentes humanas seria até mais óbvia do que já é. Acredito que, impedida de usar drogas, uma grande parte da população se transformaria num perigo para ela mesma e para os outros. Essas drogas mantêm as pessoas paralisadas dentro da disfunção. Sua ampla utilização apenas retarda a ruptura das velhas estruturas mentais e o aparecimento de uma consciência superior. Enquanto os usuários individuais puderem obter algum alívio da tortura diária a eles infligi da por suas próprias mentes, estarão sendo impedidos de gerar uma presença consciente o bastante para se elevarem sobre o pensamento e assim encontrarem a verdadeira libertação.

Retomar a um nível de consciência abaixo da mente, que é o nível pré-pensamento dos nossos ancestrais distantes e também dos animais e das plantas, não é uma opção válida para nós. Não há como retomar. Se a raça humana tiver de sobreviver, terá de passar para o estágio seguinte. A consciência está se desenvolvendo por todo o universo através de bilhões de formas. Portanto, mesmo se não conseguirmos, não terá a menor importância numa escala cósmica. Nunca se perde um avanço na consciência cósmica, ele simplesmente vai se expressar através de uma outra forma. Mas o simples fato de eu estar falando aqui e de você estar me ouvindo, ou lendo, é um sinal claro que uma nova consciência está ganhando espaço no planeta.

Não há nada de pessoal nisso: não estou ensinando nada a você. Você está consciente e está prestando atenção. Há um ditado oriental que diz: “O mestre e o ensinamento juntos criam o ensino”. Em qualquer caso, as palavras em si não são importantes. Elas não são a Verdade, só apontam para ela. Falo num momento de presença e, enquanto falo, você pode querer se juntar a mim nesse estado. Embora cada palavra que eu empregue tenha uma história, e, é claro, venha do passado, assim como todas as línguas, as palavras deste momento são condutoras de uma alta freqüência de energia de presença, bem diferente do significado que elas transmitem como simples palavras.

O silêncio é um condutor até mais potente de presença, portanto, quando você ler estas palavras ou me ouvir dizê-las, perceba o silêncio entre e sob as palavras. Perceba os espaços. Ouvir o silêncio, onde quer que você esteja, é um caminho fácil e direto de tornar-se presente. Mesmo quando há barulho, há sempre um pouco de silêncio sob e entre os sons. Ouvir o silêncio cria imediatamente uma serenidade dentro de nós. Só a serenidade dentro de nós percebe o silêncio lá fora. E o que é serenidade senão a presença, a consciência livre das formas de pensamento? Eis aqui a realização exata do que venho falando.

Cristo: a realidade da sua divina presença

Não se apegue a uma única palavra. Você pode substituir “Cristo” por presença, se achar mais significativo. Cristo é a essência de Deus dentro de nós ou o nosso Eu interior, como às vezes é chamado no Oriente. A única diferença entre Cristo e presença é que Cristo remete à nossa existência divina sem se importar se estamos ou não conscientes dela, ao passo que a presença significa a nossa divindade vigilante ou a essência de Deus.

Se admitirmos que não há passado nem futuro em Cristo, poderemos esclarecer muitos mal-entendidos e falsas crenças sobre Ele. Dizer que Cristo foi ou será é uma contradição. Jesus foi. Foi um homem que viveu há dois mil anos e exerceu a sua divina presença, a sua verdadeira natureza. Suas palavras foram: “Antes que Abraão existisse, Eu sou”. Ele não disse: “Eu já existia antes de Abraão ter nascido”. Isso significaria que Ele ainda estaria dentro da dimensão do tempo e da identidade da forma. As palavras Eu sou utilizadas em uma frase que começa no tempo passado indicam uma mudança radical, uma descontinuidade na dimensão temporal. É uma afirmação, ao estilo zen, de grande profundidade. Jesus tentou transmitir diretamente, e não através de divagações, o significado de presença, de auto- realização. Ele foi além da dimensão da consciência governada pelo tempo e penetrou no domínio da eternidade. Foi assim que a dimensão de eternidade surgiu neste mundo. A eternidade não significa tempo sem fim, mas sim tempo nenhum. Assim, o homem Jesus se tornou o Cristo, um veículo de pura consciência. E qual é a própria definição de Deus na Bíblia? Será que Deus disse: “Eu fui e sempre serei?” Claro que não. Isso teria conferido realidade ao passado e ao futuro. Deus disse: “EU SOU O QUE SOU”. Aqui não existe o tempo, só a presença.

A “segunda vinda” do Cristo é uma transformação da consciência humana, uma mudança do tempo para a presença, do pensamento para a consciência pura, e não a chegada de algum homem ou de alguma mulher. Se “Cristo” estivesse para chegar amanhã, revestido de alguma forma externa, o que ele ou ela poderia nos dizer além do seguinte: “Eu sou a Verdade. Eu sou a Divina Presença. Eu sou a Vida Eterna. Estou dentro de você. Estou aqui. Eu sou o Agora”.

Nunca personalize Cristo. Não dê uma forma de identidade a Cristo. Avatares, mães divinas, mestres iluminados, os pouquíssimos que realmente são, não têm nada de especial como pessoas. Como não têm de sustentar o ego, defendê-lo ou alimentá-lo, são mais simples do que as pessoas comuns. Qualquer pessoa com um ego forte os olharia como insignificantes ou, mais provavelmente, nem os veria.

Se você for atraído para um professor iluminado, é porque já existe presença bastante em você para reconhecer a presença no outro. Houve muitas pessoas que não reconheceram Jesus ou Buda, assim como há – e sempre haverá – pessoas que são levadas a falsos professores. Egos são atraídos por grandes egos. A escuridão não consegue reconhecer a luz. Portanto, não acredite que a luz está fora de você ou que ela só pode vir através de uma forma específica. Se só o seu mestre for a encarnação de Deus, quem é você então? Qualquer espécie de exclusividade é uma identificação com a forma, e a identificação com a forma significa o ego, não importa o quanto ele esteja bem disfarçado. Utilize a presença do mestre para ver um reflexo da sua própria identidade por trás do nome e da forma e para se tornar mais intensamente presente. Em pouco tempo você verá que não existe nenhum “meu” ou “seu” na presença. A presença e única.

O trabalho em grupo também pode ser de grande utilidade para intensificar a luz da nossa presença. Um grupo de pessoas atingindo juntas um estado de presença gera um campo de energia de grande intensidade. Isso não só aumenta o estado de presença de cada membro do grupo, mas também ajuda a libertar a consciência coletiva humana do seu estado normal de dominação da mente. Essa prática vai tornar o estado de presença cada vez mais acessível às pessoas. Entretanto, a menos que um membro do grupo já esteja firmemente estabelecido na presença e consiga sustentar a freqüência de energia desse estado, a mente pode facilmente voltar a dominar e sabotar os esforços do grupo. Embora o trabalho em grupo seja valioso, ele não é o bastante e você não deve depender dele. Nem de um professor ou de um mestre, exceto durante o período de transição, quando você está aprendendo o significado e a prática da presença.