"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, setembro 21, 2015

Por que surgem questões fundamentais?


- Sri Bhagavan -


Questão: Bhagavan, por que as questões fundamentais surgem?

Sri Bhagavan: Veja, no começo não havia a mente.
A necessidade de sobrevivência criou a mente.
Como se você tivesse que se envolver numa luta ou numa resposta de fuga para sobreviver,
e você precisasse de um computador para lidar com isso, é aí que a mente surge.
E a mente para sobreviver tem que continuar seguindo,
ela tem que continuamente se comprometer com a atividade de “tornar-se”.

"Eu sou pobre, eu preciso me tornar rico." Há aí o tornar-se.
"Eu não sou famoso, eu preciso me tornar famoso". Há o tornar-se.
"Eu não sou saudável, eu preciso me tornar saudável". Há o tornar-se.
A menos que haja um trabalho contínuo, um contínuo tornar-se, a mente iria colapsar.
Porque a mente é apenas a atividade de tornar-se.

Então, quando certas coisas não lhe interessam, você começa a fazer as questões fundamentais.
De outra forma, a mente irá perecer.
Então, você tem que fazer certas perguntas para as quais você não consegue encontrar respostas.

Então, “Quem sou eu?”...
Claramente você não consegue saber essa resposta pela mente.
E “Quem criou Deus?”, “Existe um Deus ou não?”, “Quando este universo começou?”.
Ou: “O quão grande é esse universo?”, ou: “Quem criou Deus?”.
Essas são questões irrelevantes, mas não têm respostas.
Já que não há respostas na sua vida ou nas suas vidas, você continua procurando por respostas.

O que aconteceu a Buda? Ele tinha tudo na vida.
Ele era um príncipe, ele tinha 750 dançarinas para entretê-lo.
Ele tinha 3 palácios.
Mas quando sua infância se foi, ele largou tudo isso e saiu por aí, porque não havia nada para ele ansiar.
Portanto a questão fundamental a qual Buda se agarrou foi: “Qual é a verdade suprema?”
Essa era a coisa toda.
E o que o Buda descobriu?
Ele descobriu que não existe a tal suprema verdade.
Essa foi a sua iluminação.
Então, você levanta essas questões para sobreviver, para que a mente sobreviva.

Por exemplo, a pergunta: “Quem sou eu?”
Quem é você? Quem é você?
... Pois todos vocês devem fazer essa pergunta às vezes: “Quem sou eu?”.
Você é o Atman?
Então, é claro que você irá encontrar nas escrituras que:
“você é o Atman, você é um com Brahman”.
Alguns vão dizer que “você é um com Deus”.
Outros vão dizer: "oh, não, você deve viver com Deus”.
Isso e aquilo.
Mas quem é você de verdade?
Você é essa pergunta.
E isso é tudo.

Ao perguntar “Quem sou eu?”, você está sobrevivendo, só isso.

Não existem respostas para essas perguntas.
As perguntas vão desaparecer e, quando as perguntas desaparecerem, você vai desaparecer.
Isso é tudo.

O que aconteceu com Buda? A pergunta desapareceu.
Qual é a verdade suprema?
Siddhartha desapareceu e Buda emergiu.
Venkatarama, o garoto, perguntou “Quem sou eu?”.
A pergunta desapareceu e Venkatarama se foi,
 e apenas Ramana Maharshi permaneceu.
O mesmo ocorre com todos.

Então, não há respostas para essas questões.
Elas são apenas jogos, truques feitos pela mente a fim de que ela continue sobrevivendo.
Pois você precisa sobreviver, e para isso você se identifica com a mente.

Mas há pessoas que não recorrem à mente.
Para essas pessoas a mente apenas vem quando é chamada.
Caso contrário, não há mente.

Quando você está comendo, você está pensando em outra coisa.
Quando você está comendo, você deve comer.
Quando você está bebendo, você deve beber.
Quando você está se relacionando com sua esposa, você deve se relacionar com ela naquele momento.
De outra forma, você estará pensando o que você fez ontem, ou o que você deveria fazer amanhã.
Esses são os jogos da mente.
Portanto, através desses jogos você nunca se relacionará com a sua esposa,
com seu filho, com alguém importante para você,
porque sua mente está o tempo todo interferindo e distorcendo o que está acontecendo.

Imagens surgem.
Quando você tinha apenas se casado, não havia tantas imagens.
Então, muito rapidamente, as imagens começam a surgir.
Elas vêm da sociedade, dos seus pais, de todos os lugares.
E através dessas imagens você olha para a sua esposa.
Uma linda relação muito facilmente é destruída no momento que o casamento se realiza.
Muitos de vocês estão conscientes disso.
Agora isso está colocado no âmbito do casamento.
O sogro entra. A sogra entra. Várias pessoas entram. Os amigos entram.
E essa é uma imagem totalmente diferente, e as pessoas não se relacionam.
As imagens é que começam a se relacionar entre si.
E quando as imagens se relacionam, não há vida nisso.
Por que não há vida em você?
Você acha que está vivendo?
Não.
Você está apenas tentando existir.
É só isso.

Você é um grande artista em escapar.
Todos vocês têm um MBA na arte de administrar o sofrimento.
E espertamente você está administrando um pouco a família, um pouco o dinheiro, a fama,
um pouco aqui, um pouco ali.
É bom! Não estou dizendo para não fazer essas coisas.
Eu digo, pelos céus, façam essas coisas.
Não há nada que você possa fazer.
E assim você vai escapando a cada momento do que está acontecendo.
Se você está bebendo café, é isso que está acontecendo naquele momento.
Se você não escapar desta ação, pensando em alguma outra coisa,
você saberá o que é apreciar o café.
Então você é igual a um Buda.

Quando perguntaram pela primeira vez para Buda, depois da sua iluminação:
“Como você se sente agora, senhor?”,
Buda respondeu:
“Quando estou comendo uma tangerina, eu estou comendo uma tangerina”.
Ou seja, basta apenas fazer isso.
E a mente se desliga.
Só pessoas nas quais a mente foi desligada, nas quais o pensamento parou...
apenas elas puderam dizer: “Eu estou vivendo”.

Porque... o que é o pensamento?
O pensamento é o fluxo de memória.
E o que é a memória?
A memória é sempre o “ontem”.
E o que é o ontem?
Ele está sempre morto.
Então a morte está fluindo em você.
É só isso.
E se você pode morrer para o passado, essa é a verdadeira morte.
Você se torna vivo.
Você está vivo no momento.

Você pode estar comendo pimenta, um masala bara ou um dosa [pratos indianos],
ou assistindo a um filme, ou se relacionando com sua esposa;
ou seja, qualquer que seja a atividade, você está realmente envolvido nisso.
E então você começa a viver.

E você não vive.
Nós não estamos dizendo para desistir disso ou daquilo.
Não.
Nós estamos apenas lhe dizendo para experimentar a realidade como ela é.
Isso ocorre quando vocês estão completamente envolvidos como um ser humano.
Esse é o propósito da existência, o propósito de viver.
Mas você está apenas existindo porque simplesmente tem medo de morrer.
Dentro de você não há nada que não seja medo.
Camada, após camada, só há apenas medo no núcleo do seu ser.
É o medo que a mente está projetando.
E todo o tempo você está fugindo disso.
Caso contrário não há sentido para a sua vida.
Cada busca sua é uma fuga do medo central.
E é claro que a maneira como você escapa é determinada pelo programa.
É isto que é a vida de vocês.

E o que nós estamos tentando fazer é: levá-lo do Existir ao Viver.
E quando você começa a viver, você se torna um ser humano feliz.
Se as pessoas no mundo forem felizes, o mundo será feliz, não é?
Um ser humano feliz pode prejudicar os outros?
Não pode.
Apenas um ser humano infeliz, que tem dor dentro de si, pode possivelmente prejudicar os outros.
Do contrário, você não vai prejudicar os outros se você é feliz.
Se todas as pessoas do mundo forem felizes, vamos ter um mundo feliz.
E isso é o Céu na Terra.

Mas porque nós somos infelizes – infeliz com nossas esposas, infeliz com nossos filhos,
infelizes com nossos pais, infelizes com nossos amigos...
Tudo isso é a infelicidade coletiva, é a violência coletiva,
é o que se manifesta no mundo como terrorismo,
como guerra e todos os outros conflitos.
Não é que as nações são responsáveis, os políticos.
Não.
Isso é apenas num nível superficial.
Na profundidade, nós somos todos responsáveis.
Nós somos seres humanos infelizes.
Somos seres em conflito com nós mesmos e com os outros.
E esse conflito é que está se manifestando no mundo externo.

A menos que nós, como indivíduos, transformemos a nós mesmos,
não haverá esperanças para a humanidade.
Nós tivemos tantas revoluções: a Revolução Francesa, a Revolução Americana,
a Revolução Chinesa, a Revolução Russa, tantas revoluções...
Mas o homem mudou?
Não.
A dor permanece, o sofrimento permanece, a violência permanece – em diferentes formas.
Da mesma forma que os primeiros seres humanos que queriam uma lança ou uma pedra,
nós queremos um carro ou um avião.
O desejo continua.
Os objetos de desejo mudaram.
O homem antigo tinha medo do tigre, você tem medo do mercado de ações.
O medo continua.
Então as coisas continuam assim.
E, a menos que haja transformação interior, não há esperanças para nós,
ou para as nossas sociedades, nossas nações, ou para o mundo como um todo.


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