"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, novembro 30, 2015

Os obstáculos para o sucesso

- Sri Bhagavan -


Pergunta: Por que eu enfrento tantos obstáculos no meu caminho para o sucesso?

Bhagavan: "Você está constantemente criando o mundo externo. 
Você acha que o mundo externo é independente do mundo interno.
Digamos que o seu inconsciente programou você para o fracasso. 
Ele acha que você nunca poderia ter sucesso.
Você não deveria ter sucesso. 
Então o que acontece é: digamos que você vá para uma entrevista de emprego. 
Seu inconsciente entra em contato com o inconsciente da outra pessoa.
Eles têm algum tipo de ligação "internet" e a outra pessoa que está entrevistando você decide não lhe dar um emprego sem motivo algum.
Isso é porque o que está acontecendo lá dentro, na verdade, está criando o mundo externo.
É muito poderoso.
É por isso que você recebe o que você teme e o que você odeia.
Você também terá o que você ama. Isso também acontece.
Você tem que ver o que está acontecendo.
Uma vez que isto esteja ajustado, você irá ver que as coisas estarão mudando drasticamente para você no mundo externo."


sexta-feira, novembro 27, 2015

Abandonando o julgamento, adentra-se a Percepção (Goldsmith)


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É na transcendência da mente, na capacidade de se abster do discurso e de atingir e manter um estado de quietude interior, que se cumpre a experiência. 

Essa quietude interior é atingida quando somos capazes de olhar para uma pessoa, coisa ou condição sem rotulá-la de boa ou má. Aí não resta à mente nada a que se agarrar ou em que pensar; ela não tem nada com que se preocupar, e nada de que se rejubilar: torna-se simplesmente quieta.

É como olhar objetivamente para uma pintura, sem qualquer ideia preconcebida, tal como se é boa ou má, sem qualquer opinião baseada na reputação do artista ou no fato de gostarmos do tema. 

Ver uma obra de arte com tal distanciamento critico capacita-nos a ver a visão do artista: o que estava em sua mente, alma e consciência quando ele realizou a obra. Tanto mais assim deveríamos olhar para a criação espiritual, não através de nossas noções preconcebidas de como deveriam ser os seres humanos, mas através da consciência do divino Criador!

A única maneira pela qual se pode fazer isto é abdicando a todos os rótulos de bem e mal, e, uma vez suspenso por completo o julgamento, achamo-nos na consciência do Criador espiritual e somos capazes de contemplar o universo como Deus o contempla. Agora, PERCEBEMOS a Mente de Deus; ou, de modo contrario, quando a mente que julga e rotula se aquieta, a mente de Deus tornou-se a nossa mente ativa. 

Mas não pode haver a Mente de Deus funcionando em nós enquanto nossa mente estiver formando julgamentos de bem e de mal, porque enquanto estivermos vendo as pessoas, as coisas ou condições como boas ou más, estaremos empregando padrões humanos de julgamento, e nenhum padrão de julgamento humano pode jamais ver a natureza real da criação. 

Se pretendermos visualizar corretamente este mundo, devemos visualizá-lo através dos olhos, ou da consciência de Deus, e isso só é possível uma vez que a mente humana se tenha aquietado e tenha abdicado a seus julgamentos em termos de bem e mal.

Uma prática deste tipo ajuda-nos a nos abstermos de reagir às aparências externas. Isso é difícil, mas quando se alcança a capacidade de não reagir às aparências – e todos os estudiosos imbuídos de seriedade mais cedo ou mais tarde chegam a isso – advém, fácil e geralmente, a cura espiritual. 

Teremos percorrido um longo caminho em nossa jornada espiritual, quando formos capazes de ver a doença, o pecado, o alcoolismo e todas as outras aparências do gênero e não reagir a elas, não tentar curá-las ou alterá-las, mas lembrar-nos conscientemente de não julgar segundo as aparências: “Quem me designou juiz ou partidor sobre vós?” (Lucas 12:14)

Não, não aceito aparências: aceito a verdade de que o Espírito de Deus está em vós, não importa quem sejais: um prisioneiro na cadeia, um ladrão na rua, um alcoólatra na esquina, ou um moribundo no hospital.

Não devemos reagir às aparências: devemos lembrar-nos de que, como Deus é onipresença, independente de que aparência vejamos com nossos olhos, é apenas uma aparência, e, por ser apenas uma aparência, nada devemos fazer a seu respeito, a não ser reconhecê-la como tal. Isso é discernimento espiritual; isto é a capacidade de não acreditar no que vêem nossos olhos e de não julgar segundo as aparências.

Toda a obra de cura espiritual baseia-se nesse ponto. 

Se, ao receber um pedido de socorro, o praticante pretendesse sentar-se e tentar curar alguém, não seria um praticante por muito tempo. O praticante da cura espiritual nada sabe daquilo a que se chama cura. 

Toda a essência do curador espiritual reside num discernimento interior de que Deus é vida individual, e, portanto, a vida é imortal, eterna e indestrutível – um discernimento espiritual, que consiste em não julgar segundo as aparências.


quinta-feira, novembro 26, 2015

Princípios do Céu e da Terra

- Chuang Tzu -


"Aquele que quer ter
o certo sem o errado,
a ordem sem a desordem,
não entende os princípios 
do céu e da terra,
não sabe como 
as coisas estão interligadas.

Primeiramente, adquira controle sobre o corpo,
Em seguida, sobre a mente.
Atinja a unidirecionalidade.
E então, 
a harmonia dos Céus descenderá e residirá em ti.
Você ficará radiante com a vida.
Você repousará no Tao.

Esteja com seu coração em paz.
Assista a turbulência dos seres
mas contemple o seu retorno.

Se não percebe a fonte,
você tropeça na confusão e na tristeza.
Quando você percebe de onde você vem,
naturalmente se torna tolerante,
desinteressado, divertido,
bondoso como uma avó,
digno como um rei.
Imerso na maravilha do Tao,
você pode lidar com o que quer que a vida lhe traz.

E quando a morte chega, você está pronto."


segunda-feira, novembro 23, 2015

Aprofundando nos ensinamentos do texto anterior


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Este texto de Masaharu Taniguchi, intitulado "O Arrependimento e o Despertar", apresenta três pontos importantes que merecem ser comentados e aprofundados.

O primeiro consiste no fato de dizer que, ao despertar espiritualmente, o ser humano passa a vivenciar o reino de Deus aqui mesmo neste mundo fenomênico. Ao abrir os olhos da mente, podemos enxergar além do que os sentidos físicos permitem captar, e percebemos a nossa condição espiritual de unicidade com Deus, que somos filhos de Deus. O ser humano enquanto corpo carnal não é o filho de Deus, e sim o filho do pecado, da separatividade. Enquanto estivermos identificando o nosso ser com o corpo fenomênico, estaremos "pecando" (ou seja, nos vendo na separação e errando o alvo) e seremos filhos do pecado. O filho de Deus existe como um ser espiritual que está em eterna unidade com Deus, e ele é a essência que habita o âmago de cada um de nós. Quando despertamos para esse fato, ocorre uma mudança total em nossa perspectiva de perceber a vida, porque quando a unicidade se realiza, ela o faz englobando tudo. Essa mudança total em nosso modo de perceber é o que o texto denomina "arrependimento" ou "conversão". Quando ocorre esse "despertar", esse "arrependimento", essa "conversão", o mundo fenomênico reflete esse despertar e se converte em um paraíso terrestre. Então o reino de Deus passa a se expressar no plano fenomênico. Por isso, Masaharu Taniguchi escreve que: "quem se arrepender verdadeiramente, há de encontrar o paraíso aqui e agora, nesta vida terrena", e também: "contanto que nos arrependamos verdadeiramente, podemos passar a desfrutar imediatamente da graça dos céus".

Um outro objetivo do presente texto é desmistificar alguns ensinamentos que dizem que o mundo fenomênico (a Representação) existe como um opositor-inimigo do reino de Deus, que o reino de Deus somente poderá ser experienciado ao se rejeitar por completo a existência fenomênica, e que às vezes incentivam os estudantes a repudiarem o mundo fenomênico. É verdade que o reino de Deus é a Realidade que existe desde "antes que a Representação existisse", mas a Representação em si não é nem "boa" nem "ruim", não é sagrada nem profana. Ela é como um espelho (vazio) a refletir a imagem (conteúdo) colocada diante dela. Por isso, devido a sua natureza vazia desprovida de qualquer imagem, a representação tem a capacidade de refletir a Realidade divina (o reino de Deus) existente subjacente à ela. Sendo assim, o reino de Deus pode se evidenciar aqui mesmo neste mundo fenomênico, e isso ocorre quando o ser humano desperta para a sua filiação divina. Por isso Masaharu Taniguchi diz: "Quando descobrimos nossa natureza verdadeira, compreendemos que estamos no Paraíso, na Terra Pura, aqui mesmo neste mundo."

E, a fim de que possamos despertar para a nossa natureza verdadeira, Masaharu Taniguchi explica que primeiro deve ocorrer em nós o arrependimento e a conversão. E, sobre isso, ele faz uma notória observação - que é o segundo ponto importante de ser comentado. Ele diz: "O arrependimento completo consiste na transformação total da postura mental e, como consequência disso, o nosso mundo se transforma totalmente. O mundo que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior."

Para compreendermos o arrependimento e a conversão referidos no texto, é muito importante ter em mente o fato já mencionado de que a Representação não existe como "boa" ou "ruim", como "sagrada" ou "profana", mas que sua natureza é o vazio. Por ser vazia como um espelho, em si ela nada é, e por isso nada tem para nos apresentar. Ela não nos apresenta um universo profano, ela não nos apresenta um universo divino. Ela apenas reflete. O universo que aparentemente nos é apresentado pela representação é apenas um reflexo da própria visão ou percepção que temos dele. Quem olhar para o universo com a visão que o filho de Deus tem do universo, se verá diante um universo divino. E quem olhar para o universo com a visão/percepção que um ser pecador (ego) tem do universo, se verá diante de um universo de separação (pecado)... que é um universo totalmente sem sentido. O universo em si é nada. A percepção é tudo! O mesmo universo pode ser visto/experienciado de formas diferentes, a depender da lente com que se olha para ele. Se alguém olhar uma paisagem (universo) com óculos de lente de cor vermelha, a paisagem será vista toda em vermelho (universo aparente). E se ao lado dessa pessoa houver mais alguém olhando a mesma paisagem (universo) com lentes de cor amarela, a paisagem será vista toda amarelada (universo aparente). É importante saber fazer distinção entre "universo" e "universo aparente" e não confundi-los. O universo em si é nada, e não possui significado algum. Por sua vez, o universo aparente surge em decorrência da visão/significado que atribuímos ao universo. 

Por isso, caso estejamos vendo ou experienciando o mundo fenomênico como um lugar "ruim", "defeituoso" ou "imperfeito", isso significa que estamos percebendo-o com visão/lentes defeituosas. O defeito não está no mundo em si, mas na visão com que olhamos para ele. Compreendendo isso, não é necessário querer modificar, repudiar, condenar ou desprezar o mundo em que vivemos na representação. O defeito deve ser corrigido na própria base ou raiz onde ele se origina. No exemplo acima citado, se o indivíduo que usava lentes vermelhas quiser enxergar toda a paisagem na cor azul, basta descolorir as lentes que naquele momento estavam vermelhas e colori-las novamente com a cor azul. Então, ao colocar novamente os óculos, aquela paisagem aparecerá azulada. Da mesma forma, se pudermos modificar o teor/a essência da visão com que olhamos para o mundo, ele se nos apresentará de acordo com a natureza do nosso olhar. Assim é a Representação. Ela é como um "projetor" que projeta na tela qualquer que seja o conteúdo gravado no filme. Aqueles que possuem um olhar iluminado, experienciam um mundo iluminado. Ao passo que aqueles que possuem um olhar imperfeito, experienciam um mundo imperfeito.

Sabendo disso, Masaharu Taniguchi disse: "O arrependimento completo consiste na transformação total da postura mental." A "postura mental" a que ele se refere é o olhar, a visão, a percepção. A "transformação total" deve ocorrer bem na raiz de todas as coisas, que é a nossa percepção, "e entãocomo consequência disso, o nosso mundo se transforma totalmente." E a chave mais essencial para fazer com que a transformação ocorra na "raiz", é aplicarmos em nossa vida a sabedoria do não-julgamento. Ao compreendermos verdadeiramente que o universo nada é de si mesmo - que ele não possui significado algum, e que somos nós quem conferimos significado a ele mediante nossa própria visão (julgamento) - automaticamente perdemos o interesse em nomeá-lo, em dizer o que ele "é" ou "não é". Então a energia que estava fluindo para o exterior começa a ser redirecionada para o interior (percepção), e conseguimos alcançar o ponto-raiz onde é possível realizar verdadeiramente a transformação, o arrependimento, a conversão.

Tendo compreendido tudo o que foi dito até aqui, vamos prosseguir para o terceiro ponto importante do texto.

Masaharu Taniguchi diz: "Conversão significa o arrependimento completo, em que a pessoa muda por inteiro a sua postura mental e, como consequência disso, o seu mundo se transforma totalmente. O 'mundo' a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior."

Para compreendermos bem este terceiro ponto, precisamos nos defrontar com algumas questões metafísicas. Sabemos que a Realidade (a qual os diversos ensinamentos chamam de Reino de Deus, Céu, Jissô, Terra Pura, Nirvana, Moksha, etc.) existe desde "antes que a Representação existisse." Porém, uma vez que surge a Representação, algumas questões devem ser entendidas.

Primeiramente: uma das finalidades da Representação é a de permitir (simular) a experiência de nosso Ser como algo separado ou diferente de Deus. Todavia, devido à sua natureza vazia, a Representação também tem o propósito de expressar a glória e o amor incomensuráveis de Deus. Ao mesmo tempo que a Representação foi feita para possibilitar a experiência de separatividade, também foi feita para que a Divindade pudesse Se expressar plenamente através de cada ser, coisa e fato. Dependendo do olhar (percepção) que lançarmos para o universo da Representação, experienciaremos e desfrutaremos de uma coisa ou outra.

Em segundo lugar: uma vez que lançamos um "olhar" para a Representação, ela imediatamente reflete a natureza daquele olhar, e de súbito já nos vemos dentro de um universo inteiramente construído. Ao lançarmos um "olhar de separação", repentinamente nos vemos inteiramente dentro de um universo de separatividade, totalmente pronto, acabado, construído para funcionar naquele sentido. E assim constatamos que o universo da separação detém uma espécie de "inteligência" trabalhando a favor da separação a fim de preservar sua arquitetura, valendo-se de vários mecanismos, planos, estratégias para se automanter, e também para assegurar a nossa permanência dentro dele. Essa inteligência é chamada de "ego". O ego é o guardião do universo da separação. Por sua vez, o inverso também ocorre: quando lançamos um olhar iluminado para a Representação, ela o reflete e de imediato já nos vemos em um universo de pura luz, onde a Divindade se evidencia como tudo e todos. Esse universo divino também já aparece inteiramente pronto, com uma arquitetura toda construída e funcionando no sentido de se autopreservar e de assegurar a nossa permanência dentro dele. E à Inteligência guardiã desse universo divino chamamos de "Eu".

Em terceiro lugar: tudo o que foi contado até aqui ocorre no âmbito de uma magnitude imensamente maior/acima daquela em que se manifesta o universo visível. Está ocorrendo em um mundo invisível, de âmbito metafísico, algo de natureza grande demais para se apreender com a capacidade da mente/inteligência/percepção que se manifesta na visibilidade. Tal mundo invisível também faz parte da Representação (não é a Realidade). E em contraposição ao mundo invisível, temos o mundo físico-visível, que todos nós conhecemos muito bem. O mundo físico é um "reflexo visível" do mundo invisível, existindo apenas como "efeito", "aparência" ou "sombra". Por ser mero "reflexo" ou "sombra" do mundo invisível, é dotado de insubstancialidade, daí porque a Metafísica o classifica como sendo "nada" ou mera "aparência". Por trás do mundo visível (físico, insubstancial) existe o mundo invisível (metafísico, substancial), onde tudo está acontecendo.

Em quarto lugar: no universo da separação, um dos mecanismos utilizados pelo ego para perpetuar seu senso de "eu sou" é trabalhar para fazer com que fiquemos identificados exclusivamente com a realidade visível, de modo que sequer desconfiemos que nosso Ser vive e existe em uma realidade invisível. Dessa forma, a realidade visível atua como "cortina de fumaça" para esconder a realidade invisível, que é onde tudo acontece, e isso torna impossível ocorrer uma real mudança ou transformação em nossas vidas. Não há nada acontecendo no universo das aparências, por isso o Todo não reconhece nossas ações aqui na realidade visível. Por exemplo: se um personagem arrepender-se apenas no mundo das aparências (convencendo-se mentalmente de que sua identidade não é a de um "eu" pecador, mas sim o Filho de Deus), esse arrependimento não será reconhecido pelo Todo, porque ocorreu numa realidade insubstancial, em "nada", em "lugar nenhum". A pessoa não sentirá o seu universo visível se transformar no paraíso terrestre que o texto menciona, e que pode ser vivido aqui e agora. Talvez ela consiga reformar a sua personalidade, o seu caráter, a sua moral, as suas atitudes, e se tornar um ser humano melhor. Mas ela não adentrará o paraíso iluminado que existe aqui e agora. Para que a conversão/o arrependimento seja verdadeiro e surta efeito perante o Universo, ele deve ocorrer na realidade substancial. Aí sim o Universo reconhece e responde à transformação. O Universo sempre responde no âmbito da realidade invisível; e quando a realidade invisível se modifica, a realidade visível reflete a transformação.

Por isso, Masaharu Taniguchi fez a importantíssima observação, dizendo: "O mundo a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interiorEm outras palavras, o verdadeiro arrependimento consiste em abandonarmos completamente a ideia de que somos seres constituídos de corpo carnal, sujeito a pecados, e nos conscientizarmos de que somos filhos de Deus, isentos de pecado. Esta é a verdadeira conversão." Tal conscientização não deve ocorrer somente a nível físico, aparente, superficial. Ela deve ocorrer nas profundezas invisíveis da realidade, que é onde verdadeiramente vivemos e existimos na Representação. É por isso que as práticas espirituais metafísicas não levam em conta a existência/presença da realidade visível. O metafísico trabalha unicamente no plano invisível, porque no universo da Representação tudo está acontecendo ali.

Todos os caminhos espirituais recomendam que os estudantes adquiram o hábito de realizarem diariamente alguma prática espiritual (sadhana), que pode ser: leitura de livros sagrados, meditação, oração, repetição de mantras ou de nomes divinos, realização de serviço desinteressado, etc.. Qualquer que seja a prática recomendada, é importante haver a repetição diária e constante, até que ela penetre nas profundezas e impregne completamente o nosso ser. Isso é assim porque, sempre que um treinamento espiritual está em seu início, ele é praticado apenas no âmbito do mundo visível (e enquanto a prática ocorrer apenas aqui, não haverá real transformação); mas, com o passar do tempo, a prática constante alcança as profundezas de nosso ser e passa a ocorrer também no mundo invisível. Então o nosso ser interior vai absorvendo e assimilando o conteúdo praticado, até ocorrer em nós uma espécie de "alteração" ou "reprogramação" no mundo invisível. E quando o mundo invisível se transforma, nossa vida verdadeiramente se transforma.

Vejamos o que Mooji disse para seus ouvintes, em um de seus satsangs:

"Eu não falo para você como você sendo uma pessoa. Eu falo para você como você sendo Consciência e presença [que existe no mundo invisível]Se eu falar para você como você sendo uma pessoa, eu sei que o iria sobrecarregar, porque 'você' não pode mudar [a "pessoa" pertence ao mundo visível, insubstancial, que é "nada"]Quando eu falo para você como sendo Consciência, você simplesmente entende [o indivíduo entende enquanto "ser" ou "presença" invisível que ele é] e a Graça é libertada lá."

"Se você quiser obter o máximo proveito de mim, esteja sentado na posição da consciência e ouça como a própria consciência. Se você ouvir como uma pessoa, você nunca irá 'compreender' onde eu estou ou aquilo para o qual eu estou apontando. Ouça como consciência. Encontre uma sintonia, uma sincronicidade com a sensação de presença. Seja um com ela. Esta sincronicidade é um nível muito mais elevado de comunicação no reino do ser. É muito mais elevada do que conversar mentalmente ou verbalmente. Ressonância do Coração é a vibração da santidade. Através dela, você vem a reconhecer espontaneamente o Ser."

A partir de agora, tenhamos a consciência de que, sempre que estivermos diante de um ser desperto, ele não olha para nós como se fôssemos uma "pessoa". Ele não fala para nós como se fôssemos uma "pessoa". Ele fala com a presença/a consciência que existe (invisivelmente) por detrás da pessoa. A lembrança de que somos o Ser não ocorre a nível de nossa memória ou capacidade cerebral. Se insistirmos em compreender os ensinamentos com a nossa "pessoa", estaremos perdendo totalmente o nosso tempo. O mestre sabe que as coisas que ele diz devem ser compreendidas pelo ser invisível/silencioso que existe por detrás da pessoa. Geralmente os iniciantes na busca espiritual, sempre que vão participar de um satsang, ouvem as palavras do mestre como se fossem pessoas. Mas, com o passar do tempo, aprendem a ouvir o mestre com o ser silencioso que existe por trás de suas pessoas. E quando o ser silencioso compreende afinal os ensinamentos do mestre, o indivíduo recebe um vislumbre da verdade ou até mesmo o próprio despertar espiritual.

Concluindo: após tudo o que foi dito, ficou muito claro que a "conversão" ou "arrependimento" que o texto menciona deve ocorrer não no mundo físico (visível, insubstancial, efeito), mas no mundo interior (invisível, substancial, causa). Ao ocorrer uma total transformação em nossa forma de olhar (percepção) para a vida, a vida automaticamente se transforma, e assim podemos viver e desfrutar de um reino iluminado aqui mesmo neste mundo terreno. Finalizo, pois, este texto, com as seguintes palavras de Masaharu Taniguchi:

"O mundo radioso existe desde o princípio. Basta abrirmos os olhos da mente para compreendermos que o reino de Deus está aqui e agora. Como já expliquei, 'devemos nos arrepender, pois o reino de Deus existe aqui e agora, já está ao nosso alcance'; isto é, o reino de Deus não está para chegar daqui a algum tempo, ele já existe aqui e agora. Basta 'arrependermo-nos' para que ele se manifeste diante de nós. Os aflitos, os enfermos, os que estão com o coração cheio de tristeza, enfim, todos aqueles que sofrem, descobrirão o reino de Deus tão logo abrirem os olhos da mente. Quando eles abrirem os olhos da mente e despertarem da ilusão, o mundo terreno, que até então parecia impuro, feio e perverso, revelar-se-á como um mundo puro, repleto de paz e felicidade, iluminado pela Luz de Deus."

Namastê!


sexta-feira, novembro 20, 2015

O Arrependimento e o Despertar - 2/2

- Masaharu Taniguchi -


A Imagem Verdadeira do ser humano

A Seicho-No-Ie ensina que "o pecado não existe". Diante dessa afirmação, alguns contestam com veemência: "O pecado existe, sim! Por isso a religião é necessária". No que se refere ao aspecto fenomênico, tal contestação é válida. Existe a religião porque existe o pecado. Porém, não estamos falando de existir ou não existir no plano fenomênico. Estamos tratando de uma questão de suma importância, do ponto de vista religioso e filosófico. "Existir ou não existir" não significa ser visível ou não, estar manifestado ou não. Vendo somente o aspecto fenomênico, muitos afirmam que a humanidade é pecadora. Essas pessoas são como Nicodemos, o qual, ao ouvir de Jesus Cristo a afirmação de que "para ver o reino de Deus, é preciso nascer de novo", disse: "Como pode um homem nascer sendo velho? Por ventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e renascer?". Ao dizermos que "o pecado não existe", estamos afirmando que "o pecado não é existência verdadeira", isto é, "o pecado não existe de verdade". Estamos tratando da questão da existência real

Se o pecado existisse de verdade, ninguém conseguiria extingui-lo, por mais que tentasse. Porém, o pecado não existe de verdade, embora pareça existir. Não passa de falso aspecto, originado da ilusão. Assim sendo, podemos extinguir o pecado retirando a sua "máscara" de realidade e revelando que não passa de falso aspecto. O pecado é como a treva. Na verdade, a treva não existe. Talvez vocês digam: "À noite, tudo fica escuro. Portanto, a treva existe". Mas ela existe apenas no nível fenomênico, isto é, embora pareça existir, não existe de verdade. Ao anoitecer, tudo fica na escuridão, e por isso parece que a treva existe; mas se iluminarmos a treva, no intuito de examiná-la e ver seu aspecto, ela desaparece. Ela parece existir, mas não existe de verdade. Se existisse de verdade, a treva ofereceria resistência à presença da luz, coisa que não ocorre. Quando a luz vem, a treva simplesmente desaparece, revelando a sua ausência. Assim é a treva. Por não existir de verdade, extingue-se diante da luz. Pode-se dizer que a luz consegue iluminar a treva porque a treva é originariamente inexistente.

Assim também é o pecado: Embora pareça existir, não existe de verdade. O mesmo se pode dizer dos efeitos do carma e da causalidade, os quais, em última análise, são diferentes denominações do pecado. Se o pecado ou os efeitos do carma e da causalidade não se manifestassem no aspecto fenomênico, não haveria necessidade de religião. Porém, como eles se manifestam e parecem existir, surgiu a religião para extingui-los, do mesmo modo com que se apaga a treva – que parece existir – com o poder da luz  que existe de verdade. 

A mestra fundadora da seita Tenri disse que "o ser humano é como uma esfera de cristal ligeiramente coberta de poeira". Ela ensinou que a natureza verdadeira do ser humano é bela e límpida como uma esfera de cristal puríssimo. O pecado não existe. Essencialmente, o ser humano é perfeito, não há nele nenhuma mácula. Suas imperfeições aparentes são como poeira que encobre a beleza e a limpidez de uma esfera de cristal. Mesmo que a poeira cubra a superfície de uma esfera de cristal, poeira é poeira, e cristal é cristal. Vendo uma esfera de cristal coberta de poeira, as pessoas dizem: "Essa esfera de cristal está suja". Estão equivocadas. Suja é a poeira; a esfera de cristal permanece límpida e bela. O mesmo se pode dizer do ser humano. A natureza verdadeira do ser humano é um ser divino (filho de Deus), um ser espiritual puro, belo e eterno, invisível aos olhos físicos. 

O ser humano não é o corpo material cheio de imperfeições. Na Bíblia, encontramos diversas passagens com alusões à efemeridade da carne. Considerando o ser humano do ponto de vista físico, temos de admitir que é um ser que precisa comer para viver, que mata outros seres vivos para se alimentar da carne deles, destrói microorganismos e até elimina um semelhante seu caso isso seja necessário para garantir sua sobrevivência. Porém, esse ser imperfeito não é o verdadeiro ser humano. O verdadeiro ser humano é "a imagem de Deus". Aqui, mais uma vez, deparamos com a questão da existência real. A distinção entre "existir de verdade" e "estar manifestado"" é uma questão de suma importância, do ponto de vista filosófico. Sem ter a compreensão do que sejam "existir de verdade" e "estar manifestado", não será possível entender realmente a essência da religião, ou seja, a Verdade que a Seicho-No-Ie prega. Quem pensa que a Seicho-No-Ie é uma religião vulgar, está cometendo um grande equívoco. O ensinamento da Seicho-No-Ie é muito elevado e, para entendê-lo bem, é preciso conhecê-lo em profundidade, considerando-o do ponto de vista filosófico.

Até agora, julgava-se verdadeiro ser humano o "homem fenomênico", o homem feito de corpo material, o homem imperfeito e transitório. Porém, verdadeiro é espírito proveniente de Deus e não "corpo carnal". Na verdade, todos estamos vivos porque "Deus está em nós". Dependendo da crença religiosa de cada um, isso pode ser expresso com outras palavras, tais como: "Vivemos porque Cristo está em nós", "vivemos porque Buda está em nós", "vivemos porque Brahma está em nós", etc. O importante é compreender que somos vivificados por Deus que está em nós. Compreender isso é despertar espiritualmente, é alcançar a iluminação.

A Imagem Verdadeira de todo ser humano é espírito proveniente de Deus. Portanto, o verdadeiro ser humano é perfeito, belo e límpido como um esfera de cristal da mais alta pureza, conforme as palavras da mestre-fundadora da seita Tenri. Ela afirmou que não existem nem o pecado, nem as impurezas, nem carma, nem doença, nem "encostos", enfim, coisa alguma que fira a natureza original perfeita do ser humano. Se o pecado e o carma existissem de verdade, não poderíamos extingui-los, por mais que tentássemos, procurando "polir" a nós mesmos com nossa força humana. Pecado, fatalidade, carma, são originalmente inexistentes, pois Deus não cria coisas más. Parecem existir, mas na verdade não existem, da mesma forma que a treva, embora pareça existir, não existe de verdade. Para se eliminar a treva, basta acender a luz. Do mesmo modo, para extinguirmos o pecado, a fatalidade, o carma, basta volvermos nossa mente para a Luz da Existência Verdadeira, isto é, Luz de Deus. Quando volvemos nossa mente para a Luz e contemplamos a perfeição de Deus nosso Pai, a nossa luz se funde com a Luz do Pai, a nossa vida se funde com a Vida do Pai, e então apagam-se todos os pecados manifestados no aspecto fenomênico.

Portanto, embora seja também necessário refletirmos sobre cada um de nossos atos na vida cotidiana e procurarmos melhorar sempre, o essencial é despertarmos para a Verdade de que somos filhos de Deus, ou seja, conscientizarmos o nosso "Eu verdadeiro", no qual flui a Vida de Deus, isento de pecado e sofrimento. Nisso consiste a verdadeira salvação.

Quando a pessoa recupera a liberdade inata da Vida, ocorre a cura da doença, qualquer que seja a sua religião. Eis a Verdade. Tanto na Seicho-No-Ie, como no cristianismo e outras religiões, ocorrem casos de cura de doenças. Se há pessoas que não conseguem a cura, é porque não acreditam na cura. Elas próprias impedem a manifestação da força curadora latente por estarem convencidas de que a cura é impossível, e devido a isso não ocorre a cura. Portanto, também nesse caso é verdadeira a afirmação da passagem bíblica: "Seja-te feito conforme a tua fé" (Mateus 8:13). É natural que o cristianismo também cure doenças, pois o próprio Jesus Cristo curava enfermos. Não seria lógico se, nos dias atuais, o cristianismo tivesse deixado de curar doenças. Isso estaria em desacordo com o seu ensinamento original. Se não ocorre a cura, é porque a própria pessoa, devido à sua crença errônea, está impedindo que a força de Deus atue sobre ela. 

Eu disse "impedir", mas na verdade isso é impossível, pois a crença errônea, ou seja, a ilusão, não tem força ativa para isso. Estar em ilusão e não conseguir ver da Luz de Deus é como estar de olhos fechados e não enxergar a luz do sol. Despertando da ilusão, compreendemos que vivemos num mundo radioso, repleto de bênçãos de Deus, do mesmo modo que, abrindo os olhos, vemos a resplandecente luz do sol. O mundo radioso existe desde o princípio. Basta abrirmos os olhos da mente para compreendermos que "o reino de Deus está aqui e agora". 

Como já expliquei, "devemos nos arrepender, pois o reino de Deus existe aqui e agora, já está ao nosso alcance"; isto é, o reino de Deus não está para chegar daqui a algum tempo, ele já existe aqui e agora. Basta "arrependermo-nos" para que ele se manifeste diante de nós. Os aflitos, os enfermos, os que estão com o coração cheio de tristeza, enfim, todos aqueles que sofrem, descobrirão o reino de Deus tão logo abrirem os olhos da mente. Quando eles abrirem os olhos da mente e despertarem da ilusão, o mundo terreno, que até então parecia impuro, feio e perverso, revelar-se-á como um mundo puro, repleto de paz e felicidade, iluminado pela Luz de Deus.


Do livro "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 85-90

terça-feira, novembro 17, 2015

O Arrependimento e o Despertar - 1/2

- Masaharu Taniguchi -


Algumas pessoas pensam que a finalidade da religião é pregar a salvação do homem após a morte. Porém, a verdadeira religião prega a salvação do homem nesta vida, ensinando a Verdade da Vida. Tanto o cristianismo como o budismo tem como essência a Verdade da Vida – portanto são religiões verdadeiras. Se a religião não pudesse salvar o ser humano nesta existência, como poderia ela garantir-nos a salvação após a morte? Mesmo que a salvação após a morte nos seja garantida, não há razão para não buscarmos a salvação nesta vida. Penso que é justamente a salvação nesta vida que nos conduz à certeza da salvação após a morte. 

Em que consiste, então, a salvação nesta vida? Alguns pensam que ser salvo é ser liberto dos sofrimentos e das dificuldades e passar a desfrutar uma vida de fartura e conforto, tal como um peixe liberto da rede e solto no oceano. Porém, a verdadeira salvação não consiste simplesmente em alcançar melhor situação econômica ou obter a cura da doença.

Penso que, em última análise, alcançar a salvação é recuperar a verdadeira liberdade que nos é inerente – a liberdade da Vida. Referindo-se a isso, Sakyamuni usou o termo gedatsu, que significa "ser salvo", isto é, libertar-se de todos os apegos, aflições e sofrimentos e alcançar o satori – a iluminação. O "satori" do budismo corresponde ao "arrependimento" de que fala a doutrina cristã. Arrependimento não consiste somente em reconhecer o erro cometido e tomar a decisão de não tornar a errar. Isto é apenas "arrependimento parcial". O arrependimento completo consiste na transformação total da postura mental. Algumas pessoas traduzem a palavra inglesa "conversion" simplesmente como o ato de aderir a um doutrina; mas o verdadeiro significa dessa palavra é "arrependimento completo, em que a pessoa muda por inteiro a sua postura mental e, como consequência disso, o seu mundo se transforma totalmente". O "mundo" a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior. Mudar completamente a postura mental, abandonando, de uma vez por todas, a ideia de que somos criaturas cheias de pecado, e descobrir o nosso "Eu Verdadeiro" isento de pecado e sofrimento – este é o verdadeiro arrependimento. Em outras palavras, o verdadeiro arrependimento consiste em abandonarmos completamente a ideia de que somos seres constituídos de corpo carnal, sujeito a pecados, e nos conscientizarmos de que somos filhos de Deus, isentos de pecado. Esta é a verdadeira conversão.

Em última análise, o verdadeiro arrependimento consiste em deixarmos de pensar que somos mera existência material e alcançarmos a sublime conscientização de que somos filhos de Deus e, portanto, existência espiritual. Jesus Cristo pregou: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mateus 3:2). Lendo a Bíblia em inglês, constatei que o referido versículo diz: "The Kingdom of Heaven is at hand". Na tradução do inglês para o japonês, o termo "at hand" é usado com a conotação de "estar se aproximando"; devido a isso, muitos pensam que o reino dos céus "está para chegar". Porém, o referido termo em inglês significa também "ao alcance", e no mencionado versículo foi usado com esse significado. Portanto, a advertência de Jesus Cristo não foi no sentido de que "devemos nos preparar, arrependendo-nos dos pecados, porque o reino dos céus vai chegar daqui a algum tempo". A referida afirmação "at hand" significa "estar à mão" ou "estar ao alcance, para ser desfrutado desde já". Sendo assim, contanto que nos arrependamos verdadeiramente, podemos passar a desfrutar imediatamente as graças do reino dos céus. Este é o verdadeiro significado da referida passagem bíblica.

O verdadeiro arrependimento não consiste em tentarmos nos redimir cada vez que cometemos um erro, de modo a melhorarmos gradativamente, mas sim em abandonarmos, de uma vez por todas, a ideia de que somos criaturas pecadoras, e compreendermos que somos filhos de Deus, criados à imagem do Pai, que é Existência espiritual e eterna. Quem se arrepender verdadeiramente há de encontrar o paraíso aqui e agora, nesta vida terrena.


"Ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu"

No Evangelho de São João (3: 2-13), consta a passagem em que Jesus diz o seguinte a Nicodemos, um dos principais entre os judeus: "Em verdade, em verdade te digo que não pode ver o reino de Deus senão aquele que nascer de novo". Nicodemos, que já era bastante idoso, perguntou-lhe então: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e renascer?". Jesus explicou, em linhas gerais, o seguinte: "Não estou falando em renascimento físico. O que nasce da carne, será sempre carne. Ainda que o ser humano pudesse renascer do útero de uma mulher, e passasse por tal renascimento quantas vezes desejasse, ele nascerá sempre como um ser carnal (material)". Isso não é o verdadeiro renascimento. O verdadeiro renascimento consiste em compreendermos a sublime Verdade de que não somos meros corpos carnais, e sim "existência real" de natureza espiritual. O vento sopra, e você ouve o ruído, mas não sabe de onde o vento vem, nem para onde ele vai. Se nem das coisas terrenas você entende, como pode entender das coisas celestes? "Somente aquele que desceu do céu, pode subir ao céu". Dessas palavras de Jesus Cristo, podemos depreender que somente aqueles que desceram do céu podem tornar ao reino do céu, ou, em outras palavras, somente aqueles que se originaram de Deus podem voltar para junto de Deus. O que nasce da carne será sempre carne. O ser humano enquanto "corpo carnal" sujeito aos pecados não pode entrar no reino do céu, ou seja, reino de Deus, por mais que se arrependa e procure melhorar sua conduta. 

Como será o reino de Deus? Conforme consta numa passagem do Evangelho de São Lucas (17:20-21), Jesus Cristo disse: "O reino de Deus não virá com aparato; nem se dirá: 'Ei-lo aqui, ou ei-lo acolá'. Porque eis que o reino de Deus está no meio de vós". O significado dessas palavras é o seguinte: O reino de Deus não pode ser visto "aqui" ou "acolá", no mundo material, pois ele existe dentro de nós mesmos, e o encontramos quando compreendemos que nossa Vida provém do Espírito de Deus que se alojou em nós. Assim sendo, não é possível descrever o aspecto do reino de Deus como se descreve o aspecto do mundo material. O reino de Deus existe dentro de nós mesmos, e o encontramos quando mudamos completamente o conceito acerca de nossa própria natureza.

Até agora, julgávamos o ser humano uma criatura cheia de pecados e prisioneira de seu próprio carma, e com esse pensamento vínhamos tolhendo a nós mesmos. Devemos nos libertar desse tolhimento, transcendendo o "eu fenomênico" cheio de pecados, e conscientizando verdadeiramente que o Espírito de Deus proveniente dos céus vive dentro de nós. Portanto, o nosso "Eu verdadeiro" não é o "corpo carnal" sujeito ao tolhimento e cheio de imperfeições, mas sim a Vida infinita presente em nós, proveniente de Deus. Só então podemos dizer que nos arrependemos verdadeiramente; só então podemos afirmar a nossa natureza divina, tal como o apóstolo Paulo expressou: "E vivo, não mais eu, mas é Cristo quem vive em mim". Cristo não é apenas uma pessoa de carne e osso que nasceu na Judeia há cerca de dois mil anos, mas sim uma expressão sublime da Verdade eterna, que surgiu na Judeia naquele tempo. O próprio Jesus Cristo disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6). Assim como Jesus Cristo, todo ser humano traz dentro de si a natureza divina eterna. No Evangelho de São João, lemos as seguintes palavras de Jesus Cristo: "Já não vos chamarei de servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo aquilo que ouvi de meu Pai" (João 15:15). Todos nós temos, latente, a mesma natureza divina de Jesus Cristo. E quando compreendemos isso, deixamos de ser servos e tornamo-nos irmãos e amigos do Cristo-Filho de Deus.


Parábola do mendigo e a riqueza oculta, contida na Sutra do Lótus

Todos nós temos, latente, a natureza divina eterna, mas não percebemos isso. Enquanto não nos damos conta de nossa natureza divina, somos meros servos de Jesus Cristo, mas quando despertamos para essa nossa natureza verdadeira, tornamo-nos amigos dele. 

Também no budismo (sutra do Lótus) há uma passagem que se refere à natureza divina latente do ser humano. Trata-se da parábola do mendigo e a riqueza oculta: Certa vez, um homem rico, que saiu para tratar de negócios, encontrou no caminho um velho amigo a quem não via há muitos anos. O amigo estava num estado deplorável: sujo, maltrapilho e macilento, parecendo não ter se alimentado há muitos dias. "Que foi que aconteceu com você? – perguntou-lhe o homem rico. "Estou desempregado e passando necessidade, como pode ver" – respondeu o amigo. Compadecido, o homem rico lhe disse: "Eu estava indo para tratar de negócios, mas não posso deixá-lo nesse estado. Vou levá-lo à minha casa, e oferecer-lhe almoço". Assim, o homem rico levou o amigo pobre para sua casa e mandou servir uma lauta refeição acompanhada de saquê. O amigo pobre, após comer e beber até saciar-se, acabou adormecendo. O homem rico, vendo que já estava na hora de sair para atender a um compromisso de negócio, sacudiu o amigo para acordá-lo, mas este continuou profundamente adormecido. O homem rico, que queria tirar o amigo da miséria, teve uma ideia e imediatamente colocou-a em prática: Descosturou um pouco a gola do casaco do amigo, colocou dentro dela uma pedra preciosa de grande valor, e refez a costura. "Pronto! Agora o meu amigo é dono desta pedra preciosa de grande valor. Basta ele apalpar a gola para descobri-la. Vendendo esta pedra, poderá conseguir muito dinheiro e refazer sua vida". 

Em seguida, o homem rico saiu para tratar de negócios, e quando ele voltou ao anoitecer, o amigo pobre já havia partido. Passaram-se alguns meses, e um dia o homem rico tornou a deparar com aquele velho amigo, o qual continuava sujo e maltrapilho como da vez anterior. Surpreso, o homem rico perguntou: "Que é que você tem feito de sua vida?", e o outro respondeu: "Como vê, continuo na miséria". "Não é possível" – disse o homem rico – "eu lhe dei uma pedra preciosa de enorme valor". "Não sei do que você está falando". "Examine a gola do seu casaco. Isso! Notou que há algo dentro dela, não é? Abra-a e verá que se trata de uma pedra preciosa de grande valor". E assim o amigo pobre, que se julgava sem um tostão, finalmente descobriu a pedra preciosa de valor incalculável que estava oculta dentro gola de seu casaco. 

Nesta parábola, a pedra preciosa de valor incalculável corresponde à natureza divina de que todos nós somos dotados. Embora tenhamos natureza divina, ela será inútil enquanto não conscientizarmos isso. Porém, a partir do momento em que despertarmos para nossa natureza divina, ela passará a manifestar infinitas virtudes.

Dentre todos os sutras budistas, o sutra do Lótus é o que contém a verdade mais profunda, que Sakyamuni guardou consigo durante quarenta anos e revelou por último. Nele consta a Verdade de que todos nós temos natureza búdica (ou seja, natureza divina), perfeita e eterna. O verdadeiro arrependimento consiste em compreendermos que não somos criaturas imperfeitas e pecadoras, mas sim seres dotados de natureza divina eterna. Parafraseando Jesus Cristo, podemos dizer: "Arrepende-te, pois o reino de Deus está aí mesmo, junto a ti", "Abre os olhos e vê, o paraíso está 'dentro da gola' de tua própria roupa". Quando descobrimos nossa natureza verdadeira, compreendemos que estamos no Paraíso, na Terra Pura, aqui mesmo neste mundo. 

Nosso "Eu Verdadeiro" não é o corpo físico, de duração limitada, que com o passar dos anos se desgasta e envelhece, e sim o ser espiritual dotado de natureza divina. O apóstolo Paulo disse: "E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim". Quem não é cristão, não precisa mencionar "Cristo". Os budistas podem dizer "Buda vive em mim", e os seguidores do hinduísmo podem dizer "Brahma vive em mim". Qualquer que seja a religião, é fundamental que a pessoa desperte para a Verdade e compreenda que traz dentro de si a Vida de Deus. Esse despertar é a conversão, é o verdadeiro arrependimento; no budismo, é a iluminação, a libertação, a "obtenção da serenidade espiritual". 

Quando despertamos para nossa natureza divina, manifesta-se a força infinita, latente em nós desde o princípio. O que acontece quando se manifesta a força infinita? Naturalmente, passam a ocorrer efeitos correspondentes, beneficiando-nos em tudo: se estamos doentes, recuperamos a saúde; se temos problemas, encontramos a solução; se estamos com dificuldades financeiras, a situação melhora rapidamente, e assim por diante. Alguns riem, quando afirmo isto; dizem que acreditar nisso é crer numa magia. Porém, não se trata disso. Como podemos constatar em diversas passagens bíblicas, o próprio Jesus Cristo, pelo poder de sua força divina, curava os doentes e socorria os pobres. Quanto a resolver o problema de carência material, não consta alusão clara na Bíblia, mas isso fica subtendido em algumas passagens, como – por exemplo – aquela em que Jesus Cristo, após pregar para a multidão à margem do lago Genesaré, falou com Simão Pedro (que nessa época ainda era pescador), e aconselhou-o a "fazer-se ao largo e lançar a rede"; por terem seguido o conselho, Simão Pedro e seus colegas conseguiram apanhar "tão grande quantidade de peixes, que a sua rede rompia-se" (Lucas 5: 4-7). Eles obtiveram a fartura porque, ouvindo as palavras da Verdade que Jesus Cristo pregara, compreenderam que o ser humano traz dentro de si  Vida infinita e a capacidade ilimitada que o possibilitam conseguir todas as coisas necessárias para seu sustento.

Em Mateus 14: 17-21, Marcos 6:38-44 e Lucas 9:13-17, consta que Jesus Cristo, tomando cinco pães, multiplicou-os e distribuiu-os a cinco mil pessoas. Segundo as referidas passagens bíblicas, todos se saciaram e ainda sobraram doze cestos cheios de pães. Talvez haja quem duvide que possa acontecer tal milagre. Mas aconteceu. Assim é a religião. Ela transcende a matemática. A salvação que oferece transcende as leis matemáticas e as leis físicas, e por isso podemos dizer que é a verdadeira salvação, proporcionada por Deus. Enquanto estivermos presos ao mundo regido pelas leis físicas, onde prevalece a relação de causa e efeito, não podemos nos considerar verdadeiramente salvos. Alcançar a verdadeira salvação, proporcionada por Deus através da religião, consiste em transcender o mundo regido pela lei da causalidade e atingir o estado de liberdade total, pelo conhecimento da Verdade. Jesus Cristo disse: "A Verdade vos tornará livres" (João 8:32). Sendo ele próprio a personificação da Verdade, Jesus Cristo tem o poder de nos livrar do tolhimento da lei da causalidade e tornar-nos verdadeiramente livres. 

Se o único meio de nos livrarmos dos efeitos cármicos que acumulamos ao longo de nossas existências anteriores consistisse em irmos pagando um por um todos os erros e pecados do passado, não precisaríamos de religião. Bastaria nos esforçarmos incessantemente para acumularmos boas ações e irmos redimindo, pouco a pouco, os erros e pecados cometidos ao longo de nossas existências. Porém, como os efeitos cármicos também continuarão se acumulando, jamais conseguiríamos redimir todos os erros e pecados. Desse modo, jamais poderíamos alcançar a verdadeira salvação. Para alcançarmos a verdadeira salvação, precisamos nos libertar da "corrente cármica", e para isso é necessário arrependermo-nos verdadeiramente, ou seja, volver nossa mente para Deus e despertar para nossa natureza divina.


Do livro "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 75-84

domingo, novembro 15, 2015

A Essência e a forma dos Ensinamentos

- Núcleo -


Meu divino Amigo Gustavo,

Sei que os visitantes deste Templo dos Iluminados apreciam ensinamentos essenciais.

Aquele que na Representação aparece como o divino personagem Joel Goldsmith disse: "Enquanto Deus não for percebido como Vida, Mente e Alma do Ser, Deus permanecerá no plano do conceito."

Eis um ensinamento essencial, compartilhado por Joel Goldsmith, em perfeita sintonia com o ensinamento essencial contido na série “Viver o Eu Verdadeiro”.

A propósito: a série “Viver o Eu Verdadeiro” poderia bem intitular-se “Masaharu Taniguchi, ensinamentos essenciais.”

Permita-me aprofundar este tema. Na série “Viver o Eu Verdadeiro”, ele trata especificamente da essência, que é o Eu Verdadeiro, e ensina como podemos vivenciá-lo!

Sobre a essência, Masaharu Taniguchi escreve que: “Na essência, tudo e todos constituem uma unidade harmoniosa, mas no plano material não podemos evitar a sensação de que cada indivíduo é um ser separado dos outros, e traçamos limites tais como 'eu' e 'os outros', 'meu mundo pessoal' e 'o mundo dos outros'." 

Neste momento, vamos dar atenção a este ensinamento essencial, no qual nos é revelado que: “Na essência, tudo e todos constituem uma unidade harmoniosa...”. Esta é a realidade e a Vida do Eu Verdadeiro!

Agora vamos ao ensinamento essencial onde Masaharu Taniguchi diz: "Para manifestarmos a liberdade e a harmonia inerentes à Vida, é fundamental eliminarmos da mente o apego ao mundo das formas. Por isso, a Seicho-No-Ie enfatiza que 'a matéria não existe'. Precisamos compreender que a matéria não tem substância, passar pelo estágio de total negação do mundo das formas, e depois voltar a contemplá-lo com a mente sem nenhum apego. Então compreenderemos que, embora a matéria em si não tenha substância, por trás da forma material existe a Essência, livre e harmoniosa."

Esta afirmação é um ensinamento essencial que tem um objetivo específico, que o próprio Masaharu Taniguchi revela qual é: libertar da ilusão as pessoas apegadas às formas materiais. Mas ao se dirigir às pessoas apegadas à ideia de que "a matéria não existe", ele muda o procedimento, e explica assim: "Não estou afirmando que a matéria simplesmente não existe. O que pretendo dizer é que todas as coisas que vocês pensavam tratar-se de mera matéria, são, na verdade, manifestação da Vida de Deus, e, portanto têm de ser tratadas com muito amor".

Notem bem! A afirmação de que "a matéria não existe" é um ensinamento essencial cuja finalidade é “libertar da ilusão as pessoas apegadas às coisas materiais”. Notem que essa afirmação é uma PERCEPÇÃO do real, compartilhada por quem a tem! Da mesma forma a entoação do Namu Amida Butsu é uma PERCEPÇÃO do real, compartilhada por quem a tem!

No momento em que estas “percepções” passam a ser entendidas como meras idéias ou PENSAMENTOS, não mais atuam como “percepções”, não iluminam, não libertam.

Enquanto PERCEPÇÃO uma afirmação ("a matéria não existe" ou "Namu Amida Butsu") conduz à essência, ao desfrute da Vida do Eu Verdadeiro. Mas, enquanto PENSAMENTO a mesma afirmação prende o indivíduo à forma, ao mundo de aparência, e não mais conduz à essência, à Vida do Eu Verdadeiro. É por isso que na série "Viver o Eu Verdadeiro" Masaharu Taniguchi faz contraposição entre a essência e a forma, e esclarece sobre a importância de não nos apegarmos às formas, pois somente assim é que podemos apreender a realidade da essência.

Assim, quando Sakyamuni disse: Eu sou Buda, compartilhou a PERCEPÇÃO de sua real identidade e também a real identidade de todos os seres. O mesmo está expresso na PERCEPÇÃO compartilhada por Masaharu Taniguchi de que: “Na essência, tudo e todos constituem uma unidade harmoniosa”.

Porém, a mesma afirmação "Eu sou Buda", quando as pessoas a entoam como um PENSAMENTO (e não como percepção!) sobre quem são, essa afirmação apenas insufla o ego e é até bastante prejudicial. De igual modo, o mesmo Namu Amida Butsu capaz de libertar da ilusão das aparências pode passar a não mais conduzir à essência, e até atar o indivíduo ainda mais ao plano da forma, conduzindo ao eterno sofrimento.

Por isso, para as pessoas que deixaram de apreender a essência do nenbutsu, e passaram a recitá-lo no automatismo, como um mero pensamento, o mestre Nichiren afirmou que: "o nenbutsu conduz ao inferno do sofrimento eterno", e advertiu com energia que "aqueles que vivem entoando o nenbutsu de maneira meramente formal, acabam caindo no inferno". Masaharu Taniguchi esclareceu que Nichiren não era contra a prática no nenbutsu em si. O que ele condenava era a conduta das pessoas que se apegavam à entoação formal do nenbutsu e, por assim dizer, "suprimiam" o seu conteúdo vital (ou seja, se esqueciam da essência do ensinamento). A essas pessoas, o mestre Nichiren advertia que "acabariam caindo no inferno, se continuassem procedendo de tal forma"

Masaharu Taniguchi também disse que quando ensinava que "a matéria não existe", expressava uma percepção capaz de levar as pessoas à enxergar a essência por trás do mundo das formas. Mas, quando ele percebia as pessoas não captando o real significado da afirmação, mas apegando-se cegamente à ideia de que "a matéria não existe", mudava o procedimento/explicação a fim de reconduzir as pessoas à percepção do essencial. Ele diz: “ao me dirigir àquelas pessoas apegadas à ideia [ao PENSAMENTO] de que "a matéria não existe", explico assim: "Não estou afirmando que a matéria simplesmente não existe. O que pretendo dizer é que todas as coisas que vocês pensavam [notem! “que vocês PENSAVAM”] tratar-se de mera matéria [ele compartilha a PERCEPÇÃO de que] na verdade  são manifestação da Vida de Deus [Notem! Vida de Deus é essência, algo que só pode ser PERCEBIDO] e, portanto têm de ser tratadas com muito amor".

Por serem ensinamentos essenciais em perfeita harmonia, Masaharu Taniguchi disse que: “Não é possível apreender a essência das coisas, com a mente apegada à forma. No momento em que reconhecemos a forma material, estamos deixando de apreender a essência”. 

Joel Goldsmith disse que: “devemos conhecer Deus. Acreditar não basta; precisamos experienciar Deus; e, enquanto Deus não for percebido como Vida, Mente e Alma do Ser, Deus permanecerá no plano do conceito”. E concluiu: Vamos aceitar a revelação do Cristo [a PERCEPÇÃO compartilhada por Jesus Cristo] e repousar na consciência da ÚNICA PRESENÇA, PODER E VIDA. Somos seres espirituais, aqui e agora. Vamos acatar esta Verdade [como sendo a NOSSA PERCEPÇÃO], livrando-nos para sempre da crença de separação de Deus.

É o que PERCEBO, desfruto e também compartilho.

Namastê.


sábado, novembro 14, 2015

O princípio da Ciência Cristã (Goldsmith)


- Joel S. Goldsmith -


Sendo científica, a Ciência Cristã só pode ser praticada rigorosamente através de seus princípios e regras. Começa pela compreensão de Deus como única Causa. Todo desvio dessa regra resulta em falha na demonstração. Mary Baker Eddy baseou o seu ensinamento na totalidade de Deus e na nulidade de doença, pecado e morte.

Deus é a única Causa e tudo o que Ele criou é bom; portanto, todo mal ou coisa, que apareça ao senso finito, somente pode existir como ilusão, ou falso conceito da Realidade.

A Mente Imortal é a única Causa; portanto, doença não é causa nem efeito. Frente ao problema, devemos nos perguntar: “Que tenho em minha casa – consciência?”. Isto nos afastará do universo exterior, ou mundo do efeito, trazendo-nos à Fonte de todo o bem: nossa consciência. Tentar obter qualquer coisa do reino do efeito resultará em fracasso. Jesus disse: “O reino de Deus está dentro de vós”, e  “quando orardes, crede que já recebestes, e tê-lo-eis”.

Enquanto não percebermos que o assunto tratado já está em nossa consciência, iremos buscar num lugar em que ele nunca se encontra: fora de nós.

Precisamos nos esforçar para demonstrar e aprender a ganhar a consciência de todo bem. Ganhar esta consciência significa ganhar o bem em si. “Buscai, em primeiro lugar, o reino dos Céus e sua justiça, e tudo vos será dado por acréscimo”.

O que vem a nós, como resultado de nossa consciência do bem, permanece conosco eternamente. De fato, este bem jamais nos poderá ser tirado.

Como adquirir essa consciência de bem? Veja o que disse Jesus: “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir”. Tudo que nos for necessário irá aparecer, se mantivermos a consciência da verdade de que nós existimos como uma consciência que incorpora todo o bem, à qual nada pode ser acrescentado e da qual nada pode ser tirado.

O Princípio da Ciência Cristã

Antes acreditávamos no bem e no mal. O bem era atribuído a Deus e o mal ao diabo. Agora, aprendemos que o diabo não existe; mas estaríamos reconhecendo que não existe o mal? Não apenas mudamos o nome do diabo para “mente mortal”, hipnotismo ou xyzismo?

O ponto central é: Pelo reconhecimento da irrealidade da doença, do pecado e morte, você demonstra a totalidade de Deus.

Não estaria você trabalhando contra a ilusão, como se a crença fosse um poder real ou causa de condição errônea? Ou você está firme na maravilha da Ciência Cristã, que revela Deus, somente, como causa e criador, e que “não existem efeitos de outra causa”?

Não basta soltarmos a crença de que o diabo é a fonte do mal. Precisamos entender a revelação de que Deus é a única Presença e o único Poder, e todo o resto como simples ilusão. A realização de que toda aparência do mal é ilusão dissolve sua aparência.

Por que não pensamos mais? Por que aceitamos que, ano após ano, um poder humano ou material nos destrói? Por que, se sabemos que existe Deus, um poder espiritual que ultrapassa as discórdias mortais de toda espécie? Por que nos sentimos indefesos diante de germes, medicina, teologia humana, e perseguidores? Por que, se existe Deus, infinito poder do bem? Há só uma resposta: devemos conhecer Deus. Acreditar não basta; precisamos experienciar Deus.

O erro está na ideia de procurar Deus, comungar com Deus, orar a Deus, quando aquilo que está procurando ou orando É a Consciência divina destruindo o senso finito. A Verdade é o reconhecimento deste fato.

Não há outra Vida que não seja a Sua, nem outra Mente; deixe que a Vida viva por si; deixe que a Mente Se expresse. Deus não é algo apartado de você. Deus é a Substância, Lei, Vida, e É a Sua realidade. Religiões e filosofias têm dito muito SOBRE Deus. Apresentam seus conceitos, mas eles não são Deus em si.

Enquanto Deus não for percebido como Vida, Mente e Alma do Ser, Deus permanecerá no plano do conceito. A Verdade revela Deus como Mente individual, como sua Mente. Revela o “Eu” de você como Deus. Não está “lá fora” para ser contatado ou receber orações. Deus é o “Eu”, o Princípio ou Alma, a Vida de seu ser. Deus, como sua Mente, pode Se expressar perfeitamente.

Deixe, apenas; repouse, apenas. Somente a Consciência espiritual revela que não há ilusão. Não caia no erro de acreditar que a Ciência Cristã cure doenças. NÃO HÁ ILUSÃO. Deus é onipotente.

Vamos aceitar a revelação do Cristo e repousar na consciência da ÚNICA PRESENÇA, PODER E VIDA. Somos seres espirituais, aqui e agora. Vamos acatar esta Verdade, livrando-nos para sempre da crença de separação de Deus.


quinta-feira, novembro 12, 2015

Viver o "Eu Verdadeiro" - 3/3

- Masaharu Taniguchi - 


O que foi dito até aqui em relação à religião aplica-se também ao ser humano. Nosso organismo, que é constituído de incontável número de células, mantém-se vivo graças ao processo em que as células envelhecidas vão sendo substituídas uma a uma, por novas células. Como todos sabem, cada vez que lavamos o rosto ou tomamos banho, as células envelhecidas da pele, que foram substituídas por novas, se desprendem e são eliminadas. Da mesma forma que surgem células novas para revigorar os tecidos celulares, novas seitas surgem para intensificar a divulgação da Verdade.

Foi para isso que surgiu a Seicho-No-Ie, e embora pareça diferir das religiões tradicionais, a essência do seu ensinamento é a mesma Verdade que elas pregam. A Verdade é eternamente imutável, é a mesma Verdade da Vida Eterna que permanece inalterável desde os tempos de Sakyamuni, mas a forma de expressá-la deve modificar-se de acordo com a época; caso contrário, não é possível vivificar cada época. Assim, a essência da obra A Verdade da Vida é a Verdade eterna, a mesma que as religiões tradicionais vêm pregando, mas devido à forma inovadora com que é apresentada, toca com maior intensidade a geração moderna, e suscita nos leitores uma grande transformação interior, que propicia a cura rápida das doenças.

Analisando a história da evolução do ensinamento da Seicho-No-Ie, constatamos que a forma de pregar a Verdade passou por muitas modificações desde a publicação do primeiro exemplar da revista Seicho-No-Ie até o presente, e que o objetivo das modificações tem sido sempre o de facilitar a compreensão da Verdade, de acordo com as peculiaridades de cada época. A grandeza do ensinamento da Seicho-No-Ie está justamente em adotar diferentes modos de expressão. Usar diferentes formas de expressão é um procedimento necessário. É por isso que redijo mensalmente para a revista Seicho-No-Ie artigos com mensagens da Verdade, introduzindo modificações na forma de expô-las sempre que isso se faz necessário. É preciso que o leitor leia com atenção os artigos e capte a corrente de uma só Verdade que flui em todos eles, não obstante as diferentes formas de expressá-la. 

Vez por outra, algumas pessoas me dizem: "Professor, num artigo o senhor diz uma coisa, e noutro, algo bem diferente. Isso não é uma incoerência?". Porém, mesmo que minhas afirmações pareçam incoerentes, na essência elas não o são. Para que as pessoas com a mente presa a determinadas ideias despertem para a Verdade da Vida, faço afirmações aparentemente contraditórias. 

Por exemplo: para as pessoas que pensam que "a doença ocorre devido a causas orgânicas", afirmo categoricamente que "a doença ocorre devido à atitude mental errônea", para desfazer a ilusão. Mas, ao saber que a mente é causadora da doença, algumas pessoas tornam-se obcecadas por essa ideia e passam a viver angustiadas por não conseguirem melhorar a atitude mental, apesar de se esforçarem. Para essas pessoas, afirmo: "Assim como o corpo, a mente também não existe". Então, alguns comentam, perplexos: "Afinal, o que será que o Prof. Taniguchi está querendo nos dizer? Ora afirma que a mente é a causadora das doenças, ora afirma que a mente não existe...". Pois digo que ambas as afirmações são verdadeiras. A mente negativa, causadora de doença, é mente em ilusão, que não existe de verdade. E a doença, sendo manifestação da "mente que não existe de verdade", também não é existência real. Portanto, não há nenhuma contradição em minhas afirmações. Mas aqueles que se atêm à forma de expressão e não conseguem entender a Verdade contida em minhas palavras, julgam-me incoerente. Então, para conduzi-los à compreensão da Verdade da Vida, faz-se necessário mudar mais uma vez a forma de expressão e dizer: "Não existem nem o corpo, nem a mente. Somente a Imagem Verdadeira existe de verdade". Palavras escritas e expressões verbais são expedientes e formas a que recorremos para libertar as pessoas em estado de ilusão, apegadas a determinadas ideias ou crenças.

"A matéria não existe. Todas as coisas materiais são sombras (projeções) da mente; portanto, podem surgir ilimitadamente dependendo da atitude mental." – Ouvindo esta afirmação, algumas pessoas pensam: "Os bens materiais não têm existência própria, são todos produtos da mente e, como surgem ilimitadamente conforme os projetamos, podemos esbanjá-los à vontade", deixando-se levar pela ideia fixa de que "a matéria não existe". Tais pessoas também se atêm à forma de expressão, sem perceber que ela não passa de expediente para conduzi-las à compreensão da Verdade. Para libertar da ilusão as pessoas apegadas às coisas materiais, afirmo que "a matéria não existe"; mas, ao me dirigir àquelas apegadas à ideia de que "a matéria não existe", explico assim: "Não estou afirmando que a matéria simplesmente não existe. O que pretendo dizer é que todas as coisas que vocês pensavam tratar-se de mera matéria, são, na verdade, manifestação da Vida de Deus, e, portanto têm de ser tratadas com muito amor". 

Para pregar a Verdade, é preciso usar de expedientes adequados, de acordo com as pessoas. Assim, ouvindo a explicação acima, as pessoas que desperdiçavam muitas coisas por pensarem que "a matéria é vã" tomam consciência de que em tudo está presente a Vida de Deus e passam a usar da maneira mais proveitosa, com espírito de reverência, até mesmo uma simples folha de papel. Em última análise, o essencial é fazer com que as pessoas despertem para a Verdade de que em todas as coisas está presente a Vida de Deus. E o livro que usa livremente as mais diversas formas de expressão para conduzir os leitores a esse despertar é A Verdade da Vida.

Para se auto-expressar, a Vida cria forma, rompe as formas já criadas e gera novas formas, num processo incessante. Assim é a manifestação da Vida. Saibamos que o desenvolvimento de processa pela incessante renovação. Seja na literatura, na religião ou nas artes plásticas, a evolução ocorre pela constante renovação das formas: criam-se formas, rompem-se com as que se tenham tornado padrões e criam-se novas. E assim, pela constante renovação das formas, a Vida se manifesta com novo impulso. O importante não é a forma, e sim a Vida. 

Algumas religiões florescem durante certa época mas acabam se tornando inadequadas por não conseguirem se renovar, rompendo as formas ultrapassadas. Todas as formas sofrem modificações com o decorrer do tempo; são rompidas e substituídas por outras. Mas por trás dessa aparência fenomênica de transitoriedade existe a Vida eterna, que flui incessantemente, sem sofrer nenhuma alteração. E é preciso captar o incessante e vigoroso fluxo de Vida, transcendendo o aspecto fenomênico mutável. Compreender a transitoriedade das coisas deste mundo e entregar-se à tristeza não é despertar para a Verdade. O despertar consiste em descobrir a Vida que flui incessantemente, por trás da aparente transitoriedade.


Do livro "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 67-72

terça-feira, novembro 10, 2015

Viver o "Eu Verdadeiro" - 2/3

- Masaharu Taniguchi -


Também no tocante à religião, não devemos nos apegar à forma. 

O "despertar" não é visível aos olhos físicos. Não é possível captar com os olhos físicos a Verdade, o que existe realmente. Por isso, não podemos explicá-la com palavras que exprimem coisas visíveis. Mesmo que tenhamos apreendido "o que existe de verdade" – a Imagem Verdadeira –, não é possível expressá-lo com a linguagem de uso cotidiano, com que exprimimos as coisas do mundo fenomênico. A palavra, por ser vibração emanada a Deus, tem o poder de expressar a Verdade. Porém, por meio do vocabulário de uso comum, isso é muito difícil. Entretanto, pelas vibrações das palavras do orador é possível aos ouvintes alcançar o despertar espiritual. Como as vibrações variam conforme o orador, as mesmas palavras podem causar diferentes impressões ao ouvinte. Isso significa que o que importa é a essência, e não a forma

Ouve outrora um mestre zen budista chamado Gutei. Sempre que alguém em busca do aprimoramento espiritual lhe pedia para explicar o que era o despertar espiritual, ele levantava o dedo polegar, como uma forma de representá-la. Então, um monge noviço passou a fazer o mesmo gesto. Porém, embora o gesto de ambos fosse aparentemente o mesmo, havia uma enorme diferença na essência, pois, enquanto que o gesto do mestre Gutei representava o  despertar espiritual, o do noviço não passava de imitação da forma. O despertar espiritual é invisível, é algo que transcende a forma, e para expressá-lo recorre-se a diversos meios de expressão. Em alguns casos, o orientador levanta o um dedo ou até mesmo bate na pessoa com um bastão; em outros, recorre a diversas formas de expressão verbal. Mas quando passa a haver apego à forma, esta deixa de exprimir a Vida. nesse caso, ainda que se use as mesmas expressões, a essência diferirá tanto quanto diferiam a essência dos gestos aparentemente iguais do mestre e do noviço, no exemplo citado.

Quando se fica preso a velhas formas, fatalmente ocorre esvaziamento do conteúdo. Isto se aplica também à religião. Por exemplo, pregando-se o ensinamento de Buda sempre com as mesmas formas de expressão, a doutrina tenderá cada vez mais ao formalismo e deixará de transmitir a Vida em si. Assim, a religião se torna formal. Ao longo da história da humanidade surgiram muitas seitas religiosas, e cada qual em sua época contribuiu para a salvação dos povos. Porém, com o passar do tempo, foram se esvaziando, "perderam a Vida", e acabaram mantendo apenas a "forma", ou seja, os rituais. Devido a isso, chegou a surgir a ideia errônea de que a religião se resume em rituais. 

No tocante ao budismo, desde o surgimento de Sakyamuni até os dias atuais, apareceram ao longo dos anos muitos grandes mestres, tais como Kobo, Dogen, Shinran, Nichiren, que fundaram suas próprias seitas, e cada um deles alcançou o despertar espiritual e expressou-o de forma mais adequada para si próprio e para a época e lugar em que viveu. Porém, com o passar do tempo, muitas das antigas religiões foram se tornando cada vez mais formais, até acabarem perdendo a essência e ficarem apenas com a forma externa (rituais). Quando as velhas religiões se tornam formais e perdem o poder de salvar o povo, surgem outras novas, como comprova a própria história das religiões. É natural que, quando uma religião até então dominante acaba se tornando mera forma sem conteúdo, surjam novas religiões mais adequadas para a época, com o poder de dar novo impulso à Vida. A forma como expressamos o despertar espiritual não é o despertar espiritual em si. Embora não seja possível palpar ou dar forma ao despertar espiritual, que é a manifestação da Vida em constante movimento, valemo-nos de expedientes e recorremos a formas (palavras) para expressá-lo. Ao tentarmos expressar o despertar espiritual sob uma forma concreta, damos margem ao surgimento de apego à forma. Por isso, se julgarmos que a forma de expressão do despertar espiritual seja a religião, cometeremos erros. Conseguimos apreender a Vida nas formas através das quais ela se expressa. Mas o despertar espiritual, em si, transcende as formas de expressão. 

Para continuar exprimindo a Vida através dos tempo, é preciso criar constantemente novas formas e, ao mesmo tempo, romper com as formas já ultrapassadas. Religião que não procura introduzir modificações, acaba "se esvaziando", tornando-se religião formal, e cedo ou tarde é suplantada por outras religiões mais dinâmicas. Desde os tempos remotos, têm sido frequentes o surgimento de novas seitas e a ocorrência de reformas religiosas, o que comprova a necessidade de constantes inovações. Somente as religiões que evoluem incessantemente, introduzindo reformas necessárias, conseguem permanecer eternamente vigorosas. Mesmo que se pratique uma determinada forma de pregar o ensinamento, considerada a melhor para uma determinada época, não se deve continuar apegado indefinidamente a ela. Se não foram introduzidas modificações adequadas, com o passar do tempo essa forma de pregar acaba se tornando uma teoria vazia; uma forma sem conteúdo, e perde o poder de transmitir a Vida.

No passado, o grande mestre Shinran, fundador da seita budista Jodo-Shinshu, afirmou que "para se alcançar a salvação, basta invocar Buda dizendo namu-amida-butsu". Isso porque para ele, na época e no lugar em que viveu, aquela era a melhor forma de expressar a Verdade que alcançara com o despertar espiritual. Para ele, aquela afirmação tinha suma importância, pois dizer namu-amida-butsu significava expressar a fé absoluta em Buda e a confiança total em sua infinita misericórdia. Porém com o passar do tempo, muitas pessoas esqueceram o verdadeiro sentido de entoar namu-amida-butsu e passaram a pensar que "dizendo simplesmente namu-amida-butsu, consegue-se alcança a salvação, independente de atos e de pensamentos". Isto é, passaram a se apegar à forma, distanciando-se por completo, da essência do ensinamento de Shinran. 

Conforme expliquei nos capítulos anteriores, o monge Gutei levanta um dedo para representar a Verdade, e seu aprendiz imitava esse gesto; embora o gesto fosse igual, o "conteúdo" diferia completamente. Por isso, o monge Gutei tomou medida drástica cortando o dedo desse aprendiz. Procedeu de modo igualmente drástico o grande mestre Nichiren (Fundador da seita Nichiren, que surgiu depois de Shinran), quando afirmou categoricamente: "Se entoarem o nembutsu (namu-amida-butsu), cairão no inferno da tortura incessante". Com esta afirmação, o grande Nichiren pretendeu "cortar" a ilusão das pessoas, do mesmo modo que o monge Gutei cortou o dedo do aprendiz (que lhe imitava apenas o gesto). Nichiren não considerava o nenbutsu como um mal; mas, censurou energeticamente a sua entoação formal, visando vivificar seu significado. A partir do momento em que as pessoas passaram a pensar "entoando o namu-amida-butsu, seremos salvos, qualquer que seja a nossa atitude mental", e começaram a praticar a mais variadas formas de iniquidades, o ato de entoar o nenbutsu tornou-se meramente formal e perdeu o poder de purificar o ser humano. O sublime significado do nenbutsu está em fazer com que a pessoa se deixe envolver completamente pela força purificadora de Amida-Buda, e deixe de sentir a necessidade de buscar a salvação por outros meios.

Certa ocasião, o jornal Chugai-Nippo efetuou uma estatística concernente aos criminosos que cumpriram pena no presídio de Osaka, e constatou que a maioria deles eram adeptos da Shinshu. Porém, não sepode atribuir a culpa ao ensinamento do mestre Shinran, fundador da seita. O ensinamento do mestre Shinran é muito bom, mas, com o decorrer do tempo, muitos adeptos passaram a entoar o namu-amida-butsu apenas formalmente, esquecendo a essência do ensinamento do mestre, contida nessa sutra. Acreditando que basta dizer namu-amida-butsu para alcançar a salvação, tais adeptos não procuram levar uma vida correta. O fato constatado na estatística efetuada no presídio de Osaka é uma das consequências dessa tendência. Quando o povo passou a entoar o namu-amida-butsu apenas formalmente, tornou-se necessário o surgimento de alguém que lhe abrisse os olhos. Esse alguém foi o grande mestre Nichiren. Ele foi a pessoa enviada pelo Supremo Salvador do Universo, para conduzir o povo japonês à salvação, atendendo às necessidades daquela época. 

O mestre Nichiren afirmou: "O nenbutsu conduz ao inferno do sofrimento eterno; o zen é um ato do demônio; o budismo Shingon arruína o país; e os adeptos do budismo Risshu são traidores da nação". Ele advertiu com energia que aqueles que vivem entoando o nenbutsu de maneira meramente formal, acabam caindo no inferno. Nichiren não era contra a prática do nenbutsu, em si. O que ele condenava era a conduta das pessoas que se apegavam à entoação formal do nenbutsu e, por assim dizer, "suprimiam" o seu conteúdo vital (ou seja, se esqueciam da essência do ensinamento). A essas pessoas, ele advertia que "acabariam caindo no inferno, se continuassem procedendo de tal forma". Certamente, os adeptos da Shinshu, que constituíam a maioria dos criminosos presos na penitenciária de Osaka, segundo a estatística efetuada pelo jornal Chugai-Nippo, eram pessoas que entoavam o nenbutsu em vão, esquecendo a essência do ensinamento de Shinran.

Este é um exemplo do efeito nocivo do apego à forma, no que concerne à religião. O apego à forma implica em negligenciar a Vida (a essência). Assim, os sucessivos surgimentos de novas religiões são resultados do esforço para romper velhas formas e manifestar a Vida (a essência) com vigor renovado.


Do livro "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 61-67

domingo, novembro 08, 2015

Viver o "Eu Verdadeiro" - 1/3

- Masaharu Taniguchi -


No budismo, existe a expressão "Shin-nyo", que às vezes é usada simplesmente como "nyo". O ideograma da palavra "Shin" signfica "Verdade"; e o ideograma da palavra "nyo" significa "o que é autêntico". Portanto, "Shin-nyo" significa "aquilo que é verdadeiro, que é autêntico", ou seja, o "Eu verdadeiro". 

Será nosso "Eu verdadeiro" a nossa imagem manifestada como corpo carnal? Não, porque o corpo carnal, embora seja o que é visível aos olhos, não é o que existe realmente. O "Shin-nyo" (o nosso "Eu verdadeiro"), que existe realmente, não é visível aos olhos físicos. O corpo carnal é visível, mas o "Eu verdadeiro" não o é. Não é possível ver com os olhos físicos o aspecto verdadeiro. O que é preciso fazer para conseguir vê-lo? O aspecto aparente é visto através do órgão visual constituído de globo ocular, nervos ópticos, retina, etc. Mas o aspecto verdadeiro, invisível aos olhos físicos, só pode ser apreendido quando "desligamos" o aparelho visual do corpo carnal. Somente quando "desligamos" o globo ocular, os nervos ópticos, e até mesmo o cérebro, e chegamos diretamente à essência, conseguimos apreender o "Eu verdadeiro". Apreender o "Eu verdadeiro", a Imagem Verdadeira – isso é alcançar o despertar. 

Como foi dito acima, não é possível ver o "Eu verdadeiro" com o sentido da visão. Portanto, dizer que a Verdade tem esta ou aquela forma, como se fosse algo que possa ser definido a partir de uma analogia, é rejeitar a própria Verdade.

Não é possível apreender a essência das coisas, com a mente apegada à forma. No momento em que reconhecemos a forma material, estamos deixando de apreender a essência. Na essência, tudo e todos constituem uma unidade harmoniosa, mas no plano material não podemos evitar a sensação de que cada indivíduo é um ser separado dos outros, e traçamos limites tais como "eu" e "os outros", "meu mundo pessoal" e "o mundo dos outros". Enquanto sentimos assim, não podemos ser verdadeiramente livres. Havendo tais limites separando as pessoas, cada qual fica restrita à sua "área", e quem pretender ampliar seu território fatalmente entrará em conflito com os outros. Enquanto tivermos a mente voltada para o mundo das formas, não poderemos evitar conflitos.

Para manifestarmos a liberdade e a harmonia inerentes à Vida, é fundamental eliminarmos da mente o apego ao mundo das formas. Por isso, a Seicho-No-Ie enfatiza que "a matéria não existe". "Apreender a insubstancialidade das coisas" significa extinguir da mente a imagem do mundo das formas. No budismo, fala-se muito em "insubstancialidade". Usando a linguagem do budismo, podemos afirmar o seguinte: Precisamos compreender que a matéria não tem substância, passar pelo estágio de total negação do mundo das formas, e depois voltar a contemplá-lo com a mente sem nenhum apego. Então compreenderemos que, embora a matéria em si não tenha substância, por trás da forma material existe a Essência, livre e harmoniosa.

Contudo, existem pessoas que se fixam de tal modo na ideia de "insubstancialidade da matéria" a ponto de pensar que "nada neste mundo importa, pois a matéria é vã", e perdem a liberdade da mente. Isto também é uma forma de apego. Conforme disse antes, uma vez que tivermos compreendido que a matéria não tem substância e tivermos eliminado o apego ao mundo das formas, devemos tornar a vê-lo tal como ele se apresenta, contemplar com sentimento de gratidão a essência que existe por trás do aspecto material, e voltar a levar uma vida verdadeiramente livre de apegos, conforme a vontade do "Eu verdadeiro".

Tenho aqui um relógio. Vamos supor que cada um de nós seja uma peça de sua engrenagem. Se uma peça da engrenagem pensasse "movendo-me incessantemente, sofrerei desgaste; vou tratar de me preservar, para não me desgastar" e resolvesse parar, ocorreria atrito com outras peças, e aí é que ela sofreria, de fato, um sério desgaste. O mesmo acontece com o ser humano. Se estamos tolhidos pela sensação de "isolamento material" entre nós e os outros, proveniente da ideia de delimitar o campo de atuação da "peça de engrenagem", que se chama "eu", precisamos abandonar essa ideia causadora de tolhimento. Precisamos nos conscientizar de que "não existe peça de engrenagem denominada eu". Devemos compreender que, embora pareça existir a peça de engrenagem chamada "eu", ela não existe por si só. O que existe é o "todo", que, no exemplo do relógio, corresponde ao mecanismo geral. O "eu" só existe em função do "todo". O fabricante de relógios não fabrica peças de engrenagem para fazê-las funcionar isoladamente, e sim como parte do mecanismo do todo. 

Cada um de nós é comparável a uma peça de engrenagem de um relógio. Precisamos abandonar a ideia de que "cada indivíduo existe independentemente dos outros e tem o direito de viver apenas em função de si mesmo"; devemos abandonar o pensamento egocêntrico de querer viver apenas em função do nosso "eu" – que na verdade não existe –, de tentar traçar limite entre nós e os outros, e compreender que a "peça de engrenagem, por si só, é como se não existisse; existe unicamente o relógio, como um todo", ou seja, compreender que "cada um existe em função do todo".

Comparando cada ser humano à peça da engrenagem de um relógio, podemos dizer que, na maioria dos casos, reconhecemos apenas a existência de "peças" e esquecemos a existência do "relógio". Isto é, reconhecemos nossa existência como "indivíduos", mas esquecemo-nos da existência do universo, da nação e da humanidade, que é o "todo". Por isso, tendemos a nos preocupar somente conosco mesmos. Isso é ilusão. Devemos deixar de nos preocupar apenas com as "peças de engrenagem", ou seja, indivíduos – conscientizando-nos de que "as peças só existem em função do aparelho todo", isto é, "os indivíduos existem em função do universo, da nação e da humanidade, que é o todo".

O ser humano enquanto indivíduo, visível aos olhos físicos não existe de verdade. O que existe de verdade é a humanidade, a nação, a Vida do Grande Universo. É necessário compreender isso. Devemos compreender que não existe o "eu" isolado do todo; devemos nos conscientizar da nossa "insubstancialidade". Porém, isso não significa passar a ter pensamentos tais como: "Não importa o que possa acontecer comigo, pois eu não sou existência verdadeira". Pensar desse modo é como emperrar a peça de uma engrenagem, ou seja, ficar com a mente tolhida pela ideia errônea acerca da "inexistência do eu isolado do todo". Tal ideia dificulta o bom funcionamento do todo, da mesma forma que uma peça de engrenagem, ao ficar emperrada, impede o bom funcionamento total do relógio. 

Comparando-nos a peças da engrenagem de um relógio, podemos dizer o seguinte: antes de mais nada, devemos compreender que "as peças existem em função do aparelho todo; portanto, somente o relógio existe de verdade". Uma vez que tivermos compreendido isso, devemos executar plenamente nossas funções no "mecanismo do relógio como um todo", sem criar atritos. Assim, o "relógio" funciona perfeitamente, e as "peças", por sua vez, não se desgastam e têm longa vida. Devemos, pois, compreender que não existe o "eu fenomênico" – um indivíduo independente do todo –, e sim o "Eu verdadeiro" que é parte do universo infinito. Nisso consiste o redescobrimento do "Eu". Trata-se de deixar o "eu fenomênico" e encontrar o "Eu verdadeiro"; portanto, pode-se dizer que é o "renascimento", de que Jesus Cristo falou a Nicodemos. Levando uma vida norteada pelo conhecimento dessa Verdade, podemos nos harmonizar com todas as coisas do céu e da terra.

Também no tocante à religião, as pessoas devem corrigir a atitude mental de tentar preservar apenas "uma peça de engrenagem" (ou seja, exaltar somente sua própria religião). Quando as pessoas se deixam levar pelo sectarismo religioso, decorrente do apego ao "eu" – ou seja, ideias tais como "minha religião cristã", "minha religião budista", "minha religião xintoísta", etc. –, tornam-se inevitáveis os choques entre o xintoísmo e o budismo, o budismo e o cristianismo, etc. Cada seita, não querendo perder seus adeptos, acaba entrando em conflito com outras seitas.

É preciso saber que nem o cristianismo, nem o budismo, nem o xintoísmo tem mérito exclusivo. Religião é a força salvadora da Grande Vida do Universo, que se manifestou para despertar a verdadeira natureza de nossa Vida e fazer com que ela se revele plenamente. A própria ação da Grande Vida do Universo é a religião. Portanto, é errônea a ideia de que somente uma religião – o cristianismo, o budismo, o islamismo, etc. – deve prosperar. Todas as boas religiões merecem prosperar. Mas aquelas que se corromperam e deixaram de atuar no sentido de vivificar a humanidade, certamente não merecem prosperar. Todas as lutas sectárias acabarão, se as pessoas, também no tocante à religião, abandonarem o "apego egoístico" e passarem a agir de modo a vivificar o todo. 

Em tudo neste mundo, quando ocorre apego à forma, torna-se impossível a manifestação plena da Vida. Na medida em que nos apegamos a ela, a manifestação da Vida vai enfraquecendo. É verdade que as formas são meios para manifestarmos a Vida, mas quando nos apegamos a elas e tornamo-nos seus escravos, a Vida deixa de se manifestar através delas. Isto se aplica também à religião. Qualquer que seja a religião, deixa de manifestar a Vida quando os adeptos se distanciam do mestre-fundador e, apegando-se às formas, entram em conflito com outras religiões, dizendo: "Sou cristão, e somente a minha religião é a  verdadeira", "sou budista, e somente o budismo é a verdade", etc. Também nas artes plásticas e na literatura, quando o artista ou o escritor passa a se apegar à forma, deixa de produzir obras que manifestem a Vida. Embora a Vida se expresse de uma forma adequada ao tipo de material empregado, não devemos nos apegar à forma. Devemos ir rompendo constantemente as formas criadas e elevando-nos para estágios mais avançados. Nisso consiste o crescimento infinito da Vida. E é assim que o artista consegue aprimorar cada vez mais a sua arte.


Do livro "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 55-61