"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, setembro 09, 2016

O que é originariamente Um - 2/2

- Masaharu Taniguchi - 


Citemos novamente a Gravitação Universal. Quando alguém explica cientificamente que existe algo denominado Gravitação Universal, a maioria das pessoas se satisfaz com essa explicação. É que o ser humano tende a deixa-se "iludir" pelo poder mágico da palavra. Qualquer que seja o objeto de um estudo, é muito comum as pessoas darem por encerrada a pesquisa, assim que for encontrada uma definição para o objeto de estudo. Exemplificando, se uma pessoa perguntar: "Por que é que os objetos caem quando soltos no ar?", e o outro explicar que é por causa da "força de atração da Terra", aquela pessoa pensará que entendeu tudo.  Na verdade, ela não entendeu coisa alguma. O homem deu o nome de "gravidade" ou "força de atração da Terra" à força que faz com que os objetos caiam, mas não sabe exatamente o que é exatamente essa força de atração. Não podemos dizer que compreendemos o que é "Força Gravitacional", se desconhecemos a sua origem.

Uma coisa que desconhecemos não se torna conhecida apelas pelo fato de lhe darmos um nome ou uma definição. Mas, a maioria das pessoas contenta-se apenas com nomes ou definições. Por exemplo: se um pessoa contrair uma doença que se caracteriza por acúmulo de líquido na cavidade abdominal, e consultar um médico, este lhe dirá: "O senhor está com ascite, ou seja, barriga d'água". Visto que há acúmulo de líquido na cavidade abdominal do paciente, é compreensível que essa enfermidade seja chamada "barriga d'água". Porém, tal denominação apenas indica o fato de haver acúmulo de líquido na cavidade abdominal e não explica o que é, exatamente, essa doença. Mas o paciente, ao ouvir o médico pronunciar o nome da doença, convence-se de que o médico conhece toda a verdade sobre essa moléstia.

O mesmo acontece nos casos de peritonite, bronquite e muitas outras doenças. Ao constatar uma inflamação no peritônio do paciente, o médico diagnostica "peritonite". Ouvindo esse diagnóstico, o paciente pensa que o médico sabe tudo a respeito dessa moléstia. Mas, na verdade, não é bem assim. O médico diagnostica a doença, baseando-se nos sintomas apresentados pelo paciente. Se há inflamação no peritônio, é "peritonite"; se há inflamação nos brônquios, é "bronquite" – e assim por diante. Mas, na maioria dos casos, o médico não conhece as verdadeiras causas das doenças diagnosticadas. Na minha opinião, a verdadeira medicina consiste em buscar e encontrar a causa fundamental da doença. Porém, há muitos casos em que  a medicina limita-se a denominar os sintomas da doença, sem conhecer realmente a sua causa.

"Força Gravitacional" é apenas um nome que a ciência deu à atração que qualquer corpo exerce sobre outro corpo. OS próprios cientistas desconhecem a origem dessa força. Pois eu digo que "Força Gravitacional" também é uma das manifestações da força de Deus.

O Cristianismo prega que "Deus é Amor". Mas o que é amor? Amor é um sentimento através do qual todos aqueles que são "originalmente um" conscientizam-se dessa unidade. Em sua essência, tanto a ciência como a religião têm como função básica promover a conscientização de que todas as coisas são, originariamente, uma só Vida, não obstante pareçam separadas umas das outras. Portanto, ambas têm a função de promover o "Amor". Amor é o fator que reaproxima aqueles que, apesar de serem "originariamente uma só Vida", estão separados por alguma circunstância. Os pais amam os filhos, e os filhos amam os pais; o marido ama a mulher, e a mulher ama o marido. Esse amor faz com que eles se conscientizem de que, mesmo sendo separados fisicamente, são, na verdade, "uma só Vida". Se duas criaturas desejam aproximar-se uma da outra, é porque originariamente são "uma só Vida". Esse desejo de aproximação é a manifestação da força do amor. Por causa da força do amor que os une, pais e filhos sentem intensamente a dor da separação, o mesmo acontecendo com marido e mulher.

Ampliando gradativamente o alcance do nosso sentimento de amor, chegamos à compreensão de que não apenas "marido e mulher" e "pais e filhos", mas todas as pessoas do mundo são inseparáveis, pois são extensões de uma mesma Vida. Então nasce em nós o desejo de estender nossas mãos a todas as pessoas. O amor a toda a humanidade nasce quando compreendemos que todas as pessoas são, originariamente, "uma só Vida". Mas essa compreensão só se alcança através daquilo que podemos chamar de "intuição religiosa", não sendo possível chegar-se a ela através dos cinco sentidos. Os olhos carnais vêem as pessoas como indivíduos separados uns dos outros, cada um com seu próprio corpo e sua própria vida. Por isso, enquanto vemos os outros com nossos olhos carnais, não podemos compreender que, na verdade, todas as pessoas são "uma só Vida". Somente através da "percepção intuitiva", que transcende os sentidos, podemos alcançar a compreensão de que toda a humanidade é "uma só Vida".

Aprofundando mais essa compreensão, chegamos à conscientização de que a Vida de todos os seres vivos provém de Deus. Tornamo-nos, então, capazes de amar sinceramente não apenas toda a humanidade, como também todos os demais seres vivos. Aprofundando ainda mais a conscientização da "unidade de todos os seres", compreendemos, finalmente, que não só os seres vivos, como também substâncias inorgânicas como a terra, as rochas, a água, etc., são manifestações da Vida de Deus.

Conta-se que Sakyamuni, quando alcançou o "despertar espiritual" no dia 18 de dezembro, aos 35 anos de idade, viu o Jisso (Imagem Verdadeira) do mundo, onde "todos os seres animados ou inanimados, bem como todos os elementos da natureza tais como os montes, os rios, as ervas, o país, etc., eram Buda". Isto quer dizer que, naquele momento, Sakyamuni alcançou a conscientização de que todos os seres e todas as coisas do mundo são a manifestação da Vida do Ser Supremo e, portanto, são originalmente "uma só Vida".

Quando alcançamos esse mesmo "despertar" alcançado por Sakyamuni, chegamos à compreensão de que este mundo é reino de Deus. Enquanto pensamos que o país/mundo onde vivemos é uma simples matéria, não podemos compreender o significado da frase: "Montes, rios, ervas, árvores, país – tudo é Buda (ou seja, tudo é a manifestação da Grande Vida)". Enquanto olhamos o mundo sob o ponto de vista meramente científico, pensamos que este mundo é um mundo material e que o país também é simples matéria. Porém, quando alcançamos o despertar espiritual, compreendemos que o mundo, o país e todas as coisas são manifestação da Vida de Deus e possuem, portanto, a mesma Vida que possuímos. Compreendendo isso, compreendemos também a essência verdadeira do amor à pátria. E compreendemos, também, a origem da força misteriosa que faz com que seres orgânicos (como as plantas, por exemplo) retirem nutrientes das simples matérias inorgânicas através de processos de fotossíntese, assimilação, etc. As pessoas não entendem porque simples matérias se transformam em Vida; continuam pensando que "matéria é matéria; vida é vida", e não compreendem por que os alimentos, sendo simples matérias, transformam-se em Vida quando ingeridos e assimilados.

Porém, a partir do momento em que compreendemos que tudo quanto existe no mundo (sejam seres vivos ou elementos inorgânicos) é manifestação da Vida de Deus, percebemos o engano de considerar "matéria" aquilo que na verdade não o é, e compreendemos o seguinte: "É natural que as coisas consideradas como matéria possam se transformar em Vida, pois a matéria também é Vida – ou seja, a essência da matéria é Vida". Na sutra budista Kongo-kyo existe a frase: "Os montes não são montes, mas eles são chamados montes". Quando alcançamos o despertar espiritual, compreendemos o significado dessa frase. Compreendemos que "a matéria não é matéria, embora considerada como tal". Em outras palavras, compreendemos que mesmo as coisas consideradas como simples matéria constituem, na essência, a Única Vida. 

Consequentemente, compreendemos também o porquê da transformação dos alimentos ingeridos em força vital: ingerindo sob a forma de alimento aquilo que constitui a mesma Vida que existe também em nós, somos por ele nutridos e revigorados. Através dos processos como absorção, assimilação, etc., tudo aquilo que é considerado matéria transforma-se em força vital. A partir do momento em que compreendemos essa grande Verdade – ou seja, que a matéria, na verdade não é matéria, pois a sua essência é Vida –, chegamos à natural elucidação doe enigmas tais como "Por que existe a força gravitacional?" Os planetas e dos demais corpos celestes atraem-se uns aos outros porque, na verdade, constituem a Única Vida. Se não fosse assim, ou se eles fossem simples matérias inanimadas, estariam espalhados no Universo sem se atraírem uns aos outros, e não se movimentariam ordenadamente pelo espaço sideral.

Ao compreendermos, através da percepção intuitiva, que "todos os seres e todas as coisas são originariamente uma só Vida", serão completamente esclarecidas todas as questões tais como a verdadeira natureza do amor à pátria e à humanidade, a transformação de alimentos materiais em Vida, a razão da existência da força gravitacional e o porquê da pulsação do coração. A compreensão dessa Verdade se alcança através da percepção intuitiva. Enquanto ficarmos vendo e sentindo unicamente através dos cinco sentidos as coisas e os indivíduos isolados fisicamente uns dos outros, não poderemos chegar à compreensão dessa Verdade.

O que é preciso fazer para conscientizar realmente o Jisso (Imagem Verdadeira) da Vida, isto é, conscientizarmos que todos os seres, sejam animados ou inanimados, são vivificados por uma única Vida? Para isso, precisamos nos desligar, por alguns instantes, do "mundo perceptível aos cinco sentidos". Na Seicho-No-Ie, esse "desligamento" é feito através do Shinsokan: fechando os olhos carnais e mentalizando "Neste momento, deixo o mundo dos cinco sentidos e entro no mundo do Jisso", aprofundamos a consciência de que estamos no Mundo do Jisso. Praticando constantemente essa concentração espiritual, alcançamos a compreensão de que a Vida que existe em nós é a Vida eterna, a que Jesus Cristo se referiu, quando disse: "Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, eu sou". Compreendemos que dentro de nós palpita a mesma Vida que já existia há bilhões de anos, antes mesmo da formação da Terra, e que continuou existindo através dos tempos mesmo quando este planeta ainda era uma nebulosa de altíssima temperatura, de milhares de graus centígrados. Compreendemos que essa Vida Eterna é que continua existindo dentro de nós.

Compreendendo isso, compreendemos a veracidade das palavras que lemos no Hokekyo (Sutra do Lótus), do Budismo, onde Sakyamuni refere-se a si mesmo como uma Vida plenamente livre, que alcançou a iluminação há infinitos anos. Em suma, ao despertarmos espiritualmente, compreendemos que cada um de nós é a própria Vida, sublime e misteriosa, que já existia antes mesmo da formação do cosmo e, continuando a existir através dos tempos – mesmo nos momentos mais perigosos –, está manifestada em nós, aqui e agora. Ao mesmo tempo que compreendemos quão preciosa é a Vida que existe dentro de nós, conscientizamos que essa mesma Vida existe também dentro de todas as criaturas. Consequentemente, passamos a ter a nítida consciência de que não só todas as pessoas, como também todas as demais criaturas e coisas existentes no Universo são nossos verdadeiros irmãos, e conseguimos reverenciá-las do fundo do coração. Reverenciamo-las, não porque sejamos fraco e precisemos nos apoiar em alguém ou algo mais forte do que nós, mas sim porque sentimos por ela um profundo amor e uma profunda afeição, nascidos da consciência de estarmos unidos a todas as pessoas, a todas as criaturas e até mesmo a todas as coisas inorgânicas, através da mesma Vida – essa Vida indestrutível, eterna.

A compreensão intuitiva de que "todas as criaturas e todas as coisas do Universo são originariamente uma só Vida" constitui a base do amor ao próximo, e também do sentimento de valorizar todas as coisas. E este último sentimento constitui, por sua vez, a base do sucesso nos empreendimentos. Mesmo no mundo dos negócios, as pessoas que desejam alcançar o verdadeiro êxito têm de aprender a reverenciar as coisas. Caso contrário, não poderão extrair delas a força infinita. Diz-se que "até uma cabeça de sardinha poderá manifestar uma força milagrosa e curar doenças se a reverenciarmos". Reverenciando verdadeiramente todas as coisas, conseguimos extrair delas a força infinita. É preciso, pois, que aprendamos a reverenciar todas as coisas, com profundo sentimento de gratidão.

A partir do momento em que compreendemos que "todas as coisas são a manifestação da Vida de Deus", tornamo-nos incapazes de desperdiçar até mesmo uma folha de papel; pelo contrário, procuramos aproveitá-la ao máximo, fazendo com que ela exteriorize cem por cento a sua utilidade. Uma folha de papel em branco pode parecer insignificante, mas se você pegar essa folha e escrever uma carta com espírito de verdadeira reverência e gratidão, ela poderá prestar serviços de incalculável valor. Por exemplo, ela poderá manifestar um poder milagroso e curar a doença do destinatário; poderá, também, fazer com que o destinatário lhe empreste uma elevada quantia para salvá-lo da dificuldade. Como podemos ver, mesmo uma simples folha de papel em branco pode passar a manifestar uma força ilimitada, quando a vivificamos, usando-a com amor e espírito de reverência.

Na Seicho-No-Ie se diz que "na verdade, a matéria não existe". Há pessoas que interpretam erroneamente essas palavras, e pensam que "não é preciso dar valor às coisas, já que a matéria não existe". Elas estão interpretando apenas superficialmente a expressão "não existe", sem compreender o seu verdadeiro significado. Todas as coisas passam a manifestar valor infinito quando as reconhecemos como sendo "extensão da Vida de Deus". Mas quando as consideramos meras matérias pesando tantos gramas e constituídas de tais e tais elementos, elas só manifestam o valor limitado de matéria. Uma pessoa que não vê uma folha de papel como simples matéria, será capaz de transformar essa folha numa fonte de força ilimitada. Se nela escrevermos uma carta repleta de vibrações espirituais de amor, essa folha de papel se transformará em algo miraculoso e poderoso, que vivificará milhares e milhares de pessoas. Portanto, não existe coisa alguma que possa ser considerada uma simples matéria, de valor e capacidade limitados.

O valor e a capacidade de todas as coisas podem transformar-se de acordo com a intensidade da nossa reverência para com elas. Fazer com que todas as coisas manifestem a força infinita – esta é a maravilhosa "mágica", que consiste em colhermos abundantes e infinitas dádivas, a partir do nada. Mas não é preciso despojarmo-nos de todos os bens para praticarmos essa "mágica". O essencial é conscientizarmos que "na verdade, a matéria não existe, pois tudo quanto existe no mundo é manifestação da Vida de Deus". A partir do momento em que conscientizamos isso, passamos a olhar todas as coisas com profunda reverência. E todas as coisas passam a manifestar a força infinita da Grande Vida de Deus – força essa que transcende a matéria – quando as reverenciamos do fundo do coração. "A matéria não existe" – estas palavras constituem uma das bases da doutrina da Seicho-No-Ie, são palavras de suma importância. Elas são de compreensão fácil e ao mesmo tempo difícil. Por isso, frequentemente são interpretadas erroneamente. Mas acredito que, com as explicações dadas, os leitores conseguirão captar o sentido geral delas.


Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 29", pp. 110-120

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