"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, julho 31, 2017

"Aquele que fala contigo..."

- Núcleo -


"Disse Jesus ao que era cego: Crês tu no Filho de Deus?
Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia?
E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo." (João 9:35-37)


A questão essencial é: Quem é o Filho de Deus para que Nele possamos crer?

O Filho de Deus respondeu presencialmente ao que era cego: É aquele que fala contigo!

Embora esta resposta tenha sido dada pelo Filho de Deus há aproximadamente dois mil anos, trata-se em verdade de uma revelação divina de validade atemporal.

Para aqueles que deixaram de ser cegos, a resposta à questão "Quem é o Filho de Deus para que Nele possamos crer" ainda continua sendo a mesma: É aquele que fala contigo!

Assim como de nada adianta “ter olhos e não ver”, também não adianta “ter ouvidos e não ouvir” que o Filho de Deus É aquele que fala contigo! E não ouvir nada do que Ele diz!

Assim, a questão agora não é com quem o Filho de Deus fala, mas sim, quem ouve o que está sendo dito! Pois, o próprio Cristo já revelou que Ele É aquele que fala contigo!

Perceba algo que está sendo enfatizado nesta revelação divina ao que era cego: Ele fala!

Deixar a condição dos que “têm olhos e não vêem” [ou seja, deixar a condição daquele que era  cego] é perceber que o Cristo já realizou o milagre em você e perceber que Ele fala contigo!

Enquanto a sua mente disser que Ele não fala com você, ou seja, enquanto continuar dando foco à percepção [mental] de que você não ouve a voz do Filho de Deus em você, não estará dando foco à percepção [consciencial] de que: Ele fala! Pois, Ele É aquele que fala contigo!

Atente ao fato de que esta é uma “percepção consciencial” que está sendo compartilhada com você! Ou seja, algo de validade atemporal e impessoal está sendo percebido e compartilhado. Note que o ensinamento do Núcleo é centrado nas próprias percepções e não em personagens que tem as percepções. 

A percepção consciencial é como uma interface entre o personagem e o Ser Real, ela está ao alcance do personagem mas pertence ao Ser Real e é o que possibilita a percepção da nossa real identidade. Por isso quando Simão Pedro respondeu que Jesus era em realidade o Cristo, o Filho do Deus Vivo, Jesus enfatizou que aquela percepção de Sua real identidade não veio da “carne e sangue”, ou seja, não veio da mente de Simão Pedro, porque a mente e os personagens estão na representação, mas aquela percepção veio da Realidade na qual está o Pai, enfim, veio dAquele que está no céu, a Realidade subjacente à representação! [Mateus 16: 15-16]

Essa passagem bíblica evidencia que os personagens podem ter “percepções conscienciais”, ou seja, os personagens podem perceber a Realidade; e evidencia também que esta percepção não vem de suas mentes, mas do próprio Ator, o Ser Real que subjaz a todos os personagens. E essa passagem revela também o quanto Jesus enfatizou esta percepção compartilhada por Simão Pedro, a ponto de declarar que sobre esta “pedra” [sobre esta percepção sólida como Pedra, ou seja, fundada na Realidade que é o Pai, o Ser Real] iria edificar sua Eclésia [comunidade dos que percebem o Real]. É para que todos percebam a realidade de Deus que as comunidades espirituais são criadas. Elas normalmente emergem em torno de personagens despertos que são aqueles que percebem, desfrutam e compartilham o que percebem da Realidade de Deus e possibilitam que outros personagens também percebam o Real, e que percebendo desfrutem essa percepção, e que a desfrutando a compartilhem com todos.

Sobre Céu e Terra há toda uma simbologia bíblica. Alguns personagens despertos compartilharam suas percepções a esse respeito. Vamos a elas!

Em Gênesis 1: 1 está escrito: “No Princípio, criou Deus os céus e a terra”.

Deus é próprio Princípio Divino no qual tudo expressa o que Ele É.

A palavra Princípio não deve ser entendida em termos temporais como “início dos tempos”, mas como Origem de tudo o que É, da mesma forma como está escrito em: “No Princípio era o Verbo”, significando que o Verbo, a Palavra, a Substância divina, expressa a Si mesmo, manifesta a própria origem ou Princípio divino e existe atemporalmente no Ser, em sua própria Realidade e Consciência.

Assim, criou Deus “no Princípio”, ou seja, criou em Si mesmo, em Sua própria Consciência, céu e terra; Realidade e Representação.

As duas criações divinas são, portanto, o céu, a “Realidade divina” e a terra, a “representação divina”.

A natureza de tudo que é criado na “Realidade divina” é eternidade; e, daquilo que é criado na “Representação divina” é a efemeridade.

Assim, observa-se que o homem criado à “Imagem e Semelhança” de Deus é descrito no capítulo 1 do Gênesis. Este é o homem real, eterno, é o chamado “Eu Verdadeiro”, a real identidade humana.

Em contraposição a esta real identidade humana, o homem criado na representação divina, terra, como descrito em Gênesis 2:7, foi formado do “barro”, ou seja, foi formado da própria substância da “representação divina”. Assim, sendo o homem formado da própria “representação divina” ele é também uma “representação divina” e,  portanto, efêmero como tudo na terra ou “representação divina”.

Importa ainda observar que o próprio “Deus” descrito no capítulo 2, que formou o homem do barro, não é o mesmo Deus que criou o homem a Sua Imagem e semelhança, mas sim, o “Senhor Deus”, que é o Senhor que atua como a Lei da representação divina, a Lei de causa e efeito.

Vale lembrar que dois personagens despertos, Masaharu Taniguchi e Joel Goldsmith compartilharam a mesma percepção consciencial de que Deus, Aquele Ser que é Amor e Vida Eterna, está descrito no capítulo 1 do Gênesis. Na Representação divina Ele aparece como “Senhor Deus” e atua como Lei, a Lei que rege a representação, a Lei de causa e efeito, como está descrito no capítulo 2 do Gênesis.

Na Representação divina Aquele que aparece como “Senhor Deus” fez a “árvore da Vida” e fez também a “árvore do conhecimento do bem e do mal”.

Sendo Deus Aquele que na representação divina aparece como “Lei de causa e efeito”, pelo fruto da “árvore da Vida” se faz perceptível a Realidade divina, e pelo fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, se faz perceptível a Representação divina. Desta forma, causa e efeito assim se relacionam: o fruto da “árvore da Vida” é a percepção da Consciência do Ser, que é unitária e a tudo vê como uma expressão do próprio Ser. Ao passo que o fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal” é a percepção da mente do personagem, que é dual, e a tudo vê como separado de si.

O que se deve notar é que embora tenha Deus criado céu e terra, Realidade e representação divinas, como descrito em Gênesis 1:1, as duas árvores e seus consequentes frutos, que representam as duas percepções, aparecem apenas na “representação divina”; ou seja, no céu [na Realidade divina] não há “árvore do conhecimento do bem e do mal”, não há “percepção mental”. É preciso adentrar à “representação divina” para se acessar á “árvore do conhecimento do bem e do mal”.

Nesse sentido alguns ensinamentos absolutistas afirmam que a realidade desconhece a ilusão. De fato, é impossível ao homem criado à “Imagem e Semelhança” do Criador, conforme descrito em Gênesis 1:27 [o Eu Verdadeiro], ser iludido pelo fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Assim, é evidente que a dualidade é uma ficção, é algo aparente e ocorre apenas quando o ator divino atua na “representação divina” – terra – assumindo uma identidade aparente, a identidade de um personagem, como se tivesse sido formado do “barro da terra”, como está descrito em Gênesis 2:7; ou seja, como se tivesse sido formado da substância [barro] da própria terra [representação divina], ou seja, o ator divino assume a identidade de um personagem na representação divina e passa a ver tudo como separado de si, o que faz da representação algo bastante realístico para a mente do seu próprio personagem.

Vale notar que Joel Goldsmith observou que através de Moisés a humanidade teve acesso ao “Senhor Deus”, isto é, ao Deus da representação divina, e assim a humanidade aprendeu como viver sob a Lei de Causa e Efeito, como se beneficiar da Lei que rege a terra. E observou que através de Jesus a humanidade teve acesso ao Deus Verdadeiro, ao Deus que é Vida Eterna e Amor.

Por sua vez, na representação Jesus declara ser o Filho de Deus e nos ensina como podemos ascender da Lei para a Graça! Ele afirma que não veio para revogar a Lei, mas sim para cumpri-la! E o cumprimento da Lei, Jesus revela que está condensado em dois mandamentos que são: Amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo!

O que Jesus está nos revelando é por si só algo divino e raramente enfatizado nos ensinamentos espirituais de quaisquer tradições do mundo! Ele está nos fazendo ver que mesmo estando imersos na representação é possível transcendermos a Lei de Causa e Efeito não a rejeitando ou a negando mas sim a cumprindo integralmente acessando a percepção da Consciência do Ser, a árvore da Vida, que é unitária e a tudo vê como uma expressão do próprio Ser.

Então, como os ramos são membros do próprio Ser que é a Videira, Jesus nos ensina a vê-lo de forma unitária, como partes do mesmo Ser único, revelando que ele é a Videira e nós somos os ramos!  E para ativarmos essa visão unitária, a visão da “árvore da vida” que está em nós ele ensina que: “O reino de Deus está dentro de vós.” Jesus também revela que: “Ninguém vai ao Pai senão por mim.” Todo seu ensinamento espiritual é no sentido de acessarmos essa “árvore da Vida” em nós, a fim de que possamos colher os seus frutos, que é percepção da Realidade Divina na qual semeador e ceifeiro são Um.

Amar é perceber de forma unitária. Por isso a ênfase na percepção de unidade se condensa naqueles dois mandamentos que são: Amar e amar!

Amar a Deus… sobre todas as coisas;
Amar ao próximo… como a ti mesmo.

A percepção que se deve ter destes dois mandamentos é essa:

Amar a Deus sobre [é perceber Sua onipresença subjacente a todas as aparências e interagir com Aquele que subjaz a] todas as coisas;

Amar ao próximo como [é perceber que Deus é Aquele que subjaz ao próximo como subjaz] a ti mesmo.

Deus é Amor. Sendo amor, Deus ama. Deus percebe. Por perceber que é amor, Deus ama. Amar é a forma como Deus percebe e age. No Núcleo é reiteradamente enfatizado o principio divino de que: “Não há percepção sem ação”. Se o Deus Verdadeiro é Amor e se Seu reino está EM nós, não há como acessar este reino EM nós sem amar, sem perceber de forma unitária, que é a forma de percebê-lO.

Por isso Jesus enfatizou os dois mandamentos e veio cumprir a Lei revelando como acessarmos a “arvore da Vida”, a visão de unidade representada pela parábola da Videira e os ramos.

É importante ainda observar que Jesus ora a Deus não para que nos tire deste mundo, desta representação, mas que nos livre do mal, da visão dual que é produzida pela árvore do conhecimento de bem e mal, pela qual Deus é visto apenas como o “Senhor Deus”, a Lei de causa e efeito, que castiga os maus e recompensa os bons. Por isso, a “figueira que não dá bons frutos”, Jesus mesmo a seca!

Por fim, se acessarmos a árvore do conhecimento de bem e do mal estaremos agindo sob os efeitos dos frutos dessa árvore, a saber, estaremos vendo apenas a representação e agindo “em pecado”, ou como enfatizou Masaharu Taniguchi, estaremos agindo com a visão encoberta (tsumi).

Nesse sentido, sabendo que os personagens que queriam testá-lo estavam agindo “em pecado”, ou seja, “com a visão encoberta”, Jesus disse: “Aquele que não estiver em pecado atire a primeira pedra”. Narra a Bíblia que nenhum deles foi capaz de atirar a pedra, pois, a palavra de Jesus foi dirigida aos próprios atores por traz daqueles divinos personagens. A Consciência divina de cada um deles lhes tornava conscientes de que seus personagens “agiam em pecado”, e que apenas o próprio personagem Jesus naquele contexto agia com a visão descoberta. Jesus deu ali uma lição prática de como acessar a “árvore da Vida”, a percepção unitária que está em nós, a percepção que fez com que cada um daqueles presentes naquela cena visse sobre si o que viam no “outro”.

Em síntese, mesmo estando na representação temos acesso direto à “arvore da Vida”, a essa percepção unitária que nos dá acesso ao reino de Deus, à certeza de que: “nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.”

Enfim, Céu é a Realidade, aquilo manifestado pela atividade da Consciência do Ser – É fruto da “árvore da vida”, fruto da percepção consciencial.

Terra é a Representação, aquilo gerado pelo pensamento da mente do personagem – É fruto da “árvore do conhecimento de bem e mal”, fruto da percepção mental.

Dando foco à “árvore da vida”, a interface que está na representação mas que pertence ao Ser Real, você acessa em você mesmo, no Reino de Deus em você, a percepção do Filho de Deus, a percepção unitária, consciencial, dAquele que fala contigo!

Um último detalhe contido nesta passagem, não menos importante, é este: Disse Jesus ao que era cego: Crês tu no Filho de Deus?… Note bem, o milagre já havia sido realizado, aquele divino personagem que era cego já havia sido curado por Jesus. Da mesma forma o mesmo já aconteceu com você, o milagre já se realizou em você, pois você tem acesso a esta percepção que agora está sendo compartilhada, assim como o cego já podia ver, você também já pode perceber! Você já pode perceber que O Filho de Deus É aquele que fala contigo.

Que todos os que eram cegos mas que agora podem ver, [ou seja, que todos os que não percebiam mas agora podem perceber] e que perguntam: “Quem é ele, Senhor, para que nele creia?” desfrutem a percepção da presença de Quem em si mesmos, no Reino de Deus, diz: Tu já o tens visto [já o tens percebido], Ele É aquele que fala contigo.

Namastê.


quinta-feira, julho 27, 2017

A Percepção e o princípio da impessoalidade

- Núcleo - 

Divinos personagens! 

Hoje me sobreveio compartilhar algo sobre o Princípio da Impessoalidade. 

A questão é: de onde vem a Percepção? 

Tomemos um exemplo de percepção bem conhecido. A percepção de Isaías compartilhada por Jesus logo no início de seu ministério.

Disse Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim e me ungiu..."

Notem bem! A unção vem do Alto! Pois é o Espírito do Senhor Quem unge!

Quem poderia estar ungido? A resposta é: Aquele a quem do Alto foi ungido!

Mas, há aqui um detalhe, e é um detalhe essencial sobre a questão da percepção. Deus não faz acepção de pessoas. E se Deus não o faz, não façamos nós também! Por isso ninguém diga: "Eu quero ser ungido." Isso porque a unção vem do Alto e não se trata de querer, mas sim de perceber que já é!

Por isso está escrito: "Aquieta-te e saiba...". Aquele que diz "eu quero" está afirmando que ainda não está ungido. E essa será a Verdade de Quem afirma isso. Será uma Verdade da mente do personagem. Para que seja transcendida esta verdade mental vejamos o que Isaías disse em seguida. Ele disse: "para evangelizar os pobres..."

Então, até aqui Isaías disse que: "O Espírito do Senhor Está sobre mim e me ungiu para evangelizar os pobres...". Pobres, no sentido espiritual, são os que não vem a Deus com suas riquezas, que são as certezas mentais! Aquele que se aproxima de Deus para dizer a sua verdade está abastecido de certezas mentais. E assim a Verdade de Deus não será ouvida. Não haverá revelação. A unção não será percebida! Ela já está presente, mas não será percebida!

E aqui é que cabe o Princípio da Impessoalidade. A Verdade de Deus é verdade válida para todos! A Verdade é Impessoal! Por isso Jesus assumiu como válida para si a Verdade compartilhada por Isaías! Sempre é assim!

Tomemos como exemplo um ensinamento recente, de Masaharu Taniguchi, que disse: "O Homem é Filho de Deus." Aquele que diz que o homem não o é, age como pobre e insensato. O que Masaharu Taniguchi fez foi compartilhar uma percepção divina sobre a natureza Verdadeira do Ser Humano! Sobre isso devemos apenas desfrutar essa percepção com o Espírito de criança. Que é o Espírito que não julga... que não afirma o contrário... que não apresenta uma tese oposta... que simplesmente percebe a Verdade e a desfruta!

A percepção tem a natureza da unção! Ela já nos foi dada e vem do Alto. Os que não afirmam o contrário são os que a desfrutam! Jesus não afirmou o contrário do que disse Isaías, nem inovou. Ele apenas o confirmou e validou para si o que Isaías havia percebido como sendo válido para si mesmo.

Assim, as Percepções são impessoais, são de validade universal. Não leve para seu encontro com Deus nenhuma certeza mental. Apenas receba o que Deus te dá. Em verdade Ele te faz consciente de que já te foi concedido.

Siga teu dia com essa percepção: Deus é contigo! Apenas receba isso como um presente Divino. Veio a mim como Percepção. Sendo Impessoal vale para mim e para você.

Sim, o Espírito do Senhor está sobre nós e nos ungiu... Essa percepção é válida para todos os pobres... Pobres de certezas mentais, ricos de bênçãos espirituais.

Agora mãos a obra!

Não há percepção sem ação!

Aja com essa convicção! Você é Filho de Deus. Você já é Filho de Deus! É Agora: A percepção é válida no presente! Você está ungido Agora! Você é Filho de Deus Agora!

Namastê!


terça-feira, julho 25, 2017

Correta leitura da Palavra de Deus

- Núcleo - 


Quando pela primeira vez foi publicado este post, foi feito o seguinte comentário:

“Este texto comentado é um 'divisor de águas' neste blog! Nunca antes o próprio autor deste blog revelou tão abertamente sua percepção de Quem Somos; Nunca antes ficou tão explícito o que há no caminho espiritual para ser percebido e desfrutado por todos!"

Este post continua sendo um divisor de águas, e poderá sê-lo também pra você, leitor, tanto quanto foi para o divino personagem Gustavo, quanto foi um divisor de águas para Jesus quando num dia de sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para ler... E disse: "Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos.” (Lucas 4:16-21)

Por que é divisor de águas?

A resposta está no próprio texto bíblico, neste detalhe: "e levantou-se para ler..." 
O detalhe não está no fato de Jesus ter lido a escritura mas sim em como a leu!
Jesus leu esta passagem com a Consciência de que é a palavra de Deus!

E como está escrito [em Hebreus 4;12], a Palavra de Deus "é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes; capaz de penetrar até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é sensível para perceber os pensamentos e intenções do coração."

Por tê-la lido com a percepção de que é de fato a palavra de Deus, Jesus começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos.” (Lucas 4:16-21)

É necessário que a Palavra de Deus seja lida com a consciência de que não provém da mente, a mente dos personagens, mas da própria Consciência. Com essa percepção as graças sempre serão dadas a Deus!

Em 1 Tessalonicenses 2:13 foi compartilhada esta percepção: “Outro motivo ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a Palavra que de nós ouvistes, que provém de Deus, acolhestes não como simples ensino de homens, mas sim como, em verdade é, a Palavra de Deus, a qual, com toda certeza, está operando eficazmente em vós, os que credes.”

Sobre a expressão "os que credes”, atentem que há uma grande diferença entre acreditar e crer, porque crer é ter fé, é perceber! O acreditar é algo mental e depende dos condicionamentos a que se expôs a pessoa (o personagem), enquanto o perceber é algo consciencial, livre de condicionamentos. Acreditar ou não acreditar não altera a realidade. No momento em que percebemos a realidade passamos a saber, a conhecer. E então tanto o "acreditar" ou "não acreditar" perdem o sentido. 

No momento em que alguém percebe que aquelas palavras de Isaías são em verdade a palavra de Deus expressa através de Isaías, há uma percepção de algo de validade atemporal e impessoal. Quando Jesus as lê, percebe que se trata da Palavra de Deus e por isso começa a dizer-lhes: “hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos.” 

O cumprimento da escritura em nós se dá apenas através da percepção da Verdade nela expressa, e não pelo mero acreditar em que ela é verdadeira. Jesus não disse: acredite na verdade e ela os libertará, mas sim conheça a verdade e ela os libertará!

Normalmente as pessoas acreditam no que vêem (com a mente) sem se darem conta de que o que vêem pode estar sendo apenas um simples efeito daquilo em que acreditam...

Sobre este ponto, o que se segue é um elucidativo exemplo de uma forma equivocada de ler em contraposição à leitura perfeita de Jesus sobre o que leu. Trata-se de uma leitora de A Verdade da Vida, que expôs objetivamente tudo o que via diante dos seus olhos (da mente), e escreveu:

“Eu li A Verdade da Vida, mas meu marido não se curou da doença. Tornei-me adepta, mas ele não se curou... Diversos tipos de infelicidade estão surgindo um após outro. Até agora, eu não vi realizar-se nada do que desejei, mas pelo menos este desejo gostaria que fosse atendido: quero que transfiram meu marido do cargo que está ocupando agora...”

Sobre esta “leitura” de A Verdade da Vida, Masaharu Taniguchi deu uma resposta a princípio lúdica mas muito profunda, dizendo: “Esta é a carta que recebi hoje de uma senhora. Que parte de A Verdade da Vida ela terá lido?”

Eis o ponto! 

A Verdade da Vida é uma revelação divina! Veio através de Masaharu Taniguchi, que foi a forma como Deus Sumiyoshi escolheu para aparecer no cenário do mundo fenomênico.

Será que os que lêem A Verdade da Vida o fazem da forma correta, assim como Jesus leu as palavras de Isaías, ou estão fazendo como essa leitora de A Verdade da Vida?

É essencial atentar ao fato de que mesmo diante de um texto que expresse a Verdade, como o texto bíblico de Isaías ou o texto de A Verdade da Vida, é necessária uma leitura correta, sem o que não haverá libertação dos pensamentos condicionantes de quem os lê, pensamentos esses que delimitam a representação divina vivenciada pelo personagem. 

Para enfatizar a leitura correta, Masaharu Taniguchi respondeu a carta da leitora e elucidou que:

“A Imagem Verdadeira da Vida já tem todos os desejos realizados” – este é o nosso ensinamento. Ainda que na face da Terra o tempo esteja nublado ou chuvoso, o Sol não está coberto de nuvens. Este é o Aspecto Verdadeiro. Da mesma maneira, ainda que este mundo se mostre adverso para nós, no Aspecto Verdadeiro temos todos os desejos já realizados. Se contemplarmos este Aspecto Verdadeiro, brotará a alegria em nossa alma. Brotando a alegria na alma, essa alegria manifestar-se-á no mundo das formas e nosso destino tornar-se-á feliz. 

Como essa senhora tem apenas queixas na “mente”, surgem-lhe somente motivos para queixas, de acordo com a lei “Os três mundos são a manifestação da mente”. Justamente porque a pessoa se queixa é que sucedem “coisas que lhe causam queixa”. A felicidade não virá se a pessoa ficar descontente com Deus, quando é ela própria quem está criando motivos de queixa para si. Realmente, tudo é feito conforme se crê. 

Quando eu digo “Se você não tiver queixas na sua mente, não surgirão coisas que lhe causam queixa”, os queixosos me respondem: “Se desaparecerem as coisas que me causam queixa, poderei deixar de me queixar; mas, aparecendo tantas coisas desagradáveis, não é possível deixar de me queixar”. E assim, queixam-se todos os dias, e esse “pensamento de queixa” é concretizado no dia seguinte em forma de “incidentes desagradáveis”; em consequência, queixam-se mais ainda. Assim, para tais pessoas, a queixa e a infelicidade giram num círculo vicioso interminável.

Isso acontece porque não conhecem a lei da mente. Como pensam ser real a infelicidade que está acontecendo agora diante de seus olhos, não conseguem alegrar-se por mais que o tentem, e suas queixas continuam interminavelmente. As queixas são como o carvão que move a locomotiva da “infelicidade”. Não adianta dizerem “Ó locomotiva da infelicidade, não se mova”, se essas pessoas continuam ativando o fogo na fornalha da locomotiva.

“Então, como poderemos deixar de nos queixar?” – perguntarão. Basta pensar: “O que está acontecendo agora diante de meus olhos é a materialização dos meus pensamentos do passado, os quais estão se apagando desta forma. Graças a Deus!” Em seguida, agradecendo, mentalizar: “Seja o que for que esteja acontecendo diante de mim, isso é apenas a projeção dos pensamentos e não existe de verdade. Na verdade, agora, eu, meu marido e meus filhos somos todos saudáveis e felizes... Graças a Deus!”.

A mente é a origem de todas as coisas. [A Verdade da Vida, vol. 37, páginas 131 a 133]

Por fim, a Palavra de Deus é percebida consciencialmente e percebemos que não provém de nossas mentes e nem das mentes de outros personagens. Ela vem realmente de Deus, por isso damos graças a Deus. Dar graças a Deus está presente tanto na mensagem de Masaharu Taniguchi quanto é enfatizada em Tessalonicenses e repetida aqui: “Outro motivo ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a Palavra que de nós ouvistes, que provém de Deus, acolhestes não como simples ensino de homens, mas sim como, em verdade é, a Palavra de Deus, a qual, com toda certeza, está operando eficazmente em vós, os que credes.”

"Os que crêem" não são aqueles que acreditam (mentalmente) na onipresença divina, mas os que a percebem! São estes os que tem fé!

"Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem." [Hebreus 11:1].

Notem que não é aquilo que vêem o que move os que tem fé, mas o que percebem (consciencialmente) e que na maior parte das vezes ainda não está visível aos olhos da mente dos personagens. Por isso os que verdadeiramente tem fé são aqueles guiados pelo Espírito de Deus e não pelo pensamento de suas mentes, por isso são chamados Filhos de Deus, como está em Romanos 8;14: “Porquanto, todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." 

E os que percebem, agem. Por isso no Núcleo é dito que não há percepção sem ação! Ao perceber Jesus agiu e disse: 'Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos”.

Agora é com você! Que “leitura” fará desta percepção divina compartilhada por Jesus?

A sua postura diante do texto de Isaías, que já foi identificado como a Palavra de Deus e lido corretamente por Jesus, poderá ser para você um divisor de águas em sua vida!

Namastê.



sábado, julho 22, 2017

"O Espírito do Senhor está sobre mim"

- Gustavo -

“E chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 'O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.' E cerrando o livro e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: 'Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos.'” (Lucas 4:16-21)


A passagem bíblica acima destacada relata o início do ministério espiritual de Jesus, e ela comporta um fundamento ou princípio espiritual de grande importância. Em geral, as pessoas pensam que essa passagem bíblica foi escrita meramente para informar ou narrar um fato a mais do dia-a-dia de Jesus, e por isso aproveitam muito pouco do que está ali contido. O significado espiritual dessa passagem está presente (oculto) em cada ação e atitude tomadas por Jesus, que não por acaso foram ali registradas. Jesus sabia exatamente o que estava fazendo. Por isso, se pudermos compreender cada uma de suas atitudes, teremos condição de nos colocar na posição de fazer o mesmo que ele, ou seja: acessar a mesma Presença ou Consciência com a Qual ele se identificava.

Jesus identificou em si mesmo a unção do Espírito do Senhor. Estando à frente de toda a sinagoga, Jesus abriu o livro de Isaías (um profeta do antigo testamento, que viveu centenas de anos antes de Jesus). E em seu livro, o profeta Isaías dizia: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres, curar os quebrantados de coração, apregoar a liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor". Isaías era um profeta muito reconhecido devido à devoção e intimidade que tinha com Deus e às obras que realizava em Seu nome. Ao proferir que "O Espírito do Senhor está sobre mim, e me ungiu...", Isaías não estava profetizando, ele não se referia a um Messias que surgiria no futuro, tampouco falava sobre outra pessoa senão de si próprio. Mas, Jesus tomou as palavras de Isaías como válidas para si mesmoJesus compreendeu/reconheceu que a Verdade a respeito de Isaías era também a Verdade sobre de si mesmo, o que permitiu a ele dizer diante de todos: "O Espírito do Senhor é sobre mim, pelo que me ungiu... hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos."

É muito importante notar que em sua vida Jesus jamais se encontrou com Isaías, não o conheceu, e nunca teve algum contato com ele. Muito pelo contrário: Isaías e Jesus estavam distantes na existência não só por força separativa do espaço físico mas também do tempo; Isaías viveu na terra centenas de anos antes de Jesus. Apesar da atuação da poderosa força separativa de Maya (tempo e  espaço), Jesus identificou a verdade proferida por Isaías (centenas de anos atrás) como válida para si mesmo (hoje).

Ao reconhecer que a Verdade válida para Isaías era a verdadeira para si próprio, Jesus acessou a percepção adimensional e atemporal (sem tempo ou espaço) da Unidade, onde ele e Isaías estavam integrados, não-separados. Em tal dimensão, o Universo não faz distinção de lugares ou seres; Ele é ao mesmo tempo todos os lugares e todos os seres, impessoalmente. Todos os "seres" e "lugares" são o Universo.

Fazendo uma comparação com o plano cartesiano da matemática, na dimensão da Unidade o Universo pode ser representado como a "reta" ou "linha" traçada no papel. A reta nada mais é do que uma sucessão "pontos" conectados entre si; em uma reta, todos os "pontos" devem estar "colados" uns no outros, do contrário haverá uma "interrupção" na formação da reta, o que fará com que a reta deixe de ser uma "reta" e passe a ser uma "semi-reta". E uma semi-reta não é uma reta (por vários motivos: a reta é infinita, a semi-reta é finita; a reta é uma só e inteira, a semi-reta é dividida e incompleta, além de outras diferenças que não convém falar neste post, ou desviaremos do tema). Assim, o ponto "Isaías" não é o mesmo ponto denominado "Jesus". Mas ambos são a reta - formam a reta (compõem a reta, integram a reta). A reta no ponto chamado "Jesus" é a mesma reta no ponto chamado "Isaías". Eis os princípios da Unidade e da Individualidade dos quais se reveste o Todo Universal.

Por exemplo: Uma reta (a reta inteira) é vermelha, vibra na tonalidade "Om", exala agradável essência de lavanda. O ponto "A" ouve o ponto "Z" dizer de si mesmo: "minha cor é vermelha, eu vibro na tonalidade OM, e exalo agradável odor de lavanda". Nesse caso, o ponto "A" poderá afirmar o mesmo sobre si, desde que reconheça que ele e o ponto Z estão na mesma reta. As características do ponto Z existem em razão da reta, e não em razão do próprio ponto Z. E não importa que o ponto Z esteja longe, aparentemente distante do ponto A: o que vale para o Z, lá longe onde ele está, vale também para o ponto "A", "B", "C"... pois a reta é sempre a mesma - a validade é conferida em decorrência reta e não do ponto. A verdade sobre a reta é uma verdade universal, e vale para todos os pontos.

Retomando: Jesus, abrindo o livro de Isaías, achou o lugar que estava escrito: "O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, curar os quebrantados de coração, apregoar a liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor" ". E imediatamente fez identificação total com as palavras reveladas por Isaías. Com esse exemplo, Jesus ofereceu a mim, a você, e à humanidade toda a possibilidade de "seguí-lo", ou seja: abrir também o livro de Isaías e reconhecer que "O Espírito de Deus é sobre mim, e me ungiu". A unção que estava com Isaías e Jesus está também com cada um de nós que hoje tomamos o conhecimento dessas palavras.

A condição de separação que existia entre Jesus e Isaías é a mesma que há entre Jesus e cada um de nós. Olhando a partir de onde Jesus se encontrava, Isaías estava longe, no passado; olhando a partir daqui onde estamos, Jesus aparenta estar distante há 2000 anos. E hoje nós podemos abrir o livro da Bíblia e ali encontrar palavras/afirmações tremendas da verdade ditas por Jesus: "Eu e o Pai somos um", "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida", "Quem me vê a mim, vê Aquele que me enviou". Através do exemplo e atitude que demonstrou diante de todos os que estavam na sinagoga, Jesus ofereceu-nos a oportunidade de "seguí-lo", mostrando que também podemos nos identificar com as palavras e as revelações divinas e sagradas, exatamente como ele fez.

Jesus se proclamou o filho unigênito de Deus, e disse: "Eu e o Pai somos um". Buda disse: "Eu sou o único iluminado em todo o universo". Krishna disse: "Eu sou Brahmam, o Único, o Imperecível. Sou o Brahmam imanente em tudo, o Espírito que habita em todas as coisas".

O que Jesus disse de si mesmo é válido para a humanidade inteira, hoje. O que Buda disse de si mesmo também é válido para a humanidade toda, hoje. O que Krishna afirmou sobre si mesmo também é a verdade sobre todos, hoje. É a Unidade do Todo que nos outorga autoridade para afirmar tais verdades sobre nós mesmos. E é através de nossa identificação com essas Verdades que passamos a percebê-las como reais e efetivas. A identificação torna-se percepção consciente. É necessário coragem para fazer essa ousada identificação, porque a mente coletiva da humanidade, dotada de complexo de inferioridade, está abarrotada de sentimento de auto-punição e de pensamentos de culpa, não-merecimento, pecado. Estas são as características da mente que projeta a separatividade: ela projeta a "exclusão", o "afastamento", o "eu não mereço", "não sou digno" - estes são os símbolos que representam a mente separativista. A Mente Una, por sua vez, é representada pelos símbolos: "eu estou incluso", "faço parte, "eu mereço", "sou digno".

Isto é uma revelação, uma percepção que cada um deve ter, não é um mero ensinamento teórico. A consciência de que “o Espírito do Senhor está sobre mim” nos faz “ungidos” do Senhor. Os personagens inconscientes (que escutavam Jesus falar na sinagoga) não aceitavam esta percepção nem para si, nem para outrem, por isso muitos se escandalizaram com a revelação de Jesus. As pessoas que lá estavam (identificadas com a mente separatista) aceitariam com naturalidade a afirmação de que “o espírito do mundo está sobre mim”, mas elas não aceitam que alguém perceba que: “o Espírito do Senhor está sobre mim”.

Afine-se com a Mente Una, exatamente como Jesus fez, ao reconhecer: "hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos". Hoje, também, todas as escrituras sagradas e todas as Verdades universais estão se cumprindo aqui, exatamente onde estamos, em quem somos.




*Nota: Se você gostou da abordagem do texto, e deseja saber mais sobre a percepção mental e a percepção consciencial, acesse a série: "Preleções Nucleares: A Unidade Essencial", clicando aqui.

quinta-feira, julho 20, 2017

A essência búdica de todos os seres

- Núcleo - 


O mestre zen budista Hakuin ensinou que:

“Na essência todas as pessoas são seres búdicos. 
Assim como não pode existir gelo sem água, também não pode existir Buda sem a humanidade. 
Quem compreende essa verdade alcança o tesouro infinito. 
Quando vivo a Forma que transcende a forma fenomênica, posso ir e voltar sem sair do lugar. 
Quando vivo com o Pensamento que transcende o pensamento fenomênico, canto e danço segundo a voz da Verdade. 
No amplo céu do meu mundo Mental livre de qualquer empecilho, brilha a luz da sabedoria búdica. 
Alcanço o estado de total serenidade, transcendendo as angústias e os sofrimentos mundanais. 
Por isso, aqui mesmo é o paraíso búdico; e assim mesmo, nesta forma física, sou um ser búdico."


Seguem-se os comentários ao texto. [Os comentários aparecem entre colchetes]

“Na essência todas as pessoas são seres búdicos [todas as pessoas são seres conscienciais, porque vivemos na Consciência do Ser, que é o Princípio Divino]. 

Assim como não pode existir gelo sem água, também não pode existir Buda sem a humanidade [todo personagem pressupõe um Ator. Assim, o personagem gelo, é a forma assumida pelo Ator água. Água é a essência do Gelo. A água pode se manifestar na forma de gelo. Assim como gelo evidencia a existência da água, todo personagem evidencia a existência do Ator]. Quem compreende essa verdade alcança o tesouro infinito. 

Quando vivo a Forma que transcende a forma fenomênica, posso ir e voltar sem sair do lugar [Forma fenomênica é a forma do personagem, ao passo que 'Forma que transcende a forma fenomênica' é a Forma do Ator, do Ser consciencial, que é a essência, portanto, sem forma definida como é a forma fenomênica. Por isso, estando consciente de que vivo na Consciência do Ser, no Princípio divino, posso ir e voltar sem sair do lugar].

Quando vivo com o Pensamento que transcende o pensamento fenomênico, canto e danço segundo a voz da Verdade [Pensamento que transcende o pensamento fenomênico são os pensamentos de Deus, como revelado na Bíblia em Isaías 55:8-9, onde está escrito: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” Por isso, estando consciente do Pensamento que transcende o pensamento fenomênico, canto e danço segundo a voz da Verdade, que é Deus]. 

No amplo céu do meu mundo Mental livre de qualquer empecilho, brilha a luz da sabedoria búdica. [O mundo Mental que é livre de qualquer empecilho é chamado no Núcleo de mundo da Consciência ou Mente com “m” maiúsculo, no qual brilha a luz da sabedoria búdica ou divina]. 

Alcanço o estado de total serenidade, transcendendo as angústias e os sofrimentos mundanais [As angústias e os sofrimentos mundanais estão no âmbito da mente do personagem. Na Consciência do Ser elas inexistem, por isso na Consciência alcanço o estado de total serenidade]. 

Por isso, aqui mesmo é o paraíso búdico; e assim mesmo, nesta forma física, sou um ser búdico [Pelo fato de Realidade e Representação coexistirem no Princípio Divino, assim mesmo, nesta forma física, ou seja, assim mesmo na forma de personagem, sou consciente de que sou o Ator divino, sou consciente de que sou um ser búdico, um ser consciencial” e sou consciente de que aqui mesmo é o Princípio Divino, aqui mesmo é o paraíso búdico].


segunda-feira, julho 17, 2017

Desperte! Perceba!

- Gustavo -

“O único saber necessário é que nenhum saber é necessário.

O único aprendizado necessário é aprender que nenhum aprendizado é necessário.

Ser quem você é em sua totalidade não requer nenhum saber, nenhum aprendizado, requer apenas que você seja – Aquilo que você já é”.


O estado de iluminação é o estado de consciência tido como meta por muitos de nós. Em geral nós, os personagens, pensamos que devemos fazer ou deixar de fazer algo a fim de podermos alcançar esse estado transcendente e beatífico de consciência. Julgamos existir uma consciência adormecida que deve ser desenvolvida, despertada ou mesmo iluminada. Acreditamos não termos a “percepção mística” tão amplamente falada e comentada pelos mestres iluminados e pelas escrituras. E a partir de todos esses julgamentos, pensamos ser necessário fazer ou deixar de fazer alguma coisa a fim de podermos obter, acionar ou ativar a percepção consciencial. Muitos de nós, personagens, utilizamos os mais variados métodos e artifícios a fim de conseguir atingir ou ativar essa percepção. Todavia esse é um procedimento equivocado. E aqui será esclarecido por quê.

Em se tratando da Consciência do Ser (e de todas as coisas relacionadas à Consciência do Ser), o personagem é impotente. É impotente por ser ilusório, irreal. Ele (o personagem) não vive, mas pensa que vive. Ele não está no controle, mas pensa que está. O personagem pensa que tem o poder de fazer suas ações contarem, mas elas não contam.

Considere o seguinte exemplo: Todos conhecemos as historinhas da "Turma da Mônica". Nessas histórias acompanhamos a vida de vários personagens como a Mônica, o Cebolinha, o Cascão e a Magali. Podemos notar claramente o que todos esses personagens são: apenas personagens. Os personagens são irreais, e existem apenas na dimensão de realidade dos quadrinhos. Um personagem fictício, como a Mônica ou o Cebolinha, não vive e não percebe a realidade onde vive o Maurício de Sousa, o autor das historinhas. Podemos compreender, também, que se o Maurício de Sousa não existisse (por detrás da realidade dos quadrinhos), os personagens jamais poderiam existir.

No universo da "Turma da Mônica", cada personagem poderia estar adormecido ou desperto. O que seria um personagem adormecido? Seria aquele cuja percepção estivesse confinada/limitada somente ao âmbito da história em quadrinho. E o que seria um personagem iluminado ou desperto? O desperto seria aquele que, além de estar consciente da realidade dos quadrinhos (realidade a qual pertence os personagens), está também consciente da existência do Maurício de Sousa. O personagem iluminado tem a plena consciência de que, perante o Maurício de Sousa, ele é uma existência impotente, irreal, nada. Ao mesmo tempo, o personagem iluminado percebe haver uma unidade essencial entre o "Maurício de Sousa" e "cada personagem" dos quadrinhos, inclusive ele próprio. A percepção da mente da personagem "Mônica" somente capta o que existe dentro da história dos quadrinhos. Para que a Mônica tomasse consciência do Maurício de Sousa e Sua realidade, o próprio Maurício de Sousa deveria desenhar a Mônica "percebendo" a existência/presença do Maurício de Sousa por trás dos quadrinhos. O ponto importante que vale notar é que: a personagem Mônica jamais conseguiria perceber a existência ou presença do Maurício de Sousa por si mesma (com a mente da personagem), a menos que o próprio Maurício de Sousa decidisse desenhar a história com a Mônica tendo esse "despertar". O personagem é um ser completamente impotente, irreal, que não apresenta condições nem mesmo para despertar.

Agora suponha que, na realidade dos quadrinhos (representação), todos os personagens estivessem inconscientes da existência do Maurício de Sousa. Então o Maurício de Sousa, desejando que os personagens se tornem cientes da Sua existência por detrás dos quadrinhos, decide iluminar um dos personagens – o Cebolinha – para que ele vá até aos outros personagens e conte a eles sobre a existência do Maurício de Sousa. Então Ele desenha o Cebolinha desperto, que comparece diante dos outros personagens e diz: "Quem me vê a mim, vê Aquele que me enviou." (João, 12:45), "as palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Maurício de Sousa, que está em mim, é quem as diz." (João 14:10), "Eu e o Maurício de Sousa somos um" (João 10:30), "Eu de mim mesmo nada posso fazer, o Maurício de Sousa em mim é quem faz as obras". Ao ouvir essas palavras, cada personagem poderia concordar ou discordar, acreditar ou não acreditar; mas perceba que a concordância/discordância e o acreditar/não acreditar são percepções que pertencem à mente dos personagens. As palavras do Cebolinha estão vindo do Maurício de Sousa (e não do personagem), mas a mente dos personagens só é capaz de perceber as palavras vindo através da boca do Cebolinha. Somente uma percepção que não provém da "mente dos personagens" é que estaria em real condição de avaliar e constatar a veracidade das palavras ditas pelo Cebolinha.

O mais importante a ser percebido nesse exemplo é que: a iluminação do Cebolinha não está no personagem "Cebolinha". O "Cebolinha iluminado" só aconteceu porque foi da vontade do Maurício de Sousa desenhar ele se iluminando. Da mesma forma que o Cebolinha iluminado, um personagem não iluminado jamais poderia existir nos quadrinhos se não fosse pelo desejo do Maurício de Sousa de desenhá-lo. O Cebolinha iluminado é tão irreal quanto qualquer outro personagem não iluminado. Assim, personagem iluminado ou não iluminado – ambos são irreais.

A mente dos personagens percebe apenas a realidade dos personagens. Para perceber o Ser e Sua realidade é necessário utilizarmos a percepção que está no próprio Ser. Essa percepção que provém da Consciência do Ser é chamada de "percepção consciencial". Nós existimos no mundo da representação como se fôssemos os personagens, mas podemos transcender a percepção da mente do personagem (percepção mental) e perceber a existência através da percepção que está no próprio Ser (percepção consciencial). Essa percepção já existe, já está ocorrendo, já está em atividade. Não é necessário desenvolvê-la ou despertá-la. Só o que devemos fazer é ativa-la. Mas como acionar ou ativar a percepção consciencial, que já existe? Para isso, uma compreensão sutil (muito importante!)  deve o tempo todo acompanhar o nosso intuito ou tentativa de “acionar” ou “ativar" essa percepção.

Primeiro devemos compreender que a “Consciência desperta” já está desperta, a "Consciência iluminada" já está iluminada. Essa percepção não se ativa por meio de alguma ação ou esforço de nossa parte. Ela é “ativada” quando compreendemos que ELA JÁ ESTÁ ATIVA. Como assim? Continue acompanhando. A percepção consciencial é ativada quando nos estabelecemos firmemente na compreensão de que ELA JÁ ESTÁ ATIVA. Por que é assim? Por existir uma unidade essencial entre o Ser e o personagem. O personagem, para poder existir no universo da representação, deve existir primeiro na Consciência do Ser. A totalidade do personagem (e tudo o que pertence à realidade do personagem) existe primeiramente no universo da Consciência do Ser.  

É exatamente como ocorre com um robô-mecânico-humano projetado por um engenheiro cientista: se o robô consegue piscar os olhos, sorrir com a boca, pronunciar palavras ou mover a cabeça, é porque essas ações foram primeiro idealizadas pelo engenheiro. Antes de tais ações existirem no robô, elas existiram primeiro no cientista. Um robô conseguiria ignorar seu cientista (criador) e realizar alguma ação que não foi programada? Não. Pois, até para poder “ignorar o cientista”, o robô deveria estar programado para fazê-lo. O robô não consegue realizar um único ato sem que o engenheiro tenha colocado-o “lá”. Perceba, então, essa relação de “unidade” que existe entre robô e o engenheiro.

A mesma relação existe entre o personagem e o Ser. O personagem não dá um passo sequer, sem que esse passo tenha sido dado primeiro na Consciência do Ser. O personagem não move um dedo, sem que o “movimento do dedo” exista antes em alguma espécie de "lugar". Procure enxergar intuitivamente onde fica esse "lugar" e você compreenderá que, embora não possa vê-lo, consegue constatar que ele existe. Esse "lugar" é a Consciência. O personagem não consegue pensar, raciocinar, sentir, intuir, sem que todas essas coisas estejam primeiro na Consciência do Ser. E, da mesma forma, o personagem não consegue se iluminar (despertar a consciência – perceber) sem que isso exista primeiramente na Consciência do Ser. Não há nada que possa estar no universo da representação sem existir primeiro no universo da Consciência do Ser. "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam." (Salmos 127:1)

Quando empreendemos esforços (ou não-esforços) a fim de atingir um estado desperto de consciência, estamos sendo como “robôs tentando realizar ações independentes (separadas) que não foram colocadas lá pelo engenheiro”. Mas, e se o robô ficasse “louco” e passasse a tentar ações ou atos que não foram designados pelo engenheiro? O que dizer desse robô? Apenas que ele está “louco”, que algo “deu errado”, que “ele está com defeito”, ou que “ele está agindo em miragens, sonhos”. Contudo nenhum robô age assim, mas o ser humano sim. Em se tratando da iluminação, o ser humano age como se fosse possível haver separação total entre “personagem” e “Consciência do Ser”. É quando ele passa a buscar, estudar, orar, meditar, despertar, transcender – como se ele tivesse de realizar tais coisas por conta própria (agindo como se estivesse separado do Ser). E a iluminação ou despertar espiritual jamais tem a ver com “separação”, e sim com unicidade, unidade.

Qualquer coisa que nós, personagens, possamos fazer (ou deixar de fazer) – seja de ordem física, emocional, mental, psíquica, espiritual – só é possível por existir primeiramente no âmbito de uma Consciência Maior. Tudo o que fazemos está sob a égide dessa Consciência Maior. Nada escapa a essa Égide. Essa Égide é que deve ser considerada, compreendida, contemplada. Tudo o que é real está “lá”, nEla. Procure intuitivamente enxergar esse lugar. Estar consciente dessa Égide Maior é o modo de estarmos sempre no estado de unidade, ao invés de na separação. A fim de perceber essa Consciência-Égide-Maior, nós (personagens) não devemos sequer tentar percebê-la porque... a própria intenção ou ato de “tentar perceber” só nos é possível por existir primeiro na Égide dessa Consciência Suprema. Não há nada que possamos fazer para percebê-la, isto é compreensível? Basta perceber (diretamente, ou seja, de uma vez por todas, num só lance) que essa Consciência existe por Si mesma, e está acima de todas as coisas. Isso é o que é a percepção. E isso é tudo o que necessita ser “feito”.

Assim, o que devemos fazer para despertar? O que devemos fazer para ativar a percepção? Basta perceber essa Consciência-Égide-Suprema. Note que não é possível percebê-la com a percepção que se origina do personagem (pois a “percepção que funciona a partir da capacidade personagem” existe primeiramente na Consciência do Ser – não é a percepção do Ser). É apenas com a percepção que está na própria Consciência que é possível perceber a Consciência. A Consciência já está desperta. Quando nos volvemos para ela, em pura compreensão (atravessando toda a realidade, elementos e aspectos do personagem), isso é meditação, é percepção consciencial.

Estamos cercados totalmente – por todos os lados. Há algo que possamos fazer (ou deixar de fazer) sem que isso esteja nos domínios desta Consciência Suprema? A resposta é “não”. O próprio Salmista disse:

"SENHOR, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar. Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá." (Salmos 139: 1-10)

Essa Consciência é tão alta, que nós (personagens) não podemos atingi-la. Mas podemos compreender que ela existe e está por detrás de tudo, porque nada existe que não esteja primeiramente nos domínios dessa Consciência.

Quando um personagem aqui na terra se ilumina, a iluminação verdadeira não consiste na situação de que ele, o personagem “x”, deixou de ser um personagem não-iluminado para se tornar um iluminado. Se ele se iluminou aqui na representação, é porque essa iluminação existia primeiro na Consciência Universal (em Deus). Quando ele se ilumina, a atenção dele volta-se para aquela iluminação que existe na Consciência (e não para a iluminação fenomênica que aconteceu ao personagem efêmero). Ele não se vê como um ser que antes estava adormecido e que posteriormente despertou. A percepção dele é a de que ele é desperto, iluminado, desde sempre. Ele sempre fora um iluminado! Mas ele percebe isso porque a atenção dele volta-se para aquela Consciência-Égide-Maior. É lá que a verdadeira iluminação (percepção) está. A iluminação do personagem é apenas um fenômeno secundário.

Assim, como fazer para ativar a percepção? Primeiro você compreende que ela já está ativada, então você busca enxergar (intuitivamente) o lugar onde essa percepção está. Esse "lugar" é a Consciência, é Deus. Você apenas volta a sua atenção para Ele, e Ele cuida de fazer o resto. Você não tem de "ativar" a sua percepção. Deixe que Deus faça isso. Apenas volte-se para Ele. Mas esse "voltar-se para Ele" requer a compreensão sutil que acima foi explicada. Compreenda isso, e esteja em paz quanto ao resto! Isso é meditação.

Se você gostou da abordagem do texto, e deseja saber mais sobre a percepção mental e a percepção consciencial, acesse a série: "Preleções Nucleares: A Unidade Essencial", clicando aqui.


quinta-feira, julho 13, 2017

Preleções Nucleares: A Unidade Essencial - 4/4

- Gustavo -


Continuando a explanação do esquema de duas colunas:



14 – A realidade consciencial não pode ser percebida pela mente do personagem. As verdades conscienciais não estão ao alcance da mente. O máximo que a mente consegue fazer é "acreditar" ou "não acreditar" nas revelações da Consciência. Por exemplo, Jesus pode vir até cada um e dizer que o reino de Deus está dentro de nós. Essa é uma revelação consciencial que não pode ser percebida pela mente. A mente, então, só conseguirá acreditar ou não acreditar na revelação de Jesus. Jesus não depende de “acreditar” ou “não acreditar” que o reino de Deus está em nós – ele sabe! O saber está além do mero “acreditar” ou “não acreditar”. O saber é consciencial.

Para elucidar ainda mais, vamos utilizar um exemplo bastante simples aqui mesmo da representação: se perguntarmos às pessoas se é possível um ovo de galinha ser colocado em pé sem tombar para um dos lados, algumas pessoas acreditarão ser possível, enquanto outras acreditarão ser impossível. Conta-se que Cristóvão Colombo provou ser possível um ovo ficar perfeitamente imóvel, equilibrado e em pé. Alguns personagens acreditam, outros desacreditam. Mas o fato é: um ovo pode ficar em pé. Quem já conseguiu ou viu um ovo ser colocado em pé, deixou o campo do “acreditar” ou “não acreditar” e passou a saber que um ovo pode ficar em pé. A questão do "acreditar" ou "não acreditar" para ele não mais existe. No caso deste exemplo, os personagens que responderam “eu acredito” estão mais próximos da realidade do que aqueles que responderam “eu não acredito”;  porém, mesmo que tenham escolhido a resposta mais aproximada, isso não os leva para dentro da realidade. Assim, podemos perceber que até mesmo o acreditar não é suficiente; o saber está além inclusive do acreditar.

A mente também tem o hábito de querer concordar ou discordar. Da mesma forma que o "acreditar" e o "não acreditar", a concordância ou discordância da mente não irá ajudar. Sempre que a mente concorda ou discorda, a verdade (realidade consciencial) fica encoberta pela realidade mental. Esta é uma outra verdade consciencial: tudo o que está acontecendo na representação é divino. A representação não é apenas representação – ela é uma representação divina! A Consciência do Ser pode ser percebida/sentida em tudo e em todos. Você concorda? Você discorda? Então você teceu juízo de valor e isso é o suficiente para acionar a percepção mental e mantê-lo fora da percepção consciencial. Se pudermos lançar um olhar desprovido de qualquer julgamento, a Consciência do Ser passa a Se evidenciar nas coisas grandes e pequenas. Apenas olhe, contemple! Quando algo estiver acontecendo, apenas permita que isso esteja ali, sem julgamentos, sem interferir, sem querer concordar ou discordar disso. A mente sentirá vontade de entrar e dizer: "sim, isso está acontecendo, é assim mesmo! Concordo com o que estou presenciando", ou poderá dizer: "isso não está certo, não pode ser assim, pois jamais vi isso antes". A mente sempre mede, analisa, julga. O julgamento é o que lhe dá energia. Com a concordância ou discordância, nada se resolve, apenas uma crença é criada. E a realidade consciencial fica ocultada, encoberta pela realidade mental.

Para percebermos a verdade basta não deixarmos que a mente interfira, ocupando o foco de nossa percepção. Muitos sinceros buscadores espirituais pensam que devem se esforçar para tentar neutralizar ou eliminar a mente (a visão dual, a percepção mental) para ter a percepção unitária (percepção consciencial). Contudo, este esforço do personagem é em vão porque atua sobre a própria “mente do personagem” na tentativa de neutralizá-la ou eliminá-la; enquanto somente o próprio Ser pela “Consciência do Ser” pode transcender a percepção da mente e perceber-Se! Não é necessário eliminar a mente para perceber a verdade; a mente pode estar presente, mas deve estar quieta, silenciosa. É necessário saber presenciar silenciosamente um acontecimento, colocando a mente de lado.

Quando você vai para a natureza e escuta o som de uma cachoeira, você concorda ou discorda disso? Nesses momentos, você tenta entender ou decifrar o som que está escutando? Ao invés disso, você está relaxado, entregue, em harmonia, integrado ao que está presenciando. Você apenas escuta, observa, presencia, contempla – sem julgamentos. O som da cachoeira nos soa tranquilo, leve e revigorante. A tranquilidade, paz e beleza que encontramos no som de uma cachoeira na verdade não advém da cachoeira (fenômeno externo) em si. A beleza que sentimos é espiritual, consciencial. A natureza é selvagem, devido a isso ela tem o poder de diminuir a interferência da mente e aumentar o silêncio. Por isso, os ensinamentos são unânimes em dizer que quando estamos na natureza estamos mais próximos de Deus. A natureza aumenta o silêncio e facilita nosso contato com a dimensão consciencial, por isso sentimos ela ser tão bonita. Mas o que sentimos na natureza podemos sentir com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Basta acessar a dimensão do silêncio.  Escute tudo a sua volta como você escutaria o som de uma cachoeira.

Na concordância ou discordância é necessário haver "dois", você e a cachoeira, separados. Você está na dimensão da separação, das partes: uma parte (você) está escutando a outra parte (cachoeira). Ao presenciar silenciosamente o som da cachoeira, subitamente não há mais "você" e a "cachoeira", ambos foram integrados/unidos e agora há apenas o todo. A dimensão do todo apareceu, o todo entrou na frente. Agora é o todo que está acontecendo – agora, antes de haver um personagem escutando a cachoeira ou uma cachoeira sendo escutada por um personagem, há o todo aparecendo simultaneamente como o personagem e como a cachoeira. Tudo passa a ocorrer ao mesmo tempo. A presença do personagem, a presença da cachoeira, o sentido de escutar, o som escutado, o processo de escuta... Os elementos que antes estavam separados são juntados em uma só leva, e toda uma sincronicidade surge, uma música começa a ser formada. Essa música repleta de sincronia ocorre no todo e só é percebida pelo todo, mediante a percepção que está no próprio todo. O todo é a Consciência do Ser. Silêncio é música, é a melodia divina.


15 – A intuição está relacionada à percepção consciencial. E os cinco sentidos estão relacionados à percepção da mente do personagem. Os cinco sentidos a que se refere o Núcleo são: visão, audição, olfato, paladar e tato. Também o sexto sentido faz parte da mente do personagem. O sexto sentido da mente significa: visão mediúnica, audição mediúnica, olfato mediúnico e demais percepções mediúnicas. Ou seja, o sexto sentido corresponde aos cinco sentidos do corpo, só que utilizados para perceber fenômenos espirituais de cunho mediúnico, tais como ver, ouvir e falar com espíritos desencarnados. Os sentidos mentais do personagem incluem também o intelecto, a razão e a lógica. Tudo isso é percepção mental.

A intuição é um fenômeno não mental, ela não tem a sua fonte na mente (intelecto, razão ou lógica) do personagem. A mente do personagem não pode compreender a intuição por ser ela própria um fenômeno irracional, ilógico. Alguém talvez pergunte: “A intuição pode ser explicada?”, mas essa pergunta na verdade significa: “A intuição pode ser reduzida ao intelecto?”. E a intuição é algo acima do intelecto, ela provém da Consciência do Ser. O intelecto é sempre contínuo, linear: “A” está ligado a “B”, que está ligado a “C”, que se liga a “D” e assim por diante. O intelecto é constituído por: causalidade, linearidade, conexões lógicas. A intuição é não-linear: quando atua a intuição, as ligações da mente são quebradas, o que torna possível à percepção passar diretamente de “A” para “D”, ou para qualquer outro ponto. A intuição cria uma lacuna – uma desconexão e descontinuidade completas – o que permite à percepção dar um salto. Esse salto é inconcebível para a mente. Assim, a intuição é um pulo, um salto direto e imediato de um ponto a outro ponto, sem nenhuma interligação entre os dois. A percepção consciencial é imediata; com ela a coisa é captada de súbito, diretamente do interior, sem a interferência linear ou lógica da mente. E o interior é vasto, infinito, tudo já está contido nele. No interior está o reino de Deus inteiro.

A mente pode sentir a intuição, mas não pode explica-la. A intuição pode penetrar a mente e a mente pode notar que algo aconteceu, mas não pode explicar. Deve-se entender que uma realidade superior pode penetrar uma realidade inferior, mas a realidade inferior não consegue penetrar a realidade superior. A intuição pode penetrar o intelecto porque ela é superior, mas o intelecto não pode penetrar a intuição e tampouco explica-la. Não existe uma explicação do superior no inferior, porque o superior é muito vasto e os próprios termos da explicação tornam-se inadequados demais para fazerem sentido ali. Mas a mente pode sentir a lacuna, ela sente que: “aconteceu algo que está além de mim”. Assim, é possível utilizar a mente, o intelecto, sem estar fechado à intuição. Podemos utilizar a razão como um instrumento, permanecendo abertos, estando receptivos ao superior. O intelecto pode ser usado como um auxiliar a serviço de algo maior.


16 – O Amor é simplesmente Unidade, Totalidade, UM. A percepção consciencial pode revelar a Divindade manifestada no mundo da representação (1), como também pode revelar o Universo Consciencial no qual a representação está ausente (2). Conforme já dito, o espaço (silêncio, vazio) divide-se em duas partes ou aspectos. De um lado do espaço está Deus e o universo da representação; ali Ele está consciente de tudo – da criação inteira – em Si mesmo. Do outro lado do espaço, Deus está sozinho, habitando a ilimitada faixa da eternidade, existindo como Consciência inqualificada, Bem-aventurada, sempre existente, sempre nova. Nenhum mundo, nenhuma outra coisa existe em Sua Consciência, naquela região da infinitude onde Ele reina como o Absoluto.

Percebendo consciencialmente, podemos penetrar o Silêncio e contemplar a Luz da qual toda a representação emerge. Podemos contemplar a Divindade aparecendo como todo o universo da representação, ou seja, podemos perceber o oceano do Espírito com as ondas de Sua criação. O Divino revela-Se como Amor em todo o universo da representação. Nesse aspecto, o Oceano está completamente mesclado às ondas, ambos são UM. Deus se faz presente na representação da mesma forma que o oceano se faz presente em suas ondas. Nosso aparente universo físico quando percebido consciencialmente é um esplêndido oceano de luz, algo inconcebível pela percepção mental. Aumentando ainda mais o Silêncio, a nossa experiência transcende até a Luz manifestada e adentra o puro Universo Consciencial, que existe sozinho em um espaço onde o universo da representação está ausente. Isto é, podemos perceber o mesmo Oceano espiritual existindo transcendentalmente de forma serena, sem as ondas da criação. Isso significa que "Quem somos" pode perceber-Se manifestado em toda a criação, como também pode perceber-Se como o Universo Consciencial que existe desde antes do surgimento da representação. Em ambos os casos, a percepção é de UNIDADE.  

Este assunto do Universo Consciencial merece ser mais aprofundado. O Universo consciencial existe fora do universo da representação – é onde habita Deus Universal (Paramatman) e o filho de Deus (Atman). É uma realidade de pura Unidade, Bem-Aventurança, Alegria, Amor perfeito.

O ensinamento Um Curso em Milagres apresenta uma cosmologia com uma ilustração bastante plausível do que vem a ser essa Realidade Divina suprema e absoluta. Nele, é contada a seguinte história: no Princípio (antes do surgimento da representação) existiam unicamente Pai e Filho vivendo na realidade perfeita denominada "Céu". Antes do início, não havia inícios nem fins; havia apenas o Eterno Sempre, que ainda está "lá" – e sempre estará. Havia apenas uma Consciência de uma unicidade imaculada, e essa unicidade era tão completa, tão espantosa e ilimitada em sua alegre extensão, que seria impossível que qualquer coisa (extensão) estivesse consciente de algo que não fosse Si Mesmo. Havia e há apenas Deus nessa realidade, chamada pelo Curso de “Céu”. O que Deus cria em Sua extensão de Si Mesmo é chamado de Cristo (o Filho, o Atman). Mas Cristo de maneira alguma é separado ou diferente de Deus (Paramatman). Eles são exatamente a mesma coisa. Cristo não é uma parte de Deus, Ele é uma extensão do todo. A única diferença possível entre Cristo e Deus – se uma distinção fosse possível – seria que Deus criou Cristo; Ele é o Autor. Cristo não criou Deus ou a Si Mesmo. Contudo, por causa da perfeita unicidade inerente ao próprio Deus, isso realmente não importa no Céu. Deus criou Cristo para ser exatamente como Ele, e para compartilhar Seu eterno Amor e alegria, em um estado de êxtase livre, ilimitado e inimaginável. Tal estado constante e bem-aventurado de consciência é completamente abstrato, eterno, imutável e unido. Cristo, então, estende a Si Mesmo, criando novas Criações, ou extensões simultâneas do todo, que também são exatamente as mesmas em sua perfeita unicidade com Deus e com Cristo. Portanto, Cristo, como Deus, também cria – porque Ele é exatamente o mesmo que Deus.

Essas extensões não vão para "dentro" ou para "fora", porque no Céu não existe conceito de espaço; existe apenas em todo o lugar. O resultado de tudo isso é o compartilhar sem fim do Amor perfeito, que está além da compreensão. Pai e Filho em um alegre e eterno compartilhar. A condição da realidade consciencial é puro Amor e tudo funciona de acordo com  esse Amor Eterno, que é o próprio Deus (Eu) sendo. Deus compartilha a integralidade de Seu Ser com seus Filhos. E os Filhos de Deus também compartilham tudo o que têm e são com outros Filhos de Deus, sendo que todos estão sempre conscientes de Quem são. O resultado disso é o enriquecimento e engrandecimento do Céu. O Infinito se ultrapassa e se expande ainda mais, contrariando tudo o que qualquer lógica possa conceber. Assim é (funciona) a realidade divina.

Podemos, então, compreender que Deus Universal (o Pai Eterno, Paramatman) não criou a representação. Ele criou o Universo Consciencial para desfrutar a Vida una, eterna e perfeita, a qual foi descrita de modo bastante plausível na história narrada. O Universo Consciencial é constituído somente por Deus (Paramatman) e filho de Deus (Atman). Quando surge o universo da representação, isso ocorre devido a vontade do filho de Deus. Por meio de Seu sonho/imaginação/representação, o filho de Deus concebe a existência irreal mas aparente de um universo de separação. É Ele quem possibilita o jogo da dualidade. E no universo da representação o filho de Deus aparece como sendo tudo o que existe... “Eu apareço como”.

Quando a representação é percebida consciencialmente (com a visão do filho de Deus) o senso de separação é impossível – mesmo na representação. A representação inteira assume uma qualidade divina de unidade, amor, plenitude, bem-aventurança. É como se Deus, o Amor, fosse trazido para dentro do universo da representação, e a representação ficasse totalmente impregnada, afetada pelo Divino. A representação torna-se uma representação divina, ela passa a expressar Deus em todos os seus aspectos.

Porém, quando a representação é percebida mentalmente, o senso de separação torna-se possível. E quando entra a separação, o Amor dá lugar ao medo ou temor. A separação provoca a divisão do um. Concomitantemente com a divisão do um, surge a noção falsa/irreal do "outro", do "desconhecido", do “estranho”. O "outro", o "desconhecido", o "estranho" é tudo aquilo que está separado de "mim", é tudo aquilo que não sou "eu". Esse fator gera insegurança, vulnerabilidade e medo e, com isso, o "eu" sente a necessidade de proteger-se e defender-se a si mesmo. O medo ou temor está ligado ao "eu" do personagem, que se vê separado do todo.


17 – Ação dhármica é a ação praticada com renúncia aos frutos. Significa agir desinteressadamente de modo a não se apegar ao resultado da ação. A ação dhármica implica em transcender o sentimento de querer satisfazer os desejos pessoais (eu-personagem). Na ação dhármica, o personagem age para o Todo e não para si mesmo. Ele é um canal, um veículo, um instrumento através do qual a Consciência (impessoal) do Ser se expressa.

Aqueles que praticam a ação dhármica agem com amor incondicional, desinteressado. Eles cumprem o dever de desempenhar fielmente o papel que lhes compete na representação. No universo da representação, tudo tem em si a Consciência divina. O Ser Real também se percebe, se vê presente, em personagens que não têm "mente", que não são humanos, como os vegetais e os minerais. Embora não tenham mente, todos tem a Consciência. E esta é a Consciência do próprio Ser. Ela está no Ser, não pertence aos personagens. A maioria dos personagens no cenário não pensam, mas desempenham perfeitamente seus papéis de personagens do Ser. Eles cumprem o seu papel específico ou o "dharma" que lhes foi designado.

Por exemplo, a flor cumpre incondicionalmente o papel de desabrochar e espalhar a sua fragrância. Ela não se importa se haverá alguém lá para presenciar ou apreciá-la, ela apenas continua exalando o seu perfume, quer alguém aprecie ou não. A flor não diz: "ali vem se aproximando um grande ser que poderá me apreciar, vou exalar a minha fragrância". Mesmo se ninguém estiver passando, a flor irá espalhar a sua fragrância. Da mesma forma, o sol cumpre o papel que lhe foi designado, enviando sua luz e calor a fim de aquecer e beneficiar todos os seres, indistintamente. Ele não diz que: "esta é uma boa pessoa que merece se beneficiar do meu calor; aquela outra é uma má pessoa, ela não merece ser aquecida com a minha luz". E assim também é com a água, as estrelas, os insetos, os animais, todos! Eles só cumprem os seus papéis – só existem – porque neles há uma presença, uma força que os mantém como tal. Essa força é a “Consciência” presente em cada personagem. De fato, a Consciência já está presente em cada personagem do cenário, e no próprio cenário! De forma que não existe cenário nem personagem sem esta “presença divina”, onipresente. É ela quem sustenta todas as formas e quem governa e mantém todas as leis naturais.

Todos os personagens possuem o seu dharma (missão) para cumprir perante o Todo aqui na representação. O Bhagavad Gita conta a história do príncipe Arjuna que, para reconquistar o seu reino, se vê obrigado a guerrear contra a sua própria família. Ele deseja recuperar o trono mas, para fazer isso, deverá matar um grande número de parentes que estão do outro lado da linha de combate. A situação é difícil, o príncipe Arjuna está num impasse,  ele não sabe o que fazer. Então Krishna aparece e lhe dá a ordem para lutar, derrotar todos os adversário e vencer a guerra. Krishna está lá para revelar o dharma de Arjuna, ou seja, o papel que ele está destinado a cumprir no mundo da representação. Ele diz: "Não cedas à fraqueza, que de nada te serve. Enche-te de coragem contra teus inimigos e sê o que realmente és. Apenas vá e lute; e deixe que Eu me encarregue dos resultados". Durante todo o Gita, Krishna irá revelar a Arjuna a verdade suprema – verdades universais, divinas, conscienciais; somente desse modo Arjuna poderá compreender a razão pela qual deverá cumprir na representação o seu papel de guerreiro. Mas Arjuna resiste às palavras de Krishna – e resiste enormemente. É somente no final do Gita que Arjuna compreende a necessidade de cumprir o seu dharma. Estas são algumas palavras de Krishna a Arjuna sobre o dharma:

"Agir é tua missão; mas não deves visar aos frutos da tua atividade. Não permitas que a tua atividade seja inspirada pelo desejo dos teus frutos. Quem tudo faz sem apego ao resultado dos seus atos faz tudo no espírito de Deus. Eu, que ajo, não sou afetado por minhas ações, nem viso ao fruto da minha atividade. Quem isso compreende pode agir sem estar apegado ao que faz; não deseja lucro; quem está unido a Mim é livre e imaculado em suas obras. Tu, porém, ó Arjuna, refere a Mim, a fonte do Ser, todos os teus atos! Supera todos os desejos pessoais e o egoísmo! Liberta-te do apego! O que quer que fizeres, faze-o no espírito da renúncia, tendo em mente a Mim, o Senhor do mundo. Deixa a Mim o cuidado pelo sucesso; pensa em Mim e oferece-Me o teu coração e a tua alma. Confia em Mim e vive na fé em Mim. Pelo poder da Minha graça alcançarás a vitória sobre todos os obstáculos; mas se confiares somente em tua força pessoal, e não em Mim, serás derrotado.

Isento de egoísmo, violência, ganância e cobiça, desapegado do "eu" e do "meu", sereno e calmo dentro de si mesmo  este homem se torna um com Brahman. E integrado no espírito de Brahman, alcança o seu Eu divino; já não chora por nada, não tem desejo de nada, não luta por nada, não tem cobiça de coisa alguma. Porque dentro de si mesmo possui tudo. Quando o homem se integra a Mim é um Comigo. Dele é a Minha Grandeza, Meu Poder, Meu Ser, Minha Vida, Minha Sabedoria, Minha Beatitude. E agora escuta a mais sagrada das minhas revelações: Amo-te, e por isto te revelo o que é pelo teu bem."

A história do Bhagavad Gita é muito, muito simbólica. O diálogo ali contido ocorre na verdade entre a Consciência do Ser (representada por Krishna) e a mente do personagem (representada por Arjuna). O Gita é Deus conversando com o homem. Durante todo o diálogo, Arjuna tenta compreender os mistérios divinos que são exaustivamente revelados por Krishna. Mas, por mais que Krishna fale, Arjuna não entende. Isso carrega um significado: a mente do personagem é incapaz de compreender os mistérios revelados pela Consciência Divina. O Bhagavad Gita é, na verdade, uma escritura sagrada universal, que diz respeito a todo os seres. Ele descreve a história de cada ser humano: a de Arjuna, a minha, a sua... a história que vale para Arjuna vale para todos. Para que Arjuna pudesse compreender Krishna, ele teve de aprender a superar a mente de seu personagem. Ocorre o mesmo conosco.

Um outro significado muito importante que o Gita comporta é o seguinte: Arjuna está indo para o campo de batalha e sendo carregado por uma carruagem – e Krishna é o cocheiro, o condutor da carruagem! Com essa simbologia, o Gita quer dizer que Krishna (a Consciência do Ser) deve sempre ocupar o papel de "condutor da carruagem". Mas os personagens estão sempre tentando conduzir eles mesmos a carruagem. Enquanto Arjuna (a mente do personagem) estava querendo conduzir a carruagem, ele não compreendeu. E foi por esse motivo que ele demorou tanto a entender. O assento da frente da carruagem já tem dono – um dono oficial! –, somente a Ele compete o papel de ser o condutor de nossa carruagem. A história do Gita foi montada perfeita até mesmo nesse pequeno detalhe.

Se quisermos compreender o ensinamento de seres tais como Krishna, Buda e Jesus, precisamos desenvolver a habilidade de perceber consciencialmente. E como fazer isso? Uma das maneiras ensinadas no Núcleo é estar alerta para esta pergunta: “O que você prefere: reagir aos personagens/representação ou interagir Comigo?”. Essa pergunta (princípio nuclear) nos fornece todos os elementos necessários que nos ajudarão a perceber e interagir com a Consciência do Ser. Devemos estar cientes de que no mundo da representação Eu está aparecendo como tudo: como palco, roteiro, cenário e todos os personagens. Sabendo disso, deixamos de ser meros personagens (que apenas interagem com outros personagens), e passamos a ser como atores cientes de que aquele que está diante de nós na representação não é somente um personagem, ele é também um ator. Assim, podemos escolher continuar representando o papel de nossos personagens (1), ou podemos escolher romper com a representação e passar a interagir com o ator (2).

Por exemplo: imagine a situação em que dois personagens de teatro estão conversando; um deles desiste de seguir a conversa traçada no roteiro e de súbito inicia um diálogo diretamente com o ator. A atitude dele seria: “cansei de interagir com o personagem, agora eu quero conversar diretamente com o real, e não mais com o personagem que ele está representando”. Essa atitude rompe de imediato com a encenação. Um personagem nunca toma a decisão de romper com a representação, é sempre o ator. No momento em que se manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a representação, isso já é o ator agindo. Agora veja: o ator está sempre lá onde o outro personagem também está. Tudo o que for dito ao outro personagem, o ator irá ouvir – com os mesmos ouvidos. As palavras ou ações (fora do roteiro) que forem dirigidas ao outro personagem serão ouvidas pelo ator. E quando um dos atores rompe a representação (com palavras ou ações diferentes das contidas no script), como poderá o outro personagem seguir em frente com a sua representação? Ela começa a deixar de fazer sentido. Sempre que um ator manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a encenação, a representação inteira é afetada. Seus atos criam uma perturbação, um desequilíbrio ou uma descontinuidade na própria estrutura da representação. E, naquele ponto, a representação vai perdendo a força, o sentido. A representação se enfraquece. Esse procedimento traz à tona o ator que está por detrás do outro personagem. Ao romper assim com a representação, o ator criou uma descontinuidade na linha de representação do outro personagem – o outro não poderá mais seguir na linearidade de sua representação conforme prevista no roteiro. Uma lacuna foi criada. A resposta (palavra ou ato do outro personagem) que surgir a partir dessa lacuna virá, não do personagem, mas do ator. Assim, a interação ator-e-ator foi totalmente estabelecida.

É muito importante notar que, se o ator apenas mantivesse a intenção de romper com a representação, mas não manifestasse o seu intuito por meio de atos ou palavras (ou seja, ação), a representação simplesmente continuaria seguindo em frente, feliz. Não basta a mera intenção de romper com a representação, é necessário agir! No Núcleo é ensinado que não há percepção sem ação. A verdadeira percepção deverá sempre vir acompanhada de uma ação consciente. Estando na representação, para transcendermos a percepção da mente é imprescindível "perceber e agir"!

Retomando: Saiba que na representação Eu está aparecendo como tudo: a história, o cenário, os personagens. Tome a atitude de romper com a representação (aja!) e fique atento às respostas que virão da Consciência do Ser (através dos acontecimentos, dos outros personagens, o que for). Você pode aplicar esse princípio a tudo o que acontecer na sua vida. Por exemplo: você está dirigindo o seu automóvel; um outro carro passa e lhe dá uma fechada. Nesse instante, a mente condicionada do personagem sentirá vontade de fazer aquilo a que sempre esteve habituada: reagir. Se você reagir, vai ficar bravo, reclamar, xingar, etc. Ou você pode romper com a representação, sair da mente do personagem, e começar a ter uma interação com o Ser. Faça silêncio, tente entender porque na representação o Ser lhe deu uma fechada, e fique atento. Se você romper com a representação, a resposta virá pela lacuna. Então, você poderá constatar que, graças à fechada que você levou, você acabou chegando segundos ou minutos mais tarde ao local onde você estava indo, e naquele exato momento lá estava alguém que você desejava rever. Você passa a notar pequenos milagres acontecerem.

Outro exemplo: você está dirigindo o seu carro, quando um outro vem e acerta a sua traseira. Esse é o instante em que você deverá escolher entre "reagir aos personagens/representação" ou "interagir Comigo". Se preferir reagir à colisão, ficará triste, bravo, aborrecido e poderá até entrar numa briga com o outro personagem. Todavia, se escolher romper com a representação e interagir Comigo, ficando atento aos acontecimentos (respostas), logo você entenderá por que na representação o Ser acertou a traseira do seu carro. Algo bom deverá advir disso. Se nós apenas escolhermos romper a representação e permitirmos  nossas carruagens (vidas) serem conduzidas pela Consciência do Ser, a realidade da nossa representação é encaminhada para um rumo diferente daquele que estaria destinado a ocorrer caso escolhêssemos acionar a mente de nossos personagens e reagir à representação.

Para que você possa interagir com a Consciência do Ser, não é necessário que o outro personagem esteja consciente da sua realidade como ator. Basta que você esteja ciente de que Eu está aparecendo como. Um dos princípios do Núcleo diz que: "Eu apareço como. Às vezes nem eu mesmo percebo; mas se você perceber, já é o suficiente.". Deus está Se manifestando como os personagens. A cada momento, de inúmeras formas, a divindade está "aparecendo como" diante de nós. Às vezes o próprio personagem não percebe que está sendo instrumento de manifestação de Deus. Mas se apenas um de nós estiver consciente de que o Ser está "aparecendo como", e escolher romper com a representação e interagir com o Ser, isso será o suficiente para criar a brecha, através da qual ocorrerá a interação entre o personagem e o Ser.

Tudo o que foi aqui explanado abrange o significado do que vem a ser a ação dhármica. Ela é a ação que advém da percepção consciencial, na qual, despertos, os nossos personagens interagem com a Consciência do Ser.


18 – A oração de agradecimento é a verdadeira oração. O agradecimento não provém da mente do personagem, ele tem origem em Deus, na Consciência do Ser.  O Ser é sempre pleno de tudo, preenchido, completo. Em Deus, tudo está consumado, nada mais há para acontecer. Tudo o que poderia acontecer já aconteceu – daí porque o Ser desfruta de um eterno estado de plenitude. O Ser está derramando, transbordando, compartilhando toda a Sua plenitude com o infinito inteiro, com o qual é uno. E a gratidão absoluta nasce desse derramamento, desse transbordamento de todas as Suas qualidades divinas. Devido a isso, o estado de gratidão é o que mais nos sintoniza com Deus. Deus, a Consciência do Ser, está em unidade com todas as coisas, Ele não se percebe separado de nenhum objeto. Ele é o próprio objeto percebido. Se Ele deseja ser feliz, a felicidade está imediatamente lá, como Ele próprio. Se Ele deseja amar, a experiência do amor está imediatamente lá, como Ele próprio. O Ser transborda dessa plenitude de "tudo está feito". Nada há que reste a não ser um estado de gratidão absoluta. Quando o agradecimento é verdadeiro, absoluto, não é o personagem quem agradece, mas a própria Consciência do Ser agradecendo através do personagem. A gratidão é um estado consciencial.

A mente do personagem não é capaz de agradecer de forma absoluta, pois enxerga a separação, a carência, a ausência, a falta. A percepção da mente do personagem enxerga o "eu" separado do "objeto visado". Para ela, a felicidade existe separada do "eu", o amor existe separado do "eu", a sabedoria existe separada do "eu". O "eu" está presente, mas as outras coisas estão ausentes. É então que, em sua oração, o personagem pedirá/suplicará para que lhe seja concedido aquilo que lhe falta. A oração de súplica é própria da mente do personagem.

A gratidão verdadeira  é um estado consciencial. Mas até mesmo no mundo da representação (dimensão mental da realidade) a oração de agradecimento é mais eficaz que a oração de súplica. Por uma razão muito simples: se estamos em estado de agradecimento, criamos em torno de nós a atmosfera de que estamos satisfeitos, felizes, supridos, plenos. Essa atmosfera nada mais é que vibração, palavra, energia que juntamos em torno de nós e enviamos para o todo, o universo. Consequentemente, nosso estado positivo de gratidão atrai  pessoas, coisas e situações condizentes com nosso estado de felicidade, satisfação, plenitude. O universo da representação é regido pela lei mental de afinidade: semelhante atrai semelhante. O amor atrai mais amor, a alegria atrai mais alegria e, inversamente, tristeza atrai mais tristeza e o medo atrai ainda mais medo. O semelhante atrai ainda mais o seu semelhante. Agradecer é a melhor forma de fortalecer nossa conexão com o Divino, pois quanto maior for nossa gratidão, mais bênçãos de amor, alegria, paz, virtudes positivas e prosperidade ele nos enviará. A gratidão gerada a partir de nosso interior se manifesta-se e atrai no mundo exterior situações que nos farão sentir ainda mais gratos.

A gratidão é um estado da alma. Sentir-se grato é sentir-se feliz, pleno, alegre. Não há ser humano na vida que não tenha nada a agradecer. Só o fato de existir já é um grande motivo para ser grato à Vida, ao Universo, a Deus. São tantas as coisas que podemos agradecer: saúde, alimento, família, amigos, casa, trabalho, educação, inteligência, posses materiais e as imateriais. Reconhecer que tudo que temos nos foi dado por Deus é um excelente ponto de partida para exercitamos a nossa gratidão. E ela nos trará todos os seus frutos. Sempre que lembrar, sinta-se grato, mesmo que seja por algo aparentemente banal e simples. Sempre que puder, silencie sua mente e sinta a gratidão. Não deixe que o pessimismo, a reclamação, a amargura ou o desgosto poluam sua mente e seu espírito. Vigie sempre. Através da gratidão silenciosa você sintonizará com as forças milagrosas da vida que lhe trarão os mais diversos benefícios.

Por todos esses motivos, a gratidão é preferível à suplica. Na oração de súplica, ocorre o seguinte: quando estamos pedindo por "x", lá no fundo de nossas mentes (por detrás das cortinas) estamos reconhecendo simultaneamente que: "eu não tenho x". Esse reconhecimento (feito por nossa mente subconsciente) constitui afirmação, declaração, palavra para o universo. Por sua vez, o universo (que sempre responde "sim" às nossas palavras) confirmará a nossa oração dizendo: "Sim, você não tem. Assim seja.". Na superfície de nossas mentes podemos não estar afirmando nada, mas lá no fundo de nossas mentes (na região subconsciente, inconsciente) estamos declarando expressamente para o todo que não temos "x". Se, ao invés de suplicarmos, simplesmente agradecermos a Deus reconhecendo que Ele já atendeu nossa oração (ou seja, já temos "x"), as profundezas de nossa mente ficarão impregnadas de afirmações/declarações/palavra de que: "eu já tenho", e o universo nos confirmará dizendo: "Sim, você já tem. Assim seja.". Portanto, o agradecer está relacionado à unidade (Consciência do Ser), enquanto que a súplica importa em dualidade, separação.

Importante ressaltar que o agradecimento ao qual estamos nos referindo é o agradecimento relativo (mental), e não a verdadeira gratidão. A verdadeira gratidão é consciencial (absoluta), uma expressão da Consciência do Ser. Por fim, fiquemos com esta sabedoria expressada no livro sagrado da Bíblia: "Em tudo dai graças porque esta é a vontade de Deus!" (1 Ts 5:18).




Esta série "Preleções Nucleares: a Unidade Essencial" foi apresentada a fim de que o leitor possa ter condições de compreender claramente (cristalinamente!) os textos do Núcleo que são postados neste blog. A fim de transmitir sua mensagem, o Núcleo utiliza termos (metodologia) bastante específicos, que poderiam soar talvez um pouco "estranho" ou "nebuloso" para aqueles que desde o início entram em contato com os textos/mensagens que só fazem sentido levando em consideração o seu contexto. É impossível transmitir a totalidade do que é ensinado no Núcleo em uma única série de textos. Mas nesta série muitas coisas (bastantes mesmo!) foram explicitadas, toda a essência do ensinamento está contida aqui. Atentem-se sempre para Aquele que está aparecendo como tudo, rompa com a representação (aja!) e passe a interagir com Ele (Comigo). Agradeço a Quem aparece como Núcleo. Agradeço a quem aparece como esta divina mensagem. Agradeço a Quem está aparecendo como você que está lendo. Agradeço a Quem aparece como aqueles que ainda virão. Percebo Eu se manifestando como todos. E a todos agradeço. Namastê!