"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, setembro 30, 2017

A Palavra de Deus separa a "Alma" do "Espírito"


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"Se o budismo até hoje pregado não tem ajudado muito as pessoas na vida prática, é porque, apesar de reconhecer no homem a natureza búdica, considera essa natureza búdica como mera potencialidade adormecida que poderá vir a revelar-se futuramente, e não como uma força viva e ativa que está presente no ser humano, aqui e agora. Na 'Sutra do Lótus', capitulo 'Despertar no Futuro', encontramos frases tais como: 'Após bilhões de anos, poderás tornar-te buda', que fazem supor que o despertar da natureza búdica do homem seja uma promessa a se cumprir num futuro muito distante e que, portanto, nada tem a ver com a vida presente. Isso não traz nenhum apoio na vida prática. Por melhores que sejam as possibilidades futuras, se admitíssemos que o que domina a vida presente é apenas a vontade cega chamada ilusão, esta vida só poderia ser sombria. Eu admitia isso e, consequentemente, vivia deprimido e com constantes problemas de saúde." (Masaharu Taniguchi. Livro: A Verdade da Vida, volume 20 pág. 65)


Divinos Personagens,

Comentando o trecho acima citado do livro A Verdade da Vida, no mesmo livro o Mestre Masaharu Taniguchi relata que: 

"Eu havia negado o Criador misericordioso, onisciente e onipotente, afirmando que esse mundo é produto das ilusões, e essa crença não me proporcionou, em absoluto, a paz e a felicidade."  

Note bem, ele passou por isso, negou o Criador e viveu essa crença, para que ninguém mais precise passar por isso, por essa crença equivocada. A negação "do Criador misericordioso, onisciente e onipotente, que afirmava que esse mundo é produto das ilusões" vinha da mente do personagem que o Mestre estava representando antes do episódio de sua iluminação. O Mestre sempre foi QUEM É antes e depois de Ser Iluminação. E foi isso que ele Percebeu na experiência da iluminação. Isso é assim porque somos o Ator subjacente ao nosso personagem. Não altera a Realidade a crença que temos sobre quem somos. Mas altera a Representação!

Permita-me enfatizar esse ponto. A crença que temos sobre quem somos não altera a Realidade, mas altera a Representação!

Portanto, nossa crença importa enquanto nos identificamos como sendo alguém vivendo num mundo material. Quando percebemos que somos Filhos de Deus, ou seja, que temos a mesma natureza do nosso Pai, que está no Céu (Realidade) a Representação se altera! Passamos a nos ver a nós mesmos e também aos outros como Filhos de Deus, seres divinos, Iluminados. A ilusão da dualidade se esvai e mesmo continuando neste mundo (Representação) sabemos que não somos deste mundo. 

Voltando a narrativa do Mestre, ele descreve este fato na experiência de Iluminação quando Percebeu que a mente em ilusão (mente do personagem) não evolui e alcança o Despertar por meio da iluminação. Percebeu que sempre foi um ser Iluminado assim como Sakyamuni e Jesus, que mesmo estando neste mundo sabiam que não eram deste mundo, sabiam que tinham a natureza de Deus e expressaram sua visão unitária, sua Percepção de unidade com Deus.

Essa conscientização sobre nossa filiação divina nos eleva da lei para a graça! 

Não é o Espírito que nos faz sentir separados de Deus, mas a alma. A alma em nós é o personagem. O Espírito Santo em nós é o Ator.

Os cinco sentidos, todas as sensações, a razão, a crença (equivocada) estão na alma. A fé (a Percepção do Real) está no Espirito! Por isso foi compartilhada a Percepção de que "o justo viverá pela fé".  "Justo" significa ajustado ao padrão, que é o Espírito Santo!

O padrão real é o Espírito, não a alma. O Espírito tem a Percepção do real; a alma tem a visão encoberta (tsumi). Não podemos seguir a dois senhores: ou acreditamos naquilo que vemos com os cinco sentidos, com nossa lógica, com nosso condicionamento mental, ou acreditamos nas Revelações Divinas, que aparecem como as Escrituras Sagradas, como os ensinamentos dos Mestres.

Os que quiserem se perceber na Representação como seres Iluminados devem agir pela fé! Agir pela fé significa conhecer a Revelação e se engajar na ação, conforme a Revelação. Na Bíblia está escrito que: "A palavra de Deus é mais eficaz que uma espada de dois gumes e é capaz de separar alma do Espírito."

Decida: QUEM É o seu Senhor? A quem você escolhe seguir?

Sua alma, com todas as suas certezas mentais, suas razões e sua lógica? Ou Espírito daquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos?

O Mestre Masaharu Taniguchi abandonou sua crença equivocada e seguiu a Revelação Divina passando a agir conforme essa Percepção. Então abandonou a crença de que não tinha condições de publicar a revista Seicho-No-Ie para a iluminação da humanidade e contra todas as evidências dos cinco sentidos o fez e assim deu início ao movimento de Iluminação da Humanidade! 

Uma observação final: quem segue a verdadeira Seicho-No-Ie é aquele que põe em prática as Revelações Divinas, o ensinamento do Mestre! Isso independe de estar vinculado a este ou àquele movimento!  Esteja onde estiver coloque em prática o ensinamento de que o Homem é Filho de Deus! Aja com a consciência de que sua vida é a Vida de Deus e que o mesmo vale para aquele que aparece como o próximo!  Os olhos da mente (alma) nos fazem ver o próximo como outro, separado de nós. A visão do Espírito nos faz conscientes de que o único Ser Real É Deus! Então percebemos que tudo está na Consciência desse Ser Único, cada um de nós e tudo mais.

Nas Revelações essa Percepção é expressa como: "Cristo é tudo em todos".

A paz seja com todos!

quarta-feira, setembro 27, 2017

ॐ Cosmologia e os Segredos da Existência ॐ

- Gustavo -


Recentemente tive a oportunidade de conversar com meu amigo Dr. Luiz Mortari e elaborar um texto expondo a compreensão que tenho sobre Deus, o Filho de Deus, a Realidade e a Representação – ou seja, sobre a Existência como um todo – e o que nós, como humanidade, temos a ver com toda essa história. Para mim foi uma ótima chance de poder colocar no papel coisas que guardava somente para mim, por nunca ter tido a oportunidade de compartilhar isso com ninguém em lugar nenhum. Uma vez que esse pretexto surgiu, eu consegui colocar em palavras as muitas informações de que tinha conhecimento, e que eram difíceis de explicar de forma sistematizada. Agora que isso aconteceu, quero deixar registrado neste blog para que esse conhecimento facilitado não se perca.

Inicialmente quero dizer que tenho plena convicção das coisas que tenho a compartilhar neste texto, pois tudo está em consonância com um sério estudo que há anos faço das principais religiões e escrituras espirituais do mundo, bem como de ensinamentos de vários mestres de diversas linhas e tradições filosóficas. Ao longo de todo esse tempo, tenho encontrado muita harmonia, conexão, coerência e unidade nos vários ensinamentos, todos apontando em uma única direção (cada um a sua maneira). A direção apontada por todos eles é para uma consciência de Unicidade.

Mas, além dos conhecimentos adquiridos, minha convicção está amparada em experiências interiores que aconteceram para corroborar tudo o que vim aprendendo através dos estudos ao longo dos anos. Portanto, o que vou expor não é apenas fruto de aprendizados intelectuais, mas de experiências e revelações interiores que tive a graça de ter. Tenho certeza de que, ao longo de toda a minha busca espiritual, tenho sido guiado por uma Presença / Inteligência Divina no sentido de conhecer e aprender tudo com que já me deparei e experienciei até hoje.

Quero começar falando sobre Deus e a natureza de Deus.

Deus é Infinito. Eterno. Ele não muda (Malaquias 3:6). Ele é o mesmo, ontem, hoje e sempre (Hebreus 13:8). Suas obras são permanentes, e Sua Criação está pronta, acabada, nada podendo ser "acrescentado" ou "diminuído" (Eclesiastes 3:14). Assim é o Universo. Não é que Deus tenha existido primeiro e somente depois criado um Universo. Deus e o Seu Universo são um, e o Universo existe desde quando Deus existe. Esse Universo é Infinito, Espiritual, Eterno, Permanente, Perfeito e Imutável, assim como Deus. Todas as características de Deus também são características de Seu universo, devido ao princípio absoluto da Perfeita Unicidade. O Universo de Deus é integrado apenas por Deus e Seus Filhos, que também são Um com Deus desde o princípio, em uma eterna unidade com o Pai. Tudo o que o Pai é o Filho também é. Aqui temos os aspectos "Pai" e "Filho" da Santa trindade de Deus. O Filho de Deus existe em Deus como "parte" integrante do Universo criado por Deus. Mas essa "parte" (o Filho de Deus, que também podemos chamar de "Individualidade") contém em Si tudo o que o Todo contém. A ideia é como a de um holograma em que o Todo está contido em cada uma de suas partes. Assim é o Universo de Deus (Pai e Filho em eterna Unidade). Esse Universo é Infinito.

O ensinamento de Um Curso em Milagres descreve bem (dentro do que as palavras permitem) a ideia do que vem a ser o Universo Espiritual criado por Deus e do que vem a ser a Representação. Essa é a melhor cosmologia que já encontrei, e que guarda harmonia com a verdade pregada em todos os grandes ensinamentos que pude conhecer. Por isso trago aqui a explicação do UCEM:

Antes do início, não havia inícios nem fins; havia apenas o eterno Sempre, que ainda está lá – e sempre estará. Havia apenas uma consciência de uma unicidade imaculada, e essa unicidade era tão completa, tão espantosa e ilimitada em sua alegre extensão, que seria impossível que qualquer coisa (extensão) estivesse consciente de algo que não fosse Si Mesmo. Havia e há apenas Deus nessa realidade – à qual vamos nos referir como Céu. O que Deus cria em Sua extensão de Si Mesmo é chamado de Cristo. Mas Cristo não é, de maneira alguma, separado ou diferente de Deus. Eles são exatamente a mesma coisa. Cristo não é uma parte de Deus, Ele é uma extensão do todo. O Amor real precisa ser compartilhado, e o perfeito Amor que é compartilhado no Universo de Deus está além de toda compreensão humana. A única distinção possível entre Cristo e Deus – se uma distinção fosse possível – seria que Deus criou Cristo; Ele é o Autor. Cristo não criou Deus ou a Si Mesmo. Por causa de sua perfeita unicidade, isso realmente não importa no Céu. Deus criou Cristo para ser exatamente como Ele, e para compartilhar Seu eterno Amor e alegria, em um estado de êxtase livre, ilimitado e inimaginável. Ao contrário do mundo concreto, específico no qual parecemos estar agora, esse estado constante e encantador de consciência é completamente abstrato, eterno, imutável e unido. Cristo, então, estende a Si Mesmo criando novas Criações, ou extensões simultâneas do todo, que também são exatamente as mesmas em sua perfeita unicidade com Deus e com Cristo. Portanto, Cristo, como Deus, também cria – porque Ele é exatamente o mesmo que Deus. Essas extensões não vão para dentro ou para fora, porque no Céu não existe conceito de espaço; existe apenas em todo lugar. O resultado de tudo isso é o compartilhar sem fim do Amor perfeito, que está além da compreensão.

Esse Universo, Criado por Deus, é a Realidade Absoluta. Perante essa Realidade Absoluta, nenhuma outra realidade existe. Somente o Céu é Verdade. Além do Céu, nada existe, porque Deus já criou tudo o que havia para ser criado, Ele não deixou nada de fora.

Mas, então, como (parece que) viemos parar aqui neste universo físico? A cosmologia de Um Curso em Milagres explica:

Então, algo parece acontecer que, como em um sonho, realmente não acontece – apenas parece fazê-lo. Por apenas um instante, por apenas uma fração inconsequente de um nanosegundo, um aspecto muito pequeno de Cristo parece ter uma ideia que não é compartilhada com Deus. É um tipo de ideia “E se?”. É como uma curiosidade inocente na forma de uma pergunta – que infelizmente é seguida por uma resposta aparente. A pergunta, se pudesse ser colocada em palavras, era: “Como seria a Existência para mim se, por acaso, eu existisse por conta própria, separado de minha Fonte?”. Como uma criança inocente brincando com fósforos e colocando fogo na casa, você seria muito mais feliz em não encontrar a resposta para essa pergunta – pois seu estado de inocência está para ser, aparentemente, substituído por um estado de medo, e pelas defesas errôneas, viciosas, que essa condição parece exigir. Pelo fato de sua ideia não ser de Deus, Ele não responde a ela. Responder seria dar realidade a ela. Se o Próprio Deus fosse reconhecer qualquer coisa exceto a ideia da perfeita unicidade, então, não mais haveria unicidade perfeita. Não mais haveria um perfeito estado do Céu para o qual você fosse retornar. Como você vê, você realmente nunca partiu. Você ainda está lá, mas entrou em um estado de ilusão de pesadelo. Enquanto você viajou apenas em sonhos, Deus e Cristo, Que sempre são Um, continuaram como sempre foram e sempre serão. Agora parece haver um minúsculo aspecto de Cristo que agora está consciente de alguma outra coisa. Isso é dualidade. Agora, ao invés de unicidade, você tem dualidade. Antes, havia a unicidade perfeita do Céu e nada mais. Não existe realmente mais de uma coisa, mas agora, algo diferente parece estar acontecendo para você. Parece haver Deus e alguma outra coisa. Isso é a ilusão da dualidade, e o mundo de multiplicidade, e os incontáveis sujeitos e objetos que você percebe nele são meramente simbólicos da separação.

Isso significa que este universo – a Representação – foi criada pelo Filho de Deus a fim de experienciar o seu Ser (ele também é um Universo infinito, assim como Seu Pai) como separado de Deus. Nós fizemos a Representação, Deus não a criou, aos olhos Dele isso é completamente desnecessário. Aliás, Deus sequer está consciente da Representação (Se ele estivesse consciente dela, a Representação não seria uma representação  ela seria real  porque, pelo princípio da Unidade, Deus tem que ser UM com tudo o que for percebido por Ele. Se Ele estiver consciente da Representação, isso significa que Ele se separou de Si mesmo, e agora não haveria nenhum perfeito estado do Céu para o qual o Filho pudesse retornar). A Representação é um assunto que diz respeito somente ao Filho de Deus. O aspecto de Deus Pai não está consciente da Representação. Todavia o Espírito Santo está completamente ciente da ilusão de separação. Ele habita o Céu e sabe que o Filho de Deus nunca deixou o estado de perfeita unidade com o Pai; e Ele também vê as ilusões onde o Filho de Deus se imagina vivendo separado do Todo. O Espírito Santo é o mediador ou a ponte que faz a ligação entre a Realidade e a ilusão, entre o estado de perfeita unicidade e o estado de separação. Ele sabe como utilizar a ilusão para ensinar e conduzir o Filho de Deus para longe do sonho de separatividade, rumo à realidade original de unidade com Deus. Para isso basta que o Filho esteja disposto a ouvir e seguir a Sua voz. Na Representação, quando o Filho de Deus olha para Si mesmo, Ele se vê separado do Todo. Mas Deus olha para Seu Filho e o vê como sempre foi: perfeito e em eterna unidade com Ele. O Filho está em casa sonhando e, no sonho, olha para Si e se vê separado do Todo. Mas o Pai olha para o Filho e somente o vê em casa, tal como sempre foi. Ou seja, em nenhum momento Deus reconhece a existência ou a ideia de separação. O fato de Ele não reconhecer (e não responder) à ideia levantada pela "curiosidade" inocente do Filho de Deus assegura que o Filho de Deus continue sendo o que Ele sempre foi: um com Deus e com todo o Céu. Do contrário a Criação teria sido catastroficamente comprometida e Tudo teria desastrosamente se perdido para sempre. Mas isso não aconteceu (a não ser na Representação, que é o sonho do Filho de Deus, onde as ideias da separação estão sendo encenadas). É devido ao fato de o Pai não tomar conhecimento da realidade criada pelo Filho, que o Filho de Deus possui um estado de Unicidade Perfeita para onde despertar e retornar.

O Céu (o Reino de Deus, Jisso, Terra Pura, Nirvana, etc.) existe dentro de um referencial UNITÁRIO, Infinito, Absoluto e, perante ele, não há outra realidade. Mas a Representação foi concebida dentro de uma moldura dual, relativa (e também infinita). Isso significa que, do referencial da relatividade é possível tomar conhecimento de ideias tais como "relativo" e "absoluto", mas do Ponto de Vista absoluto não é possível conceber a relatividade. Estando no referencial da Representação é possível conceber a ideia de "representação e céu". Mas, estando no Céu, só é possível perceber e vivenciar o próprio Céu.

Um detalhe importante de ser mencionado: uma vez que o Filho de Deus é exatamente o que Deus é, isso significa que Ele pensa exatamente como o seu Pai pensa. Ou seja, se Deus nunca concebeu um pensamento de separação de Si mesmo, em realidade o Filho de Deus também nunca teve aquele pensamento de separação – apenas pareceu ter. Se o pensamento de separação tivesse ocorrido de verdade, a Representação não estaria sendo vista e experienciada no âmbito de um sonho, mas sim da própria Realidade onde o Filho de Deus se encontra. O Curso em Milagres descreve que aquele pensamento de separação aconteceu por apenas um instante fractal de nanosegundo (nem mesmo isso!), e que tal pensamento foi simultaneamente desfeito (corrigido) no próprio intervalo diminuto no qual foi concebido (ou seja, o princípio da Unidade entre Pai e Filho eternamente mantido pelo Espírito Santo corrigiu a ideia de "separação" para a de "unidade"). Isso significa que o pensamento de separação não durou, pois foi simultaneamente "desfeito" ao mesmo tempo em que estava sendo "feito". Isso não interrompeu ou interferiu na realidade do Céu. O Curso descreve isso utilizando a imagem (metáfora) de um navio que passa cortando brevemente a superfície das águas de um vasto Oceano: quando o navio avança, ele parece "abrir" ou "separar" as águas por onde passa, mas imediatamente a própria natureza do Oceano as "fecha", ou seja, as devolve ao seu estado de unidade original.

Uma outra forma de entender isso é tomando a ideia de um parênteses. Quando utilizamos o parênteses em um texto (como estou fazendo exatamente agora), isso não interfere ou interrompe o texto original. Se a pessoa quiser, ela pode seguir lendo o texto principal ignorando o conteúdo de todos os parênteses. Ela não terá perdido nada do conteúdo original. E o texto também não tem a sua continuidade interrompida. Assim foi o pensamento de separação: uma abertura (e fechamento) de um parênteses que aconteceu na Eternidade. Sim, abertura e fechamento! Um parênteses precisa ser aberto e também concluído.

Uma vez que o pensamento de separação foi corrigido simultaneamente ao seu acontecimento, ele não durou sequer um instante. A separação pareceu surgir e desaparecer. Isso significa que naquele único instante tudo já aconteceu. A Representação em si já aconteceu. Devido a isso, todo o conteúdo da Representação também já aconteceu. Passado, presente e futuro (que só existem na Representação) já aconteceram. Na Representação existe um ponto atemporal que pode ser alcançado pela consciência observadora da representação (Quem somos), e de lá ela pode observar todos os acontecimentos do passado, presente e futuro simultaneamente. Tudo já existe ao mesmo tempo! Todos os eventos, com seus infinitos desdobramentos possíveis (e realidades paralelas), já existem, já estão disponíveis, apenas esperando para serem acessados e experienciados. Em uma sequência da Representação, o Luiz é um doutor em Medicina muito bom e bastante reconhecido em sua área de atuação. Em uma outra sequência da Representação, o Luiz é um advogado, casado com uma outra mulher, pai de outros filhos, vivendo em outra cidade ou outro país, e assim por diante. Em um contexto ainda mais amplo da Representação, Você não está se experimentando como Luiz, mas como outro personagem, vivendo num outro lugar e tempo. É aqui que você descobre que Você tem a possibilidade de vivenciar (representar) a vida de infinitos personagens. Todas as histórias da Representação são "memórias" ou "informações" que estão concebidas numa espécie de "banco de dados" da Representação. É como se você tivesse na palma de suas mãos uma mídia de DVD com tudo filmado e gravado – todos os acontecimentos do passado, presente e futuro – e então escolhesse rodar alguma história ou evento específico. Nós, como Observadores, podemos escolher o filme que vamos assistir/representar.

Além de poder vislumbrar o passado, presente e futuro acontecendo simultaneamente, o Filho de Deus pode olhar para a própria Representação e perceber ela acontecendo de uma só vez (pois ela já aconteceu, já passou). Quando ele faz isso, uma possibilidade se abre: a possibilidade de sair da Representação. A Representação é muito mais do que os eventos do passado, presente e futuro - ela é a Máquina que os fabrica. A partir das alturas daquele ponto atemporal, o filho de Deus pode notar inclusive que a própria Representação já aconteceu. Tudo passou. Toda a Representação foi um breve pensamento que surgiu e desapareceu no imensurável Oceano da Realidade. No momento em que Ele nota isso, as "águas" brevemente "cortadas" pelo "navio" são ajuntadas, o parênteses dentro do qual foi escrito a história da Representação é fechado. A Representação desaparece e só o que resta é o Céu: eterno, perfeito, imutável, intacto, inalterado por aquilo que pareceu ser um pensamento de separação. O Filho de Deus retornou à casa do Pai.

Essa é toda a história do filho pródigo, desde o momento em que ele partiu para longe até o momento em que retornou à Casa do seu Pai.

Mas existem muitas coisas importantes que precisam ser compreendidas e levadas em consideração, ao longo de toda essa história, que vai desde o instante da separação até o retorno do Filho de Deus ao Céu. A história do filho pródigo só pode acontecer em uma Representação, e não na Realidade, pois o Céu é Realidade Absoluta, imutável. A Representação surgiu no momento em que o Filho de Deus teve a curiosidade de saber como seria ter aquele pensamento de separação de Deus.

Então vamos começar desde o início da história da Representação. A Representação foi trazida à tona no momento em que o Filho de Deus teve o pensamento de separação. Aquele pensamento original de separação trouxe para o Filho uma consequência (aparentemente) muito séria: o pecado. O Filho de Deus adormeceu e passou a sonhar um sonho inútil, insignificante, ou um pesadelo, porque o propósito inicial do pensamento de separação é o de experimentar uma existência apartada do Céu, da Vida, da Fonte, e de tudo o que Deus ou o Céu significa: Realidade Gloriosa, Amor perfeito, Harmonia perfeita, Sabedoria perfeita, Alegria, Êxtase, Bem-Aventurança infinita, Abundância plena de tudo, e tudo o mais que Deus é. Portanto, ao afastar-se de Deus, o Filho afastou-se de todos os atributos do Céu e viu-se em uma "realidade" aterrorizante que teria que (parecer) exprimir simbolicamente características opostas ao Céu. Em sua nova realidade, o Filho de Deus pensou que realmente estava separado, ainda que não pudesse estar. É como estar na cama sonhando à noite: ainda estou na cama, mas não posso ver isso. Em seu sonho de separação, o sonho é real para o Filho de Deus e o Céu é esquecido. Um Curso em Milagres diz:

"Não reconheces a magnitude deste único erro. Ele foi tão vasto e tão completamente inacreditável que um mundo de total irrealidade tinha que emergir. Que outra coisa poderia resultar disto? Seus aspectos fragmentados são bastante amedrontadores quando começa a olhar para eles. Mas nada do que tens visto nem de leve te mostra a enormidade do erro original, que aparentemente te expulsou do Céu para estilhaçar todo o Conhecimento da Vida em pequenas partes sem significado de percepções desunidas e para forçar-te a fazer mais substituições. Essa foi a primeira projeção do erro para fora. O mundo surgiu para escondê-lo e veio a ser a tela na qual ele foi projetado e colocado entre tu e a verdade."

Vamos nos deter um pouco aqui no instante da separação. Algumas coisas precisam ser compreendidas. Já dissemos que a perfeita unicidade do Céu é tal que em parte alguma existe separação entre o Pai e o Filho. Tudo o que o Pai é, o Filho também é, pois Ele compartilha com seu Filho toda a Sua Realidade Gloriosa. Por isso, conhecer o Filho de Deus é o mesmo que conhecer o Pai em sua Totalidade ("Ninguém vai ao Pai, senão por Mim"), pois o Filho de Deus também é detentor da Totalidade. É como a imagem de um holograma: o Todo está presente em cada uma de suas partes. Assim sendo, a parte não é "parte" em absoluto, mas a própria Totalidade. Deus é um Todo Perfeito em funcionamento harmônico. Assim, quando o filho de Deus (a "parte") escolhe se separar de seu Pai (o Todo), ele tem que acreditar que está removendo, arrancando, "extirpando" o Todo do próprio Todo. Isso constitui um verdadeiro ataque a Deus e ao Céu. Agora (parece que) Deus deixou de existir e o Céu está totalmente destruído. E diante de si ele vê uma realidade totalmente oposta ao Céu. Essa realidade amedrontadora corrobora a separação total do Filho em relação ao Pai. Com o apoio dessa nova realidade, o Filho de Deus sente ter corrompido a existência de Deus e de todo o Céu; ele pensou ter estragado todo um "Sistema" de infinita e imensurável Perfeição – ele, sozinho, fez isso! É tudo culpa dele. E ele se sente realmente culpado.

E, de fato, existem razões para toda essa culpa: acreditando na realidade de sua separação (dualidade), o Filho de Deus começou a experienciar a si mesmo "em relação" a seu Criador e Fonte. Mas ele não experienciou esse relacionamento de forma muito boa. No Céu, o Filho é absolutamente o mesmo que Deus é: a unicidade entre Pai e Filho é tamanha que o fato de Cristo não ser o criador de Deus ou de Si mesmo realmente não importa – pois Cristo, assim como Deus, também cria. Mas a partir do momento em que o Filho vê a si mesmo separado do Céu, esse pequeno detalhe adquire grande relevância. O Filho viu a si mesmo em carência, com Deus injustamente possuindo o que ele não tinha: o poder de ser a Fonte da Vida e também de ser o Criador de Si mesmo. A única forma de possuir o grande poder da vida e da criação era tomá-lo à força para si. Só através da morte é que o Pai poderia ser conquistado pelo Filho. Então, com o seu poder onipotente, o Filho atacou e roubou a vida suprema que pertencia a Deus. A partir de então Deus não era mais a causa do Filho, o Filho é que era a causa de Deus. O Curso em Milagres refere-se a isso como usurpar o "papel" ou o "trono" de Deus. O Filho estabeleceu-se como o seu próprio criador, de tal forma que Deus, como Ele realmente é, deixou de existir – pelo menos dentro da mente do Filho. Deus não é mais a Fonte de toda a Existência; agora é o Filho que é. Esse foi o nascimento do Ego. Para que o filho de Deus pudesse emergir como um "eu" separado, existindo por conta própria, ele teve que erradicar o próprio Deus e despedaçar o Céu por inteiro. O preço para poder viver sua vida como um Ego foi o sacrifício e a morte do próprio Deus. E sobre o corpo assassinado de Deus, ele erigiu seu próprio ser. Daí porque o episódio da separação importou em uma seríssima consequência para o Filho de Deus: o pecado, o roubo, o assassinato. O pecado é um pensamento assassino.

Para mencionar mais uma vez, tudo isso aconteceu apenas em uma parte da mente do Filho de Deus, e jamais na Realidade. O pensamento de separação pareceu dividir a mente do Filho e uma parte dela acreditou no pecado da separação. A outra parte da mente do Filho de Deus permaneceu como sempre foi: intacta, inocente, santa, pois o Ser do Filho de Deus é sustentado para sempre pela Mente do próprio Deus. Isso garante a existência do Filho de Deus como integrante da Realidade do próprio Deus. Aos olhos de Deus nada aconteceu absolutamente: Deus olha para Seu Filho e O continua vendo da forma como Ele sempre foi na Eternidade. O ponto a ser entendido aqui é: a Mente que Deus utiliza para ver isso é a mesma Mente que Ele compartilha com o Seu Filho. Portanto, o Filho de Deus o tempo todo tem em Si essa Mente que conhece a Realidade e que sabe que a separação nunca aconteceu. Por isso é que se diz que a separação só pode ter acontecido na forma de uma Representação ou Sonho.

Continuando a história: no momento em que o Filho de Deus teve o pensamento de separação, ele adormeceu e, em seu sonho, uma "realidade" aterrorizante foi concebida dentro de um "sistema" ou "arquitetura" onde tudo é construído para funcionar naquele sentido. Dentro da estrutura dessa nova "realidade", tudo corrobora e fala pela separação (pecado). E assim podemos entender que o universo da separação possui uma espécie de "Inteligência" trabalhando a favor da separação a fim de preservar sua arquitetura, valendo-se de vários mecanismos, planos e estratégias para se automanter, e também para assegurar a permanência do Filho de Deus dentro dele. Essa inteligência guardiã do universo da separação é chamada de "Ego". O Ego é o guardião do universo da separação. Ele é o resultado de um pensamento assassino. E para assegurar a continuidade de sua (aparente) existência, depende de o Filho de Deus manter-se identificado com ele, pois o Ego sozinho é nada, e sem o Filho de Deus ele desapareceria imediatamente. Retomando: No exato momento em que o Filho de Deus adormece e se vê dentro do universo assassino da separação, o próprio universo (Ego) avalia o Filho de Deus com a percepção distorcida de um pecador. O Ego julga o Filho de Deus como sendo um assassino, cruel, corrupto, ladrão, traidor, miserável da pior estirpe, digno de ser punido com a morte pelo pecado que cometeu. Para o Ego, o Filho de Deus é irremediavelmente culpado e a morte de Deus deve ser punida com a própria morte. Essa é a visão que o Ego sustenta e também o plano secreto que (em seu universo) ele tem para o Filho de Deus.

Estando o Filho de Deus adormecido no sonho (universo de separação do Ego) e esquecido de Sua verdadeira realidade (o Céu), o Ego agora tem a sua total atenção. Você (o Filho de Deus) olha confuso para ele a fim de que explique a você o que está acontecendo, e ele tem uma mensagem para você. A mensagem é essa: "Você não sabe o que fez? Você se separou de Deus. Você cometeu um pecado enorme contra Ele. Você pegou o paraíso – tudo o que Ele lhe deu – e simplesmente jogou na cara dele, dizendo: 'Quem diabos precisa de você?'. Você o atacou! E agora você está morto, porque não tem a mínima chance contra Ele. Ele é impressionante, e você não é nada. Ele se erguerá da morte e virá furiosamente atrás de você para tomar de volta tudo – incluindo a vida – que você roubou dele. Você estragou tudo, você é muito culpado. Ele está aqui em algum lugar de sua mente (pois Pai e Filho compartilham da mesma mente) procurando por você. E se você não der o fora daqui agora, será pior do que a morte!".

Em seu estado mental confuso, essas razões parecem muito sensatas, lógicas e convincentes. Se Deus aparecesse e tomasse de volta tudo o que Lhe foi usurpado, o Filho deixaria de ser a fonte de si mesmo e de toda a criação. Sua nova identidade – o Ego – deixaria de existir, e isso significaria a morte. Para o Ego, Deus é muito perigoso: é equivalente a sua própria morte. Agora o Filho está aterrorizado, com medo de que a qualquer momento o seu Pai corra em sua direção para puni-lo. Isso faz com que o Filho de Deus pense, em resposta ao Ego: "Você está certo. Oh, meu Deus, o que eu fiz? Eu estraguei tudo, eu ataquei o Céu. Mas, para onde posso ir? O que posso fazer? Ele está em algum lugar aqui da minha mente. Eu posso correr, mas não posso me esconder. Não existe lugar onde eu possa me esconder do próprio Deus!"

"Bem, isso não é exatamente verdade", diz o Ego, "porque eu estou aqui para ajudá-lo. Eu sou seu amigo, e tenho uma ideia: um lugar onde podemos ir juntos. Você pode continuar sendo dono da sua própria vida e não terá que se preocupar em encarar Deus de jeito nenhum. Você nunca vai vê-lo, Ele nem mesmo será capaz de ir a esse lugar!"

"Realmente?", você pergunta. "Isso parece bom demais para mim. Vamos!"

O Filho de Deus aceitou isso, em parte, porque gosta da ideia de ser um indivíduo com uma existência separada – mesmo que isso não seja realmente possível. Apesar disso a ideia de separação foi levada muito a sério pelo Filho de Deus, e na sua mente isso se traduziu como um pecado contra o Céu.

"Tudo bem," diz o ego. "Faça exatamente o que eu digo."

A magnitude espantosa da vergonha, da culpa aguda e do medo da punição que advieram daquilo que o Filho de Deus acredita ter feito parece requerer uma fuga imediata e completa. O Filho de Deus acredita sinceramente que está para ser atacado e punido severamente pelo próprio Deus. Então o Ego dá conselhos ao Filho de Deus como se fosse o seu amigo, e buscasse os seus melhores interesses. Ele o convence de que em algum lugar de Sua mente o seu Pai está vindo atrás dele procurando vingança. E, prometendo de aliviar o Filho de sua aflição, o Ego lhe fornece a solução de criar um mundo exterior à Sua mente e PROJETAR para lá (em uma tela) toda ideia de pecado, culpa, medo, vingança e punição que o Filho estava percebendo em relação a Deus. Assim a separação não seria mais vista no interior da mente do Filho de Deus, e sim lá "fora". O Filho estaria completamente livre de todos os seus problemas. Confiando nesse plano, o Filho de Deus coloca-o em ação, e o poder incompreensível de criação de Sua mente faz com que o método de sua fuga se manifeste. Esse lugar – a projeção – é o universo físico onde acreditamos estar agora. Foi assim que se deu a aparição do universo fenomênico (Big Bang). O Filho de Deus escapou da sua mente diretamente para o mundo da projeção. Agora, Deus, assim como tudo o mais, parece estar fora e aparte da mente do Filho de Deus (eu, você, e cada habitante desta humanidade). E nós nos percebemos isolados uns dos outros, vivendo totalmente separados de nossas mentes – que é a Mente única que concebeu todo o universo da representação. Nós pensamos que Deus fosse nos atacar e a criação do cosmos foi a nossa proteção/defesa contra Deus.

Assim, resumidamente, o que aconteceu até aqui foi: no momento da separação o Filho de Deus adormeceu e teve um sonho no qual era diferente de Deus. Em seu primeiro sonho, o Filho adentrou a realidade aterrorizante do Ego que expressava um universo completamente oposto ao Céu. E percebeu a Si mesmo como pecaminoso, repleto de culpa, e a Deus como um ser furioso, amedrontador e vingativo. Assustado e confuso com essa realidade, o Filho volta-se para o Ego para que lhe explique o que está acontecendo. O Ego aproveita a oportunidade para reforçar a ideia da separação, pois em si mesmo o ego é "nada", e depende que o Filho de Deus guarde identidade com ele a fim de que possa assegurar sua existência. O Ego não faria nada que fosse contra si próprio. Então, para proteger a si mesmo e seu universo (o primeiro sonho), o Ego aconselha o Filho de Deus a criar o mundo externo (o segundo sonho, a projeção) e projetar a Si mesmo e todos os seus problemas para lá. Ou seja: fez com que o Filho criasse um outro sonho – o mundo – para proteger o primeiro. E por ocasião do segundo sonho descemos da magnitude à pequenez: fizemos a nós mesmos pequenos, fracos, limitados, vulneráveis, sem poder. Por não termos percebido que a separação não aconteceu (não produziu qualquer efeito em nosso Ser), acreditamos na realidade de nossa culpa (ou seja, tornamos a culpa real para nós) e o mundo da projeção foi a solução que encontramos para ficarmos livres dela. Fizemos o nosso ser de modo que fôssemos incapazes de lembrar de nossa realidade pecadora. Todavia essa mesma medida fez com que ficássemos sem mente, incapazes de lembrar da natureza grandiosa de nosso Ser – o Filho de Deus – e esquecidos da Mente Infinita e toda poderosa que criou (e, portanto, possui o pleno domínio sobre) o universo da Representação. A Grandeza foi ocultada pela pequenez. Agora a realidade do Ego está preservada em uma parte da mente do Filho de Deus. O Filho de Deus percebe a si mesmo como um corpo vivendo à mercê de um universo governado por leis que fogem ao seu controle. Percebe sua mente existindo dentro do universo, ao invés de o universo existindo em sua Mente. O Filho de Deus caminha pelo mundo com uma mente (falsa) limitada, preso, inconsciente do primeiro sonho (onde vigora a crença do Ego na separação, no pecado), e acreditando que o universo da projeção é a única realidade. Neste ponto a separação está completamente implementada. No mundo da projeção tudo foi feito para ser imperfeito e falhar, a fim de induzir o Filho de Deus a acreditar que o problema é externo e requer atenção e solução. O Ego proveu a projeção com vários mecanismos de defesa para manter o Filho de Deus ocupado com a atenção voltada exclusivamente para fora, na intenção de assegurar que Ele nunca voltasse a olhar para dentro, para o sonho original de pecado contra Deus. E somente olhando (de frente, sem julgamentos) para o primeiro sonho é que o Filho de Deus poderá constatar a falsidade do pecado e recuperar a lembrança de que Sua verdadeira realidade está no Céu.

Esse foi o nosso propósito inicial ao criar a projeção (que é a parte visível da Representação). Todos os nossos pecados (incluindo nossas culpas, medos, e a punição que advém do nosso sentimento de culpa) estão sendo projetados no palco deste mundo, e nossas vidas aqui apenas simbolizam o que nós acreditamos ser em nossas mentes. Assim funciona a dinâmica da projeção: a percepção que temos de nós mesmos na mente (a parte invisível da Representação) é projetada para fora e encenada no palco do mundo visível na forma de símbolos. Projeção nada mais é que a crença do ego de que ideias deixam a sua fonte. O Ego promete que, ao transferir as dores da culpa e do medo para a "tela exterior", as consequências do pecado desaparecerão da mente do Filho. Assim, a mente do Filho de Deus ficaria a salvo. Todavia isso não ocorre realmente. Tal promessa é enganosa. Ideia alguma ao ser projetada deixa de existir onde teve sua origem. Por mais que as ideias da separação sejam projetadas para fora, elas não deixam de estar presentes na mente do Filho de Deus. A mente continua acreditando no pecado, na culpa, no medo, na vingança e na punição – só que o faz em uma realidade inconsciente para o Filho, pois a projeção encobriu o lugar de origem. Por exemplo: se em sua mente o Filho de Deus estiver se sentindo culpado, dividido, em conflito consigo mesmo, na projeção isso pode aparecer na forma de duas pessoas (famílias ou mesmo nações) brigando umas com as outras. Todas elas são o Filho de Deus "aparecendo como" na Representação. A mera projeção do conflito não elimina a culpa da mente do Filho de Deus, apenas a esconde. E enquanto essa culpa não for realmente eliminada, tornará a ser projetada no mundo exterior, sob outras formas de conflito. O Ego tornou a projeção um verdadeiro inferno para o Filho de Deus. Esse é o plano secreto e a forma dele de punir o Filho pelo seu pecado. Se o Filho de Deus considera-se um pecador, e pensa que devido a isso ele merece ser punido, esse pensamento pode se projetar no palco da Representação na forma de acidentes, doenças, deficiências, pobreza, infortúnios, etc.. O pecado está sendo encenado no mundo. O Filho de Deus (motivado pelo Ego) está punindo a si mesmo por seu pecado.

Por isso, em seu propósito inicial (separação), a Representação é um sonho inútil, insignificante, um pensamento mal feito, ridículo, um pesadelo, completamente sem sentido. Mas digo, desde já, que a Representação não está fechada a este propósito. Existe outra possibilidade. Uma vez que a Unidade Pai-e-Filho é garantida pelo próprio Deus, existe uma parte da mente do Filho de Deus que se conserva completamente intacta, íntegra, inocente, bem-aventurada, santa. Essa parte da mente sabe perfeitamente que a separação (o pecado) nunca aconteceu, que o Filho de Deus é inocente, puro, santo, eternamente abençoado por Deus, e que somente o Céu é realidade aqui presente. O Filho de Deus nunca deixou de ser um com Deus e de estar em completa segurança no Céu. Na Representação, o Filho de Deus pode deixar de dar ouvidos àquela parte da mente que acredita no pecado (Ego) e voltar-se para a parte santa de sua mente que sabe que o pecado não existe (Espírito Santo). Quando Ele faz isso, um outro propósito automaticamente é conferido à toda Representação. A Representação adquire um verdadeiro valor, sentido, significado. Sempre que o Filho de Deus escolher acessar essa parte da mente, o palco da Representação refletirá símbolos de amor, de santidade, de benevolência e da pureza da Criação.

Assim, na Representação, a mente do Filho de Deus está dividida. Uma parte da mente (representada pelo Ego) diz que ele pecou e é culpado. A outra parte (representada pelo Espírito Santo) não vê pecado em parte alguma e diz que ele é inocente, santo para sempre, e que exatamente aqui e agora Ele está no Céu desfrutando de todas as maravilhas e bençãos de Deus. Na Representação o Filho de Deus pode guiar-se apenas por duas vozes (duas percepções): a voz do Ego (que fala pela separação, pelo pecado e pela culpa) ou a voz do Espírito Santo (que fala pela eterna unidade e santidade do Filho de Deus). A voz do Ego nos oferece o inferno. A voz do Espírito Santo nos oferece o Céu.

Após assimilar tudo o que foi dito até aqui, vamos prosseguir para uma compreensão mais ampla da Representação.

Quando o Filho de Deus teve o pensamento de separação, isso não durou mais do que um instante. Imediatamente (na verdade, simultaneamente) o Espírito Santo fez a correção daquele pensamento e o Filho de Deus estava de volta à Unicidade do Céu, lugar de onde nunca havia saído para início de conversa. Isso significa que toda a Representação aconteceu dentro daquele ínfimo instante. Todas as histórias e suas infinitas possibilidades – registradas ao longo do tempo: passado, presente e futuro – aconteceram simultaneamente. O tempo faz parte da Representação, mas a Representação transcende o tempo. Passado, presente e futuro existem todos ao mesmo tempo, no Agora atemporal da Representação. A consciência tem o poder de observar a Representação a partir de um ponto atemporal. Mas se ela escolher imergir no tempo, ela o experimentará em sua linearidade; e passado, presente e futuro parecerão estar distantes, separados um do outro no tempo.

Se toda a Representação aconteceu e foi corrigida num único instante, isso significa que todas as histórias possíveis (com seus infinitos eventos e personagens) já foram escritas, encenadas e concluídas. Todos os filmes de terror do Ego (simbolizando a realidade da separação) e todos filmes maravilhosos do Espírito Santo (que refletem na terra a realidade gloriosa que o Filho de Deus vivencia no Céu) foram filmados e gravados no "banco de dados" ou na "memória" da Representação. Aqui, podemos entender a Representação como uma mídia de DVD ou uma Grande Máquina onde estão gravadas as filmagens de todas as infinitas histórias possíveis de se representar. Desde as histórias de perversidade do Ego (onde são encenadas a punição pelo pecado: problemas, dificuldades, medos, angústias, decepções, perdas, frustrações, injustiça, pobreza, exploração, escravidão, sacrifícios, doenças, conflitos, guerras, acidentes, mortes), até as histórias santas do Espírito Santo (que representam a realidade abençoada do Céu: cenas que exprimem amor, sabedoria, graça, alegria, vida, harmonia, paz, abundância, etc.), todas estão gravadas na memória da Representação. É como se o Filho de Deus estivesse segurando em suas mãos um controle remoto na frente de uma tela de televisão, escolhendo assistir ora os filmes amedrontadores elaborados pelo Ego, ora os filmes felizes de autoria do Espírito Santo.

Isso é o que está acontecendo com a mente do Filho de Deus enquanto humanidade: alguns estão identificados com a voz do Ego e vivenciando sonhos de pecado, culpa e medo, enquanto outros se tornaram identificados com a voz do Espírito Santo, vivenciando sonhos felizes que refletem o Céu na Terra. Na verdade, pouquíssimos são os que escolheram ouvir e guiar-se pela voz do Espírito Santo. Estes são os seres iluminados que aparecem na Representação para revelar e oferecer à humanidade (na verdade, a Si mesmos) uma nova maneira de viver a vida aqui neste mundo. Na história de nossa Representação (esta em que estamos nos percebendo agora – Planeta Terra, ano 2017) até agora pouquíssimas pessoas abandonaram completamente o pecado em suas mentes. Veja o cenário do mundo: em um lugar as pessoas são escravizadas, sofrem e morrem de fome, miséria, pobreza e doenças; num outro lugar sofrem e morrem com violentos ataques terroristas; em outro lugar sofrem de catástrofes "naturais" (terremotos, erupções, enchentes, tsunamis, furacões); em outro lugar um país inteiro é torturado por uma gigantesca crise política de corrupção. O mundo todo é dominado por um sistema econômico no qual um número ínfimo de pessoas exploram o máximo possível a grande maioria. As maiores indústrias e empresas do mundo não estão nenhum pouco interessadas na vida e no bem estar da população. Para elas os seres humanos nada mais são que uma fonte de renda. As indústrias farmacêuticas, por exemplo, formulam remédios para funcionarem parcialmente. Elas necessitam manter a população doente, pois vender a cura não é lucrativo, mas vender o tratamento sim. O cenário do mundo é triste. Um pensamento maligno (Ego) existe por trás de todas essas representações.

O mundo inteiro sofre assim porque a mente da humanidade está abarrotada de pensamentos de ódio, culpa e de sentimentos de autopunição. O Filho de Deus (ouvindo e deixando-se guiar pela voz do Ego) está punindo a si mesmo pelo pecado de sua separação. O pecado é imperdoável exige punição – isso é uma lei! "O salário do pecado é a morte" (Rm 6:23). Se o Filho de Deus acreditar que pecou, Ele irá se punir (a parte da mente que acredita no pecado está – ela própria – estabelecida para punir), e, qualquer que seja a punição, ela sempre deverá terminar na ruína e na morte. Mas basta o Filho de Deus deixar de acreditar na existência do pecado, e imediatamente Ele está livre. A correção do Espírito Santo para a separação é: o pecado não existe. Isso significa que a separação nunca aconteceu. Nas palavras de Um Curso em Milagres: "O Espírito Santo ensina apenas que o pecado da auto-substituição no trono de Deus não é uma fonte de culpa. O que não pode acontecer [auto-substituição] não pode ter efeitos a serem temidos. Um erro não é um pecado, e a realidade não foi tirada de seu trono pelos teus erros. Deus reina para sempre, e só as Suas leis prevalecem sobre ti e sobre o mundo. O Seu Amor continua a ser a única coisa que existe." Assim, à medida que a mente do Filho de Deus for sendo purificada da crença em pecado, culpa e medo (a nível individual e coletivo), a Representação deixará de exibir símbolos/filmes amedrontadores que expressam a punição que o Filho de Deus infligiu sobre Si mesmo.

Ou seja: à medida que a mente do Filho de Deus for sendo purificada da crença no pecado, na culpa e no medo, e despertando para a Verdade de que o Filho de Deus é inocente, santo, perfeito desde o princípio, vivendo aqui e agora no Céu, os filmes assassinos do Ego serão cada vez menos exibidos, e os filmes alegres e gloriosos do Espírito Santo tomarão cada vez mais o seu lugar. Esse processo acontecerá até que a mente do Filho tenha deixado de acreditar no pecado por completo. Quando isso acontecer, o Céu passará a ser refletido na Representação em escala global e, mais além, em proporções universais.

Mas o segredo da coisa toda é que TUDO realmente JÁ ACONTECEU. Um Curso em Milagres diz:

"O tempo é um truque, uma vasta ilusão em que figuras vem e vão como por magia. Mas há um plano por trás das aparências que não muda. O roteiro está escrito. O momento em que a experiência vem para dar fim às tuas dúvidas já foi estabelecido. Pois nós vemos a jornada apenas do ponto em que ela terminou, olhando em retrospectiva, imaginando que a empreendemos novamente, revisando mentalmente o que já se foi. Apenas fazes uma jornada que já terminou."

"Esse mundo acabou há muito tempo. Os pensamentos que o fizeram já não estão mais na mente que os pensou e os amou por um breve período de tempo. O milagre apenas mostra que o passado se foi e o que se foi verdadeiramente não tem efeitos. Todos os efeitos da culpa já não estão mais aqui. Pois a culpa terminou. Com a sua passagem, foram-se também as consequências, deixadas sem uma causa."

Portanto, neste exato momento, já não existe mais NENHUMA causa que dê motivo à encenação das tragédias e calamidades que atormentam a humanidade. Este mundo já está LIVRE e pode ser experimentado como um verdadeiro paraíso aqui e agora. A Revelação divina diz que a separação (a causa de todo pecado, culpa, medo e sentimento de autopunição) está no passado, e o mundo inteiro está a salvo porque o passado se foi. Só o Amor está aqui. O que está no passado não pode tocar o presente. A menos que o passado esteja acabado em nossas mentes, o mundo iluminado, puro, repleto de paz e felicidade, tem que escapar às nossas vistas. Portanto, se quisermos acessar na Representação o mundo que Deus amorosamente nos oferece (e sermos livres!) devemos soltar da mente todos os pensamentos investidos no passado e voltar os nossa atenção para o presente. Enquanto a mente estiver olhando para o passado, acreditando que ele ainda está acontecendo, o presente ficará encoberto e não poderá ser visto como realmente é. A isso o Curso em Milagres chama de perdão. O passado do mundo deve ser perdoado a fim de que o mundo possa ser visto como ele realmente é. Pois o Amor é o único estado presente.

Aprofundando ainda mais nesse segredo, constatamos que o roteiro universal da Representação já está escrito. Em algum lugar do "banco de dados" da Representação está gravada a "memória" de um filme onde cada um de nós escolhemos deixar de ouvir a voz que fala pela separação (Ego) e optamos por seguir unicamente a voz do Espírito Santo que fala somente pela Verdade. Em outras palavras, dentre as infinitas possibilidades da Representação, em uma delas existe a história com uma sequência de acontecimentos onde a nossa iluminação está acontecendo exatamente agora. De igual modo, dentre as infinitas realidades da Representação, existe uma sequência na qual o mundo inteiro está despertando para a Verdade agora. Por isso, na Representação podemos nos ver iluminados agora! Podemos ver o mundo todo iluminado agora! Isso é assim porque o Filho de Deus está no Céu e não na Representação. Todos esses filmes podem ser exibidos na tela da projeção com apenas o acionar de um botão de controle remoto que o Filho de Deus segura nas mãos. Essa é a Verdade que o Espírito Santo quer lembrar/ensinar/revelar à mente do Filho de Deus, que na Representação parece estar dividida em bilhões de "pedaços". Mesmo na Representação, todas as mentes são a mesma.

Na Representação não há nada mais por acontecer, tudo nela já é "passado", "memória". Em última instância a própria Representação já aconteceu e não está mais presente. Ela não é sequer uma "memória". Só o Céu é Realidade presente. Aqui termina a cosmologia do Curso em Milagres explicando o significado de Deus, do Filho de Deus, do Céu e da Representação.

Agora que expliquei tudo isso, volto à nossa conversa no grupo e passo a responder as suas perguntas.

Na primeira parte de suas perguntas, você colocou:

Gustavo, pensemos:
- eu não lembro de haver criado a mim; então, alguém me criou.
- e fomos criados perfeitos, sim.
- se fomos criados perfeitos, como a ilusão se infiltrou?
- se fomos criados perfeitos, como o ego e a inconsciência estão "em nós"? Já que nenhum  ser consciente, perfeito e poderoso irá, jamais, "diminuir" a si!!! É difícil imaginar Jesus com "subconsciente" e com "inconsciente". Essas coisas são "doenças"!

O Filho de Deus foi criado por Deus para ser exatamente o que Deus é. Deus cria o Seu Filho e estende a Ele todo o Seu Ser para que o Filho seja exatamente o que Deus é. Uma vez que o Filho de Deus é tudo o que Deus é, ele detém a mesma Mente, a mesma Totalidade. O Filho de Deus é pleno, perfeito e completo desde o Princípio. "Deus não concede ao homem o Espírito por medida. O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos." (João 4:34,35). O Filho de Deus não nasceu como um "Deus-Bebê" para ir aos poucos desenvolvendo sua consciência até chegar a ver a si mesmo como um Deus completo. Deus é um Ser atemporal, existe fora do tempo e do espaço. Em Deus (no céu) não existe tempo. O tempo é inteiramente parte da Representação, e mesmo a Representação transcende o tempo. Quem dirá, então, Deus! Deus vive na Eternidade com o Seu Filho. Ele é Deus desde sempre, eternamente e para sempre! O Filho de Deus é uma extensão de Deus. Pode-se dizer que Ele é o próprio Deus. A única diferença que há entre Deus e o Filho (se é que há alguma) é que Deus criou o Filho. O Filho não criou a Deus ou a Si mesmo. A unicidade entre o Pai e o Filho é tamanha, que isso realmente não importa no Céu. E a criação do Filho não se deu posteriormente à existência do Pai. O Filho de Deus existe desde sempre, juntamente com Deus. "Vós testificareis que estivestes comigo desde o Princípio" (João 15:27). Deus criou o Céu e tudo o que nele há. A perfeição já é. Não há necessidade de criar nada mais. O projeto de Deus está completo. "Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente, nada lhe podendo ser acrescentado ou retirado" (Eclesiastes 3:14).

Fomos criados perfeitos, estamos no Céu, e no Céu a ilusão nunca se infiltrou. O ego não existe. Essa é a resposta categórica, suprema, absoluta, acima de todas as considerações relativas. Existem espiritualidades que pregam a Verdade somente neste patamar (Ciência Cristã, O Caminho Infinito, Seicho-No-Ie, Um Curso em Milagres, Metafísica Absoluta). A prova de que estes ensinamentos funcionam (são verdadeiros) é que quando a pessoa pratica as contemplações absolutas, elas vêem o conteúdo da Representação sendo alterado. Doenças são curadas, situações desarmoniosas se harmonizam, problemas são resolvidos, etc. A Representação, que estava refletindo uma cena projetada pelo Ego, de repente passa a refletir uma cena projetada pelo Espírito Santo. E as contemplações da Verdade também possibilitam a pessoa expandir a consciência até começar a ter vislumbres da Realidade e perceber que a Representação é apenas uma representação. Mas se a pessoa não conseguir lidar ou entender bem as verdades que esses ensinamentos querem transmitir, então ela terá que buscar a Verdade a partir de um patamar relativo, levando em conta a existência da Representação. Mesmo assim isso funcionará ao seu próprio modo e tempo. Muitos os ensinamentos relativos são estruturados para levar a pessoa ao topo da Representação, e dali para fora dela.

Jesus Cristo não está mais preso ou dentro da Representação. Ele está livre, completamente acima da Representação. E a Representação está ao seu pleno dispor. Mas um dia ele percorreu o caminho que o permitiu sair da ilusão e alcançar o lugar onde Ele está agora. "Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus" (João 20:17), "e o Pai enviará em meu nome o Consolador, a saber, o Espírito Santo, e esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar tudo quanto vos tenho dito" (João 14:26).  "Se o mundo tem vos aborrecido, aborreceu a mim também, no mundo tereis tribulações, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (João 16:33). Jesus veio para mostrar à humanidade que é possível vencer este mundo, pois Ele o assim fez. E ele orou: "Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam aqueles que me deste, para que conheçam e tenham a mesma glória que eu tive contigo desde o princípio, antes da fundação do mundo." (1 João, 17). Nesta oração, Jesus orou para que todos nós estivéssemos cônscios de que estamos onde Ele está. Ele sabe que todos nós estamos com Ele no Céu. Mas nós ainda não sabemos. Estamos presos no cárcere do Ego, cuja (aparente) existência é sustentada pela crença no pecado, na culpa e no medo. Todavia isso também já passou – mesmo na Representação isso não é realidade. Estamos agora no Céu, em Deus, em perfeita unidade com Ele e com toda a sua glória. Jesus sabe que a ilusão nunca se infiltrou, que a Representação nunca existiu, e que somente o Céu existe.

Na segunda parte de seu texto, você diz:

Mas, enfim, estando a ilusão aí, o que fazer para desfazer a ilusão? 

Se observarmos o modo de trabalho de Deus, veremos que Ele faz tudo progressivamente. A semente precede a árvore, a flor precede o fruto; a aurora precede o dia... fez o mundo em 7 períodos de tempo, embora pudesse fazê-lo instantaneamente... E está fazendo novos deuses como um pai faz um filho: tem, e enquanto ele cresce, o vai educando e instruindo. Assim, estamos no processo, e nossa ilusão é a mesma inconsciência de um bebê que ainda não alcançou, no seu desenvolvimento, o estágio da consciência de si e do mundo.

Dizer que Deus está fazendo novos deuses como um pai faz um filho, e que Ele faz tudo progressivamente, implica dizer que Deus e sua criação existem dentro do tempo linear, e que eles estão subjugados pelo tempo. Algo assim somente é possível acontecer na Representação – e, mesmo na Representação o tempo só é linear em seu aspecto estreito. Em seu aspecto mais amplo, o tempo é holográfico: passado, presente e futuro existem simultaneamente. A história que você está contando é perfeitamente possível de acontecer, mas só na Representação. A Representação é infinita, ela abarca universos e universos. Nela é possível um Deus de aspecto universal criar uma "consciência divina" que não existia, e que irá se desenvolver ao longo de bilhões e bilhões de anos até se tornar um novo Deus universal. Mas, para dizer mais uma vez, isso é apenas mais uma "memória" na Representação. Essa história já aconteceu. Se o Filho de Deus quiser vivenciar essa história na Representação, ele é livre para isso. Ao que me parece, o Filho de Deus em você quer representar isso.

Uma vez que o Filho de Deus adquire a plena consciência (como Jesus o fez) de que a Representação é apenas uma representação, Ele está livre para brincar nela o quanto quiser, pelo tempo que quiser. A Representação se torna um parque de diversões. E, se Ele assim escolher, pode a qualquer momento sair da Representação. 

E na terceira parte de seu comentário, você escreveu: Mas, se não somos crianças, e sim os adultos originalmente criados, como foi que a ilusão se infiltrou? Se nossa ilusão não é inconsciência infantil, e sim cegueira neocriada, como isso aconteceu? Veio por nós ou por ação de outros?

Na Realidade (Céu) não somos "crianças", somos tudo o que Deus é (portanto, a ilusão nunca se infiltrou). A Representação, por sua vez, apresenta infinitas possibilidades, e permite que sejamos essas "crianças" que você refere, mas também permite que sejamos "adultos". O propósito inicial da Representação era fazer com que o Filho de Deus experimentasse sua realidade como um Ego – um ser totalmente ausente/separado de Deus e imerso em completa cegueira, ignorância e sofrimento. Contudo, a correção simultânea (do pensamento de separação para o de unidade) feita pelo Espírito Santo corrigiu cada filme, cada cena de terror produzidas pelo Ego, em que o filho de Deus via-se separado e sofrendo amargamente as consequências de sua ignorância. Assim, todos os filmes ficaram armazenados no "banco de dados" da Representação. Tudo já aconteceu. Mas, em termos lineares (no aspecto estreito do tempo da nossa Representação), isso se traduziu como o ser humano evoluindo pouco a pouco, ampliando cada vez mais a sua consciência, tornando-se cada vez menos ignorante, até atingir a completa sabedoria. Mas mesmo isso não é uma regra. Em todos os tempos sempre houveram seres conscientes e unos com Divindade. Os Vedas relatam que nos tempos antigos existiram seres com características animais (avatares na forma de aves, peixes, répteis, mamíferos, etc.) que entraram na Representação de modo totalmente consciente. Krishna é o exemplo de um personagem que nunca teve que atingir a iluminação. Ele já entrou na Representação iluminado. Buda, por sua vez, teve que passar pela experiência da iluminação. Na Representação tudo é possível, devido ao que ela é. Mas a experiência de quase toda a humanidade (neste filme/representação em que estamos) é que o Filho de Deus encontra-se muito iludido e identificado com o Ego. Consequentemente, acredita ser um pecador e tem que pagar o preço de seus pecados.

As pessoas que não conhecem o segredo holográfico da Representação (e do tempo) necessitam passar por milhões e milhões de vidas, evoluindo pouco a pouco (e a muito custo) até atingirem a iluminação. Mas quem conhece os ensinamentos que trabalham com o aspecto holográfico da Representação (e do tempo) consegue economizar muito tempo para si. A auto-realização, a libertação, a salvação, é obtida muito mais rápido, pois, ao se trabalhar com o aspecto holográfico da Representação, o tempo sofre um colapso e tem sua ordem alterada. Do ponto de vista da Realidade, o tempo não existe e sua alteração (para mais ou para menos) não faz diferença alguma; mas do referencial da Representação isso faz toda a diferença.

Na quarte parte de seu texto, você escreveu: Pela ação de outros, Jesus (não o Cristo) foi parar no túmulo, mas nem assim perdeu sua consciência e poder. Quer dizer: o que quer que tenha nos atingido, se a ilusão é adquirida, e não a do bebê, foi algo muito mais poderoso, no sentido de produzir estragos, do que a "morte".

Sim, o pensamento de separação acarretou algo muito sério para o Filho de Deus. Foi uma verdadeira catástrofe! Não foi à toa que o Filho de Deus encheu-se de culpa por ter atacado Deus e destruído o Céu. E não foi à toa que ele passou a sentir um imenso medo da vingança de Deus. Nas palavras do Curso em Milagres:

"Não reconheces a magnitude deste único erro. Ele foi tão vasto e tão completamente inacreditável que um mundo de total irrealidade tinha que emergir. Que outra coisa poderia resultar disto? Seus aspectos fragmentados são bastante amedrontadores quando começa a olhar para eles. Mas nada do que tens visto nem de leve te mostra a enormidade do erro original, que aparentemente te expulsou do Céu para estilhaçar todo o Conhecimento da Vida em pequenas partes sem significado de percepções desunidas e para forçar-te a fazer mais substituições. Essa foi a primeira projeção do erro para fora. O mundo surgiu para escondê-lo e veio a ser a tela na qual ele [o erro] foi projetado e colocado entre tu e a verdade."

Não foi a toa que Jesus disse que o mundo o aborreceu, e que todos nós também passaríamos por tribulações. Devido à crença do Filho de Deus na separação, "o mundo inteiro jaz no maligno" (João 5:19). Este mundo está sob o domínio do Ego, e isso permanecerá assim até que a crença no pecado desapareça da mente do Filho de Deus. Disse Jesus: "A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz" (João 3:19). "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer o desejo de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira." (João 8:44). Ou seja, o Filho de Deus ainda ouve e segue a voz do Ego. Enquanto for assim, ele acreditará nas mentiras da separação e sofrerá as consequências do pecado. Acreditando na voz do Ego, todos nós carregaremos em nossas mentes sentimentos de medo e de culpa. Inconscientemente julgaremos que devemos ser punidos pelo nosso pecado. E a punição ocorrerá para nós na forma de variados problemas, que vão desde pequenos problemas individuais, até grandes problemas de proporções coletivas. Desde uma pequena dor de cabeça, até um câncer incurável. Problemas, medos, angústias, decepções, perda, frustração, acidentes, deficiências, doenças, pobreza, exploração, escravidão, injustiça, sacrifícios, conflitos, guerras, assassinatos. Todas essas coisas parecem ser diferentes no que diz respeito à forma; mas por trás de todas essas formas o conteúdo é o mesmo. Tudo é a mesma ilusão: a crença na separação do Filho de Deus.

Enquanto o pensamento de separação não for corrigido, de nada adiantará a humanidade buscar soluções que podem ser encontradas no mesmo nível onde está o mundo. Fazendo isso, ela apenas andará em círculos, sem sair do lugar. Qualquer solução que advenha do mesmo nível de consciência (ou mente) que criou o problema não é uma solução verdadeira – é uma solução fornecida pela ilusão (Ego) para manter a humanidade iludida, ocupada com mais ilusões e, portanto, incapaz identificar e solucionar o verdadeiro problema. Para que a solução seja verdadeira, ela deve provir de "fora" do sistema que gerou o problema, de uma consciência acima daquela que criou a ilusão. Há cem anos atrás, doenças como a lepra, a cólera, tuberculose e algumas espécies de gripes eram graves, fatais, incuráveis. O número de pessoas no planeta que morriam dessas doença era imenso. Com o passar do tempo, a medicina humana descobriu a cura para elas e as pessoas pararam de morrer. Mas então outras doenças começaram a aparecer, por exemplo, a AIDS, e a humanidade continua morrendo de doenças. Nunca na história humana houve tanta ocorrência de câncer como nos tempos atuais. No dia que a Ciência descobrir uma cura para as doenças que hoje são tidas como incuráveis, a existência inventará outras. Isso seguirá acontecendo até que a mente da humanidade seja curada do pensamento de separação. O mundo visível sempre irá refletir a percepção que o Filho de Deus tem de si mesmo em sua mente (mundo invisível). Se a percepção do Filho de Deus for corrigida, os acontecimentos no palco passarão a refletir símbolos condizentes com sua nova percepção.

A quinta pergunta: Se é verdade que estamos iludidos, então não estamos mais iludidos, porque é verdade, e temos conhecimento disso, que vivemos na ilusão. Voltamos então à pergunta: o que nos falta, para sairmos desse estado iludido, se é essa a "verdade"?

O que nos falta é deixar de acreditar na existência do pecado e de que somos culpados. Quando a mente do Filho de Deus (que é a sua e a minha mente) deixar de acreditar na separação, automaticamente nos veremos em nosso estado natural de unidade com Deus – um estado que já é verdade. Aqui se cumpre a oração de Jesus: "Pai, rogo para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós. Eu dei-lhes a glória que a mim me destes, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que sejam aperfeiçoados na unidade." (João 17: 21-23). Você já deve ter ouvido histórias contando que os mestres iluminados precisam manter-se apegados às pequenas coisas do mundo, se quiserem continuar existindo aqui para ajudar seus irmãos a despertar. Se eles abandonassem todos os apegos, eles não conseguiriam permanecer aqui, porque este mundo é feito de ilusões: desejos, falhas, limitações, imperfeições. Se você se desfizer das ilusões, a própria Realidade o atrai e você é "retirado" daqui. O mesmo acontece com o pecado. À medida que a ideia de pecado vai sendo purificada de nossas mentes, a ilusão de separação de Deus começa a ser desfeita, e nossa realidade de Unidade com Deus se evidencia. Nossa unidade com Deus não precisa ser desenvolvida. Não existe uma Realidade para ser alcançada, o que existe (na Representação) é uma ilusão a ser desfeita. O Núcleo diz que: "Não há sequer uma única nova verdade a ser revelada, nem mesmo uma nova consciência a ser desenvolvida. Nossa Consciência está plenamente desperta e já somos filhos de Deus, criados a Sua imagem e semelhança. O que nos falta é tão somente percebermos esta realidade nos desfazendo dos nossos condicionamentos."

Sexta pergunta: Outra questão: a ilusão é "ruim", ou tem um propósito sábio? 

O propósito inicial da Representação era "ruim", sem valor e sem "propósito". Mas o Espírito Santo de Deus corrigiu o pensamento de separação, dando um novo propósito à Representação. Isso tornou possível à Representação ser vivida com propósito, valor e sentido. Não há nada na Representação que justifique o Filho de Deus ter que passar por problemas, desgraças e sofrimentos. O pecado é uma perdição infinita, e não tem nada para nos ensinar. Ele simplesmente não existe. Ponto final. Muitas linhas religiosas e filosóficas ensinam que os males que assolam a humanidade existem para proporcionar alguma lição, algum crescimento ou aprendizado à alma do homem. Todavia, o mundo que o Ego nos oferece na Representação não é uma "escola" – é o inferno. A única lição que o Filho de Deus necessita aprender é como deixar de ouvir e seguir a voz do Ego (sair do inferno) e passar a ouvir e ser guiado unicamente pela voz do Espírito Santo. Essa é a única lição que o Espírito Santo de Deus tem para nos ensinar na Representação. Qualquer outra lição além dessa é falsa, ilusória, perda de tempo.

Sétima pergunta: E se estivermos correndo atrás de desfazer o cenário da peça, ao invés de atuar? 

Estamos fazendo as duas coisas! Na Representação podemos interpretar nossos papeis conscientemente (estando despertos, ouvindo e seguindo a voz do Espírito Santo) ou inconscientemente (indespertos, na ignorância, ouvindo e seguindo a voz do Ego). À medida que representarmos os nossos papeis conscientemente, estaremos também desfazendo a Representação. O que mantém a Representação existindo no lugar onde ela (aparentemente) está é a crença em dois poderes: o bem e o mal. Enquanto houver a crença em dois poderes, a Representação aparentará ter substancialidade e existir. Assim como a tela usada por um artista para pintar, o cenário da Representação é uma "tela em branco", "vazia", aberta à incidência de luzes e sombras. Todo o bem verdadeiro que surge na Representação vem do Espírito Santo – a parte santa de nossa mente: só Ele é a nossa Mente verdadeira. Por sua vez, todo o mal possível de surgir na Representação advém do Ego – a parte de nossa mente que acredita na separação. A parte verdadeira de nossas mentes foi criada por Deus e é eternamente mantida a salvo por Ele na Realidade (Céu) – ela é a Mente Dele, e não nossa. Nós não a fizemos, nós a recebemos Dele porque Ele no-la compartilha. Tal Mente jamais pode ser modificada ou desfeita. Mas a parte da mente que acredita na separação, essa sim, nós (enquanto Ego) a fizemos. Ela não existe na Realidade, mas apenas na Representação. Na Representação as duas partes são mantidas em nós, como se nossa Mente estivesse dividida. E apenas uma delas pode ser desfeita. Nós não podemos desfazer o que Deus criou. Nós só temos o poder de desfazer aquilo que fizemos. O papel do Espírito Santo na Representação é nos auxiliar a desmanchar a parte de nossas mentes que acredita na separação. Ele é o Paráclito, o Consolador, o Professor que foi prometido ser enviado do Céu para ensinar e conduzir o Filho de Deus de volta ao estado de perfeita unicidade com o Pai. Tudo o que o Espírito Santo ensina e faz tem o propósito único de desmantelar o Ego. Se seguirmos a sua Voz, ela nos conduzirá à compreensão e à experiência de que o Ego é uma total irrealidade, uma completa ilusão. Quanto mais nos identificarmos com o Espírito Santo, mais o Ego deixará de existir em nossas mentes. Quanto mais a crença no Ego é desfeita, mais e mais a projeção reflete os aspectos benignos e amorosos do Espírito Santo. A Representação vai perdendo a base sob a qual sua (aparente) realidade é mantida (o bem e o mal) e pode enfim ser colocada de lado. A projeção passa exibir somente cenários divinos de felicidade e paz. Nesse ponto, a passagem se abre e o Filho de Deus está livre para a qualquer momento sair da Representação. Então a Representação desaparece e só o que resta é o Céu.

Última pergunta: Enfim: para quê serve essa vida "tolhida"?

Perante Deus (ou o Céu), a Representação é completamente sem significado. Deus sequer tem conhecimento de que há uma Representação acontecendo. Sua Criação está pronta, e tudo o que é necessário existir está ali. 

Mas perante a própria Representação, nossas vidas tolhidas servirão ao propósito que escolhermos para elas: o propósito do Ego ou o propósito do Espírito Santo. Em um deles, a vida é um inferno, algo inútil, desnecessário e sem valor. A separação de Deus – a morte – estará sendo encenada. Em outro, a vida será santa, sagrada, terá sentido, significado e valor. Aqui a Vida em Deus é que estará sendo encenada. A Representação em si pode ser duas coisas diferentes, dependendo da percepção que tivermos dela. Isso significa que tudo na Representação – incluindo a própria Representação – é NADA. A natureza da Representação é o Nada, o Vazio. Ela é como um espelho vazio apenas esperando para refletir em formas o conteúdo que estiver diante dela. Ela não possui significado algum. Nós é que conferimos significado a ela mediante nossa percepção.

Adorei ter a oportunidade de escrever tudo isso. Foi muito proveitoso pra mim.
Que este texto possa inspirar e contribuir para a jornada espiritual de cada um dos leitores.
Muito Obrigado, dr. Luiz!
Reverências!
Namastê!


sábado, setembro 23, 2017

Aprofundando nos ensinamentos do texto anterior


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Este texto de Masaharu Taniguchi, intitulado "O Arrependimento e o Despertar", apresenta três pontos importantes que merecem ser comentados e aprofundados.

O primeiro consiste no fato de dizer que, ao despertar espiritualmente, o ser humano passa a vivenciar o reino de Deus aqui mesmo neste mundo fenomênico. Ao abrir os olhos da mente, podemos enxergar além do que os sentidos físicos permitem captar, e percebemos a nossa condição espiritual de unicidade com Deus, que somos filhos de Deus. O ser humano enquanto corpo carnal não é o filho de Deus, e sim o filho do pecado, da separatividade. Enquanto estivermos identificando o nosso ser com o corpo fenomênico, estaremos "pecando" (ou seja, nos vendo na separação e errando o alvo) e seremos filhos do pecado. O filho de Deus existe como um ser espiritual que está em eterna unidade com Deus, e ele é a essência que habita o âmago de cada um de nós. Quando despertamos para esse fato, ocorre uma mudança total em nossa perspectiva de perceber a vida, porque quando a unicidade se realiza, ela o faz englobando tudo. Essa mudança total em nosso modo de perceber é o que o texto denomina "arrependimento" ou "conversão". Quando ocorre esse "despertar", esse "arrependimento", essa "conversão", o mundo fenomênico reflete esse despertar e se converte em um paraíso terrestre. Então o reino de Deus passa a se expressar no plano fenomênico. Por isso, Masaharu Taniguchi escreve que: "quem se arrepender verdadeiramente, há de encontrar o paraíso aqui e agora, nesta vida terrena", e também: "contanto que nos arrependamos verdadeiramente, podemos passar a desfrutar imediatamente da graça dos céus".

Um outro objetivo do presente texto é desmistificar alguns ensinamentos que dizem que o mundo fenomênico (a Representação) existe como um opositor-inimigo do reino de Deus, que o reino de Deus somente poderá ser experienciado ao se rejeitar por completo a existência fenomênica, e que às vezes incentivam os estudantes a repudiarem o mundo fenomênico. É verdade que o reino de Deus é a Realidade que existe desde "antes que a Representação existisse", mas a Representação em si não é nem "boa" nem "ruim", não é sagrada nem profana. Ela é como um espelho (vazio) a refletir a imagem (conteúdo) colocada diante dela. Por isso, devido a sua natureza vazia desprovida de qualquer imagem, a representação tem a capacidade de refletir a Realidade divina (o reino de Deus) existente subjacente à ela. Sendo assim, o reino de Deus pode se evidenciar aqui mesmo neste mundo fenomênico, e isso ocorre quando o ser humano desperta para a sua filiação divina. Por isso Masaharu Taniguchi diz: "Quando descobrimos nossa natureza verdadeira, compreendemos que estamos no Paraíso, na Terra Pura, aqui mesmo neste mundo."

E, a fim de que possamos despertar para a nossa natureza verdadeira, Masaharu Taniguchi explica que primeiro deve ocorrer em nós o arrependimento e a conversão. E, sobre isso, ele faz uma notória observação - que é o segundo ponto importante de ser comentado. Ele diz: "O arrependimento completo consiste na transformação total da postura mental e, como consequência disso, o nosso mundo se transforma totalmente. O mundo que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior."

Para compreendermos o arrependimento e a conversão referidos no texto, é muito importante ter em mente o fato já mencionado de que a Representação não existe como "boa" ou "ruim", como "sagrada" ou "profana", mas que sua natureza é o vazio. Por ser vazia como um espelho, em si ela nada é, e por isso nada tem para nos apresentar. Ela não nos apresenta um universo profano, ela não nos apresenta um universo divino. Ela apenas reflete. O universo que aparentemente nos é apresentado pela representação é apenas um reflexo da própria visão ou percepção que temos dele. Quem olhar para o universo com a visão que o filho de Deus tem do universo, se verá diante um universo divino. E quem olhar para o universo com a visão/percepção que um ser pecador (ego) tem do universo, se verá diante de um universo de separação (pecado)... que é um universo totalmente sem sentido. O universo em si é nada. A percepção é tudo! O mesmo universo pode ser visto/experienciado de formas diferentes, a depender da lente com que se olha para ele. Se alguém olhar uma paisagem (universo) com óculos de lente de cor vermelha, a paisagem será vista toda em vermelho (universo aparente). E se ao lado dessa pessoa houver mais alguém olhando a mesma paisagem (universo) com lentes de cor amarela, a paisagem será vista toda amarelada (universo aparente). É importante saber fazer distinção entre "universo" e "universo aparente" e não confundi-los. O universo em si é nada, e não possui significado algum. Por sua vez, o universo aparente surge em decorrência da visão/significado que atribuímos ao universo. 

Por isso, caso estejamos vendo ou experienciando o mundo fenomênico como um lugar "ruim", "defeituoso" ou "imperfeito", isso significa que estamos percebendo-o com visão/lentes defeituosas. O defeito não está no mundo em si, mas na visão com que olhamos para ele. Compreendendo isso, não é necessário querer modificar, repudiar, condenar ou desprezar o mundo em que vivemos na representação. O defeito deve ser corrigido na própria base ou raiz onde ele se origina. No exemplo acima citado, se o indivíduo que usava lentes vermelhas quiser enxergar toda a paisagem na cor azul, basta descolorir as lentes que naquele momento estavam vermelhas e colori-las novamente com a cor azul. Então, ao colocar novamente os óculos, aquela paisagem aparecerá azulada. Da mesma forma, se pudermos modificar o teor/a essência da visão com que olhamos para o mundo, ele se nos apresentará de acordo com a natureza do nosso olhar. Assim é a Representação. Ela é como um "projetor" que projeta na tela qualquer que seja o conteúdo gravado no filme. Aqueles que possuem um olhar iluminado, experienciam um mundo iluminado. Ao passo que aqueles que possuem um olhar imperfeito, experienciam um mundo imperfeito.

Sabendo disso, Masaharu Taniguchi disse: "O arrependimento completo consiste na transformação total da postura mental." A "postura mental" a que ele se refere é o olhar, a visão, a percepção. A "transformação total" deve ocorrer bem na raiz de todas as coisas, que é a nossa percepção, "e entãocomo consequência disso, o nosso mundo se transforma totalmente." E a chave mais essencial para fazer com que a transformação ocorra na "raiz", é aplicarmos em nossa vida a sabedoria do não-julgamento. Ao compreendermos verdadeiramente que o universo nada é de si mesmo - que ele não possui significado algum, e que somos nós quem conferimos significado a ele mediante nossa própria visão (julgamento) - automaticamente perdemos o interesse em nomeá-lo, em dizer o que ele "é" ou "não é". Então a energia que estava fluindo para o exterior começa a ser redirecionada para o interior (percepção), e conseguimos alcançar o ponto-raiz onde é possível realizar verdadeiramente a transformação, o arrependimento, a conversão.

Tendo compreendido tudo o que foi dito até aqui, vamos prosseguir para o terceiro ponto importante do texto.

Masaharu Taniguchi diz: "Conversão significa o arrependimento completo, em que a pessoa muda por inteiro a sua postura mental e, como consequência disso, o seu mundo se transforma totalmente. O 'mundo' a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior."

Para compreendermos bem este terceiro ponto, precisamos nos defrontar com algumas questões metafísicas. Sabemos que a Realidade (a qual os diversos ensinamentos chamam de Reino de Deus, Céu, Jissô, Terra Pura, Nirvana, Moksha, etc.) existe desde "antes que a Representação existisse." Porém, uma vez que surge a Representação, algumas questões devem ser entendidas.

Primeiramente: uma das finalidades da Representação é a de permitir (simular) a experiência de nosso Ser como algo separado ou diferente de Deus. Todavia, devido à sua natureza vazia, a Representação também tem o propósito de expressar a glória e o amor incomensuráveis de Deus. Ao mesmo tempo que a Representação foi feita para possibilitar a experiência de separatividade, também foi feita para que a Divindade pudesse Se expressar plenamente através de cada ser, coisa e fato. Dependendo do olhar (percepção) que lançarmos para o universo da Representação, experienciaremos e desfrutaremos de uma coisa ou outra.

Em segundo lugar: uma vez que lançamos um "olhar" para a Representação, ela imediatamente reflete a natureza daquele olhar, e de súbito já nos vemos dentro de um universo inteiramente construído. Ao lançarmos um "olhar de separação", repentinamente nos vemos inteiramente dentro de um universo de separatividade, totalmente pronto, acabado, construído para funcionar naquele sentido. E assim constatamos que o universo da separação detém uma espécie de "inteligência" trabalhando a favor da separação a fim de preservar sua arquitetura, valendo-se de vários mecanismos, planos, estratégias para se automanter, e também para assegurar a nossa permanência dentro dele. Essa inteligência é chamada de "ego". O ego é o guardião do universo da separação. Por sua vez, o inverso também ocorre: quando lançamos um olhar iluminado para a Representação, ela o reflete e de imediato já nos vemos em um universo de pura luz, onde a Divindade se evidencia como tudo e todos. Esse universo divino também já aparece inteiramente pronto, com uma arquitetura toda construída e funcionando no sentido de se autopreservar e de assegurar a nossa permanência dentro dele. E à Inteligência guardiã desse universo divino chamamos de "Eu".

Em terceiro lugar: tudo o que foi contado até aqui ocorre no âmbito de uma magnitude imensamente maior/acima daquela em que se manifesta o universo visível. Está ocorrendo em um mundo invisível, de âmbito metafísico, algo de natureza grande demais para se apreender com a capacidade da mente/inteligência/percepção que se manifesta na visibilidade. Tal mundo invisível também faz parte da Representação (não é a Realidade). E em contraposição ao mundo invisível, temos o mundo físico-visível, que todos nós conhecemos muito bem. O mundo físico é um "reflexo visível" do mundo invisível, existindo apenas como "efeito", "aparência" ou "sombra". Por ser mero "reflexo" ou "sombra" do mundo invisível, é dotado de insubstancialidade, daí porque a Metafísica o classifica como sendo "nada" ou mera "aparência". Por trás do mundo visível (físico, insubstancial) existe o mundo invisível (metafísico, substancial), onde tudo está acontecendo.

Em quarto lugar: no universo da separação, um dos mecanismos utilizados pelo ego para perpetuar seu senso de "eu sou" é trabalhar para fazer com que fiquemos identificados exclusivamente com a realidade visível, de modo que sequer desconfiemos que nosso Ser vive e existe em uma realidade invisível. Dessa forma, a realidade visível atua como "cortina de fumaça" para esconder a realidade invisível, que é onde tudo acontece, e isso torna impossível ocorrer uma real mudança ou transformação em nossas vidas. Não há nada acontecendo no universo das aparências, por isso o Todo não reconhece nossas ações aqui na realidade visível. Por exemplo: se um personagem arrepender-se apenas no mundo das aparências (convencendo-se mentalmente de que sua identidade não é a de um "eu" pecador, mas sim o Filho de Deus), esse arrependimento não será reconhecido pelo Todo, porque ocorreu numa realidade insubstancial, em "nada", em "lugar nenhum". A pessoa não sentirá o seu universo visível se transformar no paraíso terrestre que o texto menciona, e que pode ser vivido aqui e agora. Talvez ela consiga reformar a sua personalidade, o seu caráter, a sua moral, as suas atitudes, e se tornar um ser humano melhor. Mas ela não adentrará o paraíso iluminado que existe aqui e agora. Para que a conversão/o arrependimento seja verdadeiro e surta efeito perante o Universo, ele deve ocorrer na realidade substancial. Aí sim o Universo reconhece e responde à transformação. O Universo sempre responde no âmbito da realidade invisível; e quando a realidade invisível se modifica, a realidade visível reflete a transformação.

Por isso, Masaharu Taniguchi fez a importantíssima observação, dizendo: "O mundo a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interiorEm outras palavras, o verdadeiro arrependimento consiste em abandonarmos completamente a ideia de que somos seres constituídos de corpo carnal, sujeito a pecados, e nos conscientizarmos de que somos filhos de Deus, isentos de pecado. Esta é a verdadeira conversão." Tal conscientização não deve ocorrer somente a nível físico, aparente, superficial. Ela deve ocorrer nas profundezas invisíveis da realidade, que é onde verdadeiramente vivemos e existimos na Representação. É por isso que as práticas espirituais metafísicas não levam em conta a existência/presença da realidade visível. O metafísico trabalha unicamente no plano invisível, porque no universo da Representação tudo está acontecendo ali.

Todos os caminhos espirituais recomendam que os estudantes adquiram o hábito de realizarem diariamente alguma prática espiritual (sadhana), que pode ser: leitura de livros sagrados, meditação, oração, repetição de mantras ou de nomes divinos, realização de serviço desinteressado, etc.. Qualquer que seja a prática recomendada, é importante haver a repetição diária e constante, até que ela penetre nas profundezas e impregne completamente o nosso ser. Isso é assim porque, sempre que um treinamento espiritual está em seu início, ele é praticado apenas no âmbito do mundo visível (e enquanto a prática ocorrer apenas aqui, não haverá real transformação); mas, com o passar do tempo, a prática constante alcança as profundezas de nosso ser e passa a ocorrer também no mundo invisível. Então o nosso ser interior vai absorvendo e assimilando o conteúdo praticado, até ocorrer em nós uma espécie de "alteração" ou "reprogramação" no mundo invisível. E quando o mundo invisível se transforma, nossa vida verdadeiramente se transforma.

Vejamos o que Mooji disse para seus ouvintes, em um de seus satsangs:

"Eu não falo para você como você sendo uma pessoa. Eu falo para você como você sendo Consciência e presença [que existe no mundo invisível]Se eu falar para você como você sendo uma pessoa, eu sei que o iria sobrecarregar, porque 'você' não pode mudar [a "pessoa" pertence ao mundo visível, insubstancial, que é "nada"]Quando eu falo para você como sendo Consciência, você simplesmente entende [o indivíduo entende enquanto "ser" ou "presença" invisível que ele é] e a Graça é libertada lá."

"Se você quiser obter o máximo proveito de mim, esteja sentado na posição da consciência e ouça como a própria consciência. Se você ouvir como uma pessoa, você nunca irá 'compreender' onde eu estou ou aquilo para o qual eu estou apontando. Ouça como consciência. Encontre uma sintonia, uma sincronicidade com a sensação de presença. Seja um com ela. Esta sincronicidade é um nível muito mais elevado de comunicação no reino do ser. É muito mais elevada do que conversar mentalmente ou verbalmente. Ressonância do Coração é a vibração da santidade. Através dela, você vem a reconhecer espontaneamente o Ser."

A partir de agora, tenhamos a consciência de que, sempre que estivermos diante de um ser desperto, ele não olha para nós como se fôssemos uma "pessoa". Ele não fala para nós como se fôssemos uma "pessoa". Ele fala com a presença/a consciência que existe (invisivelmente) por detrás da pessoa. A lembrança de que somos o Ser não ocorre a nível de nossa memória ou capacidade cerebral. Se insistirmos em compreender os ensinamentos com a nossa "pessoa", estaremos perdendo totalmente o nosso tempo. O mestre sabe que as coisas que ele diz devem ser compreendidas pelo ser invisível/silencioso que existe por detrás da pessoa. Geralmente os iniciantes na busca espiritual, sempre que vão participar de um satsang, ouvem as palavras do mestre como se fossem pessoas. Mas, com o passar do tempo, aprendem a ouvir o mestre com o ser silencioso que existe por trás de suas pessoas. E quando o ser silencioso compreende afinal os ensinamentos do mestre, o indivíduo recebe um vislumbre da verdade ou até mesmo o próprio despertar espiritual.

Concluindo: após tudo o que foi dito, ficou muito claro que a "conversão" ou "arrependimento" que o texto menciona deve ocorrer não no mundo físico (visível, insubstancial, efeito), mas no mundo interior (invisível, substancial, causa). Ao ocorrer uma total transformação em nossa forma de olhar (percepção) para a vida, a vida automaticamente se transforma, e assim podemos viver e desfrutar de um reino iluminado aqui mesmo neste mundo terreno. Finalizo, pois, este texto, com as seguintes palavras de Masaharu Taniguchi:

"O mundo radioso existe desde o princípio. Basta abrirmos os olhos da mente para compreendermos que o reino de Deus está aqui e agora. Como já expliquei, 'devemos nos arrepender, pois o reino de Deus existe aqui e agora, já está ao nosso alcance'; isto é, o reino de Deus não está para chegar daqui a algum tempo, ele já existe aqui e agora. Basta 'arrependermo-nos' para que ele se manifeste diante de nós. Os aflitos, os enfermos, os que estão com o coração cheio de tristeza, enfim, todos aqueles que sofrem, descobrirão o reino de Deus tão logo abrirem os olhos da mente. Quando eles abrirem os olhos da mente e despertarem da ilusão, o mundo terreno, que até então parecia impuro, feio e perverso, revelar-se-á como um mundo puro, repleto de paz e felicidade, iluminado pela Luz de Deus."

Namastê!