"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, março 26, 2018

A Nascente e o Pântano

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- Omraam Mikhael Aivanhov - 


Escutai uma nascentezinha. Ela diz-nos: "Sede semelhantes a mim, sede vivos, jorrantes, senão tornar-vos-eis semelhantes aos pântanos." Sim, há que ouvi-la, porque, se a vossa nascente interior secar, produzir-se-ão em vós fermentações. E, quando há fermentações, já sabeis o que se passa: começam a pulular os mosquitos, as moscas, toda a espécie de animalejos; mesmo que tenteis acabar com eles, nada conseguireis, pois eles não param de se reproduzir. A única solução é secar o pântano e deixar correr a nascente, porque onde corre uma nascente não há putrefações, tudo é vivo e puro. 

Já vos falei muitas vezes da nascente e não somente da pequena nascente das montanhas, mas dessa nascente muito mais poderosa, a nascente única: o sol. Infelizmente, quando se observa os humanos, percebe- se, em função dos seus raciocínios e das suas atitudes, que eles nunca se preocuparam com a nascente, com o ponto que vibra, que brota, que projeta. Eles dirão: "Mas o que é que pode trazer-nos o facto de nos determos nessa imagem da nascente?" Coitados! Talvez sejam eruditos, mas não viram o essencial. Não viram que toda a orientação da sua existência e dos seus atos depende exclusivamente da imagem que colocaram na sua cabeça. Eles escolheram imagens vivas, jorrantes, como a nascente, como a fonte, como o sol, ou imagens mortas como o pântano? Tudo reside nisto. Em função das observações que faço diariamente, como a nascente, eu descubro que tudo depende da escolha que o homem faz, do ponto de vista simbólico, entre a nascente e o pântano; esta escolha revela a sua compreensão da vida. 

Ouve-se muitas vezes as pessoas queixarem-se de que tudo lhes corre mal. E por que é que tudo lhes corre mal? Porque elas não entenderam que no seu intelecto, na sua alma, deveriam ter colocado em primeiro lugar o que existe de mais puro e de mais divino – a nascente –, para que esta nascente, ao correr, purifique tudo neles e faça crescer todas as suas sementes divinas. Nos seus pensamentos e nos seus desejos não se sente esta preocupação essencial com um centro, uma nascente, um sol, um espírito, um amor. Elas detiveram-se em coisinhas insignificantes e não conseguem compreender, não querem compreender. Chafurdam continuamente em águas estagnadas e poluídas onde se agita toda a espécie de animalejos e até zombam da filosofia dos Iniciados, que insistem sempre na importância mágica da ligação à nascente, à fonte. Como podem elas estar convencidas de que o que está a apodrecer, a criar bolor, a desagregar-se, vai ajudá-las? 

Há quem não compreenda por que é que nós vamos ver o sol nascer... É simbólico. É para conseguirmos perceber que em todos os domínios da vida devemos ligar-nos ao sol, quer dizer, à fonte. Mas tentai convencer todas essas pessoas inteligentes a ir ver o nascer do sol! Elas dirigem sempre a sua atenção para o que está morto, estagnado, poluído, e depois, quando lhes acontecem infelicidades, perguntam porquê. É porque nelas têm impurezas, porque não tomaram a nascente como modelo!

Eu pergunto a alguém: "Já viu uma nascente? Pode dizer-me o que se passa junto de uma nascente?". "Claro que sim!", responde a pessoa. Mas, na realidade, ela não observou bem... Por isso, eu faço perguntas: 

– "Então, o que há à volta da nascente?" 
– "Plantas, vegetação."
– "E o quê mais?"
– "Insetos, aves, animais." 
– "E além disso?" 
– "Também há homens que vieram instalar-se."
– "Muito bem. E já reparou no que se passa quando a nascente seca?"
– "A erva desaparece imediatamente, depois os animais, depois os homens. As árvores são o que resiste mais tempo."
– "Compreendeu realmente tudo isto?"
– "Claro que sim, é muito simples."
– "Então, por que é que deixou secar a sua nascente?". 

E a pessoa diz: 

– "Qual nascente? Não compreendo..." 

Como vedes, a pessoa não compreende. As pessoas creem sempre que compreendem, mas isso só acontece aparentemente. Então, eu digo: 

– "Estou a falar da nascente que jorra no seu interior. Por que a deixou secar?".

– "Qual nascente? Eu não deixei secar nascente nenhuma.".

– "Sim, deixou secar a sua nascente: já não tem amor. Alguém o ofendeu, lesou, roubou ou enganou um pouco e você disse: 'Acabou-se! Não voltarei a ser generoso, bom, caridoso, não vale a pena, os homens não merecem.' E agora a sua nascente já não corre. Evidentemente, já ninguém o enganará ou o lesará e você julga ter ganho alguma coisa, mas, na realidade, perdeu tudo. Deveria ter continuado a deixar-se enganar, se necessário, o importante era que a nascente nunca secasse! Alguém o ofendeu, o roubou, mas isso não é nada comparado com a bênção que é ter em si uma nascente que corre, pois ela traz-lhe tudo, limpa tudo, restabelece tudo."

Os humanos têm necessidade desta filosofia, a mais maravilhosa, a mais verídica: a filosofia da nascente. Com a desculpa de que sofreu uma pequena injustiça, uma pessoa decide já não ter amor por quem quer que seja – então, acabou-se! –, ela fica morta. E um morto, o que é que ganhou? É formidável a maneira como os humanos raciocinam! E é junto deles que eu deverei ir instruir-me? O que é que aprenderei? Irei, isto sim, pra junto de uma nascente, ficarei horas inteiras a escutá-la, a olhar para ela, a tocar-lhe, a falar com ela, e em seguida pensarei nessa outra fonte – o sol –, e em todas as nascentes do universo, até à única verdadeira nascente, que é o próprio Deus, irei ligar-me a Ele para compreender finalmente o essencial. Perguntareis: "Mas o que é que se pode compreender junto de uma nascente?"... Tudo! 

Meditai longamente nesta imagem da nascente a fim de baseardes a vossa vida nessa única nascente que é Deus e cujo representante mais perfeito para a terra é o sol. Deveis trabalhar diariamente sobre esta imagem, imitar esta nascente, o sol, a fim de dardes de beber a todas as criaturas, a fim de as aquecerdes, de as vivificardes, de as ressuscitardes. Direis: "Mas isso é impossível, é irrealizável...".

Até é estúpido! Se pensais assim, é porque não percebestes nada. O importante não é que o vosso ideal seja realizável, o importante é que, ao fazerdes este trabalho interior, é em vós que começais por produzir grandes transformações. O sol é imenso, não se pode ser tão grande e poderoso como ele; mas no seu domínio, à sua escala, o homem também pode tornar-se um sol. 

Em vez de reter sempre, de ser como uma cova, como um abismo, como um pântano, e de introduzir a desagregação em tudo, ele pode dar, purificar, vivificar. Na realidade este ideal é realizável, mas é necessário pelo menos querer estudar, experimentar e verificar que ele é realizável. Infelizmente, quanto mais eu ando pelo mundo, mais constato que os humanos não compreenderam o aspecto mágico da nascente, a força da nascente, a ciência extraordinária que ela representa. Se tivessem compreendido, eles saberiam sempre fazer sair de si próprios algo puro, algo vivo. Mas estão sempre sombrios, baços, fechados, crispados. Só pensam em resolver os seus assuntos com os meios e os métodos do pântano... Mas o pântano nada pode resolver! Só é bom para prolongar a vida dos girinos e de todos os animalejos que se agitam na sua água. 

Nesta água que nunca se renova, os pobres habitantes do pântano são obrigados a respirar e a absorver todos os dejetos uns dos outros. É o que, infelizmente, se passa com os humanos. Uma grande cidade, e até o mundo, não são outra coisa senão um pântano. Todos os humanos que aí se movimentam são obrigados a absorver os excrementos uns dos outros. Os que sabem como de lá sair aspiram de vez em quando um trago de pureza, mas os outros deixam-se intoxicar, sufocar, envenenar. A atmosfera de uma cidade é um pântano, e se fôsseis clarividentes veríeis como os humanos enviam sujidades uns aos outros, se comem entre eles e não sabem como de lá sair, mesmo por alguns minutos. E depois riem-se da nossa filosofia solar!... Pois bem, tanto pior para eles. Que fiquem no seu pântano! Que quereis que vos diga? Um dia eles serão obrigados a compreender. 

E que conclusão se pode tirar do que eu vos disse? Que todos os mal-entendidos, todas as infelicidades, todos os sofrimentos, advêm do facto de o homem não estar ligado ao Céu, à nascente; ou, quando está, é apenas por dois ou três minutos; em seguida, tudo é cortado e ele fica de novo ligado ao pântano. Eu não quero ofender-vos; estou falando em geral. Mas é verdade: em vez de estarem ligados à nascente que purifica, que cura, que ilumina, a maior parte dos humanos ligam-se ao pântano (que pode ser, aliás, um homem, uma mulher ou um grupo de pessoas) e é aí que bebem. Eles preferem este pântano à nascente porque têm medo da opinião do pântano! Que dirão os girinos que nele se agitam? Se estes se pronunciassem negativamente a seu respeito, que seria deles?

Talvez estejais pouco ofendidos com palavras. Mas, quereis? Eu não estou aqui para agradar, sou obrigado dizer-vos verdade. Sei bem que não é agradável ouvir semelhantes coisas. Hoje estais aborrecidos com minhas palavras; mas se eu nada disser, seguireis adiante na mesmice de suas vidas e um dia estareis duas, três, cem vezes mais aborrecidos com a realidade. Se vos mantiverdes na ignorância, tristezas esperar-vos-ão por todo o lado, ao passo que, avisados, se fordes esclarecidos, pelo menos podereis escapar pelas escadas de serviço e os vossos inimigos voltarão as costas sem ter conseguido nada. 

Refleti, pois, nestas duas imagens: a nascente e o pântano. Quando tendes finalmente o desejo de amar, de fazer sacrifícios, de ajudar os outros e de dar em vez de tirar, é porque a nascente já corre. E, uma vez que ela corre, as flores e as árvores crescem, os pássaros cantam, ou seja, há espíritos magníficos que vêm instalar-se em vós, no vosso cérebro, no vosso coração, na vossa vontade, porque são alimentados. A nascente alimenta-os. Então, vós tornais-vos ricos, sois semelhantes a uma região florescente, com todo um povo e toda uma civilização. Sim, porque a nascente corre. É este aspecto simbólico que é necessário compreender.

Junto de uma nascente seca ninguém aceita ficar. Quando a nascente para de correr no homem, já não há criações, nem poesia, nem música, nem alegria, já não há nada, é o vazio, o deserto, porque já não há água, já não há amor. Pelo mundo afora só se vê desertos passeando... Assim se explica o estado miserável dos humanos, a sua angústia, o vazio que há neles. Talvez sejam muito inteligentes, mas deixaram secar a sua nascente, porque nunca pensaram em dar, em irradiar, em amar. Quando eu vejo seres cuja nascente secou ou, até, nunca correu, sei que o seu destino será miserável. Porquê? Porque nada virá instalar-se neles, nenhum anjo, nenhum espírito, nenhuma beleza, nenhum esplendor, nada!

Bem-aventurados os que compreenderam e se decidiram a mudar! Para esses, hoje, tudo estará explicado, pois estas duas imagens – o pântano e a nascente – são realmente suficientes para explicar tudo. Se estais estagnados, se fazeis tudo sem entusiasmo, sem inspiração, sem alegria, ficai a saber que deixastes secar a nascente que deveria correr em vós. Mas vós não vos apercebestes disso e estais sempre a criticar os outros. Abri a vossa nascente, limpai-a e a água jorrará, porque todas as criaturas nasceram para ser uma nascente. Sim, quando o Senhor enviou o homem à terra, preparou-o para ser uma nascente; mas o homem deixou acumular tantas impurezas em si próprio que a nascente ficou tapada; por isso, é o deserto, o vazio. E nada é pior do que o vazio, nada é pior do que estar num deserto, ser um deserto.

Será que começais finalmente a compreender esta imagem da nascente? A nascente é a vida, é o amor, e o amor é omnipotente, é ele que faz nascer todas as inspirações, todas as alegrias. Não há maior verdade. Eu sei bem que, apesar de todas as verdades que ouvem há anos, muitos de vós estais num triste estado; é porque não tendes qualquer método de trabalho. O que quer que escuteis, quaisquer que sejam as verdades que poderiam ajudar-vos, não anotareis nem fixareis nada. Se escrevêsseis pelo menos uma verdade e a colocásseis diariamente diante dos vossos olhos para a verdes, para estardes em contacto com ela!... Mas, não, uma hora depois tudo se apagou. Criaturas assim estão predestinadas a viver indefinidamente nos pântanos ou nos desertos. E a culpa é delas, pois, mesmo quando se lhes diz como hão de fazer para se abrirem, para se desenvolverem, não entendem nada, não retêm nada. 

Eu sei que vos tenho falado frequentemente da nascente, mas vós precisais que vos repitam muitas vezes as mesmas coisas. O sol nasceu ontem, mas isso foi para ontem, hoje ele deve nascer de novo. Aparentemente, a água que corre é sempre a mesma, no entanto ela é sempre nova. É por isso que há anos vos repito: "Pensai todos os dias em fazer jorrar a vossa nascente!... Abri-a, limpai-a, tornar-vos-eis uma terra tão fértil que até os reis virão provar os frutos do vosso pomar." Mas tenho de repetir e voltar a repetir. Depois de tantos anos, por que é que ainda não plantastes nem colhestes nada, se possuís em vós próprios um terreno incrivelmente rico? O vosso cérebro, o que é? É a melhor das terras. Pois bem, é justamente esta terra que deveis cultivar, que deveis semear e regar. Pelo pensamento, pela oração, ligai-vos diretamente à Nascente Celeste. 

Como nós somos à imagem do Senhor, o microcosmos semelhante ao macrocosmos, possuímos também uma nascente em nós próprios, mas ela aguarda condições propícias para começar a correr. É, pois, ligando-nos à Nascente Celeste que faremos brotar a nossa própria nascente, e todas as nossas células serão regadas, vivificadas, a vida divina correrá. Graças a esta nascente o amor, a vida, a água viva tornamo-nos um instrumento perfeito nas mãos do Senhor."

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